Discurso durante a 17ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Propostas de novas alternativas para o Brasil sair da atual crise econômica mundial.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIO ECONOMICA.:
  • Propostas de novas alternativas para o Brasil sair da atual crise econômica mundial.
Publicação
Publicação no DSF de 04/03/2009 - Página 3521
Assunto
Outros > POLITICA SOCIO ECONOMICA.
Indexação
  • ANALISE, CRITICA, PROCESSO, ECONOMIA NACIONAL, INCENTIVO, DIVIDA, CONSUMO, CLASSE MEDIA, CLASSE SOCIAL, BAIXA RENDA, GRAVIDADE, INADIMPLENCIA, ATUALIDADE, INEFICACIA, PROVIDENCIA, GOVERNO, COMBATE, CRISE, REPASSE, RECURSOS, BANCOS, DEFESA, BUSCA, ALTERNATIVA, ORIENTAÇÃO, MODELO, SUGESTÃO, AMPLIAÇÃO, INVESTIMENTO PUBLICO.
  • SUGESTÃO, GOVERNO, AQUISIÇÃO, AUTOMOVEL, ATENDIMENTO, SERVIÇO PUBLICO, POLICIA, AMBULANCIA, TRANSPORTE ESCOLAR, INCENTIVO, CONSTRUÇÃO CIVIL, PROGRAMA, REFORMULAÇÃO, CONSTRUÇÃO, ESCOLA PUBLICA, VALORIZAÇÃO, SALARIO, PROFESSOR, DEMONSTRAÇÃO, VANTAGENS, COMPARAÇÃO, APLICAÇÃO DE RECURSOS, REFORÇO, MERCADO.
  • REITERAÇÃO, NECESSIDADE, COMPLEMENTAÇÃO, BOLSA FAMILIA, REVOLUÇÃO, QUALIDADE, EDUCAÇÃO, CONCLAMAÇÃO, PREFEITO, PAGAMENTO, PISO SALARIAL, PROFESSOR, POSSIBILIDADE, RECEBIMENTO, AUXILIO, GOVERNO.
  • QUESTIONAMENTO, EXCESSO, AUXILIO, GOVERNO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, DEFESA, INVESTIMENTO PUBLICO, REFLORESTAMENTO, SANEAMENTO, RECUPERAÇÃO, RIO SÃO FRANCISCO, CRITICA, ADIAMENTO, CRISE, ECONOMIA, IMPORTANCIA, BUSCA, SOLUÇÃO, COMENTARIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).
  • EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, COMISSÃO ESPECIAL, SENADO, ACOMPANHAMENTO, CRISE, BUSCA, RENOVAÇÃO, SIMULTANEIDADE, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, é muita coincidência que o senhor esteja presidindo esta sessão, porque a abertura da minha fala tem a ver com falas suas anteriores aqui.

Nesta semana, um jornal de Recife teve como a grande manchete o seguinte: “Cem mil carros no Brasil são retomados pelos bancos, porque os proprietários não podem pagar a prestação”.

Lembro, Senador, que, daquela tribuna, do outro lado, o senhor muitas vezes lembrou que o processo econômico brasileiro estava se baseando num endividamento das classes brasileiras, especialmente médias e médias baixas, e que um dia isso traria problema. Aí está, Senador Mão Santa. Aquilo que o senhor dizia que aconteceria, lamentavelmente, aconteceu. Cem mil brasileiros perderam seus automóveis, porque não puderam pagar aos bancos.

E agora? Agora, o Governo começa a tentar enfrentar essa crise, dando mais dinheiro aos bancos para fazer com que os bancos financiem mais carros e para que a indústria de automóvel retome seu nível de produção. É claro, é óbvio que essa saída, mais dia menos dia, levará a outra crise. É claro isso.

Mas por que a gente insiste, em vez de buscar outra alternativa? Por exemplo, Senador Mão Santa, por que a gente não aproveita essa crise que aí está acontecendo e sai dela mudando o rumo, a orientação, o destino do projeto nacional brasileiro? Por exemplo, por que, em vez de financiar a venda de automóveis para pessoas que se endividarão e não vão pagar daqui a alguns anos, o Governo não faz um grande programa, ele próprio, de compra de automóveis para as polícias brasileiras, de ambulâncias para atender o serviço médico, de veículos para o transporte público e, sobretudo, veículos para o transporte escolar? Essa é a outra visão. A visão de que o Governo investe, como está fazendo, para a venda de carros, como está fazendo, mas não mais para o produto atual, e não mais para o carro privado, mas um automóvel, um veículo de serviço público.

