Discurso durante a 97ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao pronunciamento feito ontem pelo Senador José Sarney, sobre a crise no Senado Federal.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Críticas ao pronunciamento feito ontem pelo Senador José Sarney, sobre a crise no Senado Federal.
Publicação
Publicação no DSF de 18/06/2009 - Página 23988
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • COMENTARIO, FALTA, ADAPTAÇÃO, LEGISLATIVO, AMPLIAÇÃO, CIDADANIA, UTILIZAÇÃO, INTERNET, RECEBIMENTO, ORADOR, SUPERIORIDADE, NUMERO, MENSAGEM (MSG), CRITICA, PRESIDENTE, SENADO, OMISSÃO, ESCLARECIMENTOS, CRISE, COBRANÇA, RESPONSABILIDADE, IRREGULARIDADE, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL.
  • PROTESTO, FALTA, PROVIDENCIA, PRESIDENTE, SENADO, IMPARCIALIDADE, APURAÇÃO, VICIO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, OPINIÃO, ORADOR, NECESSIDADE, COLABORAÇÃO, POLICIA FEDERAL, INVESTIGAÇÃO, COMPROMISSO, PUNIÇÃO, SERVIDOR, SENADOR, OFENSA, DECORO PARLAMENTAR, MELHORIA, REPUTAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, FRUSTRAÇÃO, PROPOSTA, REFORMULAÇÃO, AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, CONGRESSISTA.
  • COBRANÇA, PRESIDENTE, SENADO, MESA DIRETORA, PROPOSTA, PAUTA, VINCULAÇÃO, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, Srªs Senadoras, ontem, o Presidente Sarney fez um discurso, Senador Jefferson Praia, com o qual estou de acordo em uma coisa. Devo dizer que já havia escutado dele esta referência: o fato, Senador Collor, de que esta Casa, de que os Congressos do mundo inteiro não se adaptaram ainda à nova realidade do mundo da Internet, pois o povo está permanentemente na rua virtual, gritando nas praças virtuais, por meio dos blogs, dos sites e das mensagens que recebemos. Quando o Presidente Sarney - lembro-me de uma conversa aqui há algum tempo - perguntava de onde vem essa crise que vivemos, ele me disse isso, o que me chamou muito a atenção. De fato, há uma crise estrutural, já que as inovações técnicas ocorreram numa velocidade que os Congressos não foram capazes de absorver.

Pois bem. Creio que ele, que percebeu essa situação, está sendo vítima hoje disso por culpa do discurso que fez. A quantidade de e-mails que recebi, as notícias espalhadas nessa chamada blogosfera do mundo brasileiro hoje são praticamente unânimes em dizer que o discurso feito ontem pelo nosso Presidente não satisfez a inquietação, a indignação e até a raiva, eu diria, que a opinião pública brasileira vive hoje. Não foi um discurso feliz, capaz de retomar não só a credibilidade da Casa, como também de reorientar nossos trabalhos para que essa credibilidade se afirme.

O Presidente disse que o problema é do Senado. Até aí, tudo bem. Mas a responsabilidade maior é do Presidente da Casa. O problema é do Senado. A gente pode até dizer que o problema é do Congresso, é da República inteira, da democracia inteira, do Brasil inteiro, de todos os brasileiros, mas a responsabilidade maior pesa, em primeiro lugar, sobre a Presidência; em segundo lugar, sobre a Mesa; e, em terceiro lugar, sobre todos nós Senadores. A responsabilidade pesa sobre nós, e a culpa pesa sobre algumas pessoas especificamente, que a opinião pública quer conhecer, sabendo das punições que serão feitas.

Eu esperava que o discurso do Presidente nos trouxesse, muito mais do que uma fala, o anúncio de gestos. Esses gestos não vieram. Gestos, por exemplo, de que haverá de fato uma apuração independente de tudo aquilo que de errado tem acontecido nesta Casa. É nesse sentido que não somos investigadores. Não temos essa prática. Eu lutarei, com todas as forças, para que não entre a Polícia Federal nos invadindo, mas eu defendo que ela seja convidada para investigar o que é que há de errado no comportamento de servidores e de Senadores.

Eu esperava do Presidente Sarney a decisão clara de uma investigação independente, em que o Senado aceitasse que especialistas em investigações, com a credibilidade que hoje nos falta a todos nós, que essas entidades viessem aqui e identificassem, ponto por ponto, pessoa por pessoa, onde é que houve falhas nas ações que nós cometemos.

