Discurso durante a 223ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos dez anos de atuação da Confederação Nacional dos Jovens Empresários - Conaje.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos dez anos de atuação da Confederação Nacional dos Jovens Empresários - Conaje.
Publicação
Publicação no DSF de 26/11/2008 - Página 47647
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, JUVENTUDE, ATUAÇÃO, QUALIDADE, EMPRESARIO, DEFESA, VALORIZAÇÃO, ESTUDO, TRABALHO, ELOGIO, VISCONDE DE MAUA, VULTO HISTORICO, REPRESENTANTE, INICIATIVA PRIVADA, IMPERIO, BUSCA, INDUSTRIALIZAÇÃO.
  • CRITICA, EXCESSO, TRIBUTAÇÃO, EMPRESA, BRASILEIROS, DEFICIENCIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, SETOR PUBLICO.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente Epitácio Cafeteira, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros que estão aqui e que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado, permitam-me, porque são muitos os nomes dos que estão prestigiando esses dez anos de atuação da Confederação Nacional dos Jovens Empresários, saudá-los em nome de um. São tantos nomes importantes que eu poderia esquecer algum, o que mesmo involuntariamente seria imperdoável. Então, saudarei a todos na pessoa do Presidente Nacional da entidade, o Sr. Marcelo Azevedo dos Santos.

Senador Epitácio Cafeteira, piauiense, eu estou muito à vontade aqui e com muita coragem de poeta:

Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.

É o poeta maranhense Gonçalves Dias. Fortes e bravos são estes jovens aqui. Estamos aqui para exaltá-los, e muito à vontade, porque os meus ancestrais eram empreendedores. Deus me colocou na Medicina, num caminho longo e sinuoso. Com as bênçãos de Deus e com a coragem e a bravura do povo do Piauí, eu sou Senador da República. Mas a minha família é empreendedora. É por isso que me sinto muito à vontade. Vi o meu avô com uma fábrica de sabão, no Piauí, com o nome da família - Morais. Ele tinha uma cultura de coco.

Fui ao Rio de Janeiro e vi, já adulto - imaginem vocês, que são do Piauí; eu sou filho de maranhense, minha mãe que era piauiense -, vi, nos anos 60, quando fazia pós-graduação no Rio de Janeiro, aqueles produtos lá. O sabão, mudaram-lhe o nome da família, tiraram e colocaram Copa. A gordura, tiraram o nome também, colocaram Du Norte. Mas eu vi. Meninos, eu vi!, isso na canção dos Tamoios, de Gonçalves Dias. Meninos, eu vi a gordura de coco Du Norte ganhar da gordura de coco Carioca. Era imaginar vocês saírem hoje, vocês empreendedores do meu Piauí, e querer ganhar da ONU. É complicado, mas eu vi.

Mas estamos depois. Está ali o Rui Barbosa. Ele fez um credo, e é bonito. Mas eu não sou de escrever. O Sarney perguntou: “Mão Santa, por que você não escreve?”. Eu digo: “Não, complexo”. Minha mãe foi escritora, e boa, como Gabriela Mistral. E ela tem um livro: A Vida é um Hino de Amor. É religiosa. É complicado. Eu ia ser sempre comparado a Marconi. Iam dizer: “A mãe dele é melhor”. Então, fico aqui. Mas tenho minhas crenças. Não escrevi como Rui Barbosa o credo dele. As minhas são mais simples. Eu vim da simplicidade do Piauí. Creio em Deus, creio. Creio no amor. O amor que cimenta a família. E família, Rui Barbosa já definiu: “A pátria é a família amplificada.

Eu creio, meus jovens, no estudo. Eu creio. Eu cheguei aqui estudando e trabalhando, trabalhando e estudando. O estudo é que nos leva à sabedoria. Atentai bem: é o estudo. E lá no Livro de Deus, o Pai de Jesus, está dito que ela vale mais do que ouro e do que prata. Então, meditem sobre o estudo.

        E no trabalho. Eu acredito porque o próprio Deus o disse. Aliás, daí eu destoar um pouco deste Governo, porque as minhas crenças são estas. Eu creio. Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. Eu entendo, entendo bem. Eles é que não entendem. É uma mensagem de Deus aos governantes: buscar o trabalho, criar o trabalho, promover o trabalho.

E aquele herói nasceu na Judéia, cultura grega. E, soldado romano, o Apóstolo Paulo foi mais enérgico. Ele disse: “Quem não trabalha não merece ganhar para comer”.

