Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória do Senador Jefferson Peres, pelo transcurso do primeiro ano de sua morte.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do Senador Jefferson Peres, pelo transcurso do primeiro ano de sua morte.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2009 - Página 19619
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JEFFERSON PERES, EX SENADOR, ESTADO DO AMAZONAS (AM), ELOGIO, VIDA PUBLICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, EMPENHO, PRESERVAÇÃO, INTEGRIDADE, MORAL, ETICA, MELHORIA, REPUTAÇÃO, SENADO, RELEVANCIA, DEFESA, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores; senhoras e senhores convidados para esta sessão solene, de iniciativa primeira do Senador Jefferson Praia, subscrita também por diversos outros Senadores, a começar por mim próprio e pelo Senador João Pedro, portanto, os três Senadores do Estado do Amazonas, o Senador Jefferson Praia tendo a honrosa incumbência, embora dolorosa, de substituir nesta Casa o imenso parlamentar que foi José Jefferson Carpinteiro Péres; ilustríssimo Sr. Vice-Prefeito do Município de Rio Preto da Eva, no Estado do Amazonas, Sr. Manoel Paixão, registro também a passagem das Deputadas Rebecca Garcia e Vanessa Grazziotin por alguns momentos desta sessão e me declaro muito honrado com o fato de, um ano depois, tantos Senadores estarem assomando à tribuna, para prestarem a sua homenagem - o que me parece que virará uma tradição desta Casa - ao Senador Jefferson Péres, que nos deixou - parece que foi ontem, mas, não, foi há um ano - tão prematuramente.

Antes de mais nada, relembro, Senador Jefferson Praia, o último dia em que pude manter contato com Jefferson Péres. Viajei com ele para Manaus, sentamos juntos e conversamos muito informalmente e muito gostosamente, ao longo da viagem inteira. Ele, magro, esguio, aparentava cuidadoso, como sempre me pareceu ser, com sua saúde; aparentava estar em ótima condição física. E, ao contrário, falava de um colega nosso com muita preocupação, perguntando notícia, se eu sabia de um querido colega nosso, de um querido ex-colega nosso.

Quando fui acordado de manhã por minha mulher, dizendo que, em determinada hora da madrugada, Jefferson havia morrido, tomei um susto e, no primeiro momento, imaginei que era um sonho, um pesadelo, enfim, que não era uma expressão da realidade, até porque eu via o Jefferson como alguém que iria, com muita lucidez, ficando velhinho, velhinho, velhinho e vivo. Eu imaginava o Jefferson Péres mais ou menos como o Dr. Roberto Marinho, que jamais dizia “quando eu morrer”, e sim “se eu morrer”. Parecia aquela figura próxima da imortalidade - imortalidade que ele conquista pelo respeito dos seus colegas e pelo respeito da Nação brasileira.

Mas esta sessão terminou virando uma sessão muito parlamentar mesmo. Há um membro da família do Senador Jefferson Péres, que é a Srª Marlinda, irmã da minha prezada amiga viúva do Senador Jefferson Péres, a Srª Marlídice Péres, que está aqui representada por todos nós e que é uma pessoa que merece de todos nós respeito e homenagens, por ser uma mulher digna, correta - o que o Amazonas inteiro reconhece nela; exatamente isso, uma mulher digna e correta.

Aqui vai o meu abraço afetuoso aos seus filhos Roger, Ronald, Rômulo, que compunham com Marlídice e com Jefferson um quinteto de muito entrosamento sentimental, de muito amor, de muita amizade. Uns compreendiam aos outros naquela reunião familiar, de maneira invejável, de maneira muito fraterna, embora eu esteja falando de relação entre marido e mulher e pais e filhos. Mas havia, sobretudo, uma relação de fraternidade entre eles.

Os três rapazes diferentes entre si. Um, com a sensibilidade da arte, o Rômulo; o Roger, mais pragmático, mais objetivo; e um deles dedicado, como Jefferson, às letras jurídicas, já se destacando como um dos mais proeminentes conhecedores de Direito do nosso Estado.

