Discurso durante a 188ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Referência à previsão feita por S.Exa. sobre a crise econômica que se abate pelo mundo. Manifestação sobre a questão das ZPEs e das ferrovias.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA INTERNACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Referência à previsão feita por S.Exa. sobre a crise econômica que se abate pelo mundo. Manifestação sobre a questão das ZPEs e das ferrovias.
Aparteantes
César Borges, Garibaldi Alves Filho, João Ribeiro, Papaléo Paes, Paulo Paim.
Publicação
Publicação no DSF de 14/10/2008 - Página 39482
Assunto
Outros > ECONOMIA INTERNACIONAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DISCURSO, CRISTOVAM BUARQUE, SENADOR, ESCLARECIMENTOS, ANTERIORIDADE, PREVISÃO, ORADOR, CRISE, MOTIVO, DIVIDA, POPULAÇÃO, DEFESA, ALTERAÇÃO, CONDUTA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, COMPARAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, AUSENCIA, CONTROLE, DIVIDA EXTERNA, DIVIDA INTERNA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, PROVIDENCIA, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, REDUÇÃO, EFEITO, CRISE, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, PROBLEMA, ENERGIA ELETRICA.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ENCAMINHAMENTO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), CRIAÇÃO, FUNDO DE INVESTIMENTO.
  • REGISTRO, ANTERIORIDADE, COMENTARIO, ORADOR, SUPERIORIDADE, TRIBUTOS, CRITICA, GOVERNO FEDERAL, DISCRIMINAÇÃO, REGIÃO NORDESTE, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • DEFESA, ABERTURA, FERROVIA, CRIAÇÃO, UNIVERSIDADE, AMPLIAÇÃO, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI).
  • ELOGIO, DISCURSO, PAPALEO PAES, SENADOR, SOLICITAÇÃO, ORADOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INSTALAÇÃO, REFINARIA, MUNICIPIO, PAULISTANA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), AMPLIAÇÃO, ZONA DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÃO (ZPE).
  • COMENTARIO, GOVERNO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESFORÇO, MODERNIZAÇÃO, ALTERAÇÃO, ECONOMIA, INTERIOR, BRASIL.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Garibaldi, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui presentes e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, evidentemente, o primeiro pronunciamento desta tarde foi o do Prof. Cristovam Buarque, no qual ele relembrava que, anos atrás, eu previra esta situação da economia mundial.

            Presidente Garibaldi, eu entendo... E adentrou aqui o nosso Paim, a quem dou minha solidariedade, pois tem um pesquisador que vem ao Brasil; e eu li, decepcionado, que ele atingia a raça negra, dizendo que o QI do Brasil é diminuído por isso. Eu o contesto, e o faço como professor de Biologia, de Fisiologia, de Genética. Nós somos a grandeza de raça por essa miscigenação. Essa mistura dos brancos de Portugal, dos bravos, heróicos, estóicos que vieram da África e aqui escreveram as mais belas páginas em todos os setores da formação da República. Basta citar os lanceiros negros lá do Rio Grande do Sul. E os nossos índios, porque sou descendente dos Tremembés. Eram índios do delta, loiros...

            Mas é isso que faz a beleza de nossa raça do Brasil.

            Agora, o Professor Cristovam, muito atento, Garibaldi, que já havia visto pronunciamento meu, há anos, perplexo com o que havia de acontecer. Eu tenho as minhas crenças e acho que esta Casa, o caminho dela, ao menos os passos que me trouxeram aqui, Garibaldi, foram os do estudo e do trabalho. Foi trabalhando e estudando; estudando e trabalhando que eu dei os passos para representar o Piauí e o Brasil, a fim de podermos ser como os pais da pátria. Por aqui já passaram os homens mais importantes, e a grandeza deste País tem muito a ver com estes 183 anos.

            Justamente, Papaléo Paes, quando vivemos numa democracia... O Garibaldi me abraçou ali e disse que tinha perdido as eleições. Isso é grandeza, Garibaldi.

            Está ali o Rui Barbosa. Só ele está ali. Em 183 anos, quantos passaram por aqui, e só ele está ali. Abaixo de Cristo, só o Rui Barbosa. Olhe, ele só foi governo vitorioso quando se instalou... Ele era do Império e se instalou... Ele foi fundamental para a libertação dos negros, escreveu a lei que foi sancionada pela Princesa Isabel e, em seguida, ele deu o passo para a criação da República. Senador Papaléo, ele só foi governo nos dois anos de Deodoro e nos quatro de Floriano Peixoto. Então os militares quiseram fazer da República um regime militar. Foi aí que ele disse que não participaria, que não trocaria as trouxas das convicções dele por um ministério, porque fora oferecido a ele o Ministério da Fazenda.

            Mas Rui Barbosa, desde esse momento, teve o espírito de oposição que aperfeiçoa a democracia. Uma democracia sem a presença corajosa, forte e brava da oposição será uma farsa.

            Então, queremos advertir este Governo por entendimento mesmo, por entender as coisas. E acho, e estou aqui para aconselhar o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ele tenha a coragem, Senador Papaléo Paes, que o estadista Fernando Henrique Cardoso teve.

            Eu não sou do PSDB, nunca votei em Fernando Henrique Cardoso. Votei no Quércia, que era do meu Partido e, depois, no Ciro, porque somos de cidades vizinhas. Mas eu o reconheço, o País o reconhece, o mundo reconhece Fernando Henrique Cardoso, o grande estadista deste País. E ele teve muita coragem, além de sabedoria. O Garibaldi está ali e é testemunha, nessa luta, de que a economia deste País era uma zorra. Isso era uma zorra. Isso era uma zorra. Graças ao Fernando Henrique Cardoso e por um dos homens públicos por quem tenho a maior admiração, nunca mais o vi, que se chama Pedro Malan. Ora, Paim, isso era uma zorra. A gente tem que respeitar o estadista Fernando Henrique Cardoso, a coragem dele.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Mão Santa.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois não.

            Mas eu quero que V. Exª, que participava da zorra, porque, Papaléo, V. Exª foi prefeito também... Para você ver, Paim, numa época dessas, estava funcionando um tal de ARO - Antecipação de Receita Orçamentária. Os prefeitos que estavam saindo iam ao banco e tiravam um bocadão de dinheiro, um bocadão de dinheiro, incomensurável no dinheiro e na irresponsabilidade, porque era permitido. Eles hipotecavam os fundos de participação. Então, essa dívida era incomensurável. Essa dívida era velha, desde o Dom João VI, quando fugiu.

