Discurso durante a 222ª Sessão Especial, no Senado Federal

Celebração do centenário de morte de Machado de Assis.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Celebração do centenário de morte de Machado de Assis.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2008 - Página 47638
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, MORTE, MACHADO DE ASSIS, ESCRITOR, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • COMENTARIO, PROBLEMAS BRASILEIROS, RELATORIO, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO), DEFICIENCIA, EDUCAÇÃO, DIVULGAÇÃO, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, ORADOR, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ESTADO DO PIAUI (PI), FALTA, BIBLIOTECA, MUNICIPIOS, INFERIORIDADE, CLASSIFICAÇÃO, EXAME, AMBITO NACIONAL, AVALIAÇÃO, ENSINO MEDIO, COBRANÇA, GOVERNO, INCENTIVO, LEITURA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. em revisão do orador.) - Pediria permissão, para saudar todas as autoridades, todos os intelectuais, que são muitos. Eu poderia esquecer alguns nomes, o que mesmo involuntariamente seria imperdoável. Então, saúdo todos na pessoa do Senador Marco Maciel, que é membro da Academia Brasileira de Letras.

Senador Marco Maciel, estamos aqui, nesta que simbolicamente seria a Casa dos Pais da Pátria, V. Exª traduz este sonho histórico de grandeza que vem desde Moisés, que, desesperado, quis abandonar tudo, saiu quebrando leis... “Vá buscar [ele ouviu a voz de Deus] os mais velhos e os mais sábios e eles o ajudarão a carregar o fardo do povo”. Aí isso foi melhorando na Grécia, na Itália, na França, na Inglaterra e aqui, com Rui Barbosa. E estamos aqui, Marco Maciel. Atentai bem, V. Exª é o que tem de melhor. Da Academia Brasileira de Letras, somos poucos; acho que só V. Exª e o Presidente Sarney. Então, é um filtro.

Mas não fiz o meu credo, como Rui Barbosa, como Clóvis Bevilácqua; não sei se V. Exª já fez o seu. Minhas crenças são simples, sou igual ao povo. Creio no muito que é Deus; creio no amor, que é o cimento da família. Ele disse: “A Pátria é a família amplificada”. Eu creio no estudo, que leva à sabedoria, e no Livro de Deus, que diz que ela “vale mais do que ouro e do que prata.” E creio no trabalho, porque o próprio Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. O Apóstolo Paulo ainda hoje engasga o Suplicy, porque diz: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”.

Então, entre o Apóstolo Paulo e o Suplicy, fico com o Apóstolo Paulo. Mas são comportamentos. Eu tenho minhas crenças. Mas, Senador Eduardo Suplicy, perder para o Apóstolo Paulo não é coisa feia, não. Já perdi eleição e ganhei, e já está puxando aí o negócio... Ele foi um misto; foi ele que propagou este Cristianismo. Ele era judeu, pegou a sabedoria grega e foi um cidadão romano bravo. Foi uma comparação justa. E, neste mundo em que até Cristo perdeu para Barrabás, com V. Exª, foi uma comparação. Não é preciso buscar o art. 14, foi uma comparação do fato; não foi nada de ofensivo, foi história.

Mas vamos adiante. É a crença. O Presidente José Sarney disse: “Mão Santa, por que tu não escreves?” Eu disse que não escrevo. É complexo. Minha mãe era uma boa escritora. Ela tem um livro - A Vida, um Hino de Amor, publicado pela Editora Vozes -, é como Gabriela Mistral. Então, se comparado com ela, ela é melhor mesmo.

Então, falo assim, nessas conversas. Mas quero dizer o que entendo. Eu entendo, Marco Maciel, que V. Exª merece louvor.

Isso aqui é simbólico, mas é o real - um quadro vale por dez mil palavras. Aqui deveria estar pipocando de gente, de povo, de brasileiras e brasileiros. Mas isso é o real e V. Exª tem a esperança, e não pode perdê-la. Ernest Hemingway disse que a maior estupidez é perder a esperança. O homem não é para ser derrotado, ele pode até ser destruído, isso tem no livro O Velho e o Mar.

