Discurso durante a 107ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação de S.Exa. sobre matérias veiculadas pela revista IstoÉ, refutando o que foi publicado. Acusações aos Senadores Gim Argello, Renan Calheiros e José Sarney de terem tramado contra S.Exa. Registro de denúncia contra o presidente José Sarney. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. SENADO.:
  • Manifestação de S.Exa. sobre matérias veiculadas pela revista IstoÉ, refutando o que foi publicado. Acusações aos Senadores Gim Argello, Renan Calheiros e José Sarney de terem tramado contra S.Exa. Registro de denúncia contra o presidente José Sarney. (como Líder)
Aparteantes
Alvaro Dias, Eduardo Suplicy, Garibaldi Alves Filho, Gilberto Goellner, Jorge Afonso Argello, José Nery, Marisa Serrano, Mozarildo Cavalcanti, Mário Couto, Papaléo Paes, Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 30/06/2009 - Página 27863
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. SENADO.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, ORADOR, ANALISE, COINCIDENCIA, AMIZADE, PROPRIETARIO, EMPRESA JORNALISTICA, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, REPUDIO, TENTATIVA, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, CONGRESSISTA, CONTESTAÇÃO, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO, SENADO, MANIFESTAÇÃO, DISPONIBILIDADE, APRESENTAÇÃO, INFORMAÇÕES, IMPRENSA.
  • DETALHAMENTO, PROCESSO, NOMEAÇÃO, EXONERAÇÃO, LOTAÇÃO, SERVIDOR, VINCULAÇÃO, ORADOR, APRESENTAÇÃO, MESA DIRETORA, REQUERIMENTO, SOLICITAÇÃO, INFORMAÇÕES, LEGALIDADE, DESPESA, TRATAMENTO, MÃE, SENADOR, ESCLARECIMENTOS, EMPRESTIMO, DINHEIRO, PAGAMENTO, HOTEL, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, PERIODO, VIAGEM, FAMILIA.
  • REGISTRO, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, RENAN CALHEIROS, SENADOR, AUSENCIA, APURAÇÃO, DENUNCIA, EXISTENCIA, DINHEIRO, DIRETORIA GERAL, PERIODO, GESTÃO, PRESIDENCIA, SENADO, DEFESA, ORADOR, IMPORTANCIA, PRESENÇA, POLICIA FEDERAL, MINISTERIO PUBLICO, COMANDO, INVESTIGAÇÃO.
  • DEFESA, DEMISSÃO, EX-DIRETOR, DIRETORIA GERAL, RECURSOS HUMANOS, NECESSIDADE, INVESTIGAÇÃO, PRIMEIRO SECRETARIO, CORRELAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, ATO, CARATER SECRETO, PERIODO, GESTÃO, DIRETOR GERAL, ORADOR, SAIDA, JOSE SARNEY, SENADOR, PRESIDENCIA, CONGRESSO NACIONAL.
  • LEITURA, REQUERIMENTO, AUTORIA, ORADOR, APRESENTAÇÃO, DENUNCIA, JOSE SARNEY, SENADOR, DESCUMPRIMENTO, ARTIGO, REGIMENTO INTERNO, FACILITAÇÃO, OPERAÇÃO, EMPRESA, NETO, INTERMEDIARIO, BANCOS, CONCESSÃO, EMPRESTIMO EM CONSIGNAÇÃO, SERVIDOR, SENADO, DESCONTO, FOLHA DE PAGAMENTO.
  • EXPECTATIVA, IMPLANTAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), INICIO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, IRREGULARIDADE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a jornalista de O Globo Isabel Braga me telefona - e eu estava em plena preparação para as festividades do boi-bumbá, tão tradicional em Parintins, no Amazonas -, pedindo que me referisse à matéria que seria uma matéria de acusação a mim, publicada na revista IstoÉ, matéria não assinada, estranhamente sequenciando algumas outras matérias assinadas pelo mesmo jornalista, Sérgio Bardellas.

E devo, antes de mais nada, reconhecer a lisura e a correção com que, em O Globo de domingo, a jornalista Isabel Braga tratou dessa questão no que toca a mim. E muito correta nas acusações que fez a meliantes que vão pagar até pelas calúnias que são capazes de assacar contra pessoas de bem.

Registro ainda, Sr. Presidente, que, no final da semana retrasada, estava eu em Belém do Pará - Senador Mário Couto, tive a honra de ter sido um dos padrinhos do seu casamento -, e outro jornalista correto, Paulo Celso, da revista Veja... Já tinham vazado para ele. A mesma fonte, essa mesma fonte “agacieliana”, “sarneyana”, essa mesma fonte entre corrupta e pré-histórica já havia vazado para ele a matéria. Ele ouviu as minhas explicações, no que pude dá-las, com a falta de dados de que dispunha, e me disse: “Senador, estou convencido de que isso não contribui para nada. É uma tentativa de intimidação mesmo”.

Devo fazer os dois registros, porque, antes de qualquer coisa, vou expender aqui a minha opinião sobre a revista IstoÉ. A revista IstoÉ é uma central de chantagens montada neste País. Ela pertence - não sei se em parte ou se ficticiamente - ao Sr. Domingo Alzugaray, ex-ator de fotonovela que, de repente, se travestiu de jornalista. E seu proprietário verdadeiro é o escroque que enriqueceu difamando o Polo Industrial de Manaus e que teve, para desgraça do Senado, direito, por algum tempo, a assento nesta Casa, o Sr. Gilberto Miranda Batista, irmão de Egberto Miranda Batista, aquele mesmo que protagonizou, na campanha do Presidente Fernando Collor contra o atual Presidente Lula da Silva, o escabroso Caso Lurian. Alguém que se diz marqueteiro político e não sabe fazer campanha positiva, só sabe fazer campanha da difamação. E aqui revelo aos senhores que o primeiro choque que tive com a candidatura Sarney foi quando...

O Senador Gim Argello me disse que ia ficar. Se pudesse voltar, eu agradeceria.

O primeiro choque que tive foi com a presença, a presença... Eu saía com o Senador Sérgio Guerra,...

Agradeço o retorno do Senador Gim Argello.

Nós saíamos, Sérgio Guerra e eu, da casa do Presidente Sarney, quando estávamos nas tratativas para apoiar José Sarney ou Tião Viana - eram as duas hipóteses que tínhamos -, e entrava, na casa de José Sarney, a dupla Egberto Batista e Gilberto Miranda Batista. Na saída, eu disse para o Sérgio: “Sérgio, esse é um ponto contra nós apoiarmos José Sarney”. Depois, a jornalista Mônica Bérgamo fala de um rega-bofe em São Paulo, vinhos de preços incalculáveis, enfim... E aquilo nos indispôs sim. Ainda que não decisivamente, outros pontos pesaram depois contra a candidatura José Sarney.

Mas o fato é que a revista IstoÉ, que vou descrever agora, brevemente, utilizando um dos seus repórteres - se a gente pode chamar assim -, o jornalista Mino Pedrosa, que é irmão, por coincidência, do Diretor da Gráfica desta Casa, Júlio Pedrosa - e as coisas vão se fechando -, a revista IstoÉ, na campanha de 1998, em matéria paga pela campanha do atual Prefeito de Manaus e, à época, Governador candidato à reeleição, Amazonino Mendes, publicou matéria que denegria a campanha e a figura pública do atual Governador do Estado, Eduardo Braga.

Eu mantinha, àquela época, por alguns dias da semana, durante a minha campanha, um apartamento no Hotel Tropical. Essa matéria foi redigida no Hotel Tropical de Manaus pela Comunicação Social de Amazonino Mendes e com a assinatura do jornalista Pedrosa. E saiu uma matéria muito dura sobre o atual Governador Eduardo Braga. A Editora Três, que controla várias revistas, entre as quais a IstoÉ, anos depois, deixa de considerar Eduardo Braga corrupto e passa a considera-lo o “Ecologista do Ano”. Novamente, matéria paga, porque se vê, fartamente, os anúncios de “Zona Franca Verde”, de “Bolsa Floresta”, ou seja, uma revista que vende opinião e que não teve alguém com coragem para assinar aquela matéria porque sabia que estava investindo contra alguém que não iria se calar.

Eu vou discutir todas essas hipóteses agora.

Aliás, ainda a respeito do próprio Governador do Amazonas, um jornalista muito estimado nesta Casa - e pelos seus colegas - me comunicou, certa vez, que estava entrando na IstoÉ. Eu lhe desejei felicidades. Depois, ele me comunica: “Sai da IstoÉ”. Aí, eu lhe dei parabéns. Ele me disse que fazia uma matéria sobre governadores jovens e que recebeu uma ordem expressa da IstoÉ  para incluir, entre os governadores jovens de êxito, o Governador do Amazonas, Eduardo Braga. Ele não sabe por quê. Ele não queria. Por ele, não colocaria na matéria uma figura que ele não via como merecedora de estar ali naquela elite. Ou seja, é só fazer uma comparação entre os anúncios pagos pelo Governo do Amazonas e as opiniões despendidas por essa revista, que é uma central de achaque, já denunciada pelo Senador Antonio Carlos Magalhães, já processada pelo Senador Antonio Carlos Magalhães, e que me dará uma enorme honra se resolver mesmo partir para uma ruptura comigo. Porque eu já vi muitos momentos de pessoas de convicção enfrentarem órgãos de imprensa verdadeiros, e não seria eu que iria me amedrontar diante de um órgão que é fictício, que é montado para fazer dinheiro fácil e que hoje pertence, na sua opinião, a um dos representantes mais legítimos do capitalismo selvagem brasileiro, que se chama Gilberto Miranda Batista, irmão do chantagista macabro Egberto Miranda Batista, ele próprio um escroque que só fez mal ao bom nome do Pólo Industrial de Manaus.

Muito bem. Essa matéria, Senador Gim Argello, informações que chegam a mim, e V. Exª foi por mim interpelado, quando V. Exª entrava... Daquela tribuna, exigi que V. Exª se pronunciasse e V. Exª não se pronunciou. Depois, mandou o que seria o seu dossiê de defesa, se é que posso chamar, falar de dossiê de maneira positiva, mas teria sido fruto de uma conversa sua, do Líder do PMDB, Senador Renan Calheiros,...

Eu concederei o aparte ao final da minha fala.