Segundo, que ele dissesse, com toda clareza, que, caso essas investigações independentes apontassem culpados, se forem culpados servidores, eles serão punidos imediatamente, e, se forem culpados Senadores - eu, pessoalmente, duvido muito que apenas os servidores assumam essa responsabilidade -, que, se houve Senadores envolvidos, que isso seja apurado também em processos de decoro parlamentar.

Eu esperava ouvir do Senador Sarney, em primeiro lugar, um discurso sobre essa forma de limpar essa coisa que hoje parece, na opinião pública, como se uma lama de podridão estivesse nos cobrindo, e que ele viesse aqui trazer os instrumentos da limpeza dessa lama que hoje nos cobre, senão como fato existente, como eu hoje acredito, pelo menos como um fato que está na imaginação do povo brasileiro. E para nós, homens e mulheres de atividades na vida pública, o que o povo inteiro pensa, ainda quando não seja verdade, tem que ser levado em conta. Além da honestidade, é preciso parecer honesto.

Eu esperava que o discurso de ontem trouxesse, com clareza, essa idéia da apuração independente e da punição com rigor. Além disso, com a experiência que tem o Presidente, eu imaginava que não ficaria apenas no discurso sobre a crítica a essa lama que hoje aparece sobre nós, mas que analisasse também as engrenagens enferrujadas que fazem com que o Congresso, mesmo sem erros morais, não satisfaça à opinião pública nos resultados do nosso trabalho. Que ele trouxesse aqui idéias de como fazer para que esta sala fique cheia durante todos os dias da semana, não todos os dias do ano, porque temos responsabilidades com as nossas bases. Temos que visitar nossos eleitores e os que não são eleitores, mas que moram nas nossas bases. Mas não dá para continuar um Parlamento funcionando sem parlamentar, não no sentido do substantivo, mas no sentido do verbo. Não somos Parlamentares se não parlamentamos, e não parlamentamos se estamos distantes.

Todo Senador trabalha no fim de semana, mas o Senado não trabalha se não estivermos todos aqui. E não temos estado aqui com a presença que é necessária para que parlamentemos, discutamos, aprofundemos, estejamos alertas. E essa talvez seja a maior causa das frustrações que sentimos, muitos de nós, quando tomamos conhecimento dos fatos que aqui acontecem lendo pelos jornais. Ora, não estando aqui, como vamos saber?

Eu esperava que o Presidente dissesse que ia propor que houvesse uma mudança na maneira como trabalhamos, na cronologia como funcionam os nossos trabalhos, para que esta sala, não digo esta Casa, mas esta sala estivesse cheia todos os dias da semana pelo menos durante determinadas horas desses dias. A Casa hoje tem 49 Senadores presentes, pelo menos que já passaram por aqui, mas não nos acostumamos a ficar aqui. E vamos falar com franqueza: é geral. Eu moro em Brasília e não preciso ir vir visitar as minhas bases no final de semana, pois visito durante a semana, e, na quinta-feira, quando os senhores vão para as suas bases, eu vou fazer campanha pela educação pelo Brasil afora. Então, não estou jogando a culpa nos outros, em absoluto; estou assumindo a minha parte; mas nós somos assim porque não definimos uma regra de como termos uma reunião sistemática.

Depois, eu esperava que ele trouxesse para nós - o que ele disse inclusive durante o processo de sua escolha - uma pauta na qual iríamos trabalhar, uma pauta vinculada aos grandes problemas nacionais, e não apenas os nossos discursos aqui feitos desvinculados do que o povo quer ouvir, saber e encontrar de soluções para os seus problemas.

Vim aqui, Sr. Presidente, sem querer tomar mais tempo do que esses minutos que são dados, para dizer que, do discurso de ontem do Presidente Sarney, ficou uma imensa frustração de ver meu chefe do Senado, aquele que é responsável pelos fatos que aqui acontecem - ainda que em muitos casos não seja culpado, mas é responsável -, dizer que o problema é do Senado, como se dissesse “eu não tenho nada que ver com isso”.

Eu assumo que o problema é do Senado, que é do Congresso, que é do Brasil, que é da República, que é da democracia, mas a responsabilidade, em primeiro lugar, é do Presidente; em segundo lugar, dos membros da Mesa; e, em terceiro lugar, de todos nós.

Eu estou aqui tentando dar a minha contribuição como parte desses responsáveis, mas cobrando do Presidente, cobrando da Mesa ações mais firmes que convençam a opinião pública, Senador Geraldo Mesquita, de que nós vamos tentar limpar essa lama em que a opinião pública nos vê, como se estivéssemos debaixo dela. E, ao mesmo tempo, vamos mudar a estrutura do nosso funcionamento para que sejamos mais respeitados pelo povo brasileiro.

Era isso, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/06/2009 - Página 23988