Discurso durante a 180ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a crise econômica que abateram os EUA e que se estendeu a outros países.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA INTERNACIONAL.:
  • Considerações sobre a crise econômica que abateram os EUA e que se estendeu a outros países.
Publicação
Publicação no DSF de 01/10/2008 - Página 38537
Assunto
Outros > ECONOMIA INTERNACIONAL.
Indexação
  • COMENTARIO, MOTIVO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, PROBLEMA, MERCADO IMOBILIARIO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OCORRENCIA, QUEBRA, BOLSA DE VALORES, BANCOS, MUNDO.
  • ELOGIO, DISCURSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), DEBATE, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, CRITICA, AUSENCIA, NORMAS, ECONOMIA, SUPERIORIDADE, ONUS, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, PROPOSTA, REUNIÃO, BANCOS, AMBITO INTERNACIONAL, ELABORAÇÃO, MEDIDA DE EMERGENCIA, REDUÇÃO, EFEITO.
  • COMENTARIO, EFEITO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, BRASIL, AUMENTO, PREÇO, MERCADORIA, AGRAVAÇÃO, ONUS, CONSUMIDOR, AUSENCIA, INTERFERENCIA, AGRICULTURA, CONSTRUÇÃO CIVIL, AUTO SUFICIENCIA, PRODUTIVIDADE, POSSIBILIDADE, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, PAIS.
  • IMPORTANCIA, SITUAÇÃO, BRASIL, LIDERANÇA, ATRAÇÃO, CAPITAL ESTRANGEIRO, COMPARAÇÃO, PAIS, AMERICA LATINA, ANUNCIO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), ALTERAÇÃO, DEPOSITO COMPULSORIO, INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, LIBERAÇÃO, RECURSOS, ECONOMIA.

            O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Senador Gim Argello; Srªs e Srs. Senadores, ouvintes da Rádio Senado, telespectadores da TV Senado, mesmo sabendo que estamos na reta final da campanha eleitoral, é muito importante ocuparmos esta tribuna para defendermos nossos pontos de vista, especialmente agora, quando nos vemos diante de um problema que a todos angustia.

            Desde o crack da Bolsa norte-americana, em 1929, o mundo não via crise tão intensa. O medo tomou conta dos mercados financeiros de todo o Planeta.

            O turbilhão econômico, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, começou no sistema hipotecário imobiliário dos Estados Unidos e atingiu em cheio os mercados de crédito, que ficaram quase totalmente caóticos.

            A rejeição ao pacote do governo Bush de socorro aos mercados derrubou as Bolsas e revelou um fracasso de liderança política de dimensões quase tão grandes quanto a crise econômica.

            Mas essa, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Srs. Telespectadores da TV Senado, não foi a primeira medida econômica analisada pelo Congresso dos Estados Unidos. Os congressistas norte-americanos já tinham aprovado dois pacotes, um em janeiro e outro em julho, que totalizaram mais de US$300 bilhões. Não foi suficiente!

            Sr. Presidente, ontem, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York recuou 6,98% e teve a pior queda de sua história, em pontos, num único dia. No Brasil, a baixa foi de 9,36% na Bovespa, após a Bolsa desabar 10,16% e acionar o sistema que interrompe os negócios por meia hora.

            A iminência da quebradeira de bancos e companhias de seguros na América do Norte acendeu a luz vermelha em todos os países. Houve fortes repercussões na União Européia, na Ásia, na África e nas Américas. E os reflexos da crise já estão, infelizmente, chegando ao Brasil. Com que intensidade e de que maneira, depende muito dos mecanismos que teremos à mão para enfrentá-la. E da disposição das sociedade, do setor produtivo, dos trabalhadores, de nossas instituições de responder à altura, preservando as bases da economia.

            Diante disso, o Presidente Lula fez um dos discursos de maior repercussão internacional dos últimos anos, ao falar na ONU, em Nova York, no dia 23 de setembro. Ele disse, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srs. Ouvintes da Rádio Senado, Srs. Telespectadores da TV Senado, que a ausência de regras favorece os aventureiros e oportunistas, em prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores. O Presidente lamentou, citando o emérito Celso Furtado, “... que os lucros dos especuladores sejam sempre privatizados e suas perdas, invariavelmente socializadas”.

            Nesta última segunda-feira, em seu programa semanal “Café com o Presidente”, Lula garantiu que o nosso mercado interno poderá sustentar grande parte da economia.

            Agora, perante a catástrofe iminente, aqueles mesmos que reclamavam, há poucos meses, menos Estado, mais privatizações, recorrem agora aos governos, com total desfaçatez.

            Como de costume, Sr. Presidente, são os menos favorecidos os que mais sofrem. Porque os gestores da crise - os responsáveis pelo problema - dificilmente serão punidos. E muitos podem, ainda, tirar proveito das grandes indenizações e reformas que estão sendo anunciadas.

            Por isso, mais uma vez, o Presidente Lula demonstrou enorme bom senso, ao propor que bancos centrais de todo o mundo se reúnam na Basiléia, a sede do Banco de Compensações Internacionais, na Suíça, para adotar medidas globais.

            Enquanto isso, aqui no Brasil, nosso Estado - acionado, acertadamente, para ajudar a superar as mazelas sociais com políticas de reparação e compensação - pode não suportar tamanho esforço, em meio à crise. É preciso fortalecê-lo, sem dúvida alguma, é preciso blindá-lo.

            De qualquer forma, Sr. Presidente, o sistema puramente liberal entrou em ruptura. É necessário repensar o capitalismo, passando da fase especulativo-financeira dos paraísos fiscais, de uma “economia de cassino” para um capitalismo ético, primordialmente social e respeitador do ambiente.