            Com a palavra o nosso querido, bravo e vitorioso, Presidente Garibaldi Alves. 

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Mão Santa, eu passei a Presidência ao Senador Paulo Paim e vim pedir um aparte a V. Exª. Há poucos instantes, da tribuna V. Exª disse que eu o havia abraçado e, ao mesmo tempo, tinha dito que eu tinha sido derrotado. Mas agora já está me chamando de vitorioso.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - O Rui Barbosa sofreu derrotas, e é o mais vitorioso de todos os Senadores, apesar de V. Exª estar disputando com ele.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas eu quero fazer um esclarecimento. Realmente, o conjunto de forças políticas representadas pelo PMDB - o nosso PMDB -, o PSB, o PT, o PDT, foi derrotado em Natal. Mas o PMDB obteve significativas vitórias no interior do Estado do Rio Grande do Norte, que é o meu Estado. Desse modo, nós, do PMDB, conseguimos eleger 37 prefeitos; o Partido da Governadora do Estado, o PSB, fez 44 prefeitos e os outros Partidos fizeram muito menos prefeitos, o que nos colocou numa situação vantajosa com relação ao interior do Estado. Portanto, nós não nos sentimos assim tão deprimidos, porque, fazendo esse balanço sobre a situação do Estado todo, nós chegamos à conclusão de que, além desses 37 Municípios, tivemos, no meio deles, Municípios significativos e vitórias que conseguimos ao lado de outros Partidos. Tenho certeza de que V. Exª, se fosse fazer um balanço dessa natureza, também chegaria a essa conclusão. Quanto a essa zorra de que V. Exª está falando...

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Da economia.

            O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) -... eu estava rindo aqui, porque a zorra não é só essa da qual V. Exª estava falando, no Brasil todo. Nós estamos numa zorra no mundo inteiro. Nós estamos numa situação, no mundo inteiro - V. Exª sabe muito bem disso --, que nos coloca numa insegurança muito grande. As bolsas estão num sobe e desce muito grande, e estão principalmente caindo. Com relação ao Brasil, o dólar disparou. O Governo está tomando as providências. Eu espero que o Governo tome as providências adequadas. O Presidente se diz muito preocupado em que isso não se constitua um pacote. Convenhamos que nós não temos nenhuma saudade daqueles pacotes econômicos dos Governos autoritários, mas que tenhamos providências que digam respeito principalmente ao fortalecimento do sistema financeiro, ao fortalecimento dos bancos, mas que não se dê dinheiro aos bancos; que se procure realmente fazer com que tenhamos uma compra de ações, que participemos dos bancos comprando ações, mas não permitindo que o nosso sistema financeiro vá para a derrocada, para a bancarrota. Portanto, felicito V. Exª, que está abordando a situação financeira do País a partir até dos idos da década do Governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas se V. Exª está com tanta saudade de Pedro Malan, eu digo a V. Exª que estou quase todos os domingos - neste domingo mesmo - lendo um artigo assinado pelo Dr. Pedro Malan. Pode olhar agora a segunda página do Estadão, de domingo, que lá está o Dr. Pedro Malan. Eu tenho até o conforto de dizer-lhe que, ao lado de Pedro Malan, está um conterrâneo meu - já que V. Exª valoriza tanto os seus conterrâneos do Piauí -; ao lado de Pedro Malan, o jornalista Gaudêncio Torquato, que é lá de Luiz Gomes, no Rio Grande do Norte, que foi vencer em São Paulo, e hoje é um jornalista conceituado. Agradeço a V. Exª, Senador Mão Santa.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Mão Santa, permita-me?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Logo darei o aparte a V. Exª.

            Quero-lhe dizer que Gonçalves Dias, quando fez a Canção do Tamoio, disse: “A vida é combate, que os fracos abate, que os fortes, os bravos só pode exaltar.” V. Exª é esse forte e bravo que o combate só pode exaltar. Acho que caiu bem em V. Exª, que é um forte, um bravo. Mas a política é isso mesmo. Aliás, Winston Churchill, disse que a política é como a guerra, com a diferença de que na guerra a gente só morre uma vez.

            O fim é o seguinte: quero falar sobre a economia no mundo em que vivemos. Vimos um dos melhores líderes do Nordeste, do nosso Partido, Divaldo Suruagy se afogar injustamente. Então era aquela zorra, ninguém sabia o quanto devia. E falo do Pedro Malan, porque ele enfrentou o problema com muita coragem, com muita firmeza, com muito estudo. Hoje, nós devemos, mas sabemos o que é a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nós sofremos e chegamos aqui com as cicatrizes da luta para pagar essa dívida negociada com muita firmeza.

            Eu adverti e estamos aqui por isso. O Presidente Luiz Inácio precisa ter mais humildade. Ele é vitorioso, ninguém vai dizer o contrário. Ele é o que tem mais voto? É. Houve uma distribuição de renda? Houve. Ele é generoso? É generoso.

            Mas Franklin Delano Roosevelt disse: “Cada pessoa que vejo é superior a mim em determinado particular e nesse particular eu procuro aprender”. Luiz Inácio não foi Prefeitinho como nós fomos, nem foi Governador de Estado.

            Nós advertíamos, Paim, que essa dívida é velha. Ela começou quando D. João VI, temendo que Napoleão invadisse Portugal, veio para o Brasil. Isso foi financiado pela Inglaterra e cobrado por ela. Depois, a Inglaterra ainda nos deu dinheiro financiando a vergonhosa Guerra do Paraguai contra a indústria têxtil dos irmãos paraguaios. Essa dívida é antiga e vamos contar...

            Tem a palavra o Senador Papaléo Paes, que nos honra com seu aparte.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senador Mão Santa, quero reconhecer mais uma vez a sua qualidade de orador exatamente pelo conteúdo de seus pronunciamentos e pela forma clara com que V. Exª dá a sua mensagem. Realmente V. Exª, há alguns meses - quem sabe até quase um ano -, chamava a atenção dessa tribuna, como disse há pouco o Senador Cristovam Buarque, sobre o prognóstico da economia - não falava da mundial, mas da brasileira - diante dos gastos incontidos ou excessivos que o Governo brasileiro estava fazendo, mesmo considerando que a economia realmente teve uma melhora, uma injeção de recursos muito grandes. V. Exª realmente acertou.

