Discurso durante a 34ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração dos 45 anos da Campanha da Fraternidade.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • Comemoração dos 45 anos da Campanha da Fraternidade.
Publicação
Publicação no DSF de 26/03/2009 - Página 6586
Assunto
Outros > HOMENAGEM. IGREJA CATOLICA. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CRIAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, CONTRIBUIÇÃO, CONSTRUÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, DEBATE, PROBLEMAS BRASILEIROS.
  • IMPORTANCIA, DEBATE, SEGURANÇA PUBLICA, JUSTIÇA, VINCULAÇÃO, PAZ, CONCLAMAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, SOCIEDADE.
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, HELDER CAMARA, BISPO, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, JUSTIÇA SOCIAL, LIBERDADE, NATUREZA POLITICA, REGISTRO, VITIMA, PERSEGUIÇÃO, ALEGAÇÕES, SUBVERSÃO, COMUNISMO.
  • HOMENAGEM POSTUMA, BISPO, CARDEAL, ESTADO DO CEARA (CE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, UNIFICAÇÃO, MOBILIZAÇÃO, JUSTIÇA SOCIAL, COMENTARIO, LUTA, DIREITOS, HABITAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores convidados que comparecem a esta importante sessão de homenagem à CNBB, em função de uma data que tem muito significado para o conjunto do povo brasileiro, independentemente das suas opiniões a respeito das religiões, da política, da economia, dos partidos, porque as campanhas da CNBB tiveram impacto no meio do povo indistintamente; seus resultados foram indistintos, meu caro Dom Dimas Lara Barbosa.

Por isso, não poderíamos deixar, em nome do meu Partido, o Partido Comunista do Brasil, mais precisamente o Partido dos Comuns - é daí que vem o nome, apesar de toda a campanha para estigmatizar a expressão “comunista” -, de participar deste debate. O nome do Partido vem de “comum”, dos que compartilham, dos que se solidarizam, dos que buscam a ideia de se construir uma sociedade mais justa, com mais solidariedade, com mais fraternidade. O que não é fácil no mundo, porque as batalhas pelo poder são bem diferentes. Elas têm mostrado como face principal a violência. Esse que é o problema central, porque as batalhas para se desenvolver a sociedade humana têm-se dado, sobretudo, com muita violência, violência do Estado; e, dentro dos Estados, surge o problema da luta pela sobrevivência do povo; e essa luta pela sobrevivência também, às vezes, tem levado o povo à exaustão e a responder com violência. E o Estado, muitas vezes, incapaz, porque, no caso nosso, especialmente do Brasil, muito subordinado a programas basicamente alienígenas, de fora, não tem tido condições de responder a essas necessidade imensas do povo brasileiro. E, em todas as tentativas de responder a esse problema central de ter o Estado brasileiro em condições de resolver os problemas do povo brasileiro, temos tido momentos também de grande violência, de golpes etc.

Quero homenagear, em nome do meu Partido, a CNBB, pela sensibilidade com os programas sociais e, no intuito de responder a essas questões sociais do povo brasileiro, ter aberto uma campanha.

Eu falava com o Padre Pinheiro que, muitas vezes, as campanhas da CNBB não foram de um ano, daquele ano; elas iniciaram em determinado ano e se transformaram num debate grande na sociedade por muitos anos, tendo algumas delas até se transformado, inclusive, em programas sociais, que, posteriormente, transformaram-se em programas de Governo. O Estado absorveu aquele programa como um programa justo, necessário e importante para toda a sociedade brasileira. E são muitos.

Não há como combater a violência sem uma participação ativa da sociedade; não há. É impossível. Eu considero que talvez esta seja uma campanha daquelas que vai levar a um bom debate no meio do povo, entre tantas, nestes 45 anos, entre tantas, entre as campanhas da fraternidade e as causas que a CNBB abraçou.

E, ao fazer esta homenagem comemorativa, eu gostaria de fazer três registros; homenagens que nós vamos associando a este pronunciamento.

