Fala da Presidência durante a 187ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Adverte que a dívida interna do Brasil necessita da atenção por parte do governo. Compara o excesso de liberação de crédito imobiliário nos Estados Unidos com o excesso de crédito para financiamento de carros no Brasil.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Adverte que a dívida interna do Brasil necessita da atenção por parte do governo. Compara o excesso de liberação de crédito imobiliário nos Estados Unidos com o excesso de crédito para financiamento de carros no Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 11/10/2008 - Página 39426
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, DEBATE, SITUAÇÃO, BRASIL, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, REGISTRO, CONTROLE, DIVIDA EXTERNA, APREENSÃO, GRAVIDADE, DIVIDA INTERNA, EFEITO, EXCESSO, CONTRATAÇÃO, SERVIDOR, SUPERIORIDADE, TRIBUTOS.
  • COMENTARIO, EXCESSO, LIBERAÇÃO, CREDITOS, MERCADO IMOBILIARIO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, FINANCIAMENTO, AUTOMOVEL, BRASIL, POSSIBILIDADE, PROVOCAÇÃO, CRISE.
  • DEFESA, IMPORTANCIA, GOVERNO, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, POPULAÇÃO, COMPARAÇÃO, CONDUTA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, PERIODO, RACIONAMENTO, ENERGIA ELETRICA.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Quero cumprimentá-lo pela oportunidade desse debate qualificado.

            Senador Gilvam Borges, a admiração por V. Exª cresceu por ter citado Ortega y Gasset. Em seu livro maior, A Rebelião das Massas, ele faz referência ao homem e suas circunstâncias. Atentai bem! Outro escritor espanhol, Cervantes, de Dom Quixote de La Mancha, diz que só não tem jeito para a morte. Sejamos otimistas!

            Mas quero dizer a V. Exª para levar nossas preocupações ao Presidente da República. Esse assunto é fruto de um debate qualificado, iniciado por um dos Senadores mais vocacionados em economia, o Sr. Tasso Jereissati. Nós participamos. As preocupações são imensas.

            Eu sou prático, sou médico-cirurgião, e, às vezes, dá certo. Juscelino Kubitschek era médico como eu, cirurgião. Mas eu vou lhe dar um exemplo. Nós temos dois tipos de dívida: a dívida externa que, como V. Exª falou, está sob controle, mas temos de nos preocupar com a interna. Você pode não estar devendo a bancos, mas a sua casa está com banheiro quebrado, cano furado, não tem descarga, não tem água, está com goteira. Esse é o problema do Brasil. A dívida interna ficou alopradamente grande pelo aumento do número de funcionários, pelo aumento de impostos, que eu denunciei - são 76 impostos. Está exaurida. O povo, que paga a conta, não pode mais pagar. E nós vamos nos submeter.

            V. Exª é homem culto, brilhante, e sabe que essa dívida é velha. Esses são velhos problemas do Brasil. Rui Barbosa, inclusive, os enfrentou com inteligência ímpar. Quando se deu a libertação dos escravos, queriam indenização. Ele, então, deu sumiço em todas as contabilidades de dívida para o Brasil navegar - é preciso navegar, viver não é preciso.

            Mas quero dizer a V. Exª que D. João VI aumentou a dívida quando ele veio. Foi a Inglaterra que o livrou de Napoleão Bonaparte, da França. Então, nós ficamos endividados com a Inglaterra, muito endividados. Na época da Guerra do Paraguai, eles nos deram dinheiro, assim como para a Argentina e para o Uruguai. Com a Segunda Guerra Mundial, a Europa - e conseqüentemente a Inglaterra - sucumbiu economicamente, e emergiram os Estados Unidos. Nós passamos a dever aos Estados Unidos e, quer queiramos ou não, a economia dos Estados Unidos representa um quarto da mundial. O que houve, V. Exª explicou com grande grandeza, e essa explicação deveria ser ouvida pelo Presidente Luiz Inácio. É hora de preocupação.

            É hora de preocupação. Por quê? O problema dos americanos foi com os imóveis e as casas. Eles venderam muitas casas - US$200 mil. E, como V. Exª explicou magnificamente, eles não puderam pagar. Os juros cresceram. Nós aqui caímos no erro. Eu denunciei. Nós temos essa visão. Nosso papel é esse. Estou consciente. Eu não era o Apocalipse, não. Eu estava preocupado. O empréstimo consignado arruinou os aposentados. Eles estão endividados. Atentai bem! Os banqueiros foram protegidos, porque eles tiram na conta. Mas o Governo estimulou irresponsavelmente a compra de carro por dez anos! Tem gente que não tem estrutura para pagar, que não tem nem emprego e está tirando um carro por R$200. Eles vão devolver. Vão devolver. O pânico chegou. Essa é a realidade.

           Então, V. Exª teve a coragem e a firmeza de dar os lados positivos. Mas eu acho que o estadista Fernando Henrique Cardoso teve a coragem. O apagão foi uma mazela dessas. Eu era Governador do Estado. E de repente, ele sugou um técnico muito honrado e muito competente, Pedro Parente, para ser superministro. Não sei como é que ele chamava - não era quartel, não era ministério. Como ele chamava? V. Exª deve se lembrar. Chamou o superministro para enfrentar o problema. E enfrentamos: apagamos as luzes das capitais, houve racionamento. Está na hora de o Presidente da República...É real. Isso não é conversa. Não temos a dívida externa, mas temos a dívida interna, inclusive com os aposentados. Estamos sugando dinheiro dos velhos aposentados, indevidamente. O Paim diz que, imoralmente, cruelmente, é o único país que está tirando e esfolando. Então, nós temos essa dívida interna.

            Mas para as preocupações e para o tema, nota 10. E eu sou otimista, porque pelo menos está um do PT aqui, Tião Viana, que é uma mente arejada. Ele não é do PT, não é do Partido do Ministro, não, mas ele representa o Ministro dos Transportes, do PT, graças a Deus! O problema existe. Atentai bem! Olha a coragem de Fernando Henrique, esse grande estadista que buscou Pedro Parente, um dos melhores homens desta Pátria que enfrentou e nós saímos do apagão.

            Eu fico com a sua citação “O homem é o homem e suas circunstâncias.” E vou além, vou a Dom Quixote de la Mancha: “Só não tem jeito para a morte”. Então, Luiz Inácio, só não tem jeito para a morte. Mas vamos enfrentar, não vamos fugir, não vamos enganar. E, graças a Deus, estão dois membros do PT para levar isso. Só tem esse sentido, se este Senado tiver homens capazes e formos pais da Pátria.

            Entendo que nós estejamos endividados nos Estados Unidos. A dívida é velha, passou da velha Europa e subiu para os Estados Unidos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/10/2008 - Página 39426