Do Senador Renan Calheiros e do Presidente Sarney, com uma tática que visaria a calar não um dos que estavam falando, mas o primeiro que falou - o primeiro que falou, especificamente -, o primeiro que não silenciou, e, para azar de quem quer que tenha participado dessa trama, aquele que não silenciará até que esta Mesa substitua o Presidente Sarney, que não tem mais a mínima condição moral de permanecer à frente da direção desta Casa. É bom que delimitem esse campo, V. Exª, Senador Renan, Senador Sarney, sem nenhum desdouro a V. Exªs. Não é o meu campo. Eu consegui me aliar a um arqui-inimigo do meu Partido, que é o PT, e a um adversário meu, que é o Senador Tião Viana, na busca de uma solução.

Se V. Exª... Eu vou conceder a V. Exª.

O Sr. Gim Argello (PTB - DF) - Não, é que... Caro líder, eu tenho muito respeito por V. Exª, mas não é fato, não posso deixar o senhor prosseguir porque o senhor faz um discurso...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não. Pode deixar. Se eu quiser, eu prossigo.

O Sr. Gim Argello (PTB - DF) - Fique à vontade, mas eu só queria dizer que não aconteceu, nunca participei de uma reunião dessas, nunca combinamos absolutamente nada disso. Quer dizer... Então, quem lhe passou isso, não é verdade. É só isso o que tenho a dizer, Líder Arthur Virgílio, porque eu lhe devo isso e vou falar agora, porque senão parece que eu concordei com um negócio que não é verdade. O senhor é o melhor orador do nosso Senado. Eu, puxa vida, perto da sua verve, sou pequenininho, mas a verdade, desta vez,.. Isso que o senhor falou agora, tenho consciência de que não é verdade, porque não participei de absolutamente nada disso, Senador, Líder Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado a V. Exª. V. Exª me presta explicação, vou processá-la - é um direito meu acreditar nisso ou não -, mas, por outro lado, não tenho a menor pretensão de ser melhor orador de coisa alguma, nem de cemitério, nem de aniversário de 15 anos, nem de nada. Eu tenho pretensão de ser um homem sério, como sou sério numa Casa que, a meu ver, deveria estar não só repleta de homens sérios, acredito que são sérios, na maioria, os Senadores, mas de homens que não calam.

Eu falava, no último discurso, aquele em que aqui disse ao Presidente Sarney o que tinha de dizer, o que vinha ao meu cérebro e ao meu coração, eu disse ao Senador Sarney que havia gente chantageada, sim. O Senador Cristovam admitiu que estava sendo chantageado. Eu me referi ao Senador Pedro Simon, dizendo a ele que estava na hora de nós rompermos com essa ética genérica, porque a ética genérica está superada, é hipócrita. Dizer que não gosta da corrupção fazia de alguém um ético admirado pela imprensa, porque não estava na hora de rompermos com essa coisa incompleta que é a ética genérica. A ética verdadeira é a ética específica, não é aquela que diz “não gosto da corrupção”; é aquela que diz que “fulano é ladrão, roubou tanto reais no dia tal, à hora tal, e estou denunciando”.

Esse ético arranja inimigos; colocam-no em uma revista de chantagens, que ele não tem medo de enfrentar, até porque tem confiança no que fez e não tem nenhum medo até de assumir as suas pequeniníssimas culpas em relação ao rosário de corrupção e de desmandos que têm acontecido nesta Casa.

Mas prossigo, Sr. Presidente. Estão falando com um Senador - e nunca fiz estardalhaço disto - que, diante dos fatos todos que aí estão, resolveu tomar providências ele próprio. Há tempos havia aberto mão da tal verba indenizatória por achá-la obscura. Respeito os demais companheiros, não os questiono, nem os critico. Digo apenas que eu, pessoalmente, por achar a verba indenizatória obscura, deixei de usá-la.

Não sei se existe outro, mas eu sou um Senador que me livrei daquele aquário que considero grotesco, aquele aquário que se chama “carro oficial”, aquela velharia com aquela placa de bronze. Eu não uso carro oficial. Dos celulares a que tinha direito, eu tive dois - não sei se tem alguém com seis ou com oito - e hoje eu tenho um apenas. Eu o uso como celular de serviço para valer. Estão falando com alguém que preza muito sua biografia, 30 anos de vida pública, e que, se tivesse a cabeça dos que desmandaram nesta Casa, estaria rico. E, ao contrário, estou muito rico de energia cívica, para enfrentar quem quer que se meta na minha frente, imaginando que vai poder manchar, tisnar o que recebi de meus pais e que vou passar para os meus filhos.

Eu me pus a imaginar o que poderiam estar querendo com essa matéria. Já que falo contra ser genérico e falo a favor de ser específico, vou esmiuçar a matéria da revista em atenção, sobretudo, aos jornais, aos blogs, às televisões que vão repercuti-la ou que vão repercutir a minha fala, repercutir, claro, o nascido dessa matéria e que até já repercutiram, e todos com muita decência, seja a Folha de S.Paulo hoje, seja O Globo ontem, seja quem mais se tenha pronunciado. A atenção, portanto, é à imprensa verdadeira do País.

Eu fiquei pensando: intimidar a mim? Não é possível que pessoas que são capazes de roubar tanto dinheiro sejam tolas a ponto de pensar que alguém me intimida. Não é possível pensar isso. Então, vou riscar: intimidar, não. Punir-me? Então, minha carreira pública de 30 anos depende de três ou quatro sacripantas resolverem com ela acabar ou acabar com o conceito dela, porque, se não houvesse conceito, eu não ficaria na vida pública, não permaneceria na vida pública por mais nem um segundo? Punir, não me puniriam. Esse “punir” coloquei entre aspas aqui nos meus lembretes.

Aí sim: usar o meu exemplo, para intimidar terceiros, para dizer a terceiros que fiquem quietos, que fiquem calados ou, pelo menos, que sejam genéricos, porque se forem específicos como esse tal de Arthur Virgílio, vão passar por percalços, e, quem sabe, o inventário de tudo que é gabinete aí... E eu gostaria muito de ver inventário de tudo que é gabinete, para ver o que tem de funcionário em posição equivocada. Gostaria de ver muito tudo que se fez aqui, se é que a gente tem respeito à vida pública de cada um de nós, de todos nós, abrindo, de uma vez, tudo que tem sido a nossa vida aqui neste Senado. Esta Casa merece esse respeito, essa satisfação à opinião pública. Intimidar terceiros, uma possibilidade real; aí não risco, faço aqui um círculo.

Uma outra possibilidade: vulgarizar. “Puxa, mas esse rapaz está denunciando tanto! Esse rapaz precisa levar uma lição, precisa ser vulgarizado. Vamos passar para a opinião pública que, se ela acha que nós não prestamos, então, ele também não presta. Ele também não presta. Ninguém presta.” Se ninguém presta, no final fica bom para quem não presta, porque não pensava mesmo em ter votos na eleição de opinião, não preza conceitos. Se prezasse conceitos, não faria o que vez. Vulgarizar, sim; outro círculo.

Ainda passou pela minha cabeça que, como a revista fala em fontes e não fala diretamente nessa figura esquisita, estranha, corrupta, que tinha um bunker, uma espécie de Hitler da corrupção neomoderna deste País, o Sr. Agaciel Maia... De repente, o Sr. Agaciel Maia - e outros et caterva, melhor dizendo, para usar a expressão latina que se aplica a essa camarilha - diz assim: “Muito bem, não estou declarando eu, quem sabe o Senador, apavorado (e, aqui, há sete anos, fora os anos que passei - mais 12 - na Câmara, as pessoas já me viram muitas vezes apavorado. É uma coisa muito minha ficar apavorado) não manda um emissário, dizendo: se você não confirma, a gente aqui arrefece”. O Senador vira ético genérico e pronto. Daqui a pouco, está de volta aí.

Enfim, quero desiludir. Quero a demissão do Sr. Agaciel Maia, quero a demissão do Sr. Zoghbi. Não quero ser injusto, mas esse fantoche que colocaram aqui, chamado Gazineo, não sei se merece permanecer nos quadros do Senado Federal. Tenho minhas dúvidas. Quero uma investigação dura sobre todos os Primeiros Secretários que passaram por essas gestões junto com Agaciel Maia. Quero investigação dura sobre todos os atos e as correlações possíveis de todos os Presidentes da Casa que passaram pela gestão do Sr. Agaciel Maia, de 14 anos. Quero a saída da Presidência da Casa do Presidente José Sarney. E quero mais: vou dizer, no final, o que quero, o que espero. Funciona muito ao contrário comigo esse tipo de coisa.

Agora, vamos à matéria. Os senhores e as senhoras vão se surpreender com algumas singelezas que tenho a lhes mostrar. Antes de mais nada, as matérias, os amigos sumiram. Esse Sr. Agaciel é amigo de um querido amigo meu, lotado no meu Gabinete da Liderança, que é o funcionário da Casa Carlos Alberto Vieira Nina. E Carlos Romero - Carlos Homero, perdão - é testemunha de que nós somos amigos de infância e temos alguns amigos de adolescência, em Brasília. Eu sempre disse a ele que isso aqui não era peça em que se devesse confiar. Sempre disse a ele. Não, mas o “H” é boa pessoa. Eu digo: esse “H” não vale nada. A cara dele diz isso para mim. Deus é muito justo. Deus coloca o mau-caráter da alma para a cara, para o facies. E Deus mexeu com a alma desse moço e levou para o facies esse aspecto lombrosiano que aqui está.

Vamos à matéria. Eu selecionei toda. Começo pelo que julgo que é a única coisa grave mesmo, a única coisa que me deixou de cabeça pesada, que me deixou contristado, que mostrou que eu estava sendo vítima de uma certa vaidade que me fazia achar a mim próprio um homem público sem jaça. Eu compreendi que continuo com muitos defeitos. E continuo compreendendo e comecei a compreender que a própria Casa jogou em mim certos vícios: essa coisa do compadrio, enfim, de dar-se um jeito para as coisas. Enquanto nós, Senadores honrados, dávamos um jeito para todos... E os Senadores honrados não têm que ter medo de que amanhã façam isso com eles.

Este é o apelo que eu faço, em tom absolutamente candente, para os Senadores. Senador que ainda tem medo de que divulguem uma besteirada dessa a respeito dele é Senador que não merece ser chamado de ético; é Senador que tem medo, é Senador que tem medo de ver seu passado exposto. Mas aqui ele chama de servidor fantasma o filho do Carlos Homero Nina, que é o Carlos Alberto Nina Neto. Vou dar as datas. Ele diz que está no exterior até hoje. Não é verdade. Ele me pediu licença para fazer uma pós-graduação no exterior, no período de maio a julho de 2005. Retornou e voltou para lá, autorizado por mim e só por mim, responsabilidade minha e apenas minha, para um mestrado que durou de outubro de 2005 a novembro de 2006.

