O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Agradeço a V. Exª, que fala em nome da democracia quando discute o tema que trouxe a esta Casa. Acredito que essa discussão deva continuar aqui entre os Senadores da situação e da oposição.

            Lamento precisar dizer que não podemos ficar nessa hipocrisia de achar que as escutas telefônicas, as bisbilhotagens da individualidade de cada um, possam ser oficializadas. Muito pelo contrário: há indícios de que primeiro fazem a escuta e comprovam algum envolvimento para, depois, encaminharem para oficializar judicialmente. Isso é o que acontece - ouvi isso de um cidadão que tem respaldo para falar isso. Além disso, quando querem fazer qualquer tipo de bisbilhotagem no telefone de qualquer outra pessoa, basta incluir seu número naquela lista que esse telefone será também bisbilhotado. 

            Ou seja, não existe mais privacidade para ninguém. Este País está, realmente - V. Exª acha que não, mas eu acho que sim -, correndo um grande risco nessa questão democrática. Sentimos, Senador Jarbas Vasconcelos, a nítida tendência de desmoralização do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, uma vez que outras crises no País que vieram com a derrubada do governo tiveram outras causas mais evidentes, mais claras, mais violentas. Esta que estamos vivenciando hoje, para mim, é a mais grave crise pela qual já passamos. Nós, defensores da democracia, precisamos tomar cuidado. Não vamos brincar com isso, porque ela, apesar de aparentemente inofensiva, é a mais grave por que já passamos. Até a imprensa, que sempre foi atenta a isso, parece-me não estar fazendo uma análise mais profunda sobre essa situação. Então, nós, que sempre defendemos a democracia, fazemos um apelo à imprensa brasileira no sentido de que observe com cuidado alguns passos dessa tentativa de desmoralização do Judiciário e, principalmente, do Congresso Nacional.

            Como estou presidindo a Mesa, peço desculpas por estar fazendo este comentário, mas o assunto é tão sério que eu não poderia, como cidadão, deixar de expor o meu ponto de vista.