Estamos com essa esperança, ô Suplicy, que o Apóstolo Paulo tem: fé, esperança e caridade. Não estou condenando o programa que V. Exª defende, que está aí incluída: caridade. Não sou contra, mas estou em opção democrática de dizer que estou mais com ele do que a mensagem que este Governo traz.

Mas eu diria o seguinte, como V. Exª me permite, a oportunidade disso, Senador Marco Maciel. Vamos à realidade, eu não sou pessimista, de jeito nenhum. Eu sou o que mais me aproximo de Juscelino: fui médico, cirurgião de Santa Casa, tive passagem na vida de militar, fui prefeitinho, fui governador, fui cassado - ele foi cassado aqui. Então, eu sou otimista. Juscelino disse que é melhor ser otimista. O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errando e continua.

Mas a realidade é esta aqui. Então eu estava aqui lendo. Atentai bem - ô Suplicy, quem é no telefonema? Eu li um livro que um irmão Marista me deu que diz: cuidado com os inoportunos, e o primeiro era o telefone.

Mas atentai bem! Quinhentos anos do nosso Cristo, brasileiras e brasileiros - não tem crítica, não -, quinhentos anos antes do nosso Cristo, a Grécia tinha lá o programa Paidéia - se fosse, hoje, no Piauí, a gente chamaria pai d’égua, é um negócio muito bom. Quinhentos anos antes de Cristo - olha onde nós estamos!

         Acuidade racional, a precisão gramatical e a maestria na oratória eram virtudes mais importantes do novo homem ideal. A formação adequada da personalidade de um homem para uma boa participação da vida na polis [cidade] exigia uma excelente formação nas diversas artes-ciência, e assim foi criada a Paidéia.

Isso é que é programa de governo bom! Vamos levar para o nosso Presidente ilustre Luiz Inácio. A Paidéia. Quinhentos anos antes de Cristo! Atentai bem, os governantes - Péricles lá.

O clássico sistema grego de instrução e educação pública [pública, pública] incluía ginástica, gramática, retórica, poesia, música, matemática, geografia, história natural, astronomia, ciências físicas, história da sociedade, ética e filosofia. Enfim, todo um curso pedagógico necessário para produzir um cidadão completo plenamente instruído.

Este País está assim de cabeça para baixo. Ginástica é o primeiro deles. Lá, na Itália, os romanos absorveram isso e um Senador como Marco Maciel disse: “Mens sana in corpore sano”, a ginástica era para as crianças; aqui os velhos que estão fazendo. Eu estou andando; vai-se nas academias e há gente andando. Olha aí como nós estamos! Eu estou falando e o debate qualificado, Senador, é para isso. No meu tempo tinha, hoje não tem mais não; pode ir às escolas primárias, não tem, não. A gente faz agora ginástica depois de velho. Nós estamos no meio da rua, nas academias - pode ir.

Isso era. Agora, hoje, meu querido Suplicy, V. Exª, ainda bem... É O Globo. V. Exª não pode ser contra, porque O Globo é duro, não vá ser contra, não, pergunte ao nosso Senador Crivella. Vamos lá. O que diz o jornal O Globo: “Relatório da Unesco mostra deficiências na educação”.

Eu sou lá do Piauí e eu aprendo é com os caboclos. Lá a gente diz: “A gente mata a cobra e mostra o pau e a cobra”. Está aqui, O Globo, de hoje: “Relatório da Unesco mostra deficiências na educação.” Brasil tem a maior repetência da América Latina, aproximadamente, 20%. Atentai bem, nós saímos da 76ª posição para 80ª. O Juscelino disse: “Seja otimista, o otimista pode errar; o pessimista já nasce errado”. Mas o Juscelino não viu esse resultado, Deus o levou. Está aqui, um quadro vale por dez mil palavras. Atentai, meu querido Presidente Luiz Inácio, essa é a verdade.

E é isto: é a falta disso.

Agora, vamos, ô querido Suplicy...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Tenho que sair.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não! O senhor tem que levar este discurso para Sua Excelência, o Presidente Luiz Inácio. Nós estamos aqui para isto, é dever, é o poder. Aqui, nós somos pais da Pátria. Então, estou oferecendo esta oportunidade de o nosso Presidente conhecer a realidade.