À época, seu pai, experimentado funcionário do Senado Federal, disse que, se eu fizesse, Senador Heráclito, um pedido à Mesa, a Mesa faria o que fez às dúzias: a Mesa daria autorização e ainda pagaria diárias para esse moço estudar o que ele quisesse lá na Espanha, sob o pretexto de que voltaria para servir ao Senado.

Como eu sabia que sua intenção não era voltar para servir ao Senado, sua intenção era seguir uma outra carreira liberal, eu resolvi autorizar, sem a noção clara do pecado, porque nós estávamos aqui sem a noção clara do pecado. Resolvi autorizar, e contra o aconselhamento de seu pai, que me disse: “Faça um requerimento à Mesa, que a Mesa vai autorizar e ainda vai dar diárias para ele”.

Achei que diária era demais e resolvi bancar. Esse é o equívoco do qual me penitencio, porque esse equívoco não é pouco. Se queriam vulgarizar: “Ah, o Arthur também fez” ou então “Puxa vida, já que ele fez e tem um neto do Presidente Sarney, não sei que, vamos trocar tudo em miúdos”... Não tem nada em miúdos. Esse é um erro que cometi e é um erro pelo qual mereço ser, sim, criticado, registrando-se que tinha tudo para ter contornado a face legal disso, bastava ter solicitado às sempre pródigas Mesas do Senado - elas sempre foram pródigas, mães verdadeiras. Por isso, Darcy Ribeiro, com sua ironia, dizia que isso aqui era o céu, porque seria melhor vir para cá do que chegar ao céu, porque se tem que morrer para ir até lá. E pessoas que pecam como nós... O próprio Darcy era, do ponto de vista de sua vida, homem correto publicamente, mas se olharmos a vida mais mundana do Darcy, dificilmente chegaria ao céu. Figura adorável, amada, ele fez essa ironia com o Senado.

A Mesa não negaria nunca o pedido do influente Senador Líder do PSDB para deslocar um funcionário para onde quer que fosse, porque dezenas de outros foram. E cada vez mais um pedido desse enroscava você no rol dos devedores de favores.

Há tolices aqui.

Então, primeiro, não mora no exterior, mas eu já disse o período em que ficou no exterior e assumo completamente a responsabilidade por esse gesto. Eu que tinha uma alternativa que me foi proposta e que eu não quis aceitar, que era a proposta de ainda dar mais despesa para o Senado; e, pronto, estaria resolvida a questão legal.

Agora tem uma questão que é... Há tolices aqui, verdadeiras tolices, do tipo: “A fúria contra Agaciel estaria relacionada a outro fato”, que ele preferiu não contar; fúria de Virgílio contra Agaciel. Eu teria ficado zangado com a exoneração da esposa de Homero do Instituto Legislativo Brasileiro. Primeiro, essa moça foi nomeada para o Unilegis, essa senhora de quem sou amigo, e ela não compunha muito com essa administração. Recusou carro oficial, recusava celular de serviço. Ela foi nomeada a pedido do Senador Antero de Barros, e com o meu reforço. Reforcei, sim, por entender que era bom para o Senado, ainda na gestão do Senador Renan Calheiros. Muito bem. Houve-se tão bem no cargo que o Presidente Garibaldi resolveu nomeá-la - correto como ele é - para acumular com a direção do Instituto Legislativo Brasileiro. Eu não sei onde fica o ILB, nunca pisei lá e no outro fui uma vez, acho que no gabinete dela. Sabe por que a Srª Vânia Maione Nina se demitiu? Eles não a demitiram, ela pediu demissão do ILB. Porque lá, sem o conhecimento dela, apesar da amizade que seu marido insistia em dizer que tinha com esse bandido chamado Agaciel Maia, ela viu que estava lotado no ILB, contra a vontade dela, o Sr. Agaciel Maia. Ela disse: “Eu não posso ficar mais nem um minuto com uma figura dessas escondida no órgão que eu quero transparente e aberto”. Ela pressentiu, com seu instinto feminino, que aquilo não ia dar certo.

Têm tolices, mas eu vou ficar em dois pontos principais aqui.

Bom, outros filhos do Carlos Homero trabalharam comigo. Um trabalhou, foi meu secretário particular. Resolveu melhor a vida dele como advogado. Lamentei sua saída. Saiu. Guarani - filho dele - é meu secretário particular hoje. Eu não tenho carro, é quem me pega no aeroporto e me leva a tudo quanto é lugar. O salário dele é um pouco superior a R$3 mil. Acabou de investir, por conta própria, R$1.500,00 em um curso para orçamento. Quero que ele seja o homem de ligação entre os Municípios do Amazonas e essa coisa de orçamento, liberação de recursos, enfim.

Vou agora a algo que me toca, mas que é um absurdo completo e que extrapolou os limites da própria adversidade. Eu já ouvi falar coisas absurdas do senhor fulano de tal, filho do Presidente Lula. Já vi colegas meus, liderados meus fazerem acusações e ilações. Já vi gente amiga minha da imprensa me criticar por isso. Diziam-me: “Não é o filho dele que está em jogo”. Eu nunca critiquei. Morro de medo dessa coisa de filho, de mãe. Uma vez me perguntaram: “E se a Dona Marisa fizesse uma coisa errada?” Eu disse: eu não criticaria. “Mas aí ela faria mais coisa errada?” Eu disse: eu não criticaria, arranja outro para criticar. Tem 81, por que tem que ser eu? Arranja oitenta, dos outros. Eu não criticaria. Muito bem.

Minha mãe, paciente de Alzheimer, nunca foi minha dependente, sempre foi dependente do Senador Arthur Virgílio Filho e, portanto, pensionista, em razão das regras do jogo, do Senador Arthur Virgílio Filho. Jamais foi minha dependente. Eu fui dependente dela. Ela jamais foi minha dependente.

Ele alega - essa fonte que passou para esse pasquim - que o tratamento de minha mãe custou R$780 mil e que ela teria direito a R$30 mil. Hoje, meu irmão Ricardo e minha irmã Ana Luísa me ligaram lembrando que minha mãe começou a manifestar os sintomas da doença em 1985, se não me engano, e que aquilo que parecia aquela manifestação que se chamava, na linguagem antiga, de caduquice, não era arteriosclerose sequer, era Alzheimer se manifestando. Minha irmã me disse que minha mãe, durante muitos anos - ela vai me dar amanhã todos os dados -, nem sabia que podia recorrer ao Senado. E não recorreu ao Senado durante anos a fio.

Aí um amigo da família, Procurador aposentado da Fazenda Nacional, Dr. Armando Marques da Silva, disse: “Ana, sua mãe tem direito a receber ressarcimento pelo tratamento dela por ser viúva do Senador Arthur Virgílio Filho”. Aí ficou acertado que o Senado pagaria os médicos da minha mãe, que não eram baratos, e o Seguro Bradesco pagaria o hospital da minha mãe. Nos últimos cinco anos, Senador Mesquita, ela passou a morar mais na UTI do Hospital Samaritano do que propriamente em casa. Mas, muito bem, estou com um requerimento que apresento à Mesa, pedindo informações - é minha mãe, e, por acaso, é um Senador, mas poderia ser um filho o cidadão requerente pedindo informações -, pedindo um depoimento da Mesa, do Primeiro-Secretário, o Senador Heráclito Fortes, sobre a legalidade ou não legalidade das despesas feitas pelo Senado em relação ao tratamento da minha mãe. Se é verdade que alguém praticou a ilegalidade que não solicitamos, em serviços que não pedíamos - só pedíamos quando alertados -, é verdade que, até quando me acusa, esse homem é corrupto, assim como deve ser corrupto todo mundo que o ajudou a fazer essa matéria, assim como não presta todo o mundo que está ao lado dele, a aconselhá-lo, assim como não presta todo o mundo que se envolveu com ele. Não acredito que ele tenha roubado sozinho. Ele roubou com gente de mandato. Ele roubou com gente influente da República. Esse homem, até quando me acusa, não consegue fugir de dizer que praticou uma ilegalidade, porque, se liberou tratamento que não deveria ter liberado, ressarcimento que não deveria ter liberado da minha mãe, ele praticou uma ilegalidade, ou seja, ele quer me transformar em seu cúmplice ou transformar meu pai, falecido, em seu cúmplice. Ele é cúmplice do Zoghbi. Ele é cúmplice de um bando de Senadores covardes, que não estão tendo coragem de apresentar a sua face. Nós temos o dever de saber quais são esses Senadores covardes, corruptos, que protegeram esse desmando o tempo inteiro, porque ele não ficou aí sozinho. Jabuti não sobe em árvore. Jabuti, quando está em árvore, ou é enchente, ou é mão de gente. Então, há Senador, sim, que apadrinhou esse corrupto, para fazer um roubo que não foi de usufruto apenas dele; ele deve ter dividido com muita gente com assento e com mandato nesta Casa!

E, finalmente, tenho aqui a tal viagem a Paris, uma coisa prosaica. Às vezes, chego a me aborrecer com minha esposa, porque ela é extremamente detalhista, e digo: “Puxa vida, às vezes, quebra até o clima, não é?”. Mas como foi bom ela ser detalhista! Documentos que vou passar à imprensa são documentos que bem revelam o que é minha vida.

Aqui, por exemplo, está o cartão da Drª Vera Lúcia Brochada, responsável pela clientela do Banco do Brasil em Paris, e de Sandro Marcondes, diretor-geral do Banco do Brasil em Paris à época, em 2005 - a revista fala em 2003. E, aqui, está o que passamos quando chegamos lá. Meus cartões não funcionavam. Fomos a Paris, porque, no aniversário em que minha mulher faria 40 anos, no ano anterior, 2004, não pudemos fazer nada por razões políticas, enfim. Então, fomos para lá com meus filhos todos, com os quatro filhos, inclusive com os dois enteados dela. Fomos para Paris. Meus filhos chegaram com ela antes, hospedaram-se num pequeno hotel, o Mercure, e, depois, fomos para um hotel bom. Era uma data muito especial.