Aí o Suplicy com aquelas idéias dele. Eu fico mais com o Apóstolo Paulo. Posso estar errado, mas eu fico. Eu acredito, eu creio que essas idéias que estão aí... Não é que eu seja contra esmola, que o próprio Apóstolo disse: Fé, esperança e caridade. Mas eu acredito mesmo é no trabalho.

E Rui Barbosa, que está ali, está ali por isso. Ele disse bem claro - é porque eles não entendem as mensagens -: “A primazia é do trabalho e do trabalhador”. Ele vem antes, ele é que faz as riquezas. A primazia não deve ser para os banqueiros.

         Essas são as nossas crenças. O que entendo do nosso Brasil, o que nos interessa, é o estudo, que era organizado. Lamento dizer. Eu quero ajudar o Presidente, votei nele em 1994. É um homem que deve ser agradecido aos governantes deste País. É um bem-aventurado, um felizardo, eu sei. Foi minha família quem criou, no Piauí, a Federação das Indústrias: Sesi, Senai, o Sistema S, tão bem representado aqui por Adelmir Santana.

Então, o Luiz Inácio, bem-aventurado, não é retirante, infeliz não. Ele é felizardo. Ele estudou no Senai. O Senai era escola boa, muito boa, extraordinariamente boa. Sei até quem era seu Diretor: José Mário Aranha Pinheiro, só de ver a proeminência que se respeitava. Então, o nosso Presidente é um homem que teve muita sorte, privilegiado, estudou no Senai. E eu também, mostrando que este País teve estadistas.

        Cafeteira, eu fiz Medicina no Ceará. Fui para o Rio de Janeiro fazer cirurgia, universidade do Governo, tudo do Governo.

        O Governo era mais responsável, era melhor, tinha visão de futuro. Sou agradecido. Minha mãe me ensinou, a Terceira Franciscana, que a gratidão é a mãe das virtudes. Estudei Medicina em faculdade do Governo, na Universidade Federal do Ceará. Fui para o Rio de Janeiro fazer cirurgia, no Ipase, hospital do Governo. E, pasmem, saiu um cirurgião bom de danado. Era o Pelé fazendo gol e eu operando.

E as nossas gerações todas. As escolas eram boas, o que não acontece hoje. Atentai bem: saiu no O Globo e na Folha de S.Paulo a classificação da qualidade do nosso estudo. Nós caímos: de 76 passamos para oitenta e poucos. Perdemos da Bolívia. Eu não sabia. O Equador está atrás. Então, não está boa, essa é a verdade.

Politicamente, eu queria, neste momento, entusiasmá-los. A juventude é o sonho e o ideal. E, num país feliz, não precisamos buscar exemplos de outros países, outras histórias.

Estou aqui, como médico e cirurgião, orgulhoso, porque está aqui Juscelino Kubitschek de Oliveira. Quer dizer, podemos buscar exemplos industriais, todo mundo sabe que a Revolução Industrial é coisa dos ingleses, no mundo, mas, aqui o tivemos, ele, que foi sacado bem aqui da cadeira onde senta o Marconi. Mas a visão dele... Isto aqui era um país agrícola.

E empreendedor como era, criou lá no Sul as indústrias. Por isso, temos carros aqui; por isso, temos esses navios aí; por isso, temos aviões aí. Botou Brasília aqui no meio e fez essa Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, Sudene, um tripé para segurar este País. Mas o exemplo está aí, e eu daria aos jovens.

Meus jovens, para este País, todo mundo sabe, os portugueses, no começo, mandavam degredados e degradados. Faziam uns crimes lá e “Vai lá para o Brasil. Toma uma sesmaria”. Se tinha mais dinheiro: “Toma uma capitania”. Uns vieram, outros nem chegaram, ou morreram afogados ou foram para outros lugares mais importantes. Então, essa é a nossa história.

O Senador Darcy Ribeiro disse:

Somos esta mistura: ao índio, devemos o amor à natureza, a coragem; ao negro, que trouxeram para cá para trabalhar, a alegria, a musicalidade; e ao branco, o português, esse sentido de estrutura administrativa e o espírito cristão.

