Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A questão agrária no Estado do Pará.

Autor
Flexa Ribeiro (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Fernando de Souza Flexa Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. REFORMA AGRARIA. :
  • A questão agrária no Estado do Pará.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/2009 - Página 14832
Assunto
Outros > SENADO. ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. REFORMA AGRARIA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, VEREADOR, MUNICIPIO, GOIANESIA (GO), ESTADO DO PARA (PA).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), DESRESPEITO, ESTADO DEMOCRATICO, DESCUMPRIMENTO, MANDADO JUDICIAL, REINTEGRAÇÃO DE POSSE, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, REFERENCIA, POSIÇÃO, BANCADA, SENADOR, ESCLARECIMENTOS, ORADOR, AUSENCIA, APOIO, PEDIDO, INTERVENÇÃO FEDERAL, AUTORIA, CONGRESSISTA, PRESIDENTE, CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUARIA DO BRASIL (CNA), OPINIÃO, NECESSIDADE, AUXILIO, PRODUTOR, RESPONSAVEL, DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, APRESENTAÇÃO, DADOS, JORNAL, O LIBERAL, ESTADO DO PARA (PA), ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), EXERCITO, AMBITO, MOVIMENTO TRABALHISTA, SEM-TERRA, TREINAMENTO, GUERRILHA, INVASÃO, APREENSÃO, ORADOR, ARMAMENTO, NEGLIGENCIA, GOVERNO, DESRESPEITO, LEIS, EFEITO, AUMENTO, VIOLENCIA, CAMPO, AMBITO ESTADUAL, HOMICIDIO, IMPUNIDADE, COBRANÇA, PROVIDENCIA, GOVERNADOR, SOLICITAÇÃO, ATENÇÃO, SENADOR, ANALISE, PROBLEMA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Mão Santa, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, quero começar o pronunciamento de hoje, Senador Mário Couto, festejando a presença de três Vereadores do nosso Município de Goianésia: o Vereador Tiaguinho, que é Líder do Governo do Prefeito Itamar, nosso amigo; o Vereador Edivan, e o Vereador Darlan. O Município de Goianésia fica no nordeste do Pará e tem como Prefeito o nosso grande amigo - e é um grande Prefeito - Itamar, e como Vice, o Jaci, e como liderança, os três Vereadores: o Tiaguinho é do PPS; o Edivan é do PRB; e o Darlan é do PTB. Eu quero, aqui, festejar a liderança do PSDB no Município de Goianésia, que é do nosso amigo Chiclete, que já foi candidato a Prefeito lá, é uma grande liderança, e abriu mão da candidatura dele agora para, numa aliança com o Itamar, manter o Governo na direção do desenvolvimento para Goianésia. É uma satisfação, Vereadores, tê-los aqui, na tribuna de honra. Um abraço aos nossos amigos de Goianésia - não só meu, como também do Senador Mário Couto.

Mas, Senador Mão Santa, na quarta-feira passada tivemos aqui a leitura de uma carta enviada pela Governadora Ana Júlia, para que fosse lida pelo Senador Suplicy.

Ainda há pouco, a Senadora Kátia Abreu usou da tribuna e, no seu pronunciamento, fez referência às ações que está tomando em relação a um jornal apócrifo, que foi usado pelo Governo do meu Estado, como sempre o faz, Senador Mário Couto, para dizer aquilo que ela não pode colocar nos jornais, porque são inverdades. E confunde a Governadora quando tenta colocar o Senador Mário Couto, o Senador Flexa Ribeiro e o Senador José Nery como sendo os Senadores que apóiam uma intervenção no Pará. Em hipótese alguma. Nós não apoiamos intervenção. A ação da Senadora Kátia Abreu é uma ação como representante, uma liderança maior do agronegócio nacional. O que nós três apoiamos é o respeito ao Estado democrático de direito. Isso, sim, todos nós apoiamos. E apoiamos tanto o pequeno, quanto o médio e grande produtor. Ou seja, nós apoiamos aqueles que vão para o Estado do Pará nos ajudar a desenvolver o Estado, e não fazer o que está fazendo com o Pará há dois anos e meio: o Pará está andando para trás, feito caranguejo. Todos os indicadores - todos - são negativos em relação aos recebidos pela Governadora a partir de 1º de janeiro de 2007. 