E, aqui, estão os manuscritos em que minha mulher coloca... Isto aqui vai estar à disposição, nos originais, para fazerem quaisquer testes, para verem se escrevemos ontem isso. Eu não teria escrito ontem o cartão do diretor-geral. As contas eram assim: ela imaginava que o disponível no cartão GG - Gorete Garcia - era de mil e quinhentos e não sei o quê; a despesa era de trezentos e não sei quantos reais; tudo era em real. Para quem ela ligou? Ligou para todo o mundo para quem ela podia ligar. Ficou famosa em nossa vida uma Srª Carla Gobetti, da Visa, que tentou nos ajudar bastante. E nós, em uma sexta à noite, em um sábado de manhã, estávamos naquele desespero, e expliquei ao diretor do hotel quem eu era: “Sou um Senador brasileiro que, na segunda-feira, terá o socorro, no mínimo, do embaixador brasileiro aqui. Mas estou em situação difícil, e o hotel recusou os nossos cartões”. E o diretor disse: “Fique à vontade. Vá curtir Paris. Nós confiamos no senhor. Na semana que vem, o senhor resolve isso”.

Não consegui ficar à vontade. Liguei. Se eu quisesse ligar em busca de dinheiro, eu teria ligado para algum amigo rico meu. O Senador Tasso Jereissati é rico e é meu amigo. Eu teria ligado para algum amigo rico meu. Eu não ligaria para um amigo pobre meu. Eu liguei para o Sr. Carlos Homero Nina por uma razão bem simples: o Sr. Carlos Homero Nina é esposo de uma ex-funcionária, aposentada à época, de alto escalão do Banco do Brasil, e eu queria intervenção no Banco do Brasil para saber o que havia com meus cartões. Carlos Homero, depois de ver que havia qualquer conta pendente que impedia a liberação dos cartões, dirigiu-se a alguém que ele considerava amigo, apesar de eu dizer “quem tem uma cara dessa não pode prestar”. Isso não serve para mocinho, só serve para bandido de filme. Não serve para nada, isso não presta! Olha-se para essa cara, e se vê que o retrato é a alma. Isso tem cara de quem não presta, e quem anda com ele não presta também. Quem gosta dele não presta também. Quem se mete com um homem como esse não presta também. Carlos Homero foi procurá-lo, e ele estava jogando lá o futebolzinho dele naquela casa que ele julga que explicou. Com um salário de funcionário público, construir uma casa daquele porte?! Disse Carlos Homero, inclusive a título de curiosidade, porque ninguém era obrigado a saber quem era Agaciel àquela altura, que estava jogando futebol também lá o digno hoje Ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa - foi um detalhe que Carlos Homero notou. E disse a ele: “Agaciel, estou precisando tirar o Senador Arthur Virgílio de um vexame”. E, então, ele disse: “Vamos ligar para o banco”.

Carlos Homero é meu amigo, e vou dar o nome de outros amigos meus, tão amigos quanto ele. Um deles, eu poderia ter recorrido a ele para resolver a questão do dinheiro de maneira bem simples, entre amigos. Não sem alguma relutância, Carlos Homero me disse que havia resolvido isso após, via Agaciel. E perguntei: “Mas, escute, não quero ficar com dívida nas mãos desse sujeito. Como faço?”. “Não, nós já pagamos a ele.” E eu disse: “Quem pagou a ele?”. “Eu, Tom Rebelo, um arquiteto - é o Antônio Augusto Rebelo -, e o ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral e advogado eleitoralista Fernando Neves da Silva.” Os três se cotizaram e pagaram. E Carlos Homero levou a Agaciel o que era devido. Ele falou em US$10 mil. Não sei qual era a relação entre o dólar e o real àquela altura, mas não era mais a época da paridade. Novamente, funcionou nele o espírito do bandido, o espírito do cabra ruim, porque alguém que fica dando US$10 mil a R$3,00 o dólar acha que pode dar R$30 mil e nem cobrar. Segundo ele, não cobrou. Ele recebeu, mas diz que não recebeu. E, se não tivesse recebido, seria uma prova de que era mais bandido ainda, porque está roubando tanto que não precisa nem receber um dinheiro dessa monta, que é dinheiro para qualquer um de nós. É dinheiro para qualquer um de nós! É dinheiro para qualquer jornalista, é dinheiro para qualquer funcionário público, é dinheiro para qualquer empresário que leve a sério o suor do seu rosto! Não se arrancam R$30 mil nem do Antônio Ermírio de Moraes! Arranca-se isso de um ladrão, de um gatuno! Não se arranca isso do Antônio Ermírio de Moraes, pois ele não dá dinheiro por que ele sabe o quanto lhe custa ganhar esse dinheiro!

Então, aqui, há autorização do Banco do Brasil para o hotel em Paris, em nome do Sr. Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto, com o pagamento da minha fatura. Depois que se resolveu esse imbróglio, paguei antecipadamente as diárias. Éramos eu, minha mulher, meu filho Arthur, minha filha Nicole, meu filho Juliano e minha filha Carol, e vou já dizer como eles viajaram. Então, isso custou 3,3 mil euros, o que podia equivaler a pouco menos que R$10 mil, não US$10 mil, que, talvez, fossem R$30 mil.

Aqui, há mais anotações que, meticulosamente, minha esposa fez. E há mais: com exceção de meu filho Arthur, que já era Parlamentar àquela altura e dono de seu nariz e de seu bolso e que viajou por sua própria conta, todos os demais membros de minha família, à exceção de mim, todos viajaram com milhagem, como qualquer pessoa de classe média faz. Todos viajaram com milhagem, à custa de milhagem, enfim. E aqui está a prova disso. Aqui, tenho os cartões, os boarding pass. Acho que é isso, não é?

Aqui, está a conta do primeiro hotel, que foi o hotel onde eles ficaram me esperando, para passarmos para outro, porque, em nossa conta familiar, não dava para ficarmos todos os dias no bom hotel que escolhemos para comemorar o aniversário de minha mulher. E, depois de resolvida essa confusão, nós comemoramos do modo que ela merecia. Isso tudo vai para os Anais da Casa, exatamente com a letra de minha esposa e com tudo o que é número que aqui tem.

Mas, muito bem, recebo uma carta do Senador José Sarney, explicando a questão de seu neto. E falei, agora, da dificuldade que tenho de falar em parentes, mas não posso deixar de abrir esta exceção. Trocando em miúdos, S. Exª diz que a empresa foi constituída enquanto ele não era Presidente, que começou a funcionar quando ele já não era mais Presidente. Ora, como tenho uma filha jornalista que está desempregada, penso que minha filha poderia, perfeitamente, ter sido sócia do neto do Senador José Sarney, porque ele não precisava de expertise nenhuma, porque de nenhuma expertise precisou a babá do Sr. Zoghbi para ganhar muito dinheiro dentro do Senado Federal. E, se é tão preparado assim, que fosse trabalhar no Banco Pactual; que fosse trabalhar no Gávea Investimentos, com o Sr. Armínio Fraga; que fosse trabalhar no Banco Itaú; que fosse disputar o mercado em condições de igualdade!

Se acham que me vou conformar em deixar que me misturem com essa gente como se eu fosse eles, como se eu fosse mais um protagonista - e os jornais começam a fazer o cronograma da crise, e, no cronograma da crise, lá vem “dia tal, escândalo tal”, como se isto aqui fosse um escândalo meu -, estão completamente enganados, porque essa gente não vai conseguir nunca me misturar com ela!

Primeiro, se eu tivesse optado pela omissão, pelo silêncio, eu, simplesmente, estaria sem que me molestassem, no mínimo. E, se eu tivesse optado, Senador influente que sou, por me irmanar a essa máfia e ganhar dinheiro escuso junto com ela, eu estaria ganhando rios de dinheiro, eu estaria milionário mais uma vez. E não quis ficar milionário nem rico. Quando fui Prefeito de Manaus, saí do jeito que entrei. Não uso meu mandato para ficar colocando nenhum penduricalho em medida provisória nenhuma. Sentimos o cheiro de latrina quando vemos certas medidas provisórias que circulam por aqui com tanta imoralidade, com tanta coisa, que, na verdade, só faz enfear a vida pública brasileira.

Entrei na Liderança do Governo no Congresso, no Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, e tive uma atuação muito marcante, modéstia à parte, enfrentando um debate mais duro. Entrei ali sem questionamento e saí sob o respeito dos meus colegas. Obtive mais de cem apartes num discurso, e a maioria era de pessoas opositoras do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que diziam que se sentiam representadas por mim no cargo para o qual eu me dirigia, que era o de Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. Entrei lá sem receber nenhum questionamento e saí de lá sem receber nenhum questionamento. Volto a ser Líder, dessa vez de oposição, sem receber nenhum questionamento! Se essa gente acha que é uma tarefa fácil me misturar com ela, essa gente está muito enganada comigo, mas está muito enganada comigo mesmo! Portanto, eu gostaria de dizer que não vejo mais condições de isso permanecer. Saiu pela culatra, literalmente.

Estou à disposição de quem queira me investigar. Entendo que os Senadores todos passariam por um constrangimento se alguém me dissesse que tem o que temer em seu gabinete ou ainda tendo de explicar uma coisa como essa do Carlos Lina Neto. Por isso, não falou; por isso, calou; por isso, silenciou, com medo de ser o próximo a ser denunciado. Tenho falado nisso há semanas. E não pensem que sou ingênuo, não pensem que eu não supunha que este momento chegaria, não pensem que não foi uma opção fria, clara, concreta minha, não pensem que não foi uma decisão medida, pesada! Não pensem que não fui avisado disso por pessoas de boa-fé, como o Senador Eduardo Azeredo, que disse: “Arthur, eles estão para publicar os gastos da sua mãe com tratamento”. E eu disse: “Eduardo, eles podem publicar. Eles vão ver o que é bom para a tosse, literalmente”. Recebi avisos de pessoas que, eu sentia, davam recado de Agaciel lá do seu bunker, aquela mistura de garçonnière com bunker, aquela mistura de boate com caverna de um batman corrupto. Imaginei que vinham essas coisas mais hora menos hora.

Sugiro que todo Senador deve se colocar, expor sua vida. Nós tínhamos de expor tudo e dizer: “Olha, o meu gabinete é assim, estou com algumas propostas que vou fazer agora”. Mas não cabe mais imaginarmos que se salve este Senado, que se salve esta Legislatura ou o que resta dela se não enfrentarmos tudo isso com coragem.