Mas, Suplicy, fique aí, não vá morrer de vergonha, não. Já morreram quatro Senadores aqui. Espere aí, deixe só eu dizer. O coração está bom? Quede a equipe médica?

Olhe, nós ficamos atrás da Bolívia. Por isso, o Morales está gozando. Ah, é gozar. Eu não acreditava que nós estávamos atrás da Bolívia. É a Unesco. Não sou eu que sou contra ninguém, não. Isso aqui é a Unesco e O Globo. Vá brigar com a Unesco e com O Globo. Está aqui: atrás da Bolívia. Era inimaginável! Você sabia disso? Não? Está aqui, está aqui. Vá brigar com os homens. Nós ficamos atrás do Equador. Por isso, o homem disse que não paga a conta, o dinheiro. Nós estamos atrás do Equador. Eu não imaginava isso. Ô Marco Maciel, eu não sabia disso, não. Estou sabendo agora. Estamos atrás da Venezuela, do Chávez. Está aqui. Não vá, Senador, não. Do Paraguai!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - É homenagem ao Machado de Assis hoje.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Pois é. E ninguém está representando melhor. O Machado de Assis descreveu os Senadores daquele tempo. Eu quisera que esses outros escritores nos escrevessem hoje. Mas este aqui é um quadro que vale por dez mil palavras.

Quede alguém que represente o Luiz Inácio? O que estava saiu. Essa é a verdade. Aqui, eles falam em debate qualificado, mas é isso.

Enfim, eles podem dizer que O Globo é negócio de americano e não sei o quê, O Globo, o jornal. Então, vamos ver outro: a Folha de S.Paulo, que é lá do Suplicy - aí ele iria ter um enfarte -, analisa a mesma coisa.

Folha de S.Paulo:

“...continua entre os piores, diz Unesco”. “Entre 150 nações comparadas no estudo, apenas Nepal, Suriname e 12 países africanos têm repetência maior que a brasileira.”

Boris Casoy, quando podia dizer, dizia: “Isto é uma vergonha!” Eu posso dizer.

Marco Maciel, esse esforço de V. Exª é fundamental, é a saída.

O Rui Barbosa disse que só tem um caminho, uma saída: a obediência à lei e à justiça. Eu digo, aprendendo com V. Exª, com Cristovam e com Geraldo Mesquita, porque eu sou testemunha - ele iria me dar um aparte, mas não queria demorar e cansá-los, mas vou me somar a Geraldo Mesquita -, eu sou testemunha, eu fui lá e vi o esforço que ele faz em discutir a candidatura.

Geraldo Mesquita, eu não sei. O Piauí não tem tsunami, não tem vulcão - V. Exª foi lá -, terremoto nunca teve, mas entrou o PT lá.

Eu quero dizer que a gente tem que reclamar, Luiz Inácio. Os aloprados estão lhe enganando. Eu estou trazendo a verdade. É o Estado que tem menos bibliotecas: 78 Municípios sem biblioteca! Machado de Assis tinha que ter morrido mesmo, porque, se ele soubesse disso, Srªs e Srs. Senadores... Setenta e oito Municípios sem bibliotecas! Eu estou dizendo isso, porque tenho esperança de que V. Exª faça um plano na Academia de Letras.

         O Enem - olhem, imaginem, eu posso estar errado, não sou dono da verdade, mas busco a verdade -, Geraldo Mesquita, o exame, é uma coisa boa. Olhe o resultado, a nota é de zero a dez: Brasília, com esse poderio, tirou seis; o resto todo foi ao pau. O Piauí - eles são malandros, o nome é esse - tirou o 26º lugar. O PT... É aquilo que dizia Goebbels - aqui tem o Duda, é a mesma coisa, é a encarnação dele -, que “uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”.

O Piauí tirou o 26º lugar, só ganhou de Alagoas, que tirou o último, nas escolas públicas. Há umas escolas privadas boas. Aí, eles meteram o Dom Barreto, que tirou o primeiro, e ficaram... e assim vai a mentira.

Mas eu sou lá do Piauí, em que se diz que “é mais fácil tapar o sol com uma peneira do que esconder a verdade”. A verdade está aqui. A verdade está ali com o Geraldo Mesquita, com o nosso Marco Maciel, com o Cristovam Buarque, que aqui lutam e bravejam.

