Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao centenário do nascimento de Dom Helder Câmara.

Autor
Rosalba Ciarlini (DEM - Democratas/RN)
Nome completo: Rosalba Ciarlini Rosado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao centenário do nascimento de Dom Helder Câmara.
Publicação
Publicação no DSF de 30/04/2009 - Página 13476
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, HELDER CAMARA, ARCEBISPO, ELOGIO, ATUAÇÃO, COMBATE, FOME, DESIGUALDADE SOCIAL, POBREZA, PARTICIPAÇÃO, CRIAÇÃO, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), BUSCA, IGREJA CATOLICA, AUXILIO, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA, CRITICA, REGIME MILITAR, DEFESA, DEMOCRACIA, LIBERDADE, GARANTIA, DIREITOS HUMANOS, COMENTARIO, INDICAÇÃO, PREMIO, PAZ.

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A SRª ROSALBA CIARLINI (DEM - RN. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre as diversas homenagens que este Plenário tem prestado ao longo dos últimos tempos, esta sessão de hoje se reveste de um caráter e de uma importância toda especial. Afinal, comemoramos o centenário de nascimento de um dos maiores brasileiros de todos os tempos, de um homem de físico frágil e pequenino, mas de um verdadeiro gigante na defesa dos pobres e dos desvalidos: Dom Hélder Pessoa Câmara.

Uma simples frase, pronunciada pelos lábios de um homem santo, o Papa João Paulo II, resume numa linha a trajetória desse outro santo, Dom Hélder Câmara: “Irmão dos pobres e meu irmão.” Sim, irmão dos pobres e dos desamparados, pois sempre lutou por eles, colocando-se a seu lado mesmo nos tempos mais difíceis.

Nascido em Fortaleza no dia 7 de fevereiro de 1909, Dom Hélder foi precoce em tudo. Oriundo de uma família de 13 irmãos, filho de uma professora e de um jornalista, ingressou no Seminário da Prainha de São José, em sua cidade natal, aos 14 anos.

Ordenou-se padre em 1931, sendo logo em seguida nomeado para exercer o cargo de diretor do Departamento de Educação do Estado do Ceará, ocupação que exerceu durante cinco anos. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se engajaria nas atividades sociais. Lá fundou duas entidades destinadas a ajudar os mais pobres: a Cruzada São Sebastião e o Banco da Providência.

Em 1952, Dom Hélder foi nomeado bispo-auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano foi fundador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), da qual foi secretário por 12 anos. Na verdade, a CNBB nasceu por inspiração de Dom Hélder, que queria ver a Igreja do Brasil engajada na causa dos mais pobres, feito que conseguiu realizar.

Todavia, a fase mais marcante da vida de Dom Hélder começaria a partir de 12 de março de 1964, quando foi nomeado pelo Vaticano Arcebispo de Olinda e Recife, cargo que exerceria até sua aposentadoria, em 1985.

Curiosamente, sua missão pastoral junto ao povo pernambucano coincidiu exatamente com a duração dos anos mais negros da história brasileira, a ditadura militar que dominou o destino do Brasil por 21 anos.

Um dos seus primeiros atos à frente da Arquidiocese foi apoiar publicamente a ação católica operária em Recife, ato que lhe custaria, de pronto, a ojeriza dos generais de plantão, que o taxaram de demagogo e comunista. Sua atitude corajosa obteve dos militares uma das repostas mais duras que um pastor de almas pode receber: a imposição do silêncio. Dom Hélder foi proibido de se manifestar publicamente, proibição que jamais o intimidou!

A ditadura militar foi a grande responsável por agregar à luta de Dom Hélder mais uma causa que não a defesa dos mais pobres: a defesa incondicional dos direitos humanos, frente às atrocidades patrocinadas pelo Governo e perpetradas nos porões imundos dos presídios políticos.

Homem de fé, e homem de fibra!, Dom Hélder peitou os militares e denunciou ao mundo, pela primeira vez, a infame prática de tortura contra presos políticos no Brasil. Foi numa palestra em Paris, França, diante de um público de milhares de pessoas.

Sua coragem e seu destemor, aliados à luta incansável pelos direitos humanos, fizeram com que fosse indicado, em 1972, para o Prêmio Nobel da Paz, honraria que nunca recebeu por conta da pressão do governo militar e da própria Igreja, que o considerava progressista demais para a época.

Mas prêmios nunca lhe fizeram diferença! Nunca se importou com eles. Nunca quis reconhecimento!

Teve a felicidade de ver o fim da ditadura, no mesmo ano em que se aposentou. Deixou vários livros publicados, nos mais diversos idiomas. Foi, também, criador de mais de 500 Comunidades Eclesiais de Base, as CEBs, entidades que fizeram do povo o protagonista de sua própria história.

Inquebrantável, Dom Hélder se manteve na luta até sua morte, em 1999, quando acabara de lançar a campanha “Ano 2000 sem Miséria”!

Foram 90 anos de vida, dos quais pelo menos 70 de luta. Sem a menor dúvida, Dom Hélder Câmara foi um dos maiores brasileiros de todos os tempos. Que seu exemplo sirva para todos nós como modelo de vida, de luta e de perseverança!

Muito obrigada.

 

(A sessão é suspensa às 17 horas e 31 minutos e é reaberta às 17 horas e 36 minutos.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/04/2009 - Página 13476