A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Permita-me um aparte, Senador?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Aqui, diz-se que entrou um depósito no Banco do Brasil, na minha conta, no dia 30 do mês de maio, de R$10 mil. Pela urgência de hoje, não se pode ainda identificar a origem. Seria uma coisa tão boa se a gente fizesse... Está aí uma proposta que faço, de maneira calma, tranquila: poderíamos examinar, nesse período em que sou Senador, por exemplo, duas contas. Eu abriria mão de todos os meus sigilos bancários, e o Sr. Agaciel também, para confirmarmos se foi ele mesmo que fez esse depósito. Está aqui uma proposta, uma proposta tranquila. Abro mão do que é meu, ele abre mão do que é dele, e quem sabe aí, legitimamente, ele diz que pagou uma conta minha! Se eu soubesse que era ele, eu precisava ter ficado preso em Paris, até porque já fiquei preso no Brasil. Mas ele precisa ser preso no Brasil não por razão de hotel, mas porque é covarde e canalha, porque é uma pústula, porque faz mal ao povo brasileiro, porque transformou isto aqui numa baiúca dele.

Uma secretária dele - estou aqui com o nome dela, mas não quero dizer o nome da moça, como eu não disse o do jornalista da IstoÉ, que saiu de lá, graças a Deus para ele! - abriu um armário do DG, como era chamado esse sacripanta, e tomou um susto, porque começou a cair dinheiro em cima dela. Ela foi se meter onde não era chamada! Então, aqui, está anotada a sala-cofre do último andar do Senado, com retiradas de malas de dinheiro na operação da Polícia Federal, abafada na gestão do Presidente Renan Calheiros, ou seja, é algo que o Senador Renan Calheiros deveria explicar.

Outro dia, um colega meu me disse: “Faz bem em ser franco! Não está na hora de esconder nome de ninguém”. Estou virando aquele cara maçônico. Respeito a Maçonaria, mas aqui não há segredos. O Senador Dornelles disse assim: “Não é bom Polícia Federal aqui nem é bom Ministério Público”. O que não é bom é ladrão aqui! O que não é bom é gatuno aqui! O que não é bom é gente desonesta aqui! O que não é bom é gente safada aqui! O que não é bom é o motivo que faz com que eu exija a presença do Ministério Público e da Polícia Federal aqui!

Não diminui a Casa a Polícia Federal vir aqui investigar, porque ela é a polícia do Legislativo, ela é a polícia do Executivo, ela é a polícia do Judiciário. Não faz mal a Polícia Federal estar aqui, nem faz mal o Ministério Público estar aqui. O que faz mal é nós darmos motivos para que isso aconteça, porque é um constrangimento, sim, mas constrangimento que nasce... É um subconstrangimento, é um subproduto do constrangimento maior, que é o constrangimento de nós sabermos que tem uma quadrilha operando nesta Casa e que tem que ser desmontada agora.

Eu estou com muita fé, Senador Heráclito, que seja agora a hora de nós não só resolvermos a questão do roubo - não se rouba mais -, como nós punirmos quem roubou para trás, porque a impunidade não pode permitir, não vai permitir que o Senado recupere o seu respeito, a sua respeitabilidade perante a opinião pública.

Muito bem. Eu, aqui, gostaria de ver o retorno, Senador Heráclito Fortes, em duas semanas, de todos os servidores públicos cedidos a outros órgãos pelo Senado e a devolução de todos os servidores requisitados. Eu tenho um servidor público requisitado de outro órgão, que é extremamente útil para mim, que está às ordens. Eu vou colocá-lo à disposição, porque entendo que devemos zerar isso. Depois, veremos o que é e o que não é necessário para o funcionamento da Casa.

Recadastramento dos servidores efetivos com respectivas lotações; recadastramento dos cargos comissionados da estrutura administrativa dos gabinetes de Senadores, líderes e Mesa do Senado Federal para comprovar o número de servidores, a origem, quem indicou, lotação e que atividades desenvolve; recadastramento dos servidores terceirizados do Senado Federal para comprovar o número de servidores, a origem, quem indicou, lotação e que atividades desenvolve; toda nova licitação deverá contar com um membro do TCU; proibição de aditivo em relação aos atuais contratos do Senado; redução dos cargos comissionados que servem a todos nós.

E, finalmente, Sr. Presidente - e, em seguida, concederei o aparte à Senadora Marisa Serrano; ao Senador Wellington Salgado; ao Senador Alvaro Dias; ao Senador Mozarildo Cavalcanti, que foi o quarto a solicitar; ao Senador Mário Couto; ao Senador Eduardo Suplicy, que não pediu, mas eu sei que, em matéria de ética, não vai ficar fora do discurso -, eu aqui leio o requerimento que faço e peço aos membros do meu partido que ainda não enviaram os seus comprovantes de Imposto de Renda para o Conselho de Ética que, imediatamente, o façam, porque nós termos que fazer funcionar o Conselho de Ética o quanto antes. Esta Casa não pode chegar a este ponto de desagregação de não ter, em condições de pleno funcionamento, o Conselho de Ética. Mas aqui está o requerimento:

“Excelentíssimo Senhor Presidente do Conselho de Ética do Senado Federal

ARTHUR VIRGÍLIO NETO, brasileiro, casado, Senador da República, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 17, da Resolução nº 20, de 2003, alterada pelas Resoluções nºs 42, de 2006, 1, de 2008, e 25, de 2008, que dispõe sobre Código de Ética e Decoro Parlamentar, apresentar

DENÚNCIA”

         Eu espero - e sei que vai ser assim - que o PSOL não fique só nisso, espero que isso vire uma representação do PSDB. Cobrarei isso, amanhã, na reunião de líderes, na reunião com os meus liderados e cobrarei isso da Direção Nacional do meu partido.

“... apresentar [é o que eu posso fazer, individualmente, como parlamentar]

DENÚNCIA

contra o Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, JOSÉ SARNEY, em razão do descumprimento do inciso III, do art. 5º, da Resolução nº 20, de 2003.

I - DOS FATOS

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O Senado Federal vem sofrendo, nos últimos meses, inúmeras denúncias envolvendo a gestão administrativa do ex-Diretor-Geral, Sr. Agaciel Maia, e do ex-Diretor de Recursos Humanos, Sr. João Carlos Zoghbi. No caso do Sr. João Carlos Zoghbi, ficou demonstrada a sua participação na contratação ilegal de crédito consignado perante os servidores desta Casa. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal assumiram as diligências do caso e confirmaram as denúncias apresentadas.

Novas investigações demonstraram a participação do Sr. José Adriano Cardoso Cordeiro Sarney, neto do Presidente do Senado Federal, José Sarney, operando de maneira semelhante no tocante ao crédito consignado junto aos servidores, conforme denúncia veiculada pelo jornal O Estado de S. Paulo, no dia 25 de junho:

Neto de Sarney opera no Senado crédito consignado, que é alvo da PF

José Adriano diz que empresa, com aval de seis bancos para intermediar negócio, rende [segundo ele] menos de R$5 milhões. ”

         Sou Senador da República, Líder do PSDB, fui Ministro de Estado. Minha filha, Nicole, jornalista, está desempregada. Eu tenho um pé com a vida real. A minha vida é esta que vai ser colocada aqui, Senador Wellington.

O Sr. Wellington Salgado (PMDB - MG. Fora do microfone.) - Não foi isso...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ele está dizendo que é menos, Senador. V. Exª vai ter ocasião de falar. E fale no tom que quiser, fale como quiser. Estou aqui para isso. Fale no tom que quiser.

O Sr. Wellington Salgado (PMDB - MG. Fora do microfone.) - Eu respeito V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu sei. Aliás, V. Exª faz porque tem carinho por mim e faz porque não conheço quem não me respeite. Não conheço quem não me respeite. Talvez indo à China, onde tem mais de um bilhão de homens, possa encontrar alguém que me desrespeite. Aqui, no Brasil, é pouca a população.

Então, a matéria é de Rodrigo Rangel e Rosa Costa.

“Alvo de investigação da Polícia Federal, o esquema do crédito consignado no Senado inclui entre seus operadores José Adriano Cordeiro Sarney - neto do presidente da Casa, o senador José Sarney (PMDB-AP). De 2007 até hoje, a Sarcris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, empresa de José Adriano, recebeu autorização de seis bancos para intermediar a concessão de empréstimos aos servidores com desconto na folha de pagamento. Ao Estado, o neto de Sarney disse que seu "carro-chefe" no Senado é o banco HSBC. Indagado sobre o faturamento anual da empresa, ele resistiu a dar a informação, mas depois, lacônico, afirmou: "Menos de R$ 5 milhões." 

A intermediação de empréstimos consignados se transformou numa mina de dinheiro nos últimos anos. Trata-se de um nicho de negócio que, no Senado, virou propriedade de familiares dos donos do poder. A PF investiga suspeitas de corrupção e tráfico de influência envolvendo o negócio.

Filho mais velho do deputado Zequinha Sarney (PV-MA), José Adriano abriu a empresa quatro meses depois de o então diretor de Recursos Humanos da Casa, João Carlos Zoghbi, inaugurar a Contact Assessoria de Crédito, que ganhou pelo menos R$ 2,3 milhões intermediando empréstimos junto a grandes bancos (leia abaixo).

A Sarcris começou a funcionar em 26 de fevereiro de 2007. Na Receita Federal, foi registrada como "correspondente de instituição financeira", à semelhança da empresa montada por Zoghbi. Além do HSBC, a empresa do neto de Sarney foi autorizada a operar em nome dos bancos Fibra, Daycoval e CEF. Finasa e Paraná Banco também chegaram a credenciar a Sarcris, mas cancelaram depois o acordo.

O nome Sarcris é uma referência aos sócios - Sarney, o neto do presidente do Senado, e Christian Alexander Hrdina, seu colega dos tempos de Escola Americana em Brasília. Mais recentemente, a dupla admitiu na empresa um terceiro sócio, Rone Moraes Caldana. São todos jovens: José Adriano, economista, e Christian, administrador de empresas, têm 29 anos; Rone Caldana, estudante de engenharia, tem 27.

Nos últimos dias, o Estado mapeou a história da empresa. A localização da Sarcris é um mistério porque ela não existe nos endereços que declara nos documentos oficiais (veja quadro). Pouco depois de ser registrada, a Sarcris já estava autorizada a representar bancos de peso. A primeira autorização foi concedida pelo próprio HSBC, o banco que José Adriano diz ser seu principal parceiro nos negócios no Senado e também em outros órgãos públicos, como o Superior Tribunal Militar e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal. "Trabalhei no HSBC por um ano e meio, em São Paulo. Quando voltei para Brasília decidi abrir o negócio", disse Adriano.

Ele nega que o fato de ser neto de José Sarney tenha favorecido a empresa: "Não estou ganhando dinheiro porque sou neto de Sarney". Um dado, porém, chama a atenção: em pelo menos dois casos, os bancos credenciaram primeiro a empresa do neto, e só depois é que foram autorizados a operar crédito consignado no Senado. O HSBC credenciou a Sarcris em maio e em dezembro assinou o ato que o autorizou a entrar na Casa. Outro exemplo: o banco Daycoval credenciou a Sarcris no dia 1º de abril de 2008 e ganhou a autorização do Senado 27 dias depois.