O que quero deixar bem claro aqui é que realmente as figuras expressivas do Governo, até o Presidente da República, logo que imprensa começou a noticiar a crise norte-americana, a quebradeira norte-americana - que V. Exª chamou aqui de zorra, e o Senador Garibaldi já caracterizou não só como zorra dentro do Brasil, mas zorra total -, fizeram algumas declarações, e V. Exª, assim como eu, ao ouvir as informações e mensagens do Governo, de certa forma, preferimos ficar indignados a abobalhados - indignados porque sabemos que esses homens têm conhecimento da realidade. Ninguém, em sã consciência, mesmo aqueles que não conhecem nada, absolutamente nada sobre economia, jamais poderiam ficar tranqüilos, como tentavam demonstrar as autoridades do Governo, dizendo que esta crise, que é mundial - hoje a globalização é total e não seria a globalização da crise econômica uma exceção -, não nos atingiria. Então, lógico que fiquei indignado quando diziam: “Não, temos 200 bilhões de reservas”. Ora essa, o que sustenta essas reservas? Então, hoje estamos vendo que os investidores internacionais, primeiro, não estão trazendo nada para cá; segundo, estão retirando atabalhoadamente seus investimentos do País. Portanto, vejo que temos que tratar isso não como tratávamos na época da ditadura, quando tínhamos que esconder realmente essas situações. Temos que jogar... Acredito que a estratégia do Governo de esconder foi por causa das eleições. Tentaram amenizar, dizer que estava tudo bem, que não ia acontecer nada, e hoje sabemos que era por causa do processo eleitoral, para não prejudicar os candidatos do partido do Presidente da República. Mas o Presidente da República não tem nada a ver com isso, não tem culpa desta crise. E exatamente por não ter culpa da crise, ele deveria dizer que o País passaria por dificuldades e não deixar todos nós, vamos dizer, indignados ao vermos a crise já neste País. O Governo tem de olhar com grande responsabilidade para esta crise, e a Oposição deve estar sempre atenta - sempre atenta - a fim de denunciar essas falhas graves do Governo, que só fazem prejudicar a credibilidade que nós temos nos homens que nos representam neste País.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Nós incorporamos as considerações sábias do Senador Papaléo Paes.

            Queríamos dizer, daí buscarmos o exemplo de Fernando Henrique Cardoso, que a história deste País é rica de grandes nomes. Ninguém pode negar a capacidade administrativa de Pedro II. Ele foi um grande estadista. A ele devemos a unidade do Brasil. Ninguém pode negar a capacidade administrativa e de visão de futuro, mesmo enfrentando situação difícil - “O homem é o homem e suas circunstâncias”, Ortega Y Gasset -, de Getúlio Dornelles Vargas. Para entrar, ele fez uma guerra para acabar com a corrupção eleitoral da Velha República; os paulistas quiseram tirá-lo em 1932, depois veio a Segunda Guerra em 1945, quando os governos totalitários - Hitler, na Alemanha; Mussolini, na Itália, apoiados pelo Japão - quiseram acabar com a democracia. Então, ele enfrentou três guerras, mas ninguém pode negar a estrutura, o organograma administrativo e social deixado por Getúlio Vargas.

            Mas o que nós queremos dizer é que essa dívida é velha, sempre existiu. Nós nos acostumamos, ô Papaléo, a dever à Europa, a dever, principalmente, à Inglaterra, que trouxe João VI, que financiou... Não era a Portugal que nós devíamos, não; nós devíamos à Inglaterra. Com a Segunda Guerra Mundial, tombou a maioria dos países da Europa e surgiu o capital norte-americano. Então, nós apenas mudamos. Essa dívida é velha, e muito velha.

            Foi muita coragem de Fernando Henrique Cardoso - e eu governava o Estado do Piauí - reconhecer que teríamos dificuldade energética: íamos ter o “apagão”. Ele teve a coragem de enfrentar o problema. Foi chato? Foi. Foi antipático? Foi. Era José Jorge o Ministro de Minas e Energia. E ele colocou Pedro Parente, que é filho de um piauiense (outro gênio), para criar uma Câmara de Gestão. Então, a eles eram subalternos todos os Ministros. E, como na Medicina, há os remédios amargos. Eu já fiz muita cirurgia - e o cão atenta - e, às vezes, pára o coração, aí você tenta uma massagem cardíaca, tenta adrenalina no miocárdio, tenta dar um choque elétrico e tal. Tem que mudar. Em cirurgia, João Pedro, chamamos técnica cirúrgica. É quando está tudo bonitinho, Papaléo: o nervo é branco, a veia é azul, a artéria é vermelha. Mas aí enrola, aparecem as infecções, as peritonites. Aí temos outra cadeira que a gente chama táticas cirúrgicas. São esses imprevistos.

            A mesma coisa é na administração. Aí eles tiveram a coragem - ô João Pedro, foi chato - de criar o que eles chamaram de Câmara de Gestão. Era um superministério. Olha, nos chamaram lá no Piauí, que, vamos dizer, pouco gastava energia, pelo seu potencial industrial, e fomos obrigados a racionar, fomos obrigados a fechar as energias da avenida, das praias, mas enfrentou.

            Então entendo que esse foi um aprendizado e que agora o Governo deva - eu entendo, e o senador é para entender as coisas - chamar e dizer: rapaz, teve isso aí, a zorra, como Garibaldi no seu linguajar, mas diz que é nacional, o Papaléo diz que ninguém está culpando o Presidente da República. Agora, desconhecer, fugir, ludibriar, iludir, aí não está certo, Paim. A gente tem que enfrentar.

            Ô Paim, a coisa mais chata - e eu operei muito... E dá certo eu trazer esta minha vida, porque a minha vida é assim de um médico cirurgião como Juscelino. Às vezes dá certo, apesar de ele ter saído humilhado daqui, cassado, um mártir da Democracia.

            Então, eu queria dizer ao nosso Presidente da República que está na hora... Olha Paim, o maior drama do mundo era quando eu era cirurgião... Naquele tempo não existia essa parafernália de exames. O cirurgião era um clínico que operava. Um dos recursos era a laparatomia exploradora. O meu professor de Cirurgia, Mariano de Andrade, dizia: “Em barriga, eu abro. Depois, digo o que é.” Abrindo, eu sabia e sabia resolver. Mas o triste, Papaléo, era quando a gente abria e encontrava um câncer desses inoperáveis. Mas tínhamos que enfrentar. E era triste, Papaléo. Eu olhava, visitava o doente, a família, via qual dos familiares era o mais equilibrado e... Tem de enfrentar: dizer o prognóstico, a dificuldade.

