Discurso durante a 233ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lamento pelo fechamento do jornal A Tribuna da Imprensa, do jornalista Hélio Fernandes.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Lamento pelo fechamento do jornal A Tribuna da Imprensa, do jornalista Hélio Fernandes.
Aparteantes
Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 10/12/2008 - Página 50530
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • ANALISE, IMPORTANCIA, LIBERDADE DE IMPRENSA, COMENTARIO, CRESCIMENTO, AUDIENCIA, EMISSORA, TELEVISÃO, SENADO.
  • GRAVIDADE, DIFICULDADE, JORNAL, TRIBUNA DA IMPRENSA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EXCLUSIVIDADE, DIVULGAÇÃO, INTERNET, ELOGIO, INDEPENDENCIA, COMBATE, DITADURA, ESTADO NOVO, REGIME MILITAR, LUTA, REDEMOCRATIZAÇÃO, HOMENAGEM, JORNALISTA, FUNDADOR.
  • PROTESTO, INJUSTIÇA, GOVERNO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), AUSENCIA, INDENIZAÇÃO, JORNAL, TRIBUNA DA IMPRENSA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PERSEGUIÇÃO, DESTRUIÇÃO, PERIODO, DITADURA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senador Papaléo Paes, que preside esta sessão do Senado Federal, de 9 de dezembro, terça-feira, Parlamentares presentes, brasileiras e brasileiros aqui no plenário e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

Senador Mozarildo Cavalcanti, atentai bem! Um Presidente dos Estados Unidos, Papaléo, Theodore Roosevelt, ô Simon, antes de Franklin Delano Roosevelt, referiu-se a um pensamento muito oportuno para o que vou dizer. Papaléo, ele, com aquela formação democrática, disse uma vez que, se os Estados Unidos tivessem que fazer uma opção entre um país com governo, com Presidente da República, e sem imprensa, ou ter uma imprensa livre e não ter governo, ele, Mozarildo, Theodore Rossevelt, disse que preferiria que o país não tivesse governo, mas tivesse uma imprensa livre.

Atentai bem! Nós sabemos que, neste mundo capitalista, a imprensa é muito dependente do governo. Mas, de quando em quando, a imprensa, a mais antiga, que é o jornal, o rádio e hoje a televisão, vale pela verdade que diz.

Ô Papaléo, não tem hoje veículo de comunicação mais ouvido do que a TV Senado. Não tem, não tem, porque aqui é a hora da verdade. Aqui podemos dizer como dizia Boris Casoy; isso é uma vergonha. Aqui traduzimos a origem divina do Senado. A Moisés faltou liderança para manter a ordem, e ele quebrou as tábuas com a lei, dizendo: “eu vou largar tudo”! Mas, segundo a Sagrada Escritura, ele ouviu uma voz, que dizia “busque os mais velhos, os mais experimentados, e eles lhe ajudarão a carregar o fardo do povo.”

É por isso que o Senado exige uma idade mínima, por isso os Senadores são chamado na história do mundo os pais da pátria, os mais velhos e os mais experimentados.

Papaléo, aí nasceu a idéia do Senado, melhorada na Grécia, melhorada na Itália. Tivemos Cícero, o grande orador, que falava “o Senado e o povo de Roma”. Nós aqui, ô Joãozinho, podemos dizer: “o Senado e o povo do Brasil”.

Temos que entender, e o Luiz Inácio principalmente, que nós nos curvamos aos fatos. Aprendi com Petrônio Portella, um piauiense que dirigiu esta Casa, que repetia: “não agredir o fatos”.

O fato é que o Luiz Inácio é o nosso Presidente. O fato é que ele teve 60 milhões de votos.

Mas também é fato que somos, nós aqui, filhos da democracia que o povo construiu; filhos do voto e do povo, como Luiz Inácio. E outro fato é que já somei os votos daqui: são 80 milhões, bem mais do que os do Luiz Inácio. Nós somos povo. Aqui é o povo, nesse sistema representativo. Então, nós somos. Quero dizer então desse valor, nesse País democrático, e me veio à mente Theodore Roosevelt. 

Senador Mozarildo, é com tristeza que anuncio que foi fechado um dos jornais de maior beleza histórica deste País, jornal que nasceu para acabar com a primeira ditadura civil do estadista Vargas e enfrentou a ditadura militar: Tribuna da Imprensa. Eu era menino e ouvia Carlos Lacerda. Raul Brunini, Vereador, apresentava Carlos Lacerda, às 9 horas da noite, na Parnaíba, lapa de jornal, eu e meu pai ouvindo Raul Brunini, Carlos Lacerda.

