Pronunciamento de Tião Viana em 11/12/2008
Fala da Presidência durante a 235ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Comemoração dos 48 anos de fundação da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.
- Autor
- Tião Viana (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
- Nome completo: Sebastião Afonso Viana Macedo Neves
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Fala da Presidência
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.
SAUDE.:
- Comemoração dos 48 anos de fundação da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação.
- Publicação
- Publicação no DSF de 12/12/2008 - Página 51255
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
- Indexação
-
- HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, REDE NACIONAL DE HOSPITAIS DA MEDICINA DO APARELHO LOCOMOTOR, IMPORTANCIA, HISTORIA, CONTRIBUIÇÃO, ORTOPEDIA, RECONHECIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL, ELOGIO, ETICA, DIGNIDADE, TRATAMENTO, VALORIZAÇÃO, SAUDE, ESPECIFICAÇÃO, EFICACIA, EFICIENCIA, APLICAÇÃO DE RECURSOS, ATENDIMENTO, BRASILEIROS, TOTAL, TERRITORIO NACIONAL.
O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC)
- Aproximando o encerramento da sessão, ainda me
resta a responsabilidade de dizer algumas palavras.
Cumprimento inicialmente o Dr. Aloysio Campos
da Paz Júnior; a Drª Lúcia Willadino Braga, Presidente
e Diretora Executiva da Rede Sarah de Hospitais;
o Exmº Sr. Deputado Federal e ex-Ministro Alceni
Guerra; o Exmº Sr. Deputado Federal Laerte Bessa;
o Sr. José Carlos Daher, Diretor-Superintendente do
Hospital Daher; a Srª Priscilla Campos da Paz, filha
do Sr. Aloysio Campos da Paz Júnior; a Srª Elsita
Campos da Paz, esposa do Sr. Aloysio Campos da
Paz Júnior; o Sr. Ari Cunha, Vice-Presidente do Jornal
Correio Braziliense, os funcionários e as funcionárias
da Rede Sarah.
Quero dizer que o sentimento que fica é o da
enorme constatação de uma sessão verdadeira de
testemunhos sobre uma preciosidade da história da
saúde pública no Brasil, da história do tratamento das
doenças do aparelho locomotor no mundo inteiro, que
é a Rede Sarah de Hospitais. É uma história que está
quase chegando às bodas de ouro com o Brasil e com
a saúde pública brasileira. Em breve a Rede Sarah de
Hospitais completará cinqüenta anos com a história
de gerações formadas partindo-se do idealismo, do
sonho e das utopias de poucos brasileiros, entre eles,
destacadamente, o idealizador e construtor desse
enorme patrimônio da ciência médica no Brasil: Dr.
Aloysio Campos da Paz.
Nos anos 60, no início, havia poliomielite no Brasil
e o pouco alcance ao tratamento dela; nos anos 80,
edificou-se o acesso a leitos para as doenças do aparelho
locomotor, lançaram-se os pilares da Rede Sarah
do acolhimento em leito, a formação, a tecnologia, a
extensão geográfica para todas as regiões do Brasil,
hoje, até a chegada no além-fronteiras, que a Rede
Sarah alcança. O Senado americano reconheceu a referência
mundial que é a Rede Sarah de Hospitais no
tratamento das doenças do aparelho locomotor. Países
como a Dinamarca, como a França, como a Alemanha
e tantos outros também reconhecem na Rede Sarah
uma unidade de referência mundial para o tratamento
das doenças do aparelho locomotor.
Mas nada disso se equipara aos fundamentos,
aos conceitos que são apresentados na Rede Sarah
no cotidiano. A relação serviço/paciente, uma relação
de equação, é a busca e a confirmação da dignidade
humana para que se alcance o respeito, para que se
alcance a retomada da esperança e a oportunidade
da reintegração do cidadão brasileiro naquilo que o
infortúnio da vida lhe trouxe de doença, de acidente,
de trauma, de doença degenerativa, ou de qualquer
natureza.
Eu quero dizer que sou de uma região que carece
de leito para o tratamento de doenças do aparelho
locomotor. E nós somos socorridos, sim, pela Rede
Sarah de Hospitais quando o assunto é a reabilitação,
que vem do Maranhão, onde foi criada pelo nosso ex-
Presidente José Sarney, no Governo Epitácio Cafeteira,
ou somos socorridos aqui em Brasília. Sabemos que
temos o Nordeste brasileiro - o Ceará, a Bahia -, o
Pará, o Rio de Janeiro e Belo Horizonte como unidades
de referência e acolhida para os cidadãos brasileiros
que precisam da proteção em saúde pública.