A primeira, a Dom Helder Câmara, que foi um bravo na defesa de programas que atingissem o povo e um defensor ardoroso da liberdade política para o povo, por entender que o povo tinha de ter voz, o povo tinha de ter opinião. Ele sempre dizia que, quando fazia um programa de caridade, um programa de solidariedade humana, era tratado como o bispo santo, o bispo do povo, santo e, quem sabe, um dia seria papa também, com toda aquela bondade da caridade. Mas, quando ele tocava nas causas da crise social que o Brasil já vem somando e acumulando há tantas décadas, então ele era tachado de comunista, subversivo. Veja como são as questões em nosso País! E esse bispo, cearense de nascimento, mas um bispo do Brasil, de todos os Estados, de todas as naturalidades, enfrentou com coragem o desafio de prestar solidariedade e de fazer a caridade, mas de levantar alto sua voz para mostrar ao povo onde estavam as causas dos problemas sociais do povo brasileiro. Acho que é uma homenagem que vamos fazer, no tempo, durante todo este ano.

A segunda, a um outro bispo do povo brasileiro, que também nos deixou, mas uma figura extraordinária que trabalhou conosco intensamente, recebendo todos, percorrendo, talvez, os caminhos de Dom Helder: Dom Fragoso. Talvez ele tenha aberto a trilha para José Nery seguir os caminhos da política brasileira. Um bispo paraibano, mas que fez sua carreira na Igreja no Estado do Ceará, uma marca muito forte em nosso Estado. Mas era um bispo também que nós podemos associar como um bispo do Brasil.

A terceira, a outro bispo que também nos deixou mais recentemente e com quem tínhamos relação muito forte e que fez, também, em sua trajetória como cardeal brasileiro, uma defesa intransigente. Ele, talvez, fosse daqueles que falava mais das causas dos problemas sociais; que ousava, com muita força, tratar dos problemas sociais do Brasil e da América Latina. Associou-se a esse debate em toda a América Latina. E isso lhe rendeu pressões, pressões aos seus amigos, a quem estava próximo. Mas ele nunca hesitou na defesa das posições que ele arguiu como sendo as causas dos problemas de nosso País e de que tinha de envolver o povo também. Ele foi um daqueles que deu grande contribuição para que nós pudéssemos hoje estar aqui, porque foi abrindo exatamente a casa, digamos assim, da CNBB no Estado do Ceará, que praticamente nós podíamos dizer que era o Seminário da Prainha, onde ele ficava. Para todos, indistintamente, qual é a corrente política? Não importa. Importam as causas do povo. E para lá foram os socialistas, os comunistas, os democratas, os católicos, os evangélicos, os ateus. Quem quisesse defender aquela causa era bem-vindo ao Seminário da Prainha. Ele recepcionou a todos. Portanto, ali se estruturou um dos grandes movimentos sociais do Estado do Ceará que teve forte repercussão política em nosso País em seguida e que hoje teve um dia excepcional, porque Dom Aloísio, andando na periferia de Fortaleza, chamou todos para tratar da causa da violência que estava tendo raízes na desestruturação da família, na falta de moradia, no desemprego, nas condições trágicas de vida da população. E convocou todos aqueles, e dali surgiu um movimento em defesa da moradia do Estado do Ceará, com muita força, com muito vigor, com grandes mobilizações, grandes manifestações populares. Muita gente conseguiu um pedaço de chão naquela época para poder armar o seu barraco, levantar o seu barraco.

E aquela luta toda de Dom Aloísio, abrindo as portas do Seminário da Prainha, materializou-se em programas antes defendidos como o ano da campanha da fraternidade, que terminou transformando-se em grandes programas sociais. Hoje ou nos últimos anos, nós tivemos grandes programas de moradia e hoje eu posso dizer que, se Dom Aloísio estivesse vivo, estaria conosco nesse grande ato que foi o lançamento da campanha por moradia no Brasil, com a presença de vários segmentos do movimento popular aqui no Palácio do Itamaraty, próximo ao Congresso Nacional.

Por isso eu quero, nesta homenagem de 45 anos, levantar o nome desses três Bispos que abriram caminhos para grandes movimentos sociais, para não deixarmos de prestar solidariedade nunca, não deixarmos de fazer a caridade necessária àquele que precisa do pão e da água naquela hora, mas tocar e levantar as causas que ainda levam milhões de brasileiros e de gente da América do Sul a viverem numa tragédia social como é a da violência.

Por isso, Dimas, quero deixar meus parabéns à CNBB por suas bandeiras, pois muitas delas se transformam em grandes programas nas mãos do povo brasileiro. Obrigado a vocês, parabéns à CNBB.

Obrigado, José Nery.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/03/2009 - Página 6586