Discurso durante a 235ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração dos 48 anos de fundação da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração dos 48 anos de fundação da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.
Publicação
Publicação no DSF de 12/12/2008 - Página 51245
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE NACIONAL DE HOSPITAIS DA MEDICINA DO APARELHO LOCOMOTOR, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, MEDICINA, SAUDAÇÃO, FUNDADOR.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Tião Viana, que preside esta solenidade em que comemoramos os 48 da fundação da Rede Sarah, eu pediria permissão, já que são tantas as autoridades e lideranças presentes, para saudá-las todas na pessoa desse extraordinário médico que é o Aloysio Campos da Paz. São tantas, que eu poderia esquecer alguns nomes, o que seria imperdoável.

Parlamentares, encantadoras senhoras, meus senhores, Aloysio Campos da Paz, eu vim, aqui, e não poderia deixar de vir... O sonho que temos que ter - isto é tão importante que até o livro do novo Presidente dos Estados Unidos se chama Audácia da Esperança. Antes da esperança vem o sonho, e nós tivemos os mesmos sonhos.

Nós entendemos que a ciência médica é a mais humana das ciências e o médico, o grande benfeitor da humanidade. Campos da Paz e nós que somos médicos gastamos os melhores anos de nossas adolescências buscando ciência para servir com consciência.

Formei-me em 1966, em Fortaleza, Ceará. Fui fazer pós-graduação no Rio de Janeiro, no Hospital dos Servidores do Estado, que era modelo em pós-graduação, como o Sarah é hoje. E Deus, que foi tão bom para mim, me deu como mestre o Professor Mariano de Andrade, um cirurgião geral renomado.

Depois, eu fui porque quis, porque desejei... Campos da Paz, eu só soube o que era desemprego com esse negócio de política. Quando saí de lá, tinha uma fila de empregos, inclusive para vir para Brasília. Brasília e a classe médica lhe devem muito, porque eu mesmo não quis vir. Saí do Servidores em 67, 68, porque havia um slogan que dizia que o melhor médico de Brasília é a Vasp e a Varig, era pegar um avião e ir embora. O senhor acabou com esse paradigma, acabou com ele. Brasília se tornou um centro de medicina de alta respeitabilidade e credibilidade. Isso se deve ao senhor.

Do seu vasto currículo já disseram tudo. Até o nosso jornalista Ari, o meu assessor me deu toda a vida bela de V. Exª. Agora, quero trazer aqui a gratidão do povo. A Medicina, a Psicologia e a Neurologia têm um negócio de modelagem. Eu sou encantado por Juscelino Kubitschek. Médico como nós, deve ter tido os mesmos sonhos que tivemos, a audácia da esperança. Isso me deu afinidade, porque ele foi cirurgião de Santa Casa, como eu fui, teve uma passagem pela vida militar, como eu tive, foi prefeitinho, foi governador, foi sacado, humilhado bem aqui nesta cadeira, cassado, mas me encanta...

Eu diria... O Tião Viana, essa turma gosta muito do Chávez, da Venezuela, mas eu gosto do Simon Bolívar. Então, numa das minhas viagens com a minha Adalgisa, eu estava em Bogotá, na Colômbia. Era Deputado, num curso Pró-Família. E aí, na frente da casa, porque ele nasceu na Venezuela, mas ele morou aí, foi libertando esses países todos e pegou.o título... Mas uma frase muito oportuna para nós também, Senador Tião Viana, Senador Mozarildo, para os médicos daqui, para a Rosalba... Então, li, na estátua que estava lá, que ele disse que teve muitos títulos - soldado, cabo, sargento, tenente, major, coronel, general, marechal, El Comandante, El Ditador, El Libertador, Presidente -, e abdicaria de todos os títulos, só não do de ser um bom cidadão. Então, nós podemos dizer que nós abdicaremos de todos os títulos que já pudemos ter tido, mas também, como o senhor, não queremos abdicar do título de ser bom médico, não tão bom como o senhor, mas temos o sonho e o desejo de sê-lo.

Mas o Juscelino... Além desses títulos todos - eu vi as homenagens que o senhor tem -, eu vou lhe pôr agora uma do povo, do povo. Ulysses Guimarães, que aqui andou e está encantado no fundo do mar, disse: “ouça a voz rouca das ruas”. Então, eu quero lhe homenagear com essa voz. E eu sei, o senhor conhece mais do que eu também, e Deus me proporcionou conhecer muitos médicos importantes. Eu convivi com Christian Barnard, com Zerbini, com Jatene, com Pitanguy, com Mariano de Andrade.

Mas eu quero dizer o seguinte: o título que eu tenho mais honroso - eu vi as medalhas e as comendas que o senhor tem - é um que eu não acreditava, Mozarildo. Ô Tião, tem hora que falta crença e falta fé.

Quando eu cheguei aqui, em 2003 - e ninguém vai ter mais esse título; o Tião pode morrer de vontade, pode ser até ser Presidente desta Casa, mas não vai ter a medalha que eu tenho -, foi o seguinte: Juscelino Kubitschek fez 100 anos e ganhou um memorial. Aí eu cheguei novo aqui, iam dar duas medalhas para o Congresso.