Nesse sentido, torna-se imprescindível a investigação por este Conselho de Ética, pela prática de facilitação na operação dos empréstimos consignados junto aos servidores, por parte do Sr. José Sarney, tendo em vista a privilegiada situação de seu neto nas autorizações junto ao Senado Federal.

Além disso, não posso deixar de mencionar outros fatos que têm sido denunciados pela mídia e que devem igualmente ser analisados pelo Conselho de Ética:

1) Maria do Carmo Macieira, sobrinha de Sarney, foi nomeada por ato secreto no gabinete da Senadora Roseana Sarney;

2) Vera Portela Macieira Borges, sobrinha de Sarney, foi nomeada por ato secreto no gabinete do Senador Delcídio Amaral, em Campo Grande;

3) João Fernando Sarney, neto de Sarney, foi nomeado e exonerado por ato secreto do gabinete do Senador Epitácio Cafeteira;

4) Rosângela Terezinha Michels Gonçalves, mãe de João Fernando Sarney, neto de Sarney, foi nomeada logo após a exoneração do seu filho;

5) Nathalie Rondeau, filha do ex-ministro Silas Rondeau e afilhado político do Sarney, foi nomeada para trabalhar no Conselho Editorial do Senado; Sarney preside o Conselho;

6) Amaury de Jesus Machado ("secreta") [é conhecido como “secreta”], funcionário da Senadora Roseana Sarney na casa dela em Brasília, é lotado no gabinete da Senadora Roseana Sarney;

7) José Sarney emprestou seu imóvel funcional ao ex-Senador e seu aliado Bello Parga;

8) Elga Mara Teixeira Lopes, especialista em campanha eleitoral, foi nomeada e exonerada através de ato secreto entre o 1º e o 2º turno da campanha de Roseana Sarney para o governo do Maranhão, em 2006; Um ato secreto cancelou a exoneração para preservar o salário de Elga;

9) Valéria Freire dos Santos, viúva de um ex-motorista do Sarney, mora há quatro anos num imóvel localizado no térreo de um dos prédios exclusivos para os senadores. Ocupa cargo comissionado no Senado Federal;

10) Fausto Rabelo Cosendey, gerente administrativo da empresa do neto do Sarney (SARCRIS, no Maranhão) José Adriano Sarney, é lotado no gabinete do Deputado Sarney Filho;

11) Isabella Murad, sobrinha de Jorge Murad (marido de Roseana e genro de Sarney), foi nomeada por ato secreto para o gabinete de Epitácio Cafeteira. Ela mora na Espanha;

12) Virgínia Murad de Araújo, prima de Jorge Murad (marido de Roseana e genro de Sarney), foi nomeada no gabinete da Liderança do Governo no Congresso por Roseana Sarney;

13) Ivan Celso, irmão de Sarney, teve cargo de confiança no Senado;

14) Fernando Nelmásio Silva Belfort, diretor executivo do museu e também mausoléu de Sarney, foi lotado na Liderança do Congresso Nacional;

15) Shirley Duarte de Araújo, cunhada de Sarney, foi lotada durante seis anos no gabinete da Senadora Roseana Sarney;

16) José Sarney encabeça os atos que criaram pelo menos 70% dos cargos de direção da Casa;

17) José Sarney recebia auxílio moradia no valor de R$3.800 mesmo tendo casa em Brasília;

18) José Sarney ordenou que quatro servidores da área de segurança do Senado Federal fossem deslocados para reforçarem a segurança de sua residência no Maranhão.

II. DO DIREITO

Compete a qualquer parlamentar, cidadão ou pessoa jurídica, denúncias relativas ao descumprimento, por Senador, de preceitos contidos no Regimento Interno e no Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal, nos termos do art. 17, da Resolução nº 20, de 2003.

III. DOS PEDIDOS

Em face do exposto, o denunciante requer a Vossa Excelência que:

1) Seja a presente denúncia admitida e escolhido Relator para que se realize, sumariamente, a procedência das informações e seja ouvido o denunciado, no prazo de cinco dias úteis, contados de sua intimação.

2) Seja instaurado processo disciplinar perante o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, nos termos do §6º, do art. 17, da Resolução nº 20, de 1993.

3) Sejam aplicadas as [possíveis] penalidades cabíveis.

Concedo o aparte à Senadora Marisa Serrano, em primeiro lugar.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes. DEM - PI) - Senador Arthur Virgílio, antes de V. Exª conceder aparte à Senadora Marisa Serrano, eu quero esclarecer a V. Exª que, no elenco de providências solicitadas ou sugeridas para a administração da Casa, no que me compete como 1º Secretário, quase todas elas já estão em fase de providências. Acho que, em relação a apenas uma, nós não tomamos providências, mas a sugestão é bem-vinda, e essas providências serão tomadas.

Com relação a terceirizados, com relação aos demais itens, V. Exª fique absolutamente tranqüilo: a partir do momento em que eu lhe procurei e aos demais lideres, pedindo que me fosse dado um crédito de confiança, com a indicação de novos diretores, essas providências estão sendo tomadas, como também a substituição gradativa de diretores à medida que necessário.

         Queria comunicar também a V. Exª um fato inédito: após quinze anos de criado, o Conselho Administrativo, composto pelo Diretor-Geral da Casa e por um grupo de diretores, reuniu-se, pela primeira vez, na sexta-feira passada. Essa reunião é exatamente para marcar uma nova época e um novo período na administração desta Casa, em que temos, como objetivo, dar transparência e celeridade aos atos praticados pela gestão administrativa do Senado da República.

Eram os esclarecimentos que eu pediria permissão a V. Exª para prestar.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Parabenizo V. Exª, Senador Heráclito Fortes. V. Exª solicitou e obteve um crédito de confiança e promoveu as modificações que foram expostas ao País. Devo ressaltar que não fiquei, de forma alguma, mal impressionado com o atual Diretor-Geral, nem com a Srª Dóris, que me pareceu, no dia em que nos reuníamos, sob a Presidência de José Sarney, alguns líderes e toda a Mesa, muito assustada em relação ao que deve estar encontrando lá. Ela me pareceu uma senhora que não esperava tamanha responsabilidade e pareceu estar muito assustada com o que está vendo lá.

Por exemplo: algo me diz que esses atos secretos não são seiscentos, são mais de mil. Algo me diz isso. Também tenho direito a ter instinto, não é só minha esposa, que resolveu guardar coisas que eu não teria guardado nunca. Algo me diz que essa moça tem tudo para se desempenhar bem da função, até porque o exemplo está dado. O caminho dos seus antecessores foi o pior possível, deu na execração pública e deu nessa tentativa de se salvar pela chantagem. Não importa a um patife desses que ele diga que tem dez mil dólares para dar para não sei quem porque isso, para ele, não é nada. Perdeu a noção completa da referência, do dinheiro, do que é e do que não é. Não importa. Até ao acusar, tem que se enfiar, enfiar a ele próprio em mais um delito cada vez que acusa, porque não tem nada de bom para mostrar, não tem nada de limpo para provar, não tem nada de limpo, nada de correto, nada de escorreito, nada de justo para oferecer à opinião pública do País.

Agradeço a V. Exª, e conte comigo no sentido de nós limparmos o Senado. E a limpeza que pretendo é a mais radical possível, a mais dura, a mais completa, doa em quem doer, custe o que custar, dê no que der e haja o que houver.

Senadora Marisa Serrano.

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes. DEM - PI) - Olhe, sobre a questão dos atos secretos, concordo com V. Exª. Eu não tenho a menor noção de que sejam seiscentos, setecentos, oitocentos ou mil. O compromisso é de que, a partir do momento que se descubra ato secreto, nós iremos dar divulgação, doa em quem doer, até porque não há quem me garanta que exista ato secreto na gaveta de alguém mal-intencionado ou desinformado, com o objetivo de criar algumas dificuldades para a 1ª Secretaria da Casa.

Não vamos, Senador Arthur Virgílio, de maneira nenhuma, conviver com isso, fique V. Exª absolutamente tranquilo. Temos um perfil político parecido. Chegamos nesta Casa por vocação, por destino, mas também por vontade própria. Eu não jogarei minha biografia no lixo, fiquem V. Exª e os demais companheiros absolutamente tranquilos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, antes de conceder o aparte à Senadora Marisa Serrano, eu digo mais. Esses atos secretos, para mim, escondem algumas coisas. Ato secreto, para mim, é, primeiro, garantia de poder para a máfia que dirigia o Senado. Então, fica ali, fazendo favor a quem quer que seja. Segundo, misturar atos bons, Senador Mozarildo, bons e normais, com safadezas, como aquela que fizeram com o Senador Demóstenes Torres. De repente, acharam que podiam, à revelia do Senador, nomear no gabinete do Senador para um cargo vago no gabinete do Senador.

Então, se formos esmiuçar aquilo, talvez haja um normal, um normal, um normal, um normal, aí uma safadeza; outro normal, outro normal, outro normal, e outra safadeza.

Agora, o fato é que o quadro era esse. Era para o Senador ficar grato por alguma coisa que podia ser constrangedora não aparecer, não surgir no horizonte. Simplesmente, o papai Agaciel estava aí a proteger a todos os seus supostos súditos.

Eu, que não tenho nenhuma vocação monárquica e jamais quereria ser rei, não tenho nenhuma vocação para ser súdito, até porque eu, que sou católico, Senadora Marisa, não tenho nenhuma dificuldade de me ajoelhar - diante de Deus.

A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Obrigada, meu Líder. Quero fazer aqui algumas considerações pertinentes, principalmente sobre a fala de V. Exª. Primeiro, quando V. Exª diz e explica, na sua concepção, o que significaria ética genérica, quero dizer que, quando se espalha para todos, dilui-se, e ninguém é responsabilizado se todos são iguais. Já imaginaram levar 81 Senadores para o Conselho de Ética? Já imaginaram pedir a renúncia de 81 Senadores? Já imaginaram criar dossiês para 81 Senadores? Essa é a ideia de diluir para todos para que ninguém seja responsabilizado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - A culpa de alguns.