E o mais importante é a preservação desses conceitos
éticos. Qualquer brasileiro que passa nos corredores
da Rede Sarah de Hospitais vê o sentimento
de respeito à dignidade humana e a utopia presente
de alguém que acredita que o serviço público pode
tratar com a mais elevada dignidade os seus usuários,
o Poder Público pode fazer isso. O Sarah extrapola a
tese de que só o setor privado é capaz de promover
o serviço de excelência; ele mostra que o setor público
é plenamente capaz de fazê-lo. É uma das razões
principais do reconhecimento que entendo que o Brasil
tem e da reverência que o Brasil faz à Rede Sarah de
Hospitais. O comparativo de gasto/benefício da Rede
Sarah é incomparavelmente superior ao do Sistema
Único de Saúde. É preciso ter coragem para colocar
na mesa esse debate e mostrar que o Sarah funciona
com eficiência quando o assunto é a boa aplicação
dos recursos públicos. Quando o assunto é reunir
o público, a assistência com a ciência, o Sarah está
presente e é ponta também na relação do tratamento
das doenças do aparelho locomotor e das doenças
do aparelho do sistema neurológico como um todo.
Então é uma preciosidade da ciência médica mundial
que temos o orgulho de ter no Brasil. Graças à utopia
apresentada na caminhada de uma instituição, quando
o Dr. Campos da Paz veio da Grã-Bretanha, em
1967, trazendo as idéias, as suas utopias para o Brasil,
trazendo a sua juventude como idealismo, encontrou
a acolhida de gestores públicos brasileiros, como o
ex-Presidente José Sarney e figuras de destaque do
Parlamento brasileiro, que permitiram a equação do
modelo de contrato de gestão de uma fundação pública
não estatal, como inovadora para o mundo. Isso
significa muito para todos.
Penso que a Rede Sarah é uma preciosidade
no Brasil na informação, na sua transparência, no seu
controle de gastos, na sua visão, nas suas diretrizes
prioritárias de investimento e naquilo que gera pelo
doente brasileiro.
Há poucas semanas, eu debatia no Hospital Sírio
e Libanês, em São Paulo, com sanitaristas do Brasil,
os vinte anos do Sistema Único de Saúde, criado
no Governo do Presidente José Sarney também, que
teve a ousadia de criar um arcabouço que extrapola as
fronteiras do País e repercute como uma experiência
positiva mundo afora.
Lá discutimos o arcabouço jurídico do SUS, as
obrigações que o cidadão brasileiro trabalhador do
sistema único tem com seus usuários, e o que ficou o
tempo todo no debate, de que participaram Procuradores
de Justiça do Brasil, trabalhadores da área jurídica,
cientistas do movimento sanitário, foi a palavra
“obrigação”. Mas ali procurei retratar, Dr. Campos, outro
sentimento. Eu disse: acabei de vir de uma viagem de
trinta horas, para uma aldeia indígena chamada Aldeia
Iauanauá, nos altos rios da Amazônia, próxima à
fronteira do Peru. E lá o que vi, quando o assunto era
responsabilidade do cidadão? Vi que quando qualquer
índio doente, criança, adulto ou idoso, está doente há
uma convergência de orações, de busca de proteção
e de ajuda àquela doente.
No Brasil, as normas jurídicas vigentes, quando
o assunto é saúde, trazem a idéia do castigo. A Constituição
brasileira, extensiva como é, tem vários artigos,
Deputado Alceni, que impõem a idéia do castigo para
quem não a cumpre, ou seja, o trabalhador em saúde,
quando o assunto é SUS, sai de casa preocupado,
porque se cometer um erro ou não cumprir as obrigações
contratuais, vai ser punido. Então, não vivemos
a ética na sua integralidade. Penso que se na Constituição
houvesse apenas o item “saúde é um direito de
todos”, o Código Civil já contemplaria qualquer desvio,
qualquer interpretação de equívoco por parte de quem
o praticasse. Deveria ser uma referência ética fazer o
bem através da saúde.
Depois do Sarah, em 1978, lá no Cazaquistão, no
dia 12 de setembro, disseram, de maneira conceitual
e factual, que a saúde é a maior meta do Planeta. Infelizmente,
muitos não compreendem a saúde assim,
pensam que não é a maior meta social, pensam que
é uma obrigação ligada à idéia do castigo.
O Sarah coloca utopia, sonho, dignidade humana
e uma idéia de felicidade associada ao conceito
de saúde.
Parabéns, Rede Sarah, e o orgulho do Senado
Federal pelo trabalho prestado ao País.
Muito obrigado a todos.
Está suspensa a sessão, para os cumprimentos.