            Acho que o Governo tem de enfrentar. Primeiro - e o Garibaldi saiu, mas eu queria dizer - ele tem que dar uma marcha à ré nessa Medida Provisória do Fundo Soberano.

            Ô, João Pedro, eu sei hoje economia. Já li o Adam Smith todo, como li o Testut Jacob e Testut Latarget, para aprender Anatomia, e poucas pessoas hoje entendem isso. Vou lhe dizer por quê. Paim, eu lhe respeito muito como parlamentar, mas as coisas ocorrem... Você viu que eu me ausentei da CAS, na saúde. Entrei na CAE. Como fomos firmes, principalmente contra empréstimos da Marta, em relação aos quais o Governo queria ter dois pesos e duas medidas, porque o empréstimo só pode duas vezes mais do que a receita anual. Assim me foi exigido pelo Malan, assim foi exigido ao Divaldo Suruagy, que nunca conseguiu o Prodetur. E nós freamos. Então, eu passei a ser inconveniente e me tiraram. O meu amigo Suassuna deu um jogo da CAE no segundo ano. E o Pedro Simon... Aí houve uma reação, e nós voltamos. Então, eu passei a quatro anos. E o Aloizio Mercadante, mais sabido do que todos, já me convidou foi por antecipação. Então, eu estou lá, Paim, há seis anos - seis anos é uma faculdade de medicina -, convivendo com os problemas econômicos.

            Daí o Cristovam reconhecer que há um ano, há dois anos, o Mão Santa estava advertindo sobre isso. Nada, não. Coincidiu. Correram as coisas. O Paim, que tem tantos anos, não tem seis de CAE. Eu tenho. O Papaléo não tem, tem? Quer dizer, isso é raro. Coincidiu.

            Então, eu sei hoje todos esses dados da economia. Fui o primeiro Senador a alertar o País para o fato de que havia 76 impostos. Fui. Mas não é... Coincidiu. O Paim lá não está nos Direitos Humanos dele se dedicando? Ninguém mais do que ele fez pelo salário do trabalho mínimo, pelo idoso. Pois eu pressenti e fiz um trabalho aqui de que este País tinha 76 impostos. Quem disse primeiro que o brasileiro trabalhava cinco meses para pagar imposto e um mês para o banco, fui eu. A televisão, a Rádio Globo, depois, botou em dias. Mas coloquem as datas. Fomos nós, como Senador: “Olha, está havendo imposto demais.” Advertindo.

            Então, o povo está exaurido, João Pedro. Eu já governei Estado. Não adianta botar mais, porque o povo não paga porque não pode. Não tem mais. Um ano que ele trabalha, seis é de imposto. Cinco para o Governo e um para o banco. Então, está exaurido. Tem que se diminuir. Eu sempre adverti isso. E citava Ted Gaebler e David Osborne, no livro Reinventando o Governo, produto de uma inspiração de Bill Clinton. Não pode ser grande demais, porque afunda; tem de ser pequeno. E a máquina ficou grande demais. Aqui protestamos quando de dezesseis Ministros passou para quarenta; aqui protestamos quando, de repente, tinha cinqüenta mil nomeações diretas do Presidente da República pela porta larga, sem concurso, com o DAS 6 de R$ 10.548. Ó, Papaléo, veja como isso é dinheiro na nossa classe médica: R$ 10.548! Então, isso tudo.

            Aqui protestamos - porque fomos Governador de Estado -, quando eu via estimularem empréstimos. Aqui eu dizia o que Abraham Lincoln disse: Não baseie a sua prosperidade com dinheiro emprestado. E aqui se estimulou, fez-se propaganda, se alardeou, iludiram os velhinhos aposentados. E hoje se tira 40%. Eles estão pagando, porque é tirado na folha, Papaléo, mas muitos estão é se suicidando, porque não dá mais o equilíbrio, além do fator previdenciário.

            Então, Paim... Ó, Garibaldi, onde esteja, não receba esse fundo soberano. Não é oportuno. Eu sou médico-cirurgião, ó Papaléo. O médico-cirurgião aprende quando, como, e onde operar. Quando? Esse não é mais momento. Não é momento de se falar em fundo soberano. É uma palhaçada!

            Vamos discutir na Câmara Federal o fator previdenciário. Aí, ufanaram-se: pagamos o FMI. Eu digo: eu não pagaria. Há dois tipos de dívida. E eu falo, porque o povo me entende.

            Papaléo, você pode não dever nenhum banco, nenhum boteco, nenhum bar, não comprou fiado, mas o Papaléo pode estar com a casa com goteira, sem água, com o sistema de fossa sem funcionar, as janelas quebradas, com os filhos sem alimento, sem a alimentação suficiente em termos calóricos.

            Então, isso em termos de receita no mundo é a mesma coisa. É a dívida interna. Ele não deve a bancos, ele não deve a crediário de loja, mas deve o conforto à família dele: a casa sem goteira, o banheiro com água, a luz e não sei o quê.

            Iludiram. Disseram: “Não devemos o FMI”. Eu digo que deveria e pagaria os velhos. Eu não disse isso? Aqui! Pode ver. É a dívida interna que é colossal. É a dívida interna que o Paim cobra para os velhinhos aposentados que é prioritária. É a dívida interna da educação. A educação do Brasil está uma lástima, uma porcaria! É a dívida com o Nordeste. O Nordeste foi transfigurado. Papaléo, quando leio aqui o livro de Affonso Heliodoro e ele fala em Diamantina...

            Ele diz que em Diamantina acabou o ouro, acabou o diamante, mas ficou a maior riqueza, que era a gente de Diamantina. E disse que lá ninguém ficava à toa, todo mundo trabalhava ou estudava.

            Buscava-se para a juventude um ofício. Estão aí os grandes mineiros.

            Está aqui: em Diamantina, quem não se dedicava aos estudos trabalhava. Aos meninos mais pobres era usual o aprendizado de algum ofício. Lá ninguém vivia à toa.

            Estamos vivendo à toa no Nordeste e no Norte, com uma bolsa, sem sentido, sem uma orientação do estudo e do trabalho.

            Então, antevejo perspectivas negras!

            Agora, estamos aqui, Papaléo, e somos responsáveis por esta democracia. Em 1972, eu estava no pau. Então, essa democracia permite a alternância no poder.