A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - A culpa de alguns. Alguns são culpados, mas é bom que todo mundo fique na berlinda, porque aí não pode ser feito para todos. Então, diluindo, ninguém é culpado, ninguém é responsabilizado, ninguém é acusado. Se ninguém presta - como disse V. Exª -, não há nada a fazer; é melhor jogar a sujeira para debaixo do tapete. É por isso que quero respostas. É por isso que tenho, sistematicamente, pedido isso, pedido atitudes, pedido garantia. Precisamos de transparência, de regras, de organização, de seriedade. E, quando o Senador Heráclito Fortes fala dessa reunião na sexta-feira e diz que atitudes vão ser tomadas, eu gostaria que o meu Presidente, o Presidente desta Casa, falasse isso. Acho ótimo o Senador Heráclito aqui nos estar dando essa tranqüilidade. Acho ótimo, Senador Heráclito! Mas eu queria que o Presidente viesse a esta tribuna e ele dissesse as providências que estão sendo tomadas. Ele é o Presidente desta Casa. Ele foi eleito para isso, embora ele diga que não vai cuidar dessa parte, que isso é sujeira e que, com isso, ele não se mete. Agora, neste momento, esta Casa está suja, e nós estamos precisando de alguém que faça essa faxina, como disse o Senador Arthur Virgílio, que precisa ser feita por quem tiver a coragem de fazê-lo. Mas, aí, eu fiquei mais preocupada, Senador Arthur, quando li hoje no jornal que o ex-diretor tem enviado recados por interlocutores de que poderá começar a revelar outros casos parecidos com o de V. Exª. Isso é chantagem barata que estamos vendo o Sr. Agaciel fazer. Ele está dizendo isso para intimidar quem? Ele não vai intimidar, com isso, aqueles que estão do lado dele, aqueles que o estão acobertando. Ele quer intimidar gente como nós, que somos da oposição, que estamos aqui pedindo esclarecimentos, que queremos...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E pessoas sérias do Governo, que aqui não faltam também...

A Srª Marisa Serrano (PSDB - MS) - Sim, sejam da oposição, sejam da situação, mas de pessoas sérias, de pessoas éticas. Do contrário, ele não estaria fazendo esse tipo de chantagem. Para quem é do grupo, ele não vai fazer esse tipo de chantagem. Então, eu quero dizer a V. Exª que é chegado o momento, sim, de fazer uma limpa nesta Casa. Concordo com V. Exª. Agora, o ruim, Senador Arthur Virgílio, é que estamos aqui de mãos atadas. É ruim que todo dia tenha de vir alguém aqui para se explicar, porque estão soltando um rojão, às vezes nem se sabe para onde, mas que faz com que todo mundo paralise esta Casa e venha a ter de se explicar. É difícil a gente falar de bons projetos, de boas coisas que acontecem nesta Casa, de bons projetos que nós temos, daquilo que a Nação precisa. Estamos aqui nos sentindo paralisados. É a pior coisa que podia acontecer. Oxalá nós consigamos limpar logo esta Casa, colocar os freios naquilo em que isso precisa ser feito, e possamos voltar a trabalhar com seriedade, para o bem do Brasil!

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senadora Marisa Serrano. Agradeço muito a V. Exª pelo aparte e digo que, de fato, é um trabalho árduo. Pretendermos limpar esta Casa significa impedir que essa camarilha continue roubando. Imaginar que essa camarilha vai simplesmente parar de ganhar dinheiro sem fazer uma difamaçãozinha contra mim em uma revisteca dessas... Eu seria um ingênuo e um tolo se eu, na verdade, supusesse que isso não fosse acontecer. E eu seria um covarde se isso fosse suficiente para me fazer recuar.

Portanto, creio que está na hora de desafivelarmos completamente essa persona do medo. Não vejo razão para a maioria esmagadora dos Senadores ter medo algum. Vejo que tem de ter medo é quem está aí difamando. Estou aqui com uma matéria muito importante da revista Época. É uma matéria que fui recolher; eu aqui estou cobrando providências já com relação aos tais servidores. Mas, vejam bem: “Tião Viana acusa Agaciel de oferecer dinheiro a ele e a outros senadores. Senador petista afirma que não aceitou a oferta a fundo perdido.” O Senador Tião Viana precisava fazer um tratamento, algo assim. Aí, ele chegou e disse. Quer dizer, que o Sr. Agaciel era agiota junto com o Sr. Zoghbi, de banco aqui, eu sabia, agora, chegar para um Senador e oferecer dinheiro?! E se outros aceitaram, tenho a impressão de que reside aí a força dele. O Senador Tião Viana não aceitou, enfim.

Aí ele diz muito bem... Ele diz que tinha os planos de previdência dele, enfim, e depois ele nega, como sempre negou.

Aliás, esse rapaz, Agaciel, me ofendeu profundamente. Ele me magoou profundamente, quero que os senhores e as senhoras saibam disso. Ele me magoou duramente, quando fui àquela sessão, que aqui compareci, junto com o Senador Tasso Jereissati e com o próprio Senador Tião Viana. Ele me magoou muito, ele foi muito duro comigo, naquele dia. Ele chegou a ser perverso. Ele me elogiou. Ele disse que me achava um bom parlamentar, que nada tinha contra mim, que me respeitava. Aquilo é algo por que não vou perdoá-lo. Ele não podia ter dito aquilo de mim. Se ele me elogiar outra vez, vou processá-lo. Ele não pode me elogiar.

Senador Wellington Salgado.