O Senador Jefferson Péres nesta Casa se destacou pela sua retidão, pelos seus conhecimentos bastante corretos de Economia e, sobretudo, pelos seus conhecimentos aprofundados de Direito. Tinha uma formação bastante escorreita, bastante sólida em matéria de Direito, além de ser, como bem disse o Senador Pedro Simon, um orador objetivo, sagaz e, ao mesmo tempo, afirmativo. Com poucas palavras, com frases curtas, dizia aquilo que também, Senador Pedro Simon... gostaria de ser como ele. Também preciso falar muito, para tentar chegar ao que ele dizia com muita objetividade, de maneira muito cortante.

O Senador Jefferson Péres foi um brilhantíssimo Vereador em Manaus, por alguns mandatos, e cuidou efetivamente, Senador José Agripino, das cidades. Cuidou das cidades e fez um nome político muito forte, muito expressivo em Manaus.

Candidato em 1994, pelo PSDB, ao Senado, fizemos uma campanha belíssima juntos, e ele obteve, ao lado do Senador Bernardo Cabral, uma vitória contra nomes fortes, expressivos e significativos da vida pública do País - Senadores, o Deputado José Dutra, que, à época, era Presidente da Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados, e o Deputado Francisco Garcia, que, à época, era Vice-Governador do Estado do Amazonas. Elegeu-se Senador e se destacou pelo seu comportamento correto, pela sua firmeza de caráter, pela sua cultura, ganhando respeito dos seus Pares.

Jefferson Péres tinha com meu pai uma amizade muito grande, uma amizade que, aliás, foi meio herdada da amizade do Desembargador Arnoldo, pai dele, com meu avô, Desembargador Arthur Virgílio.

Quando meu pai faleceu, em 31 de março de 1987, muitas pessoas homenagearam o velho Arthur Virgílio, muitas - muitos artigos, muitas homenagens, muitos discursos.

A gente sabe quando é aquele artigo que vem de boa vontade, mas sem aquele algo mais, e sabe quando é o artigo ou discurso protocolar em que, bastaria trocar o nome do morto, estariam as mesmas palavras. O Jefferson fez no jornal A Crítica, de Manaus, uma belíssima homenagem, um artigo que guardei. Não guardei os demais, minha irmã Ana Luiza deve ter guardado. Não guardei os demais, mas guardei o do Jefferson, por ter sido capaz de sintetizar o amor que tinha pelo meu pai, que conhecia profundamente. Uma coisa é alguém falar do que não se conhece ou de quem se desconhece: ele falava de alguém que conhecia.

Meu pai foi cassado pelo Ato nº 5, e, de repente, ele, que tinha aquela vida atribulada de Líder do Governo Goulart e que passou à vida atribulada de Líder da Oposição à ditadura militar, cassado, passou a viver uma vida de pária, porque não podia chegar perto de um comício a 300 metros, não podia manifestar-se em jornal sobre matéria política, nem em televisão, muito menos em rádio. Aliás, naquela época, até quem não estava cassado e era da Oposição não podia falar em rádio, nem em televisão. E meu pai teve uma ótima oportunidade de selecionar seus amigos do Amazonas, porque não eram todos que o procuravam, não eram todos que o visitavam, não eram todos que abriam sua casa, para que ele visitasse aquela família. E ele se sentia muito à vontade, eternamente, na companhia de Marlídice Péres e de Jefferson Péres, de Adel Mamede; lá ele se sentia como em casa. Lá faziam a comida de que ele gostava, do jeito que a Marlídice sabia que ele preferia, e entravam pela madrugada, trocando idéias, conversando.

E cada momento na casa do Jefferson, para o meu pai, era um refrigério, era um descanso, porque era muito duro alguém que havia aos 40 anos de idade chegado a Líder de um Governo no Senado de repente ser afastado de toda e qualquer atividade pública aos 48, a ponto de nunca mais ter resolvido participar de vida pública. Foi essa a decisão de meu pai. Mas, muito bem.

Eu nunca falei em necrológio, nunca fiz necrológio de ninguém, porque eu sempre disse para mim mesmo, Senador Tião, que, se eu não gosto da pessoa, eu não vou falar no enterro dela; e, se eu gosto, não vou falar no enterro dela por razões outras. Até porque, enfim, não vou traduzir em palavras coisas que vão ao meu coração.

