Discurso durante a 82ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem a memória do Senador Jefferson Peres, pelo transcurso do primeiro ano de sua morte.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA. HOMENAGEM.:
  • Homenagem a memória do Senador Jefferson Peres, pelo transcurso do primeiro ano de sua morte.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/2009 - Página 19635
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA. HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, REPRESENTANTE, CONFEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES NA AGRICULTURA (CONTAG), DEFESA, DIREITOS, TRABALHADOR RURAL, MANIFESTAÇÃO, ORADOR, APOIO, LUTA, CLASSE PROFISSIONAL.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, JEFFERSON PERES, EX SENADOR, ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, ETICA, PROBIDADE, POLITICA, MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, FAMILIA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nossos convidados da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Contag, uma das maiores expressões do movimento sindical brasileiro, presente no Grito da Terra Brasil, em Brasília. É uma caminhada longa de três, quatro dias, só em Brasília, além da viagem que os companheiros realizam, para defender os direitos dos trabalhadores rurais. E numa sessão de homenagem ao Senador Jefferson Péres, temos que elevar esta expressão produzida por ele aqui no Congresso Nacional: “Quem caminha com o povo nunca está sozinho”. O povo está exatamente nas galerias do Senado Federal para expressar o seu sentimento em relação à política agrícola do Brasil, fazendo reivindicações, buscando soluções, apresentando propostas concretas.

Eu sou daqueles que conviveram pouco com o Senador Jefferson Péres aqui no Senado Federal como Senador; mas desde a chegada do Senador Jefferson Péres ao Congresso Nacional, eu também estou aqui no Congresso Nacional. Posso testemunhar a sua atitude de manter uma relação próxima, muito próxima, nos seus pronunciamentos, nas suas defesas, nas comissões técnicas, especialmente na Comissão de Justiça, ao seu pensamento. Ele não arredava pé do seu pensamento sobre a política econômica, a social; a sua opinião sobre o que é a ética, que é sempre algo divergente porque é diferente para as pessoas.

         Nem sempre o que é ético para um Senador o é para outro. Há a ética midiática, estabelecida segundo os interesses desse setor, e o Senador buscou manter uma posição que alguns poderiam dizer de princípio; seria sempre no desejo de principiar, de recomeçar. Mas o sentido que queremos dar aqui não é o princípio etimológico da palavra, da sua raiz; é do ponto de vista que expressava o Senador não só de iniciar sempre, de começar sempre. Não. Era no sentido de que ele tinha determinado ponto de vista e naquela posição ele se agarrava; ele se segurava àquela posição para defender a sua ideia, fosse do ponto de vista ético, fosse do ponto de vista moral, fosse do ponto de vista econômico.

         Ele sempre defendeu uma posição muito conservadora do ponto de vista econômico. E isso o levou não só a apoiar a política econômica de Fernando Henrique, como também a apoiar a política econômica de Lula, porque, segundo ele, no princípio (no sentido de início) do Governo Luiz Inácio Lula da Silva, o Lula também se apegou à política conservadora para manter o Pais num determinado ritmo até criar condições para fazer alterações econômicas.

Na macroeconomia, nós nos conduzíamos num caminho que foi ajustado antes (daí a Carta aos Brasileiros) e alteramos a economia na medida em que ganhamos solidez para poder fazer uma alteração que permitisse políticas sociais de cunho mais avançado, como não havíamos assistido ainda no Brasil.

Então, acho que, desse ponto de vista, o Senador sempre buscava defender essa posição.

E sou daqueles também que nem sempre concordava com S. Exª, aliás, na maioria das vezes, discordamos quando tratávamos de questões econômicas, de programas sociais e também da concepção do que era e do que não era ética. Nós sempre divergimos nessas questões. Por quê? Porque imaginamos que o centro dessa disputa estava na política e não na posição principista. Não era a posição principista que deveria nortear a nossa posição. E o Senador mantinha-se numa posição que, muitas vezes, era principista no sentido da defesa de uma posição mais conservadora a respeito desses temas. Mas esse sempre era um diálogo muito interessante. Por quê? Porque o Senador não se furtava a enfrentar esses temas. Não tinha receio de manifestar a sua posição para que ela fosse questionada por quem tivesse opinião divergente. Então, essa é uma postura que eleva - digamos assim - o caráter das pessoas, seja como Senador da República, como Deputado Federal ou como cidadão, que é o principal. Não se pode, por uma razão ou outra, partir em fuga sem enfrentar as questões centrais que são postas em debate, principalmente quando se tem uma posição determinada.

         Senador Jefferson Praia, V. Exª, com grande galhardia, tem buscado sucedê-lo - não substituí-lo, porque V. Exª não está aqui para isso - nessa cadeira de Senador da República pelo Estado do Amazonas. Por isso, eu quero render esta homenagem a Jefferson Péres em nome do meu Partido, o Partido Comunista do Brasil, em meu nome próprio e em nome do povo do Estado do Ceará, que sempre buscou acompanhar as sessões do Senado Federal e acompanhava também a opinião do Senador Jefferson Péres, e fazer essa ligação do Brasil. Acho que isso é o mais importante - isso talvez fosse o centro dos desejos do Senador Jefferson Péres. Às vezes, mesmo numa posição conservadora... Às vezes, estamos tratando da política - há o mais conservador, o centro e a esquerda - e fica parecendo sempre que, ao ser conservador, não se defende o Brasil. Pelo contrário, muitos conservadores dedicaram toda a sua vida à defesa dos interesses da nossa Pátria, do nosso País.

Por essa razão, esta tarde é coroada com a presença dos trabalhadores rurais do nosso País. São pequenos proprietários. São homens e mulheres do povo. Se aqui estivesse se pronunciando sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais, Jefferson Péres estaria favorável à pauta de reivindicações deles. Por isso, ao render esta homenagem, nós a associamos também à luta concreta e objetiva do movimento social brasileiro, cuja trajetória não é fácil. Salvo momentos episódicos da vida política brasileira, como este que estamos vivendo de mais democracia e liberdade, os trabalhadores têm sofrido bastante para colocar suas questões na Ordem do Dia, para serem recebidos pelas autoridades públicas.

Hoje, há um clima mais favorável: o Presidente da República recebe com alegria, com satisfação e de braços abertos os trabalhadores rurais, seja os conduzidos pela Contag, seja os conduzidos pelo MST, seja os trabalhadores industriais. Eles são recebidos. A política de salário mínimo tem sido discutida na mesa, com o Presidente da República. É diferente. Este é um momento especial do Brasil, de que nós precisamos cuidar. Nós precisamos cuidar desse momento especial, para que ele não sofra solução de continuidade.

É preciso ter alternância, sim, no Governo, mas alternância dentro de um projeto de Brasil. Alternância, sim, claro, mas o projeto é o do Brasil. Há que ter uma unidade forte do nosso País. É como se fosse uma grande unidade nacional em torno de um projeto avançado, progressista, popular e democrático, em que caibam não só os que “se consideram os produtores da riqueza”, mas em que caibam os verdadeiros produtores da riqueza, que são os trabalhadores brasileiros.

Por isso, Jefferson, você receba, e também a família do Senador Jefferson Péres, a nossa homenagem, mostrando que, sobretudo, o Senador foi um homem polêmico, de ideias diferentes, e nós, muitas vezes, nos enfrentamos neste plenário, e homenageá-lo é também abordar essas diferenças que fizeram dele um Senador que vai ficar presente na história do Senado para sempre.

Obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/2009 - Página 19635