Carlos Lacerda fundou esse patrimônio que nós temos. Nós temos muitos patrimônios, pois esta República é grande. Todos comemoramos os 100 anos do construtor de Brasília, Niemeyer. E temos este patrimônio na vida jornalística: Helio Fernandes. Ele deve ter uns 90 anos e manteve a Tribuna da Imprensa, jornal que nunca se curvou a poder nenhum. Acho que ele vai para o Guinness Book, porque todo os dias, durante a revolução - eu era menino e via - mandavam prender o Helio Fernandes. Ele foi preso muitas vezes, algumas delas, inclusive, naquela encantadora Ilha de Fernando de Noronha. Sempre firme, firme!

Senador Mozarildo Cavalcanti, este País não vai bem. Vimos aqui muito pilantra dizendo que foi perseguido pela Revolução; e é só passando aposentadorias gigantescas para pilantras e malandros que estão aí. E elas são aprovadas rapidamente pela Justiça e aqui.

Se este País tiver uma vergonha histórica de reaver os danos... A Tribuna da Imprensa foi bombardeada na ditadura. Soltaram bomba lá dentro, quebraram tudo. Eles têm uma causa na Justiça.

Senador Geraldo Mesquita, V. Exª representa tudo o que Abraham Lincoln disse: “caridade para todos, malícia para nenhum e firmeza no Direito. Então, esse jornal é independente - é difícil haver um jornal independente -, e eu, Senador independente do independente Piauí, lamento o fato de a Justiça estar postergando um direito líqüido e certo de indenização.

Senador Pedro Simon, trata-se de uma indenização, cujo direito Helio Fernandes tem, porque o seu jornal foi estraçalhado no período da ditadura. Soltaram bomba, metralharam, e a indenização não anda. Quantos pilantras, a toda hora da semana, companheiros, recebendo indenizações milionárias.

E Rui Barbosa, Senador Papaléo Paes, disse: “Justiça tardia não é justiça, é injustiça manifesta”. Então, fecha-se.

         V. Exª poderia dizer que é ousadia do Mão Santa, mas Shakespeare diz que a ousadia dos mais novos com a experiência dos mais velhos dá a sabedoria. Está aqui, e eu faço dessas as minhas palavras.

Ontem, o Presidente Sarney, um estadista, também manifestou o seu desabafo. Sarney diz esperar ressurgimento do jornal. Ontem mesmo.

Isso é um absurdo. E o absurdo maior é ter saído um governador daqui, democrata, filho de jornalista, e permitido essa ignomínia. Ô Sérgio Cabral, não vá com essa bola toda, não! O Rio de Janeiro tem o Cristo Redentor; o Rio de Janeiro tem o Maracanã; o Rio de Janeiro tem o samba, mas uma das grandezas do Rio de Janeiro é a independência livre de seus jornais. Então, queremos mobilizar todo o País para fazer renascer aquele jornal que lutou pela redemocratização.