            Olha, o meu Nordeste e o Norte estão pior do que a Venezuela. Estão à toa! Não se acredita naquilo que é a minha crença: o estudo e o trabalho. O estudo é que leva à sabedoria. No Livro de Deus está escrito que ela vale mais do que ouro e prata! O trabalho, o próprio Rui Barbosa disse... O próprio Deus disse: “comerás o pão com o suor do teu rosto”. O próprio Apóstolo Paulo: “quem não trabalha não merece ganhar para comer”. O próprio Rui Barbosa, Senador João Pedro, disse: “a primazia é do trabalho e do trabalhador”. Ele veio antes da riqueza... Então, à toa, sem compromisso.

            Preocupa-me, Papaléo, porque me preocupa! Deus nos preparou. Tiraram o Juscelino, aí, mais ou menos da nossa arrastado, cassado, aqui, porque ele representava Goiás. Ele tinha 61 anos. Era mais novo do que eu. Mas nos preocupa muito! Papaléo, no Nordeste, está-se fazendo nascer criança por quatro salários mínimos que o Governo está dando. É todo o nosso estudo, com planejamento familiar, numa paternidade responsável. As crianças nascem e as mães felizes, está certo, porque aquilo premia o marido com algum carinho. Mas eu pergunto: e daqui a dez anos, essas crianças, Papaléo? E o exemplo. Um povo à toa, sem crer em Deus, que ensinou o trabalho e o estudo. Então, é isso. Mas nós somos maiores do que os que estão aí. E nós estamos... É duro. Eu sei que é duro. Olha, ali, para o Rui Barbosa. Sem oposição a democracia é uma farsa. São os aloprados, são os puxa-sacos, são os donos do mensalão, são os do desemprego. E nós estamos aqui, Papaléo. E eu digo isso, quando eu vejo o Nordeste, que aí está; e o meu Piauí, nunca dantes teve um prognóstico tão ruim.

            Eu não vi nada de visão de futuro. Está, lá, o porto. Eu sonhei, eu votei no Luiz Inácio, em 94. Não se colocou uma pedra, Papaléo. Shakespeare e Hamlet diziam: palavras, palavras, palavras. E eu sou mais forte: mentiras, mentiras, mentiras. Está lá o porto sem uma pedra, João Pedro.

            Uma vez fui atrás de seu Ministro, mas sem uma pedra. Só mentiras, mentiras e mentiras.

            Então, uma ferrovia. Eu vi o Presidente, eu vi o Prefeito da minha cidade, o Governador do meu Estado, o Sr. Alberto Silva, um idealista, engenheiro ferroviário: “Em 60 dias, vamos botar o trem de Parnaíba, Luiz Corrêa; quatro meses, para Teresina”. Não se tocou um dormente. Papaléo, um descaramento tão grande, tão grande, tão grande!

            Eu faria uma pergunta aqui ao Luiz Inácio: aeroporto internacional. Ô João Pedro, V. Exª é do grande Amazonas, quantos aeroportos internacionais há no Amazonas? Um. São Paulo só tem um aeroporto internacional. Rio de Janeiro só tem um. E eu já peguei vôo internacional. Às vezes, nem funciona o de lá.

            O seu Amapá tem aeroporto internacional, Senador Papaléo? São Paulo só tem um. Rio de Janeiro. Para o Piauí, eles falam no papel, no jornal, dois. Lá na minha cidade, não tem nem teco-teco. E, em São Raimundo Nonato, não tem nem jumento mais na pista. Dois!

            A hidrelétrica tem lá. Foi um sonho de Juscelino, terminado por Castelo Branco. A de Boa Esperança entre o Piauí, o Maranhão e Guadalupe.

            Nunca fizeram lá as eclusas, impedindo a navegabilidade. Aí, o Governo fala em cinco hidrelétricas. Ora, se não termina uma?! Ela era conhecida e foi inspirada por Juscelino Kubitscheck, concluída por Carlos Castello Branco, com César Cals sendo o engenheiro da época que a terminou.

            Não era mais o que Shakespeare dizia: “há algo podre no Reino da Dinamarca”. Não algo podre, não. Aqui, está tudo podre, é mentira. Shakespeare dizia: “palavras, palavras, palavras”. Aqui, é mentira, é mentira, é mentira.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Permita-me, Senador?

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Com a palavra o Senador Papaléo Paes.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senador Mão Santa, V. Exª realmente faz um discurso bastante abrangente e importante para o País. V. Exª citou agora a questão dos aeroportos. Hoje, eu ouvia uma rádio, mais propriamente a CBN, entrevistando um cidadão, representante do Governo, que falava que está previsto que alguns aeroportos - claro, rentáveis - serão privatizados no Governo Lula. Ele fazia também referência a que a privatização desses aeroportos iria fazer com que os demais, não rentáveis, deixassem de receber a distribuição de renda daqueles que estavam auto-suficientes e até dando renda. Primeiro, vejo que a Infraero é uma instituição muito importante - foi criada, se não me engano, em 1972 - e teve uma finalidade. Essa finalidade não pode ser deturpada hoje ou essa instituição não pode ser jogada numa vala comum, por causa de algumas pessoas que pintaram e bordaram naquela instituição. Vejo que a maioria dos aeroportos em reforma estão sendo questionados justamente, e muito justamente, pelo Tribunal de Contas da União considerando o processo de corrupção. Por exemplo, no Estado do Amapá, nós temos um aeroporto cuja infra-estrutura está pronta, mas a obra está parada, porque o Tribunal de Contas detectou um desvio, ou seja, corrupção em R$50 milhões, o que é um absurdo. Então estamos prejudicados lá. Hoje é o povo que paga o aeroporto deficiente que tem hoje por causa da corrupção. Quer dizer, nós estamos pagamos por aqueles que cometeram a corrupção. Mas, Senador Mão Santa, para V. Exª sentir o que é um processo eleitoral, eu digo sempre que, quando começa o processo eleitoral, que chamamos a grande festa democrática, parece que os candidatos, os marqueteiros e até esse ambiente de três meses hipnotizam as pessoas; parece que deixamos de raciocinar dentro de uma realidade e passamos a viver no país das maravilhas ou num mundo completamente diferente da nossa realidade. E a questão da privatização, que acabei agora de citar, vai ocorrer dentro de um programa de privatização do Governo Lula. É bom lembrar que, quando o Alckmin foi disputar o segundo turno, principalmente o segundo turno com o Presidente Lula, no que é que eles bateram e, infelizmente, o PSDB não soube se defender? Eles bateram em cima exatamente do maior êxito do PSDB, que foram as privatizações. Eu digo êxito porque beneficiou a população. Todos sabiam que foram positivas essas privatizações, mas não sabíamos dizer como e por que, e incutir isso na cabeça das pessoas. Então basearam-se na privatização, para ser negativo para o Alckmin, e “deixa o homem trabalhar”. Mas qual é esse homem que trabalha? É o homem que faz discurso todos os dias. O nosso Presidente seria um excelente Presidente num regime parlamentarista, porque seria o ideal para fazer discurso, para fazer o serviço de relações públicas do País. Foi o “deixa o homem trabalhar” e o discurso contra as privatizações que fizeram com que o Alckmin, o nosso Governador Alckmin, fosse derrotado nas eleições, porque não tivemos competência ou não levamos a sério o prejuízo que isso estava trazendo para o PSDB. Então, eu gostaria de reconhecer, mais uma vez, a importância do seu discurso e dizer que essa questão dos aeroportos no País é muito grave. Vejo, sim, que se o Presidente Lula tivesse dado continuidade ao programa de privatização de Fernando Henrique Cardoso, grande Presidente da República, estaríamos em situação bem melhor. Mas friso que não podemos tomar uma decisão dessas baseados na questão da corrupção dentro da Infraero. Vamos afastar os corruptos, fazer a empresa readquirir sua credibilidade e ver se a privatização é realmente importante ou não para o País. Muito obrigado, Senador.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporo todas as palavras do Senador Papaléo Paes e, para encerrar, quero pedir ao Presidente da República, pedir ao Partido que está no Governo, na esperança... Como diz Ernest Hemingway, em seu livro O Velho e o Mar, a maior estupidez é perder a esperança. O homem não pode ser derrotado; ele pode até ser destruído, mas a maior estupidez é perder a esperança. Então, nos resta a esperança de reivindicar para o Piauí, que deu várias vitórias ao Presidente da República, inclusive entregando o Governo do Estado a um seu, obras que realmente tenham uma visão de futuro. Tem que ter sensibilidade política, com responsabilidade administrativa e visão de futuro.

