Fala da Presidência durante a 190ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do Dia da Criança, e do Dia do Professor.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Fala da Presidência
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do Dia da Criança, e do Dia do Professor.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2008 - Página 39792
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, CRIANÇA, PROFESSOR, COMENTARIO, HISTORIA, EXPERIENCIA, LUTA, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, ESPECIFICAÇÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, SENADOR, ESCRITOR, LEITURA, OBRA LITERARIA, OLAVO BILAC, POETA, DEFESA, SENADO, CONSTRUÇÃO, IGUALDADE, BRASIL.
  • COMENTARIO, DISCURSO, ROMEU TUMA, SENADOR, CRITICA, EXPLORAÇÃO SEXUAL, INFANCIA, ELOGIO, HISTORIA, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • IMPORTANCIA, MÃE, INCENTIVO, CARATER PESSOAL, VALORIZAÇÃO, TRABALHO, EDUCAÇÃO, MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Cristovam Buarque, brasileiras e brasileiros, quis Deus que eu presidisse esta sessão histórica. Este Senado da República tem 183 anos e escreveu as mais belas páginas da democracia do Brasil. Foi fechado algumas vezes - é verdade -, mas quis Deus também eu estivesse ao lado do piauiense que presidiu com muita grandeza esta Casa, quando, pelos idos de 1976, o Parlamento, discutindo uma reforma do Judiciário, o regime militar e os canhões a fecharam. Eu estava ao lado daquele democrata, Petrônio Portella, que enriquece a democracia no Brasil e a história do Piauí. A imprensa foi entrevistá-lo. Professor Cristovam Buarque, ele disse apenas uma frase - aí aprendi que autoridade é moral: “Este é o dia mais triste da minha vida”. Senador Casagrande, eu estava ao lado. E essa força moral fez com que os militares recuassem e fosse reaberto o Parlamento.

            E hoje sei que a história é bela. Aqui jogaram flores em Senadores, como Rui Barbosa, que fizeram a lei sancionada pela Princesa Isabel.

            Mas hoje é um dia bonito. Árvore boa dá bons frutos, fruto do professor Cristovam Buarque, que se iguala aos grandes Senadores que viram na educação a esperança de dias melhores, como João Calmon, Pedro Calmon, como Darcy Ribeiro.

            Eu queria fazer uma reflexão, ao passo que agradeço porque presidi esta importante sessão na história: Padre Antonio Vieira, que viveu lá no nosso Nordeste - ele saía da Fortaleza, do Arruda, ao São Luís, lá do Presidente Sarney, passava pelo meu Piauí -, dizia que o exemplo arrasta.

            Então, o Senado da República dá exemplo a todo o País para homenagearem os professores e as crianças.

            E eu faria minhas, em nome do Senado da República, as palavras daquele poeta, um dos criadores da Academia Brasileira de Letras ao lado de Machado de Assis: Olavo Bilac.

            Atentai bem ao que ele dizia, crianças, no poema “A Pátria”:

Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!

Criança! não verás nenhum país como este!

Olha que céu! que mar! que rios! que floresta!

A Natureza, aqui, perpetuamente em festa,

É um seio de mãe a transbordar carinhos.

Vê que vida há no chão! vê que vida há nos ninhos,

Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!

Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!

Vê que grande extensão de matas, onde impera

Fecunda e luminosa, a eterna primavera!

Boa terra! jamais negou a quem trabalha

O pão que mata a fome, o teto que agasalha...

Quem com o seu suor a fecunda e umedece,

Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece!

Criança! não verás país nenhum como este:

Imita na grandeza a terra em que nasceste!

            Nosso Bilac viveu de 1865 a 1918.

             E, hoje, nós vimos a tristeza. Eu vi um Senador acostumado a enfrentar a violência, Romeu Tuma, chorar pelas violências que tem visto neste Brasil, sintetizada pela pedofilia.

            Atentai bem! Nós nos orgulhamos de fazer parte deste Senado. Como o maior dos Senadores da história do mundo dizia “O Senado e o povo de Roma...”, eu posso dizer: o Senado e o povo do Brasil, juntos, construindo aquela Pátria sonhada por Olavo Bilac.

            Eu traria exemplos a todos os nossos jovens e crianças, o exemplo maior de brasileiros. Ele passou aqui, ele tinha que passar aqui. D. Pedro II deixava coroa e cetro para adentrar e igualar-se aos Senadores e sonhara ser Senador. Juscelino, na sua vida de político - de tumultos, percalços, glórias e sofrimentos - nos deixou um exemplo. Ele foi tirado bem dali, cassado, humilhado, mas fez renascer, como mártir, essa redemocratização que nós vivemos.