Com a palavra o Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Felicito V. Exª pelo seu pronunciamento. Estava inscrito para falar exatamente sobre essa matéria. E, se V. Exª me permitir, neste aparte, quero pedir a transcrição, nos Anais da Casa, de uma entrevista de duas páginas no jornal Zero Hora, em que jornalista Helio Fernandes faz uma análise do seu jornal, da história e do que está acontecendo com o jornal. Eu, durante muito tempo, divergi do jornalista Helio Fernandes. Fui um adversário permanente, um guri, mas adversário de Lacerda. Lacerda foi duro com Getúlio Vargas, foi duro com a democracia em 1964. Mas não há como deixar de reconhecer a dignidade, a firmeza e a luta desse extraordinário jornalista que é Helio Fernandes. Não há como deixar de reconhecer o seu esforço, seu trabalho e a independência de seu jornal. Na hora da ditadura, na hora mais dura, na hora mais dramática, ele podia ter se acomodado. Morto Lacerda, assumia o comando e podia ter se acomodado. E como muita gente subiu, cresceu e avançou na democracia... Mas Helio Fernandes foi injustiçado, foi preso e foi locado em uma prisão domiciliar no interior do Brasil. No entanto, levou adiante o seu jornal com dignidade e com coragem. Levou adiante seu jornal, em que praticamente não se via publicidade, e, durante a ditadura, quase não sabemos como ele conseguiu resistir. O estranho, no entanto, é como um jornal que teve a categoria e a competência de ir adiante durante todo um regime de opressão, numa hora de plenitude democrática, tendo no comando do País um Presidente democrata, ligado às questões populares, esteja vivendo essa dificuldade. O argumento dele é realmente impressionante. Eu acho, com todo respeito à Justiça - e tenho muito respeito -, que a Justiça pode dizer sim e pode dizer não, mas ficar vendo o tempo passar, quando vemos tantas decisões de tantas pessoas que ganharam uma montanha de dinheiro, a pretexto de reparação de danos da época da ditadura. Isto é algo de que não se precisa testemunhas, argumentos e provas sobre o que a Tribuna da Imprensa sofreu, e sofreu estertores no regime militar, com a proibição de ter qualquer tipo de propaganda, com a proibição até da distribuição. Todos sabemos o que foram as injustiças vividas por aquele jornal. Diz o Dr. Helio Fernandes que, com o dinheiro a que eles têm direito, o jornal entraria na normalidade. O jornal continua com os seus grandes nomes, entre os quais destaco, além de Helio Fernandes, esse jornalista que, para mim, é um dos mais extraordinários que conheço, pela independência, pela competência, pela seriedade, que é o jornalista Carlos Chagas. Eles continuam na Internet. Faço questão de ler todos os dias as matérias que são publicadas, onde ele diz que “O jornal impresso (Tribuna da Imprensa) não vai acabar”. Eu acho, com toda a sinceridade, que a solidariedade ao jornal é importante, bem como o respeito a esse jornalista Helio Fernandes, um lutador, um batalhador, do qual podemos divergir, discordar, mas de cuja competência temos a obrigação de reconhecer, bem como de sua seriedade, de sua dignidade. Penso que foi um momento de muita tristeza para o Brasil deixar de circular a Tribuna da Imprensa, que era um símbolo do respeito à liberdade de imprensa. Acho deve ser um desejo, mais do que um desejo, uma colaboração; mais do que uma colaboração, uma ansiedade e uma obrigação de cada um de nós fazer o que for possível para que a Tribuna da Imprensa volte a funcionar. Peço a transcrição, se V. Exª me permite, por meio do seu pronunciamento, dessa matéria importante de duas páginas de Helio Fernandes ao Zero Hora de Porto Alegre. E levo a Hélio Fernandes, levo a Carlos Chagas e aos homens da Tribuna da Imprensa o meu abraço, o meu carinho, o meu respeito e a minha confiança de que logo, logo, mais cedo do que se imagina, o jornal voltará a circular. Lembro ao povo do Brasil que na Internet estão as páginas mais importantes, e a Tribuna da Imprensa continua a dizer o que pensa e o que sente. Obrigado a V. Exª.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Incorporamos todas as palavras desse Cícero do Parlamento brasileiro. Assim como a Itália se orgulhava do Senador Cícero, nós nos orgulhamos do Pedro Simon.

Sr. Presidente, este País tem umas instituições de grandeza. A ABI - Associação Brasileira de Imprensa fez os seus 98 anos - Papaléo, que beleza, quase um século a ABI! - e lançaram um jornal tendo como símbolo, como ícone, como orgulho a bravura e o estoicismo do jornalista Helio Fernandes.

Governador Sérgio Cabral, meu companheiro Senador daqui e do meu partido, eu diria como Boris dizia no passado e talvez hoje ele não possa mais dizer: “isto é uma vergonha!”.

Pedro Simon, nós queremos que V. Exª assuma essa Presidência - V. Exª ou Sarney -, mas, antes de dar o meu voto, quero fazer logo um pedido.

Geraldo Mesquita...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Quando V. Exª diz nós...

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ...nos nossos gabinetes, não há assinatura de um monte de jornal...

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O “nós” de V. Exª é o “nós” majestático.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - ...alguns deles nem queremos ler.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O “nós” de V. Exª é o “nós” majestático, quer dizer, eu, Mão Santa, usando o pronome nós, porque é só V. Exª mesmo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Não, o Papaléo que está aí do lado, o Geraldo Mesquita... Não é assim, não.