Nós vamos falar a respeito deste assunto ainda esta semana, da dificuldade que já é do conhecimento de todos, da própria Governadora, que tomou atitude de reduzir o custeio em algumas áreas, inclusive, Senador Mário Couto, na de segurança. Estou informado que o horário de trabalho da Polícia Militar foi reduzido, como de todas as secretarias, até ás 14 horas. Ou seja, a partir das 14 horas a Polícia Militar não funciona se houver necessidade de uma intervenção ou de uma procura no gabinete do coronel, chefe da Polícia Militar. E o pior - mas esse é um assunto para um outro pronunciamento - é que nem bala e nem treinamento mais a Polícia Militar está tendo condições de ter, para defender os paraenses.

Refiro-me, Senador Mão Santa, a um dado divulgado no final de semana pela imprensa nacional, e que foi alarmante: o MST - Movimento dos Sem Terra - já conta com um exército de 15 mil homens atuando apenas no Pará. Está aqui a matéria do jornal O Liberal de domingo: MST tem exército de 15 mil homens.

A estimativa é do Incra e dos próprios sem-terra.

O tratamento que o Governo do PT insiste em dar ao MST é de movimento social. Porém, um movimento que se utiliza de táticas de guerrilha, armamento próprio e que não identifica seus membros, não pode mais ser chamado de social. Evidente que existem famílias usadas - e é lamentável isso - como massa de manobra pelo MST. Porém, seus líderes deveriam ser identificados e agirem dentro da lei. Afinal, agir contra a lei é crime.

Não é coincidência, portanto, que haja relação do alto número de membros do MST no Pará com o infeliz título que nosso Estado ostenta. O Pará é o campeão nacional em conflitos no campo.

Dados da Comissão Pastoral da Terra mostram que, ao contrário do resto do País, a violência está aumentando no Pará.

Em 2008, o Estado registrou 245 ocorrências, mais que o dobro do Maranhão, segundo colocado, que teve 101. No ano passado, 46.4% dos casos de violência rural no Brasil ocorreram no Pará - no anterior eram 18%

O número de assassinatos decorrentes desses conflitos no Estado teve aumento de 160% - de 5 para 13 -, enquanto as prisões dos envolvidos caíram 50%.

Nos últimos dez anos, foram assentadas 80 mil famílias no Estado. Destas, 64.691 participaram das 377 ocupações, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra. O número de famílias que foram despejadas totaliza 25.857, mas muitas voltaram a invadir.

Levantamento feito pelo Senador Wellington Salgado diz que foram desapropriadas, no Pará, áreas para assentamento de 257.882 famílias; que estão assentadas aqui no Pará, 187.251 famílias; ou seja, é uma comprovação de que existe área disponível para assentamento sem necessidade de novas desapropriações. E mais, sem necessidade de novas invasões. Tem área disponível para o assentamento daquelas pessoas que precisam e merecem ter um pedaço de terra para que possam produzir.

Volto a afirmar: o modelo de reintegração de posse executado pela Governadora Ana Júlia é o do “faz de conta”. Ela tira e dois dias depois a Polícia deixa a região, ninguém é preso, nenhuma arma é apreendida e os sem terra voltam a ocupar a área. É uma reintegração combinada.

No sul do Pará, o requisito básico para ser assentado pela reforma agrária é participar de invasão. Senador Mário Couto, para você ser atendido pela reforma agrária, no sul do Pará, tem que ser um participante de uma invasão, sem o que você não é atendido. Ora, a política não poderia ser outra quando o Presidente e o Procurador-Geral do Instituto de Terras do Pará, o Iterpa, são os advogados José Benatti e Girolamo Trecanni, respectivamente o Presidente e o Diretor, que já defenderam inúmeras vezes membros do MST e estão ligados a esse movimento. É, literalmente, a raposa tomando conta do galinheiro.

O jornal O Estado de S. Paulo do dia 2 de maio, sábado, revela que o interior do Pará vive um clima de guerra.

Diz o jornal O Estado de S. Paulo:

No acampamento Helenira Resende, na Fazenda Cedro, em Marabá, os sem-terra treinam a “resistência camponesa”. “A gente aprende como fazer a ocupação e resistir”, conta um militante, logo advertido por outro. “Não pode falar, não.”