Essa é a diferença entre uma saída pelo tradicionalismo que se via do passado, do Estado investir para que a economia retome na mesma direção de antes, ou o Estado investindo para que a economia retome numa outra direção.

É claro que o Governo está certo quando investe e coloca dinheiro para retomar construções de habitações. Mas por que não faz isso também para retomar as construções de escolas? Já pensou quanto se criaria de emprego se as 200 mil escolas brasileiras, todas elas - e todas precisam -, passassem por uma grande faxina da construção civil? A construção de equipamentos civis, como quadras, teatros, e também o equipamento. Quanto geraríamos de emprego se investíssemos para comprar computadores para as escolas? Mas não conseguimos pensar nisso e continuamos, todos nós, prisioneiros da visão privatista, individualista, da saída da crise pelo mercado, produzindo para atender à demanda privada e não às necessidades públicas e sociais.

Quanto o Brasil não ganharia se a gente criasse um programa pelo qual os professores brasileiros passassem a receber os seus salários, não apenas no piso, mas até com valores maiores? Ao pagar esse dinheiro aos professores, aumentaria a demanda por roupa, por sapato, por equipamentos escolares, aumentariam as vendas, a indústria retomaria, mas, ao mesmo tempo, as crianças teriam um professor bem remunerado, capaz de ensinar melhor.

Estes são os dois caminhos para tirar o País da crise: o caminho da mesmice, da repetição do mesmo modelo voltado para o mercado privado apenas, ou a saída visando produzir aquilo de que o povo precisa.

Vejam o próprio Programa Bolsa-Família, em que o Governo insiste, que, é verdade, mantém a demanda por produtos simples para a maior parte da população pobre. Se esse Programa Bolsa-Família viesse acompanhado de uma revolução na escola, não apenas estaríamos gerando a demanda através do dinheiro que o Bolsa-Família paga, mas estaríamos gerando educação para essas crianças de hoje. São dois caminhos que nós temos, mas é triste ver que o caminho em que continuamos insistindo em perseverar é o caminho do desastre mais adiante.

Vejam outra diferença. O Governo brasileiro e os outros Governos no mundo insistem que, para retomar a economia, tem que produzir mais automóveis, sabendo que isso vai fazer aumentar o aquecimento global pelo dióxido de carbono que o excesso das frotas de veículos do mundo está provocando.

Por que não contratamos pessoas para plantar florestas? Por que não fazemos um programa de recuperação do rio São Francisco colocando água e esgoto nas cidades ribeirinhas, plantando árvores ao longo das margens? Seria uma maneira de gerar emprego, mas uma maneira de gerar emprego produzindo aquilo de que se precisa para resolver o problema, e não para criar um problema mais adiante.

Estamos trabalhando o Brasil na saída do adiamento da crise, não da solução da crise. A crise que vivemos é anunciada há décadas. Ela é prevista. Não se sabia o dia, não se sabia o ano, mas ela aconteceria, porque ela não é só uma crise dos bancos; ela é uma crise dos bancos, ela é uma crise da desigualdade, ela é uma crise do aquecimento global e ela é uma crise da falta de propostas alternativas, que faz com que continuemos seguindo no mesmo rumo do desastre que já vimos seguindo há décadas.

É uma pena que o Governo brasileiro não esteja percebendo a grande chance que essa crise pode nos trazer de orientar o modelo de desenvolvimento.

O Presidente Obama, que acaba de lançar um programa de recuperação da economia investindo US$800 bilhões, está tomando essa precaução.

Desses US$800 bilhões, US$180 bilhões vão para educação, vão para investir na construção de escolas, no equipamento das escolas, na melhoria da remuneração dos professores deles. Enquanto isso, aqui vamos no sentido contrário. Continua o movimento, a manifestação de Governadores e Prefeitos - aqui mesmo, em Brasília, no último encontro dos Prefeitos - no sentido de que não é possível pagar o piso salarial.