            Esse porto começou com Epitácio Pessoa, mas ficou só nas mentiras, mentiras e mentiras. A estrada de ferro... É simples: o Piauí é uma planície e qualquer mestre-de-obras recompõe a estrada de ferro. Lá não há esses acidentes geográficos que complicam, é fácil recompor. Eu acho que o Presidente da República devia manter a sua palavra. É simples.

            O Papaléo falou com muita autoridade das ZPEs. No Japão são centenas e o Piauí luta - cidade do litoral - por essa ZPE, mas só mentiras, mentiras, mentiras. O Shakespeare está superado. Ele dizia “palavras, palavras, palavras”, em Hamlet; aqui são mentiras, mentiras, mentiras.

            Então, eu acredito no saber. Há Estados que têm quatro, seis, nove universidades federais; o Piauí tem uma, antiga, e podia ter uma segunda, a Universidade do Delta. Neste sentido, há um projeto nosso aqui, que já foi aprovado em todas as Comissões do Senado e também da Câmara. Lá, o Paulo Renato, ex-Ministro da Educação, Deputado Federal, já deu parecer positivo à transformação do Campus Reis Velloso na Universidade do Delta. Há outros Senadores que pediram uma, a do Cerrado.

            Então, entendo que os homens que estão no Piauí não têm saber, não têm conhecimento. Então, digo e defendo uma visão de futuro. Fala-se em sua ida para o Ceará. Não sou contrário, mas ele ganhou um porto, vai ganhar uma refinaria, ganhou siderúrgica. E os outros Estados do Nordeste? E o Piauí, que tem o Governo... Só bolsa família, 50,09? Ô Senador Eurípedes, era nas eleições passadas. Isso não vai nos levar a nada. Penso grande. Penso no trabalho e na riqueza. Acho e entendo que Sua Excelência o Presidente da República poderia ser grato ao Piauí colocando lá uma refinaria em Paulistana. Tem esse estudo. A Petrobras tem esse estudo.

            Se olharmos o mapa do Brasil, veremos que o Piauí é comprido, que o sul do Estado se junta com a Bahia. Então, a tese dos técnicos é de uma refinaria em Paulistana. De uma refinaria, que é a deficiência do Norte e do Nordeste... Por que ele defende essa tese? Porque o déficit vai ser de gasolina, de querosene, de óleo diesel e de gás nas capitais do Norte e Nordeste, João Pedro. Então, ele prova que Paulistana é eqüidistante de Boa Vista, Manaus, Belém, São Luís, Teresina, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Aracaju e Salvador.

            Aí dizem que no interior ela é mais cara. Sim, é mais cara! Aí, Luiz Inácio, tem de ter entendimento. Daí eu trazer aqui o livro deste homem: Juscelino Kubitschek. Brasília foi muito mais cara! Brasília foi caríssima! Mas Brasília tirou o Brasil só do litoral. Brasília acrescentou seis milhões de quilômetros quadrados ao Brasil. O Brasil só era litoral. Então, Juscelino teve essa visão. Foi mais cara, mas interiorizou o País, o que já era um sonho de todo o Brasil, e integrou todo o País, que ficou mais, vamos dizer... Suas riquezas foram divididas por todo o território nacional. A mesma coisa aconteceria com essa refinaria em Paulistana. A refinaria seria mais cara do que se estivesse no centro, mas seria uma maneira de soerguer o Piauí, como Juscelino, com sua coragem e visão, interiorizou a capital. Então, haveria uma interiorização com essa refinaria em Paulistana, que é eqüidistante de todas as capitais do Norte e do Nordeste.

            Também por que não para o Piauí uma indústria automobilística? A Toyota está querendo.

            O Sr. João Ribeiro (Bloco/PR - TO) - Senador Mão Santa...

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Por que não? Nós vamos para tirar a desigualdade...

            João Ribeiro, é um prazer ouvi-lo. Antes, quero dizer que Juscelino pensou no tripé. Colocou as indústrias no Sul. Aí, este País, que não tinha nada de indústria, só produzia café e algodão, passou a exportar carro, passou a exportar avião e navio. Além disso, colocou Brasília no centro e aquelas superintendências de desenvolvimento, a Sudene e a Sudam, para tirarem essa desigualdade. Então, para tirar a desigualdade, está na hora de colocar uma produtora automobilística lá em nossa região.