            É possível tal mudança? É possível. Mais, Sr. Presidente: acho que é inevitável. Como escreveu o economista Joseph Stiglitz, prêmio de economia e ex-presidente do Banco Mundial, é preciso que os dirigentes políticos do Ocidente tenham a coragem de revisar seus dogmas ideológicos.

            Já o Presidente e Senador José Sarney, como de costume, um estadista atento às turbulências internacionais, veio aqui, Presidente Gim Argello, à tribuna do Senado Federal, há poucos dias, chamar a atenção para a crise. E questionou oportunamente:

Como é que um país, que é líder no mundo inteiro, cometeu a imprudência de não fiscalizar, não regular as entidades financeiras, de tal maneira que o sistema bancário norte-americano traz grandes apreensões para a economia daquele país?

            Mas, Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srs. Telespectadores da TV Senado, Srs. Ouvintes da Rádio Senado, infelizmente, já começamos a sentir os primeiros reflexos da crise aqui no Brasil.

            Houve aumento nos preços das mercadorias que recebemos de fora e houve freio na venda dos produtos brasileiros para o exterior. O dólar, Sr. Presidente, se valorizou frente ao real, o que deve trazer, sem dúvida nenhuma, reflexos também para o setor rural.

            Mas, com a predominância da agricultura e da bioenergia na economia regional, os investimentos não podem ser suspensos!

            A agroindústria é uma realidade no mundo. Pode ter momentos de tensão, mas ela, tenho certeza, não será afetada, pois nossa produção está bem desenvolvida, está com total produtividade.

            O crescimento da bioenergia, outro setor predominante, também é irreversível. O mundo busca alternativas, e temos um dos maiores programas de energia limpa e renovável. Basta ver Alagoas, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que é o primeiro produtor de cana-de-açúcar do Nordeste e o segundo do País.

            A construção civil também não deve ser atingida. Somos auto-suficientes na produção interna, e, mesmo que os preços do ferro, aço e cimento se elevem no exterior, haverá pouca interferência, acredito.

            É preciso, Sr. Presidente, tomar conta também do elo mais frágil das relações produtivas, que é o consumidor. É ele o primeiro a sentir os reflexos em alguns setores da economia. Produtos importados já custam hoje até o dobro do que custavam há um mês. E as importadoras já avisam aos varejistas que novos reajustes virão.

            Com o aumento dos preços, as vendas devem sofrer mudanças também. Além da perfumaria, equipamentos de informática já custam 8% a mais do que há 15 dias. As encomendas estão sendo feitas no mesmo dia das compras, para que as empresas não percam com a cotação do dólar.

            Por incrível que pareça, Sr. Presidente, Srs. Senadores, a queda nos preços dos alimentos e nos derivados do petróleo são algumas das conseqüências positivas da crise para o Brasil.

            De acordo com o diretor da Fiesp, Dr. César Tonheiro, a crise não tem apenas aspectos negativos. O especulador que ganha muito sem trabalhar está também vivendo o seu sufoco.

            Um estímulo à produção interna também deve acontecer por conta do encarecimento dos produtos estrangeiros. O grande problema é que vários setores ainda não estão preparados para atender esse mercado.

            Por isso, Srs. Senadores, pode haver queda no crescimento do País, afirmam os pessimistas. Eu, como integro o time dos otimistas, confio no Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, nos Ministros Guido Mantega, Paulo Bernardo, Dilma Rousseff e em toda a equipe ministerial. Eles saberão - não tenho nenhuma dúvida, tenho absoluta certeza - cumprir as diretrizes estabelecidas pelo Presidente Lula e livrar o Brasil dessa crise mundial.

            Nosso País é uma alternativa na questão de segurança nos investimentos. Nossa credibilidade é o nosso grande trunfo.

            Hoje temos reservas de US$200 bilhões. Setores da imprensa especializada internacional afirmam que o Brasil está sólido e preparado para enfrentar uma turbulência internacional.

            De acordo com a própria ONU, o investimento externo no Brasil cresceu 83,7% em 2007. Nosso País, Sr. Presidente Adelmir Santana, liderou a atração de dinheiro estrangeiro entre as economias latinas e recebeu US$34,6 bilhões no ano passado.

            Em outra frente, o Presidente do BNDES, Luciano Coutinho, prevê que os investimentos deverão totalizar R$2,36 trilhões entre 2008 e 2011. Para ele, Sr. Presidente, nosso mercado pujante é um ativo no crescimento.

            De sua parte, o Banco Central está fazendo o dever de casa. Na última sexta-feira, anunciou duas mudanças nos depósitos compulsórios das instituições financeiras que vão liberar mais de R$13 bilhões na economia. A decisão é extremamente oportuna, porque a restrição de crédito no sistema mundial é uma das principais características da atual crise.

            Como disse o competente empresário Benjamin Steinbruch -, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional -, temos de nos antecipar à crise e optar pelo estímulo a setores da construção civil, energia e infra-estrutura, para que sejam porta-estandartes da nova fase.

            Os líderes internacionais, Sr. Presidente, sem dúvida, têm de assumir papéis mais pró-ativos e afirmativos também, sem hesitações. Não podemos nos permitir o fracasso. É uma luta que não podemos perder, porque a crise gera mais fome, cria instabilidade, e devemos reagir todos juntos e agora.

            É urgente um plano de ação global que envolva todas as nações - pobres e ricas, desenvolvidas ou não -, porque há bilhões de pessoas à espera de uma resposta.

            Por isso, eu conclamo - mais: eu desafio - os dirigentes mundiais a assumirem um compromisso aberto de luta contra a crise, em parceria com as organizações e a sociedade civil de todos os países.

            Era, Sr. Presidente, o que tinha a dizer.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/10/2008 - Página 38537