         Mas, vocês viram, deu no que deu. O Marco Maciel, é porque eles não podem tirar dali. O Cristovam desapareceu com esse sonho de educar. Queria até mudar a bandeira e colocar: “Educação é Progresso”. Mas um telefonema e ele evaporou-se, não é? Mas está aqui, falando em deserto. Essa é a verdade.

Então, nunca dantes... - é dantes mesmo, não é antes, Luiz Inácio! Isso é negócio de Camões: “...aqueles mares bravios”. Nunca dantes a escola pública esteve tão arrasada.

Eu sou agradecido. E Luiz Inácio. E vou trazer a frase que eu acho que o Machado de Assis...

Dois fatos. Eu queria dar um aparte para não incomodá-lo e fui sentar na cadeira do Jefferson Péres, aquele Senador. Um dia, eu ali, conversando: “Jefferson, eu gosto de você, porque você tem uma capacidade sintética extraordinária e se iguala quase a Cristo, que fez o Pai Nosso, um discurso bonito, em um minuto, cinqüenta e seis palavras, O Sermão da Montanha. Aí, ele respondeu, Geraldo Mesquita: “É, a minha oratória é essa. Mas eu devo a Machado de Assis a capacidade sintética, a leitura e tudo”. Aí, eu comecei, na minha ignorância, a buscar melhorar.

Essa conversa já vai demorando, mas eu já vou terminando, porque baixou o espírito do Jefferson Péres aqui: sintético. Então, eu fui buscar Machado de Assis, que está aí, para despertar essa campanha de biblioteca, de livro, de saber e de cultura.

Cem anos da sua morte e ele deve estar tremendo na sepultura, porque, no Piauí, no Governo do Partido dos Trabalhadores, há 78 cidades sem biblioteca. Vejo o esforço do Geraldo Mesquita: fez lá, está aí, computador e tal. Talvez... É governo do PT? Eu não sei. Eu não tive a sua coragem. Deve ser Dom Quixote.

Então, eu diria, o que acho, da mensagem. Devem ter muitas. Primeiro pensamento, escolhi alguns. Olhem este ensinamento dele: “defeitos não fazem mal quando há vontade e poder de os corrigir”. Isso é muita filosofia, aliás, eu até tenho vontade de melhorar.

Frase dois: “a primeira glória é a reparação dos erros”.

Presidente Luiz Inácio, repare, a educação está ruim mesmo. E para Vossa Excelência vou dizer esta, Luiz Inácio, para todos nós, para o nosso Presidente, numa contribuição, pois estou ajudando, não estou... Dizem: “Ah! Falou da...” Não. Eu disse que ela parecia - vá buscar nos Anais - com a Marta Rocha. Era para ele pegá-la - como eu pego a minha mulher, Adalgizinha - e dar um passeio, como eu dou, bem ali em Buenos Aires às 4 horas da manhã. Então, em Montevidéu, que ele pegue a encantadora... Eu disse que ela parecia a Marta Rocha. Marta Rocha, para mim, foi o símbolo da maior beleza e moral. Eu era Governador e a conheci. Então, eu não falei. Eu fiz um.. não é? Isso é comum na retórica. Para que ele pegasse a encantadora senhora D. Marisa e, de mãos dadas, fosse dar uma voltinha na Cinelândia às 11 horas da noite, ou fosse namorar na Rua do Ouvidor, como a gente fazia antigamente, quando este País tinha Ordem e Progresso, como está na Bandeira do Brasil. E não é Primeiro Mundo que eu cito, não.

Geraldo, está aí, é o líder maior do Parlatino, da América Latina - tem o Parlamento europeu - ele foi o nosso Presidente, deu uma saída, mas voltou... Ele que vá a Montevidéu - bem aí, no Uruguai -, que vá à Argentina, onde é possível andar namorando - eu ando lá, namorando a Adalgisa - às 4 horas da manhã; que ele pegue sua esposa e vá.