Quando meu pai foi enterrado, uma multidão imensa - eu estava dopado, obviamente, muitos remédios para segurar aquele impacto -, estava Manaus inteira ali; eu ainda tive força para dizer que eu não queria comício. Que falava o Deputado Átila Lins, que era Presidente da Assembléia, que foi onde o meu pai teve o corpo velado e, portanto, era justo que o Deputado Átila Lins se pronunciasse; falava um querido amigo do meu pai que representava aquela geração de pessoas que, como ele, foi cassado por não cederem ao regime de forças: Arlindo Porto, Deputado Federal, Deputado Estadual; e falou um funcionário da extinta Sucam, da então Sucam, Francisco Monteiro de Souza, que era um grande amigo do meu pai - figura muito humilde, muito correta, muito fraterna e muito irmã do meu pai. E, de repente, me disseram: “Tem o Vereador Fulano, o Deputado Beltrano”. Eu disse: “Olhe, isto aqui não é comício. Só falam esses três e está acabada a conversa. Ninguém vai aproveitar para lançar candidatura no enterro do meu pai. Isso aqui é brincadeira. Diga a eles que não. Só falam esses três, e está acabada a conversa. Se aparecer o Presidente da República, não fala; se aparecer o Papa, também não fala. Só falam esses três, e está acaba a história”.

Então eu tenho um pouco de dificuldade de juntar, assim, as duas lembranças.

Eu me considero uma pessoa muito amiga do Jefferson. agora, se alguém pergunta para mim se a minha vida foi uma vida de eterna paz com ele, não é verdade. Aliás, Senador Tião, qualquer pessoa que conviva muita comigo não tem paz o tempo todo comigo. É da minha natureza mesmo.

Então, tive momentos de atribulação, que ele sempre ponderou e sempre soube das nossas divergências - conversou comigo - e nós tivemos sempre - jamais brigamos - reconciliações, se é que posso chamar de reconciliação algo ocorrido entre pessoas que nunca brigaram, mas que divergiram; e sempre foram muito boas, porque sempre marcadas por conversas que a mim me acrescentavam muito.

Certa vez, ele disse para o Benedito Azedo, ex-prefeito do Município de Parintins, que ele tinha algumas pessoas com as quais ele gostava muito de conversar aqui. E ele citou o nome do Presidente José Sarney, a quem ele era muito afeiçoado, e citou o meu nome. Ele disse que valia a pena estar no Senado porque ele gostava de conversar com essas pessoas, e que essas pessoas, portanto, eram companhias que ele gostava, precisamente por causa da troca de idéias.

Mas o Jefferson Péres merece as homenagens todas. Eu sei que tem muita gente na fila para homenageá-lo ainda, muita gente, acredito eu que o Senado inteiro. E o Senador Simon disse bem: é cuidar de seguir o exemplo dele, procurar fazer as coisas pelo lado correto, pelo lado justo, pelo lado digno. E, mais do que nunca, estamos precisando fazer isso aqui no Senado neste momento: enfrentar as dificuldades do Senado do jeito que a gente supõe e tem certeza de que o Jefferson faria. Nada de ficar empurrando sujeira para baixo do tapete, nada de ficar com meias soluções, com meias verdades, nada de ficar com meias propostas, com meias atitudes, mas, sim, atitudes inteiras, soluções inteiras, verdades verdadeiras.

Portanto, Sr. Presidente, Senador Jefferson Praia, repito que gostaria muito de ter aqui a viúva do Senador Jefferson e seus filhos; no outro ano estarão, haverão de estar, até porque eu sei que causará um impacto muito positivo no coração de cada um deles a lembrança que o Senado tem, a lembrança que nasceu do Senador Jefferson Praia e a lembrança que o Senado tem do homem íntegro, ínclito, culto, produtivo, correto, que foi o Senador Jefferson Péres. Uma figura que cultivava as palavras como ninguém. O Senador Pedro Simon se referia à precisão que ele tinha com as palavras; e ele trabalhava essa precisão. O Jefferson cultivava seus artigos dominicais para o jornal A Crítica com muito esmero, até chegar à forma perfeita, aquela forma que se juntava a um fundo, sempre consequente, mas a forma perfeita. Em um artigo no qual se lhe dissessem: são tantos caracteres, com tantos espaços, ele se limitava àqueles caracteres com precisão e saía sempre um artigo muito bom.