Mas aqui nós podemos. E eu chamo o nosso Garibaldi Alves. Um dos jornalistas daqui, Garibaldi Alves, está aqui decantado. Li a homenagem que a ABI fez antes desse desastre. Olhe ele novinho aqui - atentai bem: Comando Herzog, “a ditadura vai acabar, nós não”. Olhe, para dizer isso tinha que ser macho. Não vou dizer aqueles negócios do Collor e nem do Luiz Inácio, mas aquilo era na ditadura. Olhe aqui: “a ditadura vai acabar, nós não”. Helio Fernandes era esse bravo jornalista. Ele foi muito mais para nós do que o Voltaire foi para a França, do que o jornalista Winston Churchill - ele era jornalista - foi para a Inglaterra. Olhe ele novinho, usando os gastos pelo sacrifício da luta das liberdades, do direito da imprensa.

Ele começou em O Cruzeiro. Olhe a capa da revista O Cruzeiro. V. Exª se lembra dela?

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Isso é homenagem da Associação Brasileira de Imprensa.

Olhe ele aqui abraçado com o Brizola! Ó Pedro Simon, a luta, as dificuldades. Com Carlos Lacerda. Então esse é o patrimônio da luta democrática.

         Olhe aqui os militares cercando o jornal dele, a casa, e ele resistindo com a dignidade e a vergonha. Então, esse é o homem.

E o Garibaldi, que tem tido tantas atitudes de firmeza, que, eu, no lugar dele - aliás, eu seria um bom substituto, porque ele está querendo me colocar como 2º Secretário, ouviu, Pedro Simon? -, faria logo a assinatura.

Nos nossos gabinetes há jornais de todo o mundo, uns nós não queremos nem receber. Por que não assinar a Tribuna da Imprensa, que tem a história, que tem a vergonha?

Tribuna da Imprensa: “A História de um Título”. À noite... Isso tudo é ABI homenageando.

E ao Piauí, por que eu estou aqui?

Mozarildo! Sabe qual era o maior amigo dele? Mário Lago. Era uma dessas figuras que não existem. Mário Lago, aquele artista.

Mas por que o Piauí vem aqui? O Piauí produziu o maior jornalista que combateu a ditadura militar e teve credibilidade: Carlos Castello Branco. Tanto é que, ele morto, os jornais do Rio de Janeiro ainda escreviam a Coluna do Castello. Não foi o Castelo, o Presidente. Foi Carlos Castello Branco! E o Carlos Castello Branco foi companheiro dele nessa luta.

Então, é tempo de lamentarmos. E, como o Pedro Simon disse, ele tem o blog na Internet. E eu convidaria o Brasil a refletir, principalmente o nosso querido Presidente Luiz Inácio, para ler e meditar: “...70% da popularidade é o sonho de eleger um poste?” Aí, ele faz a análise dele. É o artigo que saiu ontem. E o de hoje: “A gigantesca marolinha da indústria automobilística”, provando o porquê de os bancos terem falido, a origem. E um patrimônio da cultura.

Então, são essas as nossas palavras, para que o País reconstrua aquilo que, sem dúvida, é um dos melhores jornais da nossa história democrática. E os nossos aplausos a Helio Fernandes e a nossa admiração por ele que, nos tempos amargos, foi para ilha de Fernando de Noronha. Já que ele está sem jornal lá, eu o convidaria para ir, como eu levei o Geraldo Mesquita, para as ilhas do Delta do Piauí, para ele recordar aqueles tempos.

Mas, eu vi o Sarney ontem se manifestando, Pedro Simon...

(Interrupção do som.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI ) - ... o nosso apelo ao Sérgio Cabral. Oh! Sérgio, Serginho, sentado bem aí, deixa de drama, com esse negócio de governador. É muito feio para V. Exª, muito feio, muito feio, principalmente tendo seu pai uma história de jornalismo, V. Exª deixar acabar um dos maiores patrimônios da luta democrática brasileira, que é a Tribuna da Imprensa.

Era o que tinha a dizer.

 

*********************************************************************************

        DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU APARTE AO ORADOR SENADOR MÃO SANTA

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º do Regimento Interno.)

*********************************************************************************

Matéria referida:

Entrevista Helio Fernandes, editor do jornal Tribuna da Imprensa: O jornal impresso não vai acabar.


Modelo1 7/16/249:14



Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/12/2008 - Página 50530