Um grupo de oito sem-terra vigia, de uma guarita improvisada, quem chega pela PA-150. Em caso de alerta, como a chegada da polícia ou estranhos, eles disparam morteiros para chamar reforço. Uma vala impede a passagem de carros - só passam as motos dos sem-terra. A entrada da imprensa é proibida. Fotos, mesmo de fora, só com autorização da liderança.

           Em outro trecho, a matéria relata o método usado pelo MST para convocar novos “guerrilheiros”. Usando inclusive carro-som, com promessas do próprio Governo do Estado.

O vaqueiro Raimundo Silva, de 62 anos, entrou meio sem querer na força-tarefa usada pelo MST para invadir a Espírito Santo [a fazenda], no final de fevereiro. Morador de Xinguara, ele atendeu ao chamado de um carro de som que prometia uma cesta básica por mês, mais a terra e, ainda, dinheiro para plantar. Numa mensagem gravada, o locutor dizia que o Governo assentaria todas as famílias acampadas.

O dinamismo interno e as estratégias usadas pelo MST estão cada vez mais parecidos com as FARC, na Colômbia. Onde o MST está, ninguém entra. Nem o Estado.

É um governo paralelo, que age à margem da lei e do Estado democrático de direito. Os próprios policiais militares do Pará admitem isso. A mesma matéria do Estado revela esse medo.

O soldado Alex Oeiras diz que não tem autorização para se meter com o MST. "Mexer com eles é bronca brava." Em caso de conflito, a ordem é avisar o comando, em Xinguara. Geralmente é deslocada tropa de Belém. Ele classifica os sem-terra como abusados. "Falam abertamente que, se despejar cem vezes, as cem eles voltam.

Esse é o Pará da Terra de Direitos. Terra de Direitos Violados. Como mostra o relatório da CPT, o número de prisões e apreensões caiu mais da metade no último ano, no Pará. Com essa garantia de que nada será feito, com a “garantia à la PT” de que tudo ficará como dantes, os integrantes do MST voltam a ocupar as fazendas.

Essa é uma realidade não só do Pará, onde é mais acentuada, mas sim do Brasil. É preciso, com urgência, que o Governo Lula tome as medidas necessárias e faça valer o Estado Democrático de Direito. E não permitir que, debaixo dos olhos do Estado e com a conivência do Governo, se forme aos poucos uma FARC brasileira travestida de movimento social. E o pior, com apoio do Governo.

Por isso, Governadora, cobramos tanto. Somos sim contra a intervenção federal no Pará...

(Interrupção do som.)

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - Somos sim contra a intervenção federal no Pará, mas exigimos que os direitos sejam respeitados com a responsabilização dos que não agirem dentro da lei. Queremos, portanto, um Governo que de fato governe.

Presidente José Sarney, ao concluir, eu queria só informar que, na quarta-feira, Senador Suplicy, quando V. Exª fez a leitura lamentável daquela carta, eu disse a V. Exª que iria encaminhar ao seu gabinete alguns documentos, entre eles, um que comprova a inverdade da carta, quando diz que não havia mandado de reintegração de posse. Fiz chegar a V. Exª a cópia do mandado de reintegração de posse. Fiz chegar a V. Exª a matéria da Comissão Pastoral da Terra que mostra que...

(Interrupção do som.)

O SR. FLEXA RIBEIRO (PSDB - PA) - ...a violência no campo do Pará aumentou diferentemente do que diz a carta. Fiz chegar a V. Exª o relato do Sr. João Batista Corrêa de Andrade, com os contatos dele, para que V. Exª possa verificar a situação por que passa o pequeno e o médio produtor rural do meu Estado, principalmente no sul e sudeste do Pará, mas em todo o Estado. E, finalmente, os Anais dos pronunciamentos da então Senadora, hoje Governadora Ana Júlia.

Espero que V. Exª possa fazer uma análise desses documentos, uma reflexão, como tenho certeza que o fará, e possa vir à tribuna para defender o Estado democrático de direito respeitado no Estado do Pará.

Muito obrigado, Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/2009 - Página 14832