Discurso durante a 56ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

As normas de concessão de passagem aérea aos senadores.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • As normas de concessão de passagem aérea aos senadores.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2009 - Página 12373
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, ORDEM DO DIA, NORMAS, CONCESSÃO, PASSAGEM AEREA, SENADOR, QUESTIONAMENTO, DECISÃO, RESTRIÇÃO, NUMERO, MOTIVO, INFERIORIDADE, SALARIO, CONGRESSISTA, COMENTARIO, SITUAÇÃO, ORADOR, DIFICULDADE, RECURSOS, COMPARAÇÃO, PREÇO, PASSAGEM, ESTADO DO PARA (PA), REPUDIO, TENTATIVA, RESPOSTA, ACUSAÇÃO, IMPRENSA, OMISSÃO, DIVERSIDADE, PROBLEMA.
  • CRITICA, LIDER, PARTIDO POLITICO, AUSENCIA, ANTERIORIDADE, DEBATE, SENADOR, NORMAS, PASSAGEM AEREA, SENADO, RECLAMAÇÃO, EXCLUSÃO, FAMILIA.

            O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu, infelizmente, não tive a oportunidade de discutir o tema anterior, relativo às passagens.

            Quero deixar bem claro para aqueles que estão nos assistindo que o Senado Federal é uma instituição que tem de ter pessoas aqui representando o povo e os seus Estados. E, logicamente, se formos analisar, a maioria absoluta é de pessoas que não precisam sequer do salário para representar o povo. Há pessoas aqui que não precisam do salário para representar o povo. Mas há outros... Hoje em dia, temos condições de eleger um Papaléo Paes, que não tem tradição econômica em seu Estado, e outros Senadores que se elegem única e exclusivamente por vontade do povo.

            Também quero dizer à população que o salário líquido que eu recebo é de R$12 mil. Além disso, sou médico e o meu salário, como médico, em meu Estado, é mais ou menos equilibrado com este aqui. A minha vida é modesta, não preciso... Agora, imaginem as senhoras e os senhores - e não vou sequer falar para os Senadores - se eu adoecer aqui e tiver que trazer a minha família. Se não conseguir passagem na promoção, terei de pagar R$7 mil por passagem! E onde vou conseguir isso? Se fosse um parlamentar safado, mau caráter, conseguiria com o prefeito para quem arrumei uma emenda; conseguiria com um empreiteiro, com um Odebrecht ou um Camargo Corrêa, sei lá, para depois meu nome sair naquela lista de recebimento de doações.

            Então, Sr. Presidente, quero reconhecer como uma medida moralizadora, porém um pouco precipitada. Deveríamos, antes de tudo, pegar todas as denúncias que a imprensa está fazendo, catalogarmos, estudarmos a realidade e daí então sairmos com medidas concretas, porque, sinceramente, acho que deveríamos ganhar o teto que a lei nos dá. Mas, quando chega o momento de votarmos o teto que a lei nos dá, todo mundo fica com medo da imprensa e começa a jogar demagogia.

            A imprensa entende muito bem que o parlamentar precisa ficar numa condição tal para não ficar vendendo seu voto aqui para ganhar uma passagem, para não ficar saindo em listas de doações e mais doações, para não ficar fazendo caixa dois.

            Então, sinceramente, com determinadas medidas que estão sendo tomadas aqui, acho que vamos elitizar esta Casa e fazer com que seja composta somente por pessoas que tenham posses e que não precisam nem do salário da Casa.

            Quero deixar este meu desabafo, porque é o que sinto. Todo mundo sabe que salário de Senador não dá para esnobar riqueza de forma nenhuma. E todos aqueles que estão aqui e que têm suas empresas, seus bens, construíram seu patrimônio, com certeza, com certeza absoluta - porque conhecemos um por um daqui -, antes de assumir o Senado Federal.

            Então, quero lamentar que estejamos sendo levados, só para dar uma satisfação para a imprensa, a nos apequenar, um Poder tão forte como é este. Enquanto isso, a imprensa deixa de falar do Executivo, do Senhor Lula, que altera a lei de comunicação para beneficiar uma empresa que paga a empresa do Presidente Lula. Aí eu pergunto: isso não é mais importante do que umas “passagenzinhas” daqui? Não é mais importante?

            Agora, essa indecência de pegar passagem e dar para artista fazer show, indecência de pegar passagem para mandar não sei quem para o exterior, isso é uma vergonha deslavada. Mas nós não podemos pagar por isso. Nós, que não temos condições, não podemos usar passagem para a família! Para a família! Quer dizer, eu posso ir toda semana para lá, e quando não puder? Vou pagar uma passagem para minha família vir aqui me visitar? Não tem condições. Então, aqueles que se desesperam, que não têm bom caráter, não têm bom equilíbrio na sua conduta, vão ficar na mão do empresário, vão pedir dinheiro para o empresário: “Paga uma passagem para buscar a minha mulher, a minha filha” ou sem lá quem. Não tem saída.

            Quero, então, deixar isso registrado. Lamentavelmente, eu não pude estar aqui e lamento mais ainda uma coisa: cada Líder deveria ter conversado com os seus liderados, porque aqui nós ficamos um pouco constrangidos para discutirmos algumas questões que nós chamaríamos de pequenas, mas com os nossos Líderes não, nós falaríamos o que bem entendêssemos, e o nosso Líder iria chegar a uma conclusão.

            Então, vejo o resultado de tudo isso como altamente danoso para que nós possamos exercer um mandato limpo. Então nós vamos ser hipócritas? Hipocrisia? “Eu quero ganhar R$5 mil por mês” e está pedindo passagem, está pedindo para comprar remédio, para alugar carro, está pedindo isso ou aquilo para empreiteiro? Pelo amor de Deus!

            Nessa eu me ferrei, porque não tem um prefeito do meu Estado - nenhum! - que venha dizer que eu arrumei alguma emenda e, depois, pedi voto para ele; imaginem favores. Então, nessa eu me ferrei. E outros que estão na mesma condição que eu façam companhia para mim ou para nós, porque nós nos ferramos.

            Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/2009 - Página 12373