Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Defesa de propostas visando diminuir a vulnerabilidade do Brasil diante das crises econômica e ambiental.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • Defesa de propostas visando diminuir a vulnerabilidade do Brasil diante das crises econômica e ambiental.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2008 - Página 38920
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • ADVERTENCIA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, COMPARAÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, DESTRUIÇÃO, REGIÃO, GELO, PLANETA TERRA, MOTIVO, FALTA, RESPONSABILIDADE, HOMEM, EXCESSO, EXPLORAÇÃO, NATUREZA, MERCADO FINANCEIRO.
  • QUESTIONAMENTO, MODELO ECONOMICO, IMPOSIÇÃO, BANCOS, NECESSIDADE, OBTENÇÃO, CREDITOS, AMPLIAÇÃO, VENDA, ATENDIMENTO, SETOR, PRODUÇÃO, AUMENTO, CONSUMO, DESTRUIÇÃO, SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL.
  • DEFESA, NECESSIDADE, BRASIL, APROVEITAMENTO, SITUAÇÃO, CRISE, FAVORECIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, SUGESTÃO, PRESIDENTE, SENADO, COMISSÃO DE RELAÇÕES EXTERIORES E DEFESA NACIONAL, PROMOÇÃO, DEBATE, ASSUNTO.
  • QUESTIONAMENTO, FALTA, PREVENÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, SITUAÇÃO, RISCOS, BRASIL, SETOR, SAUDE, INFORMATICA, ECONOMIA, AMEAÇA, TERRORISMO, DEFESA, NECESSIDADE, COMBATE, CRISE.
  • ADVERTENCIA, NECESSIDADE, ATENÇÃO, EXCESSO, EXPLORAÇÃO, RECURSOS NATURAIS, MUNDO, PREVISÃO, INSUFICIENCIA, RECURSOS MINERAIS, ESPECIFICAÇÃO, AGUA, DEFESA, FISCALIZAÇÃO, IMPEDIMENTO, EXCEDENTE, PRODUÇÃO, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO, ALCOOL.
  • IMPORTANCIA, DEBATE, DESVALORIZAÇÃO, ORGANISMO INTERNACIONAL, ESPECIFICAÇÃO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI), BANCO MUNDIAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), DEFESA, CONGRESSO NACIONAL, PLANEJAMENTO, LONGO PRAZO, MEDIDA PREVENTIVA, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, MEIO AMBIENTE.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, volto aqui a tocar no assunto sobre o qual falei ontem a respeito da realidade da crise que atravessamos, mas vim falar com uma outra preocupação, embora dentro, Senador Eurípedes, do mesmo tema.

            O que estamos vendo é que dois derretimentos estão acontecendo em escala global em todo o Planeta: as calotas polares derretendo e os bancos também. O sistema ficou mais do que global, ficou planetário. Estamos vendo o derretimento do sistema financeiro, o derretimento de calotas polares como exemplo da crise ecológica.

            O que lembrei aqui é que nem a gente vai conseguir consertar o descongelamento da calota polar colocando geladeira, nem vai resolver o problema bancário apenas colocando dinheiro nos bancos. Creio que, sim, é preciso garantir os depositantes. Os governos devem, sim, salvar os bancos, não aos banqueiros irresponsáveis, mas aos bancos, sim. Mas isso não vai resolver a crise, Senador Tião, por muito tempo, porque por trás da crise bancária, por trás da crise ecológica, existe um modelo, um sistema econômico que pressiona tanto o descongelamento das calotas polares como o descongelamento dos bancos.

            Os bancos derretem não apenas por causa da irresponsabilidade dos banqueiros, embora sobretudo por isso, Senador Simon. Mas os bancos derretem porque temos um modelo econômico que precisa vender cada vez mais desvairadamente para atender a voracidade do consumo e do setor produtivo. E para vender mais, tem que haver crédito. Para haver crédito, tem que haver essa irresponsabilidade chamada alavancamento cada vez maior. Há bancos, nos últimos meses, que transformaram um dólar de depósito em 65 dólares. Dentro dessa mágica que consiste o sistema bancário de emprestar um dólar, recebê-lo de volta em depósito, aí emprestar o mesmo para aquele, volta e empresta para outro, criando aquilo que antigamente se chamava aqui de ciranda financeira. Essa é uma irresponsabilidade, mas ela tem uma causa, e essa causa está no modelo econômico que exerce uma pressão muito forte sobre o sistema financeiro e sobre o sistema ecológico, destruindo os meios naturais e destruindo os meios financeiros.

            Insisti que o Brasil precisa aproveitar essa grande chance, como aproveitou em 1930, com a crise de 1929, como não soube aproveitar plenamente em 1973, com a crise do petróleo, aproveitando apenas o desenvolvimento do combustível etanol, mas sem aproveitar a necessidade de reformular a indústria para deixar que o carro-chefe fosse a produção de automóveis. Podemos estar perdendo uma outra chance.

            Mas quero trazer esta Casa a uma reflexão e a uma responsabilidade. Hoje estamos em um mundo diferente daquele que fomos criados como Casa do Senado. Estamos em um mundo diferente daquele de vinte anos atrás, quando houve a democratização. Estamos em um momento em que ou o Brasil analisa e descobre como se proteger internacionalmente e como colaborar internacionalmente, ou vamos continuar cada vez mais vivendo novas crises.