         Nós somos isto: a mistura dessas raças. Mas o País se agigantou mesmo quando D. João VI veio, com medo dos ingleses, que eram empreendedores, que tinham as indústrias, que tinham o dinheiro. E ele fugiu de Napoleão. Daí a nossa dívida. Foi financiada a fuga pelos ingleses. E devíamos. Por isso, a nossa dívida. Quando nós nos tornamos independentes dos portugueses, nós que dizemos que eles são burros, mas não são não, eles disseram: “Mas tem essa dívida”. Jogaram para o Brasil. Quando D. João VI veio, quem o transportou, quem trouxe, quem guardou, quem instalou foi o dinheiro dos ingleses.

Mas um jovem, aquele que começou ali, em 1808. Um jovem, bem novo, ficou órfão no Rio Grande do Sul e é o exemplo para vocês tomarem. Nenhum no mundo foi tão grandioso, como aquele menino órfão, que veio, com nove anos de idade, trabalhar muito cedo, no Rio de Janeiro. O trabalho dignifica, engrandece, daí eu acreditar no trabalho. Esse foi o maior exemplo de empresário, Mauá. Atentai bem, Pedro II, o político, e ele deu o gesto. Ó Adelmir Santana, o português não era muito afeito a trabalhar, não. Ele colocava os negros para trabalhar - isso é a história.

Aí, na primeira ferrovia - ele ganhou a concorrência -, esse empreendedor jovem, que começou a trabalhar com nove ou dez anos, atentai bem, fez um carro de mão, madeira boa; chegou ao palanque e chamou o Pedro II, para colocar as primeiras pedras. É como o Cafeteira, que ia inaugurar... como é? Lançamento de obra... como é? É a pedra fundamental. Olha, aquilo o mundo político, a Corte, recebeu como uma ofensa: um branco trabalhar! O Imperador trabalhar! Mas foi assim. Então, esse empreendedor, imaginem vocês - nós não temos dificuldade -, esse homem tinha firma, fico a pensar, na Inglaterra, em Londres, no Uruguai, no Governo, no banco de lá, em Manaus. E, naquele tempo, como se comunicar? Era a capacidade dele de escolher os seus administradores, que iria ver seis meses ou um ano depois.

Então, aquele é o empreendedor. Mas foi o trabalho, o trabalho, o trabalho. Diz Lair Ribeiro, em seu livro, diz que só conhece um lugar onde o sucesso vem antes do trabalho: no dicionário. Então, aquele que é um exemplo maior de empreendedorismo, Mauá, o foi com muito trabalho. Isso é verdade.

E vejam o significado que tenho a contar. Marconi Perillo, o homem mais importante do Piauí, vivo, hoje - e há muita gente importante -, chama-se João Paulo dos Reis Velloso. Foi ele a luz, o farol que iluminou o período revolucionário. Ministro do Planejamento - Epitácio Cafeteira o conheceu -, esse jovem, aos 10 anos de idade, abria a fábrica do meu avô. Filho de carteiro com costureira, deixou um emprego para o segundo irmão, que depois morreu, para o terceiro - para Francisco, para Antonio Augusto e para Raul Velloso. Começou, também, a trabalhar cedo, vendo o exemplo da firma empreendedora do meu avô.

         Então, é isso, jovens. Acreditai. Estou ajudando. Ninguém dá mais luz ao Presidente Luiz Inácio do que nós. E a ignorância? Nada, nada. A ignorância é audaciosa. Está ali Rui Barbosa, Marconi. Rui Barbosa foi Oposição; de 32 anos, só passou seis no Governo. Então, essa é a verdade.

Adentra, neste momento, para prestigiar esta solenidade, o nosso Presidente de fato e de direito. (Palmas.)

        Quero dizer o seguinte: que os meus aplausos se somem aos aplausos de vocês a esses jovens que acreditam no empreendimento.

Eu digo só o seguinte: está bom, porque esse Presidente tem coragem. Vou dar também uma oportunidade ao Presidente. O Governo está errado. Olha, esse negócio de poder eu entendo, e bem, isso foi vaidade nossa. Dividiram-se os Poderes, e disseram que somos Executivo, Legislativo e Judiciário. Não, entendo que sejamos instrumentos da democracia; poder é quem trabalha, é quem paga a conta, a nossa conta, poder são vocês que estão trabalhando, que acreditam no trabalho.

Presidente Garibaldi, além da medida provisória, V. Exª vai levar este recado. Deus escreve certo por linhas tortas, V. Exª chegou aí, para ouvir. Uma homenagem a esses empreendedores. Olha, Garibaldi, sabe quantos dias o povo, esses jovens sonhadores trabalham, para pagar impostos? São 274 dias, e estou com os estudos do IBPT - Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. A classe média trabalha 75% - 75%, Garibaldi! Isso é uma praga pior que a medida provisória.