Nós tínhamos o Senador Paulo Octávio, casado com a bela neta de Juscelino e, hoje, Vice-Governador. Aí, eu olhei assim: “Uma será bem dada para ele. É merecedor.” Ele até torcia por mim. Um dia, ele chegou e disse: “Mão Santa, tu estás sendo observado.”

Mas, Tião, quem desejava mais - e até que merecia -, não sei por que, era o Antonio Carlos Magalhães. Olha, eu não ia pensar em ganhar medalha do Antonio Carlos Magalhães, porque o Antonio Carlos Magalhães era o Antonio Carlos Magalhães, não é? Deus fez o mundo, o Brasil e a Bahia. Foi quase ele que fez tudo, e forte aqui, neste Congresso, o homem mais valente. Ele deve estar do lado de Rui Barbosa.

Ô Cristovam, isso aqui é um para frear o outro. O único de nós que teve coragem de frear o Poder Judiciário foi Antonio Carlos Magalhães. Vocês se lembram da história do Lalau, da CPI. Eu não iria recordar. Então, eu ia ganhar? E o Antonio Carlos Magalhães tinha convivido com ele, tinha sido Deputado quando ele foi Senador. Eu tinha conhecido Juscelino, acho que era o destino.

Mas, Tião, eu nem comemorei. É bom, porque o Brasil vai saber agora e o Piauí. Rapaz, faltando 24 horas, chegou Affonso Heliodoro, um Coronel que foi amigo dele, que serviu com ele, que veio de Minas e dirige o Memorial, e disse: “O senhor foi escolhido.” Eu nem acreditei. Primeiro, o Paulo Octávio tinha passado assim, mas eu disse: “Eu não vou anunciar isso, porque eu não vou ganhar um negócio desses. Quem vai ganhar é o Antonio Carlos, mesmo.” Ele estava querendo a medalha.

Eu ia ficar de otário no Piauí: esperou e não levou, não é? E ganhei essa medalha. A decisão foi do Coronel.

Eu fui saber, Mozarildo, por que, achando que o Antonio Carlos deveria ter levado a medalha, quer dizer, eu me acovardei, mesmo sendo piauiense. É raro piauiense se acovardar. Mas o Coronel disse que eu tinha citado mais vezes Juscelino Kubitschek. O Memorial tinha observado que os meus pronunciamentos eram os que citavam mais Juscelino Kubitschek.

Então, vou contar agora, desses médicos todos que nós conhecemos, V. Exª e eu - eu tenho 42 anos de Medicina -, uma homenagem que o povo deu a Juscelino. Ô Tião, eu não tenho medo, porque o Corregedor, aqui, é o Tuma. Ele é meu mesmo, não tem problema. Eu vou ser franco como o povo. O Tuma disse que chapa boa é MST: Mão Santa e Tuma.

Tuma, é o seguinte: no final do Governo de Juscelino, ele foi a Fortaleza. Eu estudava para o vestibular. Então, ele foi à Assembléia, fez uma palestra na Faculdade de Direito. Eu, já atraído por aquela liderança e pelo misto médico/político, acompanhei-o, naquela simpatia, no final mesmo, no apagar do Governo. Fortaleza tinha, na Praça do Ferreiro, como as praças antigas, um abrigo. Lá, tinha um café do Pedro da Bananada. Ele saiu da Assembléia com aqueles Deputados, iguais aos Senadores, todos de paletó, acompanhando-o. Eu também estava ali vendo Juscelino, que estava entregando o Governo. Era a última visita.

Já era dezembro e ele iria entregá-lo. No abrigo, havia alguns curiosos, mas os Deputados o cercavam e ele tomava, na sua simplicidade, o cafezinho.

Olhei e vi um caboclo, daquele nordestino mesmo, de chapéu, querendo se aproximar, mas os políticos de paletó não deixavam. Ele não tinha perspectiva. Eu estava lá, estudante, e até cheguei perto de Juscelino. Aí, ele não se controlou, ele tinha que homenagear Juscelino. Ele já ia deixar.

Juscelino recebeu muitas homenagens. O nosso Presidente Luiz Inácio pensa... Que nada! Quando Juscelino saiu daqui... Ele foi cassado e, em janeiro, foi a Portugal. Não existe - só se for em festa de santo - homenageado como foi Juscelino em Portugal, pelo povo, com flores, excursões e tudo. Ele viajou como Senador, Tião. Você deveria escalar uma comissão para reviver a trajetória de Juscelino sendo homenageado como Senador, depois de ter terminado o governo, com aquele sorriso.

O caboclo não resistiu. De chapéu, se aproximou e disse: “Ô Presidente pai d’égua!” Aquilo era o máximo do calor humano dos nordestinos.

Quero dizer ao senhor, falando como todo nordestino, com calor, com emoção e como médico que sou: o senhor é um médico pai d’égua e nós estamos aqui para aplaudi-lo. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/12/2008 - Página 51245