Devo dizer, ainda, que eu tinha muita proximidade com ele quando se tratava de análise econômica, mas eu tinha uma cabeça bem diferente da dele, minha cabeça era de que não se podia falar em abertura de economia. Eu tinha uma cabeça bem de uma esquerda que ficou para trás, lá nos anos não sei o quê. E um dia tomei um susto quando ouvi o Jefferson falando, portanto à frente do seu tempo, nas teses que depois viraram as teses, que são minhas, mas as teses que viraram as teses dos governos de Itamar Franco para cá. Eu o interpelei: “Jefferson, deu a louca em você? Você escreveu tanta coisa que nega tudo o que a gente pensa?” Mas estava, na verdade, à frente do seu tempo.

Quando disputei minha primeira eleição - e lá se vão trinta e um anos, Senador Marco Maciel, em 1978 -, o Jefferson Péres me dava dados muito importantes, palavras muito cortantes para que eu transformasse aquilo em panfleto. Às vezes me dava até o panfleto inteiro, para que eu só mandasse imprimi-lo e distribuísse entre os manauaras. Obtive, já com quatro meses de campanha, a segunda maior votação da cidade de Manaus naquele ano. Jovem, recém-chegado do Rio de Janeiro, com quatro meses de campanha, foi uma votação esplêndida, capitaneada por figuras que tinham aquela autoridade moral, como o próprio Senador Jefferson Péres.

Eu, portanto, entendo que o Senado, quando hoje presta esta homenagem, que está no meio... Imagino que muita gente ainda se manifestará sobre uma figura tão importante, tão relevante e que fica na história do Senado. O nome da Comissão de Ética do Senado é Comissão de Ética Senador Jefferson Peres; é o nome da sala, é o nome da Comissão, numa homenagem à forma escorreita, correta, justa pela qual ele sempre procurou se pautar.

Eu diria que ele entrou para o rol muito exclusivo, muito especial dos homens públicos que marcaram suas vidas por atitudes, Senador Garibaldi Alves, aqueles que não faziam qualquer coisa a qualquer preço; aqueles que tinham espinha dorsal e que tratavam de não curvá-la, de não deixá-la quebrar; aqueles que não hesitavam em experimentar a solidão, desde que a solidão tivesse como companhia a sua própria convicção. E a gente vê as pessoas que fazem tudo por qualquer coisa a qualquer preço e vão tendo elas a certeza de que jamais terão uma homenagem como a que estamos prestando ao Senador Jefferson Peres. Não terão. Só merecem, no futuro, as homenagens prestadas a quem quer que seja, se esse quem quer que seja tiver construído, elaborado, esculpido uma biografia. É Djalma Marinho, quando diz que nega a cassação na Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados - Casa a que ele pertencia - ao Deputado Marcio Moreira Alves, dizendo, Senador João Pedro, que ao rei se concede tudo, menos a honra. Dizendo, ao lado de figuras que, se eu tivesse que destacar mais uma, na Câmara dos Deputados da época, destacaria Mário Covas, que liderou, na Comissão de Justiça e no plenário da Câmara dos Deputados, a resistência pela não-cassação do Deputado Marcio Moreira Alves. Aí, diziam: “Ah, mas, se não cassar o Marcio, vem um Ato 5, vem um ato não sei o quê”. Então, que venha o ato que a ditadura for capaz de editar, mas isso não é motivo para você permitir que haja a violação do mandato parlamentar.

Atitudes, Senador Marco Maciel, de pessoas como V. Exª, que se portaram com dignidade mesmo estando do lado inverso àquele em que eu me postava, ao lado do Senador João Pedro e de tantos outros, do Senador Alvaro Dias. Afinal de contas, Adauto Lúcio Cardoso era um homem da UDN. E, antes do Ato nº 5, quando cassaram Doutel de Andrade, o General Meira Matos cerca militarmente a casa, desliga a luz, corta a água, porque queria Doutel de Andrade, líder do PTB, que havia sido cassado pelo AI-2, e queria mais dois Deputados cassados também. E ali houve a revelação de figuras como Adauto Cardoso, à época, eu diria, um conservador, mas não estou discutindo conservador ou progressista. Não estou discutindo nada disso. Estou discutindo caráter; estou discutindo firmeza; estou discutindo não se curvar; estou discutindo não fazer qualquer coisa por qualquer coisa, a qualquer preço. E Adauto Lúcio Cardoso resistiu até o momento final, quando a força militar superou a resistência civil.