            Eu fui buscar, para homenagear as crianças, a maior criança do Brasil, que foi Juscelino Kubitschek, uma esperança a todos. Menino pobre, órfão aos três anos, viu seu pai passar morto de tuberculose. Não podia morar na mesma casa.

            Então, o que ele disse aqui, sintetizando, em homenagem à professora, porque ele dedica à sua mãe, que simboliza o exemplo maior de professora que hoje nós homenageamos.

            E colho essas palavras nesse livro daquele que foi Seu Cirineu, Affonso Heliodoro, que viveu a vida política com ele... Atentai bem, Senador Cristovam, Juscelino disse aqui - e faço minhas as suas palavras:

Diamantina teve ouro, teve diamante e acabou-se, mas não se acabou aquilo que era mais importante, a gente, a gente mineira, simbolizada pela grandeza da gente de Diamantina”.

Apesar do aspecto alegre e folgazão do diamantinense, ele sempre deu valor ao trabalho. Aprendeu a lidar com as dificuldades no labor das catas e lavras, de onde tirava seu sustento ou sua riqueza. Depois provou os rigores de outros trabalhos para sobreviver com decência à pobreza que assolava sua cidade. Lá ninguém vivia à-toa.

            Atentai bem, tem muita gente vivendo à toa neste Brasil.

            Nem mesmo os tipos populares, ninguém vivia à-toa, buscava um trabalho.

         Em Diamantina, quem não se dedicava aos estudos, trabalhava. Aos meninos mais pobres, era usual o aprendizado de algum ofício. E foi nesse ambiente de trabalho, de fé religiosa, de preocupação com o saber, que Juscelino viu passar os seus primeiros anos de vida.

            Em “Dona Júlia - a mãe”, a homenagem dele à professora. Como foi dito aí, eu fui alfabetizado no colo de minha mãe. Como era costume da geração do Arruda, fui ao Colégio Nossa Senhora das Graças, onde os meus filhos todos se educaram por uma irmã Carmosina.

            Olhem o que disse Juscelino Kubitschek, o maior de todos os brasileiros: “Na verdade, tudo o que sou, como cidadão, como brasileiro, como homem público, à minha mãe devo”.

            E o que ela ensinou a Juscelino? Ao responder, presenteio, em nome do Senado, todas as crianças do Brasil: dar valor ao trabalho e desprezar a ociosidade.

            O severo pragmatismo orientava seus atos. Houve uma época em que a mãe e professora trabalhava até dezesseis horas por dia, além dos trabalhos rotineiros do lar: cozinhar, lavar e costurar. Assim foi a Mestra Júlia de tantas gerações, que Juscelino assim definiu: “Bondade, ternura, firmeza e disciplina, e eis os traços marcantes do caráter de minha mãe. É indispensável combiná-los para recompor, com exatidão, sua verdadeira personalidade”.

            Dona Júlia, viúva e professora, pobre, criou seus filhos como as velhas mães mineiras: trabalho, respeito a Deus e vontade de contribuir, sempre servindo, de qualquer forma, a seus semelhantes. Esses princípios nortearam a vida de Juscelino Kubitschek.

            Juscelino foi sempre um madrugador e, por isso, seus dias eram grandes. Havia sempre tempo para uma nova tarefa, mas um trabalho começado devia ser terminado. Isso a sua mãe e professora ensinava.

            A formação cristã de Juscelino completou-se em casa, na escola e na Igreja. De dona Júlia, herdou a coragem, a determinação, a energia, o sentimento de dever e as reservas típicas da raça eslava. Do pai, ele herdou a alegria, o gosto de servir ao próximo e a alegria.

            Esta é a homenagem que, neste instante, fazemos a todas professoras, revivendo a mãe de Juscelino Kubitschek, professora, e a todas as crianças, revivendo o maior dos brasileiros, criança órfã e pobre que foi buscar no saber um caminho.

            O Senador Suplicy, como não poderia deixar de ser, quer prestar uma homenagem, mas eu estou procurando aqui a homenagem maior. É um retrato, Suplicy, que mostra um momento em que ele beija sua mãe. Antes de ceder a palavra a V. Exª, que representa com grandeza o Estado de São Paulo, eu terminaria com a homenagem do maior brasileiro, que foi criança pobre que percorreu caminhos difíceis antes de chegar a ser médico e Presidente da República: o beijo que ele dá e a gratidão que ele mostra por sua mãe, D. Júlia.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2008 - Página 39792