            Com a palavra o nosso Senador João Ribeiro.

O Sr. João Ribeiro (Bloco/PR - TO) - Senador Mão Santa, eu o ouvi atentamente e vim ao plenário exatamente para fazer um aparte a V. Exª. No momento, V. Exª aborda vários assuntos importantes para o Brasil e cobra providências do Governo, com muita propriedade, porque V. Exª é um ilustre representante do Estado do Piauí, que tem sempre uma oratória eloqüente, um homem preparado, culto. A gente sempre ouve seu pronunciamento e sempre encontra, por onde quer que andemos por este País afora, pelo Tocantins, alguém que diz: “Olha, eu gosto de ouvir o Mão Santa, o Senador Mão Santa, porque ele sempre faz pronunciamentos muito contundentes, que as pessoas gostam de ouvir”. Até porque é preciso haver o contraditório neste nosso País, principalmente aqui nesta Casa. V. Exª fala das ZPEs e das ferrovias, dois assuntos que me interessam muito. No tocante às ferrovias, eu só tenho a dizer a V. Exª e às pessoas que nos ouvem que, no Tocantins, vai muito bem a Ferrovia Norte-Sul. Ela já está licitada até Anápolis. E tenho o orgulho de dizer que um dos motivos que possibilitou o Governo, a Valec, a fazer a licitação do trecho de Porto Nacional até Anápolis, foi uma emenda deste Parlamentar, que é da Comissão de Infra-Estrutura do Senado, mas assinada por mim, trabalhada por mim, apoiada pelos outros Senadores da Comissão e, depois, aprovada pela Comissão de Orçamento, pelo Relator Geral, pelo Relator Setorial, que aprovou RS300 milhões dos R$900 milhões que a Comissão aprovou. Então, esses recursos dessa emenda possibilitaram que essa ferrovia pudesse ser licitada. Numa conversa que tive com o Presidente Lula, logo depois, porque queriam vetar essa emenda - num primeiro momento, o Ministério do Planejamento disse que havia um vício de origem, alguma coisa assim, já que as emendas são... Nós Senadores, os Parlamentares temos todo o direito de, no Orçamento, alterá-lo de acordo com aquilo que acharmos que deve ser feito, e o Governo também tem o direito de vetar. Então, tive uma discussão com o Governo naquele momento, uma discussão salutar, e, numa conversa que tive, às 22h30, quando ele me retornou a ligação, ele disse: “Senador, mas essa obra está no PAC”. Eu disse: “Presidente, está até Porto Nacional, não está até Anápolis”. Ele disse: “pois a partir de amanhã, já vou acionar o conselho do PAC, aqueles que cuidam do PAC, vamos colocar essa obra no PAC”. A partir daí, o Presidente realmente colocou, mas aproveitou a emenda que fiz. Quando se tratar deste assunto, quero dizer a V. Exª que pode contar com este Parlamentar, quando se refere à cobrança da ferrovia do seu Estado, que interliga o Piauí. Não peguei bem o assunto, porque estava chegando ao plenário. Com referência às ZPEs, às Zonas de Processamento de Exportação de matéria-prima, elas surgiram mais propriamente na Ásia, na China, no Japão e em toda aquela região, e realmente provocaram um surto de desenvolvimento impressionante. Tanto é verdade que os Estados Unidos não resistiram, não puderam resistir. Num primeiro momento, ofereceram resistência às ZPEs e, depois, tiveram que criar várias delas. Confesso que não sei qual é o número atual, mas nos Estados Unidos há várias ZPEs, assim como em vários países do mundo. Por incrível que pareça, ouvi do Presidente Sarney - e V. Exª também deve ter ouvido -, no dia em que eu fazia uma homenagem a ele, porque as ZPEs foram criadas no Governo dele, sendo de autoria dele... Isso levou tantos anos! Mais de 20 anos se passaram. Portanto, as ZPEs demoraram muito. Houve várias tentativas. A lei demorou muito para ser aprovada. Aprovamos a lei aqui; depois, o Governo teve de vetar alguns artigos. Houve várias reuniões de lideranças na Presidência do Senado, e nós conseguimos ajustar a questão das ZPEs de forma que não prejudicasse a Zona Franca de Manaus. Mas as ZPEs foram, segundo o próprio Presidente Sarney, na época, os chineses estiveram aqui, os japoneses e vários países copiando... A ZPE foi extraída da Zona Franca de Manaus. Veja que coisa interessante! Se nós tivéssemos feito isso naquela época em que o Presidente Sarney queria, o Brasil teria saído na frente. Mas, infelizmente, isso não foi possível. Só que, hoje, as ZPEs já se encontram regulamentadas, em fase final. O Tocantins tem uma na cidade de Araguaína, onde eu fui Prefeito. E nós até fomos muito criticados por aqueles que não acreditavam nas ZPEs, porque foi uma discussão de mais ou menos 20 anos. Quem acreditou, num primeiro momento, acabou virando motivo de chacota depois. E, graças a Deus, hoje nós estamos já caminhando para a fase final da sua implantação. No Tocantins, parece-me que está entre as três mais adiantadas do Brasil. Portanto, a ZPE é algo muito importante. Só que nós já estamos muito longe daquilo que a China é hoje, bem como de outros países do mundo, com referência à industrialização, por causa das ZPEs. Então, eu quero cumprimentar V. Exª pelo seu pronunciamento e dizer que ele vai ao encontro também do nosso pensamento. Essa questão das ZPEs é extremamente importante. Acho que todo o Estado precisa ter pelo menos uma. E o Piauí é um deles, é um Estado pobre, como é o Tocantins, e precisa, sim, se industrializar. E a ZPE é uma forma de industrialização, de fazer aquilo que é a vocação industrial da região: ou é ligada à área da agricultura, do agronegócio, enfim, alguma coisa ligada a terra, ligada à região. O Tocantins tem minério, o Tocantins tem produtos de exportação e várias outras matérias-primas, tem a carne do boi, enfim, tem uma série de coisas, o couro do boi, que pode ser industrializado ali, produzido ali para exportação. E o Piauí tem os seus produtos. Portanto, cada região do Brasil precisa ter uma ZPE funcionando, pelo menos uma, de forma que a gente possa ter um Brasil mais ou menos igual na questão das ZPEs: o Estado rico e o Estado pobre. Não é? E aqueles que eram contra, que são os paulistas, lamentavelmente um dos Estados mais evoluídos, mais industrializados, no Sul e no Sudeste, muita gente era contra as ZPEs... Mas, parece que, com esse novo modelo, já estão mais ou menos favoráveis. Portanto, eu acho que a ZPE será, sem sombra de dúvida, um grande avanço para o Brasil, embora estejamos muito atrasados. Se nós tivéssemos feito, com referência ao tempo, aquilo que o Presidente Sarney disse e com o que eu concordo plenamente, o Brasil já teria avançado muito nessa questão. Então, cumprimento V. Exª, que é um homem muito inteligente e que aborda todos os assuntos que preocupam a população do nosso País. Meus cumprimentos a V. Exª.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu agradeço, Senador João Ribeiro, que é do Tocantins. E lembraria à Presidência desta Casa - quis Deus o Garibaldi estar adentrando, com comitiva - que recue com essa medida provisória do fundo soberano, pois não é oportuna. O cirurgião procura saber quando, como e onde operar. Não é o momento.