             Chamo, aqui, o Senador Garibaldi, como nosso Presidente, para que provoque uma discussão aqui dentro, e faça um encaminhamento. Convido também o Senador Heráclito, que é o Presidente da Comissão de Relações Exteriores, para que analisemos com mais cuidado, sem ficar a reboque do Poder Executivo ou, amanhã, de qualquer medida do Poder Judiciário, para saber como vamos enfrentar os desafios que teremos no futuro. O primeiro é este da crise financeira, mas não da crise em si, de algo mais profundo, que é a vulnerabilidade do País.

            Hoje, qualquer país do mundo é vulnerável, e somos vulneráveis às bolsas de valores, a cada banco, a cada banqueiro do mundo. Mas não é só isso: somos vulneráveis ao terrorismo, às doenças que se espalham de uma maneira muito rápida, a muitas ações de fora contra as quais não há como ter barreiras, sem falar nessa vulnerabilidade diária dos vírus da informática, que, a qualquer momento, pode paralisar todo o sistema de transporte ou esta Casa. Nós, hoje, vivemos num mundo de vulnerabilidades. E qual é nossa proposta? Quais são os nossos cuidados? Como estamos tratando as Forças Armadas para impedir a vulnerabilidade do ponto de vista militar? Como estamos cuidando para impedir a vulnerabilidade do ponto de vista da ciência e da tecnologia? Como estamos trabalhando, não apenas para resolver essa crise atual, mas para impedir sermos vulneráveis a cada crise que acontece lá fora. Temos que ter uma política para o meio ambiente em escala global. Não adianta apenas querer e não conseguir proteger a Amazônia. Não sabemos o que vai acontecer de fato se os países não cuidarem dessa grande riqueza que é a riqueza natural.

            Precisamos, sim, discutir o problema que vamos enfrentar de falta de recursos naturais no mundo. Percebemos a crise do petróleo, mas a água também vai faltar, os minerais fundamentais vão faltar... Qual a posição do Governo brasileiro - e, aí, qual a posição do Senado brasileiro - numa reflexão sobre isso para informar ao povo brasileiro sobre o que vai acontecer com a escassez real de recursos naturais. Uma coisa é a escassez circunstancial, conjuntural, que o simples preço, Senador, corrige; outra coisa é a escassez real, a inexistência do recurso.

            Como nós, que somos produtores de água, vamos ficar quando faltar água no mundo, o que não vai demorar muitas décadas? Vamos ver calados o resto do mundo morrer de sede ou vamos ver calados o resto do mundo nos invadir para roubar a nossa água? O que vai acontecer com o recurso terra? Terra é limitado também, sobretudo na medida em que o etanol começar a transformar terra em combustível, Senador Jefferson Praia.

            Para mim, uma das provas da existência de Deus é o fato de os automóveis não serem movidos a água, porque, se os automóveis fossem movidos a água, não haveria água para beber, pois estaria tudo nos tanques dos carros para mover a frota de carros, para viabilizar a indústria automobilística. Graças a Deus, água não move carro! Por isso, a gente ainda tem água. Mas qualquer dia alguém vai descobrir como fazer com que água mova automóvel... Aí vai faltar água. Hoje, não há como fazer mover automóvel com água, mas já há com etanol, que vem da terra, mas que vai se extinguir também, porque a gente vai ocupar toda terra, porque o mercado vai levar a isso.

            Aqui um chamamento de atenção: o etanol é algo positivo para o Brasil, desde que a gente diga onde produzir e onde não produzir, desde que a gente diga para onde vai o dinheiro, desde que a gente diga o que vai fazer com os trabalhadores; se não, pode ser uma tragédia.

            Nós temos de discutir qual o papel dos organismos internacionais. O Fundo Monetário se derreteu também! O Banco Mundial não dá mais as respostas esperadas. As Nações Unidas não têm poder para impedir que um país invada outro. Nunca o mundo precisou tanto de organismos internacionais e nunca eles foram tão frágeis desde que terminou a Segunda Guerra e eles se fortaleceram. E no Senado não estamos trabalhando pelo menos para informar ao povo brasileiro quais são os riscos que nós enfrentamos.

            Eu não vou, neste pouco tempo, Senador Alvaro Dias, continuar falando para não o aborrecer tomando-lhe muito tempo, mas quero concluir com uma proposta, que pode, mais uma vez, cair no vazio. Acho que a gente não tem de fazer proposta apenas quando elas caem no gosto, mas, sim, quando elas saem de dentro da gente como uma necessidade. Volto a propor ao Senador Garibaldi e ao Senador Heráclito que o Senado dê uma resposta ao povo brasileiro sobre a realidade do mundo inseguro, vulnerável, ameaçado, dependente em que a gente vive e, ao mesmo tempo, que a gente diga o que o Senado propõe para, nos próximos anos, nós sabermos como defender a nossa soberania em um mundo global, para sermos capazes de conviver sem derretermos, como está sendo derretido, o sistema financeiro internacional, que está nos levando com ele, e como hoje estão sendo derretidas as calotas polares. Que o Senado desperte para a nossa responsabilidade e para os riscos que nós atravessaremos nas próximas décadas!

            Era isto, Sr. Presidente, o que eu tinha para dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2008 - Página 38920