E mais: Amaral Neto, figura que, com tanto denodo, defendia o regime autoritário, enfrentou fisicamente os soldados que invadiam o recinto da Câmara para buscar os Deputados que a Câmara não queria entregar. Momento bonito. Momento bonito, porque Adauto Cardoso não sustentava aquilo sozinho. Sustentava aquilo com amparo moral de um Djalma Marinho, com amparo moral de um Mário Covas, com amparo moral de seus companheiros, como Amaral Neto e tantos outros, enfim. Momentos bonitos. Essas pessoas vão ficando para a história. Um Aliomar Baleeiro, quando joga a toga do Supremo Tribunal Federal no chão e se retira para a sua vida privada, para a sua vida particular, por não concordar com a ideia que o regime militar tinha dele, de que ele deveria ser um delegado, deveria ser alguém para homologar a antilei, a antidemocracia, o antidireito. Ele resolveu não fazer isso. O Presidente Ribeiro da Costa, homem de baixa estatura e elevação moral incalculável, quando o General Costa e Silva, em um arroubo de inegável boçalidade, disse que não adiantava o Supremo ter concedido habeas corpus para libertar Miguel Arraes de Fernando de Noronha porque ele não iria deixar que libertassem o ex-governador, o governador cassado, Miguel Arraes, que estava no cárcere de Fernando de Noronha, disse - o Ministro Ribeiro da Costa: “Ele tem 24 horas - ou 48 horas - para cumprir a lei. Se ele não fizer isso, eu, como Presidente do Supremo, irei lá pessoalmente para libertar o Governador Arraes e o Governador Seixas Dória, de Sergipe, e fazer cumprir a ordem do Supremo Tribunal Federal, à qual ele tem, como Ministro da Guerra ou como o que ele seja, que se curvar”.

Coisa incrível! Uma ditadura se implantava no País, e Costa e Silva foi obrigado, Senador Alvaro Dias, a abrir o cárcere e devolver a liberdade ao Governador Arraes, que, depois, teve, então que se exilar do País, se exilar numa embaixada, até porque sua vida corria realmente perigo, dadas as circunstâncias da época.

São atitudes como essa que vão marcando. Eu não estaria falando de outros, eu estaria falando desses, que são figuras pelas quais eu criei admiração. Quantas discordâncias eu tinha em relação ao Leonel Brizola, que era um fraterno amigo de meu pai. Mas não posso esquecer, não posso olvidar que teria sido antecipado o golpe de 64 se Leonel Brizola não tivesse liderado a Cadeia da Legalidade em 1961, no Palácio Piratini, no Rio Grande do Sul. Foi preciso coragem.

Aquilo que Winston Churchill disse: pode ter cultura, pode ter tudo um homem público; se não tiver coragem, as demais qualidades falecem pela falta desta característica básica de um homem público de verdade, que é a coragem, que é o arrojo, que é a determinação, que é o vigor cívico, muito mais importante que o vigor físico.

Então, nós estamos citando pessoas de vários quadrantes ideológicos, que merecem respeito, que merecem acatamento. E, entre essas pessoas, vejo mais uma outra, junto com o meu pai, Senador Arthur Virgílio, que foram os dois únicos Senadores que votaram contra Castello Branco aqui nesta Casa. Eram 66 Senadores - Juscelino Kubitschek caiu na esparrela de votar em seus futuros algozes -, mas meu pai e Josaphat Marinho não se curvaram, Senador Cristovam; votaram contra Castello Branco. Josaphat Marinho era um querido amigo tanto de meu pai quanto do Senador Jefferson Péres.

Por isso me sinto feliz ao perceber que nós estamos colocando o Senador Jefferson Péres no lugar que é o dele, junto desses nomes maiores: Daniel Krieger e tantos outros, de todos os lugares, Almino Afonso - vivo, graças a Deus, e com toda uma história para percorrer ainda.

Jefferson Péres está no meio desses grandes brasileiros.

É mais do que merecida a homenagem. Essa homenagem entroniza Jefferson Péres no seu devido lugar, o lugar de um amazonense que honrou o tempo inteiro o seu Estado e de um brasileiro que honrou o seu País. Homem de honra que, o tempo inteiro, honrou a sua coerência e a sua honra.

Muito obrigado.


Modelo1 7/18/243:17



Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2009 - Página 19619