Em Teresina, uma cidade cristã, outro dia morreu um amigo. Às cinco horas eu soube e disse: Não, deixa que vou à noite para o velório. Mas já não há aquele costume. Cheguei lá, Marco Maciel, com a D. Adalgisa, às 21h30. Aí disseram: “Já enterramos”. Eu disse então: “Como? Mas não morreu às cinco horas?”. Responderam: “Não, mas não pode mais ficar aqui”. “Por quê?” “Porque o vizinho foi ficar e entraram uns ladrões, uns bandidos, e tiraram o sapato, o relógio...” Roubaram até o defunto!

Quer dizer, este é o País em que estamos vivendo. Isso é uma barbárie, Luiz Inácio! É verdade. Em Teresina, minha querida capital, não se faz mais velório. Aliás, um ou outro consegue fazer, mas botando a polícia, segurança... Essa é a violência.

Luiz Inácio é muito feliz, muito esperto e muito sabido. Votei nele em 1994, cheio de esperança, depois acabou. Mas ele tem que agradecer aos governantes, aos Machados de Assis. Este era um País organizado. Ele estudou no Senai.

Ô, Marco Maciel, eu sei o que é Senai, porque a Federação das Indústrias no meu Estado foi criada pela minha família, meu avô, meu tio, até meu irmão, eu diria. O Senai era uma escola perfeita, ô Geraldo Mesquita, na formação de técnicos. Então, o Luiz Inácio não é aquele negócio de retirante, não! Ele é um privilegiado. Estudou no tempo em que tinha educação. O Senai era bom! Estou dizendo que era.

Zé Mário era o diretor de Parnaíba. Tal o respeito que passava, o Senai era um símbolo. Então, o nosso Presidente é um bem-aventurado, é um privilegiado, ele teve escola pública boa, técnica. Ela era boa e hoje...

Eu também, Luiz Inácio, sou agradecido. Eu sou o símbolo de que este País teve homens, teve Machado de Assis... Olha que ele descreveu e não achincalhou. Disse o físico e o temperamento dos Senadores, mostrando a organização. Eu, médico de uma Faculdade de Medicina do Ceará, fui fazer pós-graduação em um hospital do governo, o IPASE, no Rio de Janeiro, e saí bom danado, sabendo. O Pelé estava fazendo gol e eu operando.

         Hoje, não tem mais, Luiz Inácio. O ensino público está arrasado. Cresceu o privado, mas vai distanciar-se, porque uma Faculdade de Medicina custa R$4 mil ao mês. Ao mês! Pensem! Esse boom do Bolsa, que deixa o povo à toa, vai nos dar grandeza, vai nos dar futuro? Eu acho que não. Eu acho que o que nos vai dar futuro é o saber, é o estudo, é a pesquisa. E nós não avançamos.

Então, eu diria a última frase: “A ingratidão é um direito do qual não se deve fazer uso”.

Então, o Presidente da República deve ser agradecido aos governantes que tivemos, e eu também. Eu estudei em escola pública e tudo.

         Estas são as nossas palavras e um cumprimento, um cumprimento... E, para terminar, eu ia dizer só o seguinte: eu não tenho esse saber, mas eu ia trazer um homem que empata com Marco Maciel no Nordeste: Celso Furtado - esse que Juscelino buscou para criar a Sudene. Juscelino fez o tripé: as indústrias, no sul, daí estarmos fazendo carro, navio, avião; Brasília: integração; e as superintendências, como a Sudene, e fez o tripé para segurar este País. Então, esse estadista, comparável a V. Exª... Ele é pernambucano? É da Paraíba. Tinha que ser, depois de tanta confusão por lá.

Então, Celso Furtado diz: “os três maiores gênios brasileiros, na minha opinião” - que é a melhor opinião do Nordeste - “são: Aleijadinho” - a beleza, o estilo complexo, achamos que podemos ter os Leonardos da Vinci, os Michelangelos e os Rafaels, somos artistas -, “Villa-Lobos” - a música, o encanto, a música é melhor do que a oratória, a música está na bíblia, aquele Davi dedilhava e fazia o samba que chamaram Salmos, comunica mais - “e Machado de Assis”.

Então, faço minhas as palavras desse grande homem do Nordeste, paraibano, Celso Furtado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2008 - Página 47638