            E queria pedir ao João Ribeiro, em vista da influência dele com o Ministro dos Transportes, extraordinário Ministro, para ativar a estrada de ferro central do Piauí, a ZPE.

            E lembraria, com V. Exª aqui presente, que este Congresso, para ter uma vitalidade, Senador, poderia rever aquele projeto que anda ali e que a maioria do Congresso deseja, sobre a revisão de novos Estados.

            V. Exª falou com a grandeza do Tocantins, que V. Exª simboliza: otimismo e luta! O Tocantins da pecuária, do minério e da educação é hoje a capital do Brasil no sistema universitário por computador a longa distância, a Educom, que nós vimos lá.

            No Mato Grosso do Sul, idem.

            Então, há grandes projetos, inclusive o Piauí quer criar o Estado de Gurguéia.

            Esses são temas de cuja discussão o nosso Senador baiano que chega quer participar. Ouço o Senador César Borges.

            O Sr. César Borges (Bloco/PR - BA) - Sr. Mão Santa, eu não acompanhei o discurso de V. Exª, mas ouvi o aparte do Senador João Ribeiro, parabenizando V. Exª pela defesa das Zonas de Processamento para Exportações, as ZPEs. Realmente V. Exª tem toda a razão em fazê-lo, porque seriam muito importantes para o desenvolvimento do País. Vários países adotaram esse modelo. Temos exemplo de sucesso em todo o mundo. Com certeza, seria um grande fator de geração de emprego, renda e desenvolvimento econômico. Entretanto, meu aparte aqui, Senador Mão Santa, não é sequer o Senador César Borges que o está fazendo, é o seu amigo César Borges. Hoje, estou sabendo que é o seu aniversário. Quero parabenizá-lo por esta data e desejar muita felicidade. V. Exª eu conheço de longa data, como Governador do Piauí, que me homenageou àquela época. Construímos uma sólida amizade, com base no respeito e no amor que temos por nossos Estados e por nosso povo. Vejo que V. Exª está sempre em defesa intransigente dos interesses do Piauí. Então, eu queria, nesta data, parabenizá-lo. Continue desta forma, franco, aberto e sincero, sempre defendendo o nosso Piauí. Muito obrigado.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradeço os parabéns. V. Exª tem dado um presente não a mim, mas a todos os políticos do Nordeste, um exemplo de grandeza e trabalho. V. Exª levou a mais grandiosa obra para o Nordeste: a indústria automobilística de Henry Ford. V. Exª deu esse exemplo de coragem, perseverança e realização.

            Concedo o aparte ao Senador Paulo Paim.

            O Sr. Paulo Paim (Bloco/PT - RS) - Senador Mão  
Santa, quero de forma muito rápida cumprimentá-lo no dia de seu aniversário. V. Exª é um homem generoso, preparado e competente. Não é de graça que a cada vez que V. Exª sobe à tribuna e cita o nome deste ou de outro Senador, tenho certeza, há uma repercussão no Estado. É o respeito que a população brasileira tem pela sua capacidade de fazer, da tribuna, de forma improvisada, discursos como o que está fazendo hoje. Além disso, quero cumprimentá-lo pela primeira parte do seu discurso. Muito antes de um Senador negro, V. Exª foi à tribuna e defendeu a comunidade em face da matéria publicada neste fim de semana a respeito de um cientista de nível internacional que estaria chegando ao Brasil e que disse que um dos problemas do País é o da miscigenação e que por isso o QI do Brasil não seria tão avançado. Foi infeliz! Isso mostra que ele é incompetente, porque se fosse minimamente competente não teria feito um pronunciamento nesses moldes. E V. Exª é que foi à tribuna defender brancos, negros, índios, enfim, todo o povo brasileiro. Isto mostra a sua generosidade e a sua visão humanitária. V.Exª é um humanista. V.Exª é um homem comprometido, efetivamente, com o social, com a igualdade, com a liberdade e com a justiça. V.Exª não admite que alguém, seja quem for, chegue ao Brasil e, de forma totalmente equivocada, para não usar um outro termo, ofenda o conjunto do povo brasileiro. Que nós somos uma miscigenação, ninguém tem dúvida. Agora, vir ao Brasil e dizer que o nosso QI não é considerado avançado devido a esse encontro de etnias, de raças, de povos de todos os continentes, de fato, mostra que ele é muito incompetente. E como é bom ver um Senador competente fazendo essa defesa da tribuna, exatamente no dia do seu aniversário. Parabéns, Senador Mão Santa.

            O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Eu queria contestar o cientista, dizendo o seguinte: eu vi uma pesquisa muito interessante sobre quem deveria ser o Presidente do mundo, e quem ganhou foi Mandela. O Presidente do mundo! Foi uma pesquisa internacional. Bill Clinton ficou atrás dele. E eu acho que o Bill Clinton está como nós, reconhecendo.

            Mas essas são as nossas palavras. E como está no livro de Deus “pedi e dar-se-vos-á”, então nós viemos aqui pedir ao Governo do Presidente Luiz Inácio que olhe com objetividade os problemas do Piauí para nossa riqueza futura: o porto, a estrada de ferro, a ZPE, a Universidade do Delta, a refinaria em Paulistana e a indústria automobilística Toyota, que está sofrendo. Nós temos esperança ainda; a esperança é a última que morre.

            E como diz Dom Quixote de La Mancha, no livro de Cervantes, “só não há jeito para a morte”. Eu acho que o Piauí ainda tem jeito.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/10/2008 - Página 39482