Setenta e cinco por cento do ano, para a classe média pagar! Isso é o IBPT, Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. Atentai bem, Presidente Garibaldi!

Em face da deficiência de prestação de serviço público, as famílias têm de gastar cada vez mais com o serviço privado, em substituição àqueles que deveriam ser fornecidos pelo Poder Público.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Sr. Presidente Cafeteira, Padre Antônio Vieira, que viveu no Maranhão, disse: “Um bem sempre vem acompanhado de outro bem”. Então, os empresários jovens do Brasil receberam a visita desse país empreendedor, realizador e rico.

Para concluir, queria apenas dizer - atentai bem! Não são dados meus, são do IBPT, Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário - que são 274 dias. Ele diz aqui: “O estudo mostra que a classe média trabalhou até 5 de junho somente para pagar tributos (157 dias); e de 6 de junho a 30 de setembro (117 dias)... para adquirir serviços privados de educação, saúde, previdência, segurança e pedágio”. São 274 dias. E, para tristeza, esse trabalho era do ano passado. Ele disse que aumentou em dois dias o sacrifício do povo do Brasil.

É isto que queremos trazer: com essa carga, o povo está exaurido, não pode mais. O Governo tem que entender que ele tem que enxugar, ele tem que diminuir, que o povo não suporta mais. Daí estarmos alertando. E não somente nós, porque Ted Gaebler e David Osborne, no livro Reinventando o Governo, disseram que o governo pedido por Bill Clinton tinha que ser menor, pequeno, não ser grande demais que nem o Titanic, porque afunda. E quem paga a conta são vocês.

Esse é o apelo.

Mas, para terminar, terminar mesmo, eu queria dizer o seguinte, não seria meu: existia um empresário que foi o rei do aço, ele é americano, Andrew Carnegie. O americano é idealista mesmo, ele faz investimento em saber, em cultura e tudo. Ele encontrou um jovem em uma festa, chamou-o, um jovem recém-formado em advocacia - Napoleon Hill - e disse para ele: “Eu tenho uma preocupação. Eu queria saber por que algumas pessoas têm sucesso e outras fracassam. O senhor vai ter uma bolsa”. Ele levou 25 anos, entrevistando, estudando e analisando.

Vou trazer os três pontos fundamentais do estudo do Napoleon Hill - A Lei do Triunfo, o livro - para os jovens empreendedores.

         Primeiro, todos os vitoriosos têm um objetivo definido. Sêneca, o filósofo, já dizia: “se você não sabe para qual porto vai, vento nenhum lhe ajudará”; quer dizer, o objetivo definido. Você tem de saber o que quer e para onde vai. Isso é velho.

Segundo, confiança em si. Temos de tê-la, como Mauá, que saiu menino do Rio Grande do Sul, órfão, e foi um grande empreendedor. Também o Livro de Deus já diz: “A fé remove montanhas”.

A fé, a fé. Daí o nome Café. O slogan dele, Cafeteira, era a FÉ. Ele botava um FÉ bem grande. Isso é sabido.

         Terceiro, é preciso economizar. Se gastar mais, não ganha. Advertimos o Governo quanto a isso. Um País em que se manda uma pessoa comprar um carro em dez anos, com R$200... Essa é a escravatura da vida moderna. Esse negócio de negro de que fala o Senador Paulo Paim, a Princesa Isabel e Abraham Lincoln já resolveram. A escravatura da vida moderna é a dívida. Não se entusiasmem com isso!

Então, partam! Como fiz uma homenagem ao Maranhão, tenho fazê-la também para o Piauí aos jovens que estão aqui dando exemplo.

“Piauí, terra querida, filha do sol do Equador”, na luta, o seu filho é o primeiro que chega. Então, os presentes aqui: o presidente é o Alexandre Magalhães, que tem um exemplo na família, o avô empreendedor, usineiro realizado; o Aluísio Sampaio Neto, cujo pai já foi Senador aqui, gente boa; o Vicente Pacheco, o Israel, o Ítalo Mota, e tinha que ter uma mulher extraordinária, Marta Vasconcelos. Enfim, a esses jovens e a todos os empreendedores que têm essa esperança e crença no trabalho, os meus aplausos se somam com os seus aplausos. (Palmas.)

Sejam fortes, bravos, empreendedores, ricos e felizes!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/11/2008 - Página 47647