É preciso fazer justiça e lembrar que foi preciso o Ministro Fernando Haddad, presente ao encontro, com coragem rara em homens públicos, dizer: “Se vocês não tiverem dinheiro para pagar, Prefeitos, venham aqui a Brasília que o Governo Federal vai dar o dinheiro necessário”. Isto porque o projeto de lei e a lei do piso salarial que foi aprovada prevê, está escrito na lei, que, faltando recursos ao prefeito para pagar o piso salarial, o Prefeito terá acesso a financiamento por parte do Governo Federal.

Por isto, meu caro Prefeito que estiver assistindo, não fique contra seu professor dizendo que não vai poder pagar. Venha ao Governo Federal pedir o dinheiro necessário. Está previsto. O Ministro Fernando Haddad assumiu o compromisso, corretamente. Vamos fazer com que a economia retome pagando melhor aos professores. Essa é uma maneira de dinamizar a demanda, de retomar a capacidade de compra do nosso povo para que o setor industrial retome a produção e aí o próprio setor industrial comece a gerar emprego.

Falo isto, Sr. Presidente, não apenas agradecendo a coincidência de V. Exª estar presidindo, e permita-me lembrá-lo, como lembrei há pouco, aqui embaixo, as suas declarações sobre a inevitabilidade da crise do endividamento.

Faço questão de vir aqui a esta hora para dizer que o Presidente Sarney criou uma comissão para pensar sobre a crise. Lamentarei muito se essa comissão ficar prisioneira dos velhos modelos, ficar apenas repetindo a mesmice dos caminhos do passado, que levaram a essa crise. Eu ficaria muito triste, eu diria, como membro desta Casa, se essa comissão não perceber que a crise não é apenas financeira; ela é ecológica, ela é social, ela é ideológica, ela é mais complexa, ela exige imaginação, ela, sobretudo, exige buscar o novo, o diferente, a alternativa, o rumo que possa tirar não apenas o Brasil da crise, mas também impedir que o Brasil volte a cair na crise. Isso vai exigir alternativas ao que vem sendo seguido. Não vejo essa vontade de seguir alternativas. Bastaria olhar o que o Presidente Obama vem fazendo e seria um primeiro, um início de um caminho alternativo. Mas acho que aqui nós temos que ser bem mais radicais do que eles, porque, no caso deles, a crise até que pode sair pelo simples aspecto financeiro, porque as escolas já são relativamente boas, o sistema de transporte público é relativamente bom, o sistema de proteção ambiental não está queimando como nós queimamos a Amazônia. Nós podemos transformar os problemas que nós temos na saída para a crise casando os dois, e eles se resolvendo como duas pessoas solitárias, que, quando se encontram, anulam suas solidões. As solidões se anulam quando se encontram. Certos problemas, quando a gente os coloca juntos, eles se resolvem. Obviamente, alguém tem que pagar o preço. Esse preço é muito menor procurando alternativas do que fazendo como o Governo atual está fazendo.

O programa completo, pelas contas que eu fiz, para investir na compra de veículos, de equipamentos, na reconstrução de escolas, tudo isso, gerando demanda, gerando emprego, custaria R$10 bilhões. O Governo está gastando muito mais bilhões para repetir os mesmos erros do passado, usando uma pá para tapar o buraco, em vez de usar uma bússola para buscar um novo rumo. Ainda há tempo.

Espero que a comissão que o Presidente Sarney criou traga alternativas, mas não traga apenas a solução imediatista, a solução simplista, a solução que resolve o buraco que aí está tapando. Espero que seja uma comissão com imaginação, com radicalismo para pensar a mudança de rumo do modelo social e econômico brasileiro. Que essa comissão seja uma comissão que use bússola e não apenas pá, que queira mudar o rumo e não apenas tapar um buraco.

Senador Mão Santa, o senhor alertou que isso aconteceria. Espero que ajude e que aqui trabalhemos para que nunca mais volte a acontecer uma crise dessa, fazendo com que os caminhos que tomemos sejam os caminhos de uma mudança e não apenas os caminhos da continuação no mesmo velho rumo de uma economia inviável, seja porque destrói a natureza, seja porque desiguala os seres humanos e os brasileiros entre eles.

Sr. Presidente, era o que eu tinha a dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/03/2009 - Página 3521