Pronunciamento de Papaléo Paes em 17/09/2008
Fala da Presidência durante a 174ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Comemoração ao centésimo aniversário de nascimento de Salvador Allende, ex-Presidente da República do Chile.
- Autor
- Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
- Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Fala da Presidência
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Comemoração ao centésimo aniversário de nascimento de Salvador Allende, ex-Presidente da República do Chile.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/09/2008 - Página 37907
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- AGRADECIMENTO, PARTICIPAÇÃO, EMBAIXADOR, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, ELOGIO, INICIATIVA, ALOIZIO MERCADANTE, SENADOR, HOMENAGEM, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE.
- HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, SALVADOR ALLENDE, EX PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, CHILE, HISTORIA, COMBATE, DESIGUALDADE SOCIAL, BUSCA, POSSIBILIDADE, SOCIALISMO, DEMOCRACIA, COMENTARIO, ATUALIDADE, PENSAMENTO.
O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Agradeço e parabenizo V. Exª.
No exercício da Presidência da presente sessão, farei uso da palavra, cumprimentando os Srs. Senadores, o Exmº Sr. Embaixador Álvaro Dias Perez, os Exmºs Srªs e Srs. Embaixadores e demais representantes do corpo diplomático, as senhoras e os senhores.
Ao promover esta Sessão Especial, cuja realização se deve à iniciativa do Senador Aloizio Mercadante, a quem cumprimentamos pela proposta e em quem reconhecemos a sensibilidade para a compreensão do valor da História, o Senado brasileiro reverencia a memória de uma das mais marcantes personalidades que a América Latina conheceu no Século XX. Assim, ao registrarmos a passagem dos 100 anos de nascimento de Salvador Allende, não louvamos apenas a trajetória invulgar de um grande líder chileno, mas também relembramos as lutas empreendidas por tantos heróis, muitas vezes anônimos, em prol de uma sociedade latino-americana livre, solidária e democrática.
Do início ao fim, Allende foi fiel aos princípios que, desde a juventude, abraçou ardorosamente. Jamais perdeu a capacidade de indignar-se contra as injustas estruturas sociais latino-americanas. Devotou-se exemplarmente à causa maior que conferiu sentido à sua vida: transformar uma realidade historicamente assentada na desigualdade, na espoliação e no autoritarismo, de modo a permitir o florescer de um novo tempo, essencialmente balizado pela justiça e pelo respeito aos direitos fundamentais do ser humano.
Do início ao fim, Allende viu-se impelido a enfrentar toda sorte de obstáculos em razão de suas idéias socialistas. Como médico, sofreu impiedosa discriminação profissional, razão pela qual, durante algum tempo, atuou como legista. Ainda na faculdade, engajou-se nos movimentos estudantis, primeiro passo para a consolidação de uma vibrante carreira de líder popular. Em 1933, participou da fundação do Partido Socialista e se elegeu Deputado. Poucos anos depois, sua atuação no Ministério da Saúde, marcada por excepcional contribuição no combate aos graves problemas médico-sanitários do país, deu-lhe projeção nacional.
Após três tentativas, Salvador Allende chega à Presidência da República. Coerentemente com sua história, tão logo iniciou seu governo tratou de executar o programa da Unidade Popular. Em tempos de rígida polarização ideológica, sofrendo violenta oposição dos grupos conservadores internos e a ação externa de quem não se conformava com a possibilidade de mudanças sociais significativas no Chile, além do reduzido apoio parlamentar, Allende sucumbiu à força que contra ele se levantou.
O dia 11 de setembro de 1973 entrou para a História como o fim, pelo menos momentaneamente, de uma generosa utopia. Ante a brutalidade dos que imaginavam serem as armas substitutas naturais da política e da legalidade institucional, Allende preferiu a morte com dignidade, em meio ao bombardeio que transformou o La Moneda em escombros. Um idealista que acreditava ser possível chegar ao socialismo trilhando o caminho da legalidade democrática era abatido fisicamente, mas não derrotado. O primeiro socialista a chegar ao poder na América Latina pela via eleitoral tombava, mas deixava lições importantes e imorredouras.
Hoje, o olhar retrospectivo nos assegura: Allende está vivo!
Ele vive numa América Latina que soube suportar regimes autoritários, que superou o trauma da dor profunda e que foi capaz de recobrar a liberdade.
Ele vive numa América Latina que se esforça por construir regimes verdadeiramente democráticos, não mais se contentando com os aspectos meramente formais da democracia.
Ele vive numa América Latina comprometida com a superação da desigualdade, com a redenção dos setores historicamente excluídos da sociedade, com a abertura de oportunidades para as massas tradicionalmente submetidas a mais abjeta exploração.
Por tudo isso, Allende vive.
A América Latina com que sempre sonhara está-se construindo. Seu sacrifício não foi em vão!
Muito obrigado. (Palmas.)
A Presidência agradece às personalidades presentes nesta bela e importante homenagem.