O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Senador Arthur Virgílio, eu, como V. Exª, também fiz algumas anotações aqui enquanto V. Exª falava; algumas palavras também colocadas sobre o discurso de V. Exª. Honradez. É um discurso defendendo a honra o que V. Exª acabou de fazer? Eu acho que é, e V. Exª tem de fazer. V. Exª é um político de genética, é um político que, muitas vezes, tem estado em pontos contrários aos meus dentro desta Casa, aos dos meu Partido, mas não é por isso que deixei de respeitá-lo de maneira alguma. Nesta Casa, aprendemos a discutir pontos de vista e a respeitar as pessoas. V. Exª faz um discurso de moralidade? Faz, faz um discurso de moralidade. Defende as coisas que V. Exª acha que é moral, o que é imoral. Perfeito. Coragem. Coragem, V. Exª sempre teve diante de tudo. Muitas vezes, até quando elogiamos e falamos, como acabei de falar, que respeitamos, V. Exª já parte direto, dizendo que respeito, todo mundo tem de respeitar. Isso não é minha intenção. Respeito V. Exª não é porque V. Exª é lutador de jiu-jítsu; é porque V. Exª tem uma história, porque V. Exª sabe se colocar, porque V. Exª conversa. Eu já gostava antes de estar aqui no Senado com V. Exª; eu já admirava V. Exª antes. Faz um discurso de publicidade? Sim, torna público tudo que falaram de V. Exª, mostrando documentos, até um documento de 2005 - se eu for seguir V. Exª, eu vou mandar minha esposa guardar tudo também, porque eu também nunca guardo nada disso. Agora, como V. Exª colocou uma voltinha em torno de coisas que achava mais importantes, eu também coloquei aqui: injustiça. Achei que V. Exª fez um discurso injusto com o Presidente Sarney e com relação ao neto dele. Essa é uma posição minha. Primeiro, porque tem uma série de coisas acontecendo nesta Casa, Senador Virgílio, que as pessoas não estudam e não procuram saber. A questão de ato secreto. Saiu que meu nome tinha ato secreto. Eu mandei ver todos os meus atos, desde que eu entrei no Senado. Nenhum foi secreto... Nenhum foi secreto! Mas alguém saltou uma lista, com meu nome, falando que eu tinha ato secreto. Mentirosa a lista de quem colocou, porque eu não tenho ato secreto coisa nenhuma! Procurei, vim à tribuna e coloquei isso. Então, eu não posso acreditar em nenhuma lista dessas. Essa é a primeira coisa. A segunda coisa é que, como as informações não estão corretas dentro desta Casa, porque o jogo está sendo jogado... Para mim, é uma crise administrativa que estão querendo transformar em uma crise política. Aqui quem manda são os Senadores. Funcionário tem de seguir o que os Senadores mandam. Se há alguma coisa errada, vamos mudar, vamos corrigir. Agora, eu entrei em contato com o HSBC - a minha secretária -, e o HSBC me mandou uma nota. Está aqui: HSBC. Não é nota interna, não! É uma nota do HSBC, o banco no qual o neto do Presidente Sarney trabalhava. Muito bem. Eu ia fazer um discurso... Nem sei se vou fazer mais, porque vou falar aqui direto com V. Exª. Pedi ao meu Líder, porque sou Vice-Líder, para fazer este discurso. Então, vou colocar logo aqui. O HSBC, até dezembro de 2008, tinha seis correspondentes para fazer operação de crédito consignado no Senado Federal. Até dezembro de 2008. Muito bem. Foram todos desativados no final de 2008 a fevereiro de 2009. O HSBC operou, dentro do Senado Federal, R$26.922.001,39. Isto é: ele pegou o dinheiro, botou aqui dentro e emprestou dentro do Senado Federal. Desses R$26 milhões, Senador Arthur Virgílio... Por isso, quando V. Exª fez a colocação, eu balancei a cabeça. É porque o dado estava errado. Foram R$3.650.692,15 operados por essa empresa (que tem uns nomes aí...) Sarcris. Três milhões. Muito bem. Quanto foi que essa empresa ganhou pelos três milhões que foram operados aqui, durante dezoito meses operando? Essa empresa ganhou, Senador Arthur Virgílio, R$181.000,00 em 18 meses. R$181.000.00. Do total que o HSBC operou dentro do Senado Federal, essa empresa operou 13,56%. Ninguém me deu isso, não. Eu peguei a nota oficial do HSBC e fiz a minha conta - a máquina está aqui - enquanto V. Exª fazia o discurso. Ele operou 13,56%. Isso dá, em 18 meses, R$10 mil por mês. Foi quanto essa empresa deve ter ganho, para dividir entre os sócios e sustentar os funcionários. Bom, agora, veja bem, Senador Arthur Virgílio: nós temos um problema. Qual é o problema? É o de nossos filhos terem o nosso sobrenome. O que nós vamos ter de fazer? Uma lei para todos os nossos filhos e parentes tirarem o sobrenome? Porque não venha me dizer que um filho de V. Exª não tem o maior orgulho de ter um pai como V. Exª. Tem o maior orgulho, como o meu filho deve ter orgulho de mim, porque está tudo transparente aqui dentro. Agora, se alguém tem um sobrenome vai pagar por isso? Aí, eu não sei. Foram R$10 mil, Senador Arthur Virgílio. O restante das outras posições que V. Exª colocou, que vai mandar para a Mesa para poder fazer o levantamento, está correto. Eu acho que tem de ser feito o levantamento, sim, mas eu fiz um levantamento sobre essa história do HSBC. Pegar um garoto que tinha oportunidade de ir para a Ásia trabalhar e não foi porque, de repente, sei lá, se apaixonou por alguém em Brasília e resolveu ficar aqui, em Brasília, por questões sentimentais... Agora, o garoto ganhou R$10 mil por mês e transformaram isso, tentando comparar essa situação à operação do Sr. Zoghbi. É isso que vem todo mundo tentando fazer, e não é igual, não. A operação é diferente. Não é igual, não. Não é igual de jeito nenhum. Estão, aqui, os números, quanto ganhou. Então, quer dizer, nesse ponto, eu acho que o discurso de V. Exª é correto. É o discurso de um homem de bem, de um político de primeira linha. Está correto. V. Exª não tem medo de nada. Veio aqui e mostrou: “Está aqui. Está isso e está isso”.E outra coisa, digo mais: a função desse senhor, que era diretor, era resolver o problema que V. Exª tinha no exterior. V. Exª é um Senador, ele era o diretor e tinha de resolver o problema. V. Exª não ligou para ele, foi alguém que ligou, mas ele tinha de resolver o problema de um Senador que tivesse um problema no exterior. A função dele era essa! Agora, se ele usou a função que tinha, a força que nós demos a ele para praticar atos errados, ele tem de ser condenado. Senador Arthur Virgilio, vejo o seguinte... Entendo V. Exª, não estou falando que V. Exª está errado, de maneira alguma, já conheço o seu estilo, agora, eu acho que nós temos de ir para a tribuna... Na empresa privada, se eu chamar alguém de ladrão, de safado, o Ministério do Trabalho vai lá e me dá uma multa que não tem tamanho, porque é falta de respeito, é dano moral. Eu acho que se pode contestar, abrir ação e chamar o Ministério Público, agora, subir à tribuna e atacar dessa maneira, eu só acho que eu não faria isso. Não sei como a Justiça do Trabalho vai se colocar sobre a questão. O Senador tem imunidade na tribuna, e tem de ter mesmo, agora, nós temos de ter uma posição, aqui, da maneira como nós vamos conduzir. Se está errado, está errado, abre processo, denuncia, como V. Exª vai fazer, vai colocar lá. Agora, as coisas têm de ser claras, Senador Virgílio. Quando eu virei Senador, ninguém me deu um manual de como é que eu tinha de usar passagem de avião. Falaram: “A passagem é sua. Use-a como quiser”. Não tenho nenhuma passagem de parente meu lá, não, de mulher, nada. Não tem, não, mas falaram que era assim quando me deram. Falaram: “Olha, você pode ter gente no seu gabinete trabalhando em Belo Horizonte, trabalhando no Triângulo Mineiro”. De repente, isso vira crime, você ter alguém trabalhando lá, fazendo política, que é o que esta Casa faz? Sinceramente, Senador Arthur Virgílio, daqui a pouco vão querer fazer um IPO do Senado também, porque vai ter de dar lucro o Senado Federal. Tem de dar lucro o Senado Federal? Qual é o preço da democracia? V. Exª foi preso, V. Exª lutou contra a ditadura. Qual é o preço da democracia? Daqui a pouco, só vai poder ser Senador quem tiver dinheiro para pagar a passagem de alguém e vir, aqui, falar no Senado. Café... Outro dia, Senador Heráclito, pediram três pacotes de café, e só mandaram um. Até o café já estão cortando. Imagine a manutenção do carro. Bom, é isso? Então, estou junto, estou junto, vamos juntos. Agora, Senador Arthur Virgílio, o discurso de V. Exª é de honra, mas foi de injustiça, foi injusto com o Presidente Sarney. O Presidente Sarney está pagando uma conta que não é dele, é anterior. V. Exª tem de denunciar, V. Exª tem de brigar, mas estão sendo injustos com o Presidente Sarney. Ele tem feito tudo que os Senadores têm pedido. Tudo. V. Exª sabe disso. Tira fulano, bota sicrano, muda, agora tem de aprovar diretor. Isso é até tirar autoridade. Se V. Exª fosse o Presidente daqui, duvido que alguém tirasse alguma autoridade de V. Exª. V. Exª iria, assumiria a responsabilidade, mas não daria parte de poder a ninguém, porque V. Exª é um homem duro. O Presidente Sarney, tendo o outro lado da sua história, tem aberto mão de poder nesta Casa. Um Presidente eleito com 49 votos dos 81, ou seja, os que votaram nele aprovam a PEC aqui dentro desta Casa. Então, com todo respeito a V. Exª e admiração, nesse ponto, eu acho que foi injusto ao achar que, inclusive, o Presidente Sarney pode estar por trás de uma coisa desse tipo. Tive oportunidade de estar com ele na sexta-feira. Conversarmos, conversamos. O Presidente Sarney não tem mágoa, ele está fazendo o trabalho que tem de ser feito, ele está tocando, Senador Virgílio. Se alguém tocasse em um parente de V. Exª... Eu já vi V. Exª, aqui na tribuna, quando tocaram numa mentira contra um filho de V. Exª. V. Exª se transformou, se transformou, nesta Casa. No entanto, o Presidente Sarney está tentando levar, como ex-Presidente, um homem que fez a democracia neste País, que passou por um momento difícil, de que V. Exª também participou, está tentando conduzir. Então, Senador Arthur Virgílio, eu pediria um pouco mais de atenção nesse ponto. Entendo as posições de V. Exª, mas um pouco mais de atenção nesse ponto com o Presidente. Só isso eu pediria a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito bem, Senador Wellington...

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes. DEM - PI) - Senador Arthur Virgílio, eu queria apenas prestar um esclarecimento ao Senador Wellington Salgado e dizer que todas as mudanças, todas as diretorias que estão sendo trocadas são devidamente combinadas, acertadas e comunicadas ao Presidente Sarney.

O Presidente Sarney, de maneira pública, por mais de uma vez disse que as questões administrativas do Senado seriam tocadas pela 1ª Secretaria. Dentro, exatamente, dessa afirmativa do Presidente é que nós estamos promovendo essas mudanças, mas todas elas de acordo, até porque a assinatura de substituição é feita pelo Presidente do Senado.

Era apenas esse o esclarecimento, para que não fique nenhuma dúvida com relação a isso.

Muito obrigado, Senador.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Presidente.

Senador Wellington, eu respondo a V. Exª com muita atenção.

Antes de mais nada, eu digo a V. Exª que jamais me prevaleci de uma coisa que é passado mesmo, porque o meu passado de desportista não tem nada a ver, é uma situação completamente diferente hoje. V. Exª sabe como eu sou cordial com os meus colegas e não preciso, por isso, deixar de ser firme em relação às minhas posições. Talvez até eu tenha sido indelicado com V. Exª e me penitencio por isso.

Mas eu vou lhe dar alguns exemplos: quando o Ministro se aposenta do STF, ele fica um período sem poder advogar junto ao STF; quando ele se aposenta do STJ, ele fica um período determinado sem poder advogar junto ao STJ. Houve uma resolução muito dura do Supremo Tribunal Federal a respeito do que se conhece como nepotismo, vedando todas as possibilidades de nepotismo direto, indireto, cruzado, não cruzado, reto, retangular, circular, enfim. Então, eu não estou discutindo, aqui, a quantia. Eu estou apenas dizendo que eu não considero da melhor ética que o filho seu, o meu ou o neto do ex-Presidente Sarney à época, e de novo Presidente Sarney, venham para cá trabalhar. Não vejo, não consigo ver que seja justo.

Uma pessoa capaz? Que trabalhe noutro lugar. Trabalhar aqui sempre vai deixar a suspeição, a figura da suspeição de que pode ter havido favorecimento, pode ter havido privilegiamento.

Por outro lado, V. Exª fala dos filhos. Eu, realmente, tenho um amor enorme pelos meus filhos e os defendo muito. Tenho um filho que é Parlamentar; tenho uma filha que é jornalista, que está cuidando da sua vida e está se mudando para o Rio de Janeiro; tenho um filho que é engenheiro, que quer fazer o ITA e, ainda que não passe neste ano - ele acha que neste ano não passa -, quer passar no outro ano; e tenho uma filha que não sabe o que vai fazer, é adolescente mesmo, de 14 anos de idade. Eu não tenho nenhum deles, sobretudo os maiores, que são os que poderiam, empregados aqui. Não tenho nada parecido com isso. Eu não tenho nenhum parente, não tenho, ou seja, meus parentes vivem completamente apartados de política, enfim.

Eu entendo que faltou rigor, no mínimo, do tipo: “Sim, é meu neto. Então, se afaste, se afaste do Senado, porque não é o mais correto.” A meu ver, não é o mais justo. Por outro lado, se é uma coisa tão simples, que se explique junto ao Conselho de Ética e se resolva.

V. Exª fala uma outra coisa, e aí V. Exª não deixa de ter alguma razão: numa emergência como a que eu passei - uma situação vexatória, essa da França -não fosse Agaciel quem é ou quem se revelou, talvez não fosse mesmo nada de mais ele ter se adiantado. Agora, algumas coisas: primeiro, eu não pedi. Não falei com ele e não pedi. Segundo, isso foi feito a minha revelia por um grande amigo, que é o Carlos Homero Nina. Terceiro, se eu imaginasse, àquela altura, que precisava de dinheiro para resolver - eu supunha que bastava desbloquear os cartões -, eu teria pedido diretamente a um grande amigo meu, que foi um daqueles que fez a vaquinha para pagar a dívida, que era o advogado Fernando Neves, uma figura abastada - todo mundo sabe disso -, eu teria ligado: “Fernando, por favor, me manda tanto para conta tal, Banco do Brasil,...” Eu tinha resolvido o meu problema em meio minuto se eu soubesse que era isso. Ou seja, em nenhum momento me moveu a ideia de ligar para Agaciel, enfim.

Por outro lado, há uma contradição brutal. Então, ou eu sou louco, ou eu realmente tenho muita segurança do que estou dizendo. Porque se eu devo favores ao cidadão... A revista está dizendo “amigos abandonam”. Amigos? Eu fui amigo dele quando? Não sei onde fica a casa dele. Se eu quisesse fotografar o casebre, eu não saberia onde é. Eu não suporto jogar futebol. Adoro ver futebol, mas não suporto jogar futebol, sempre procurei outros esportes, enfim. Eu não saberia mesmo ver. Ou seja, nenhuma relação de amizade com ele, e sempre desconfiando. Eu dizia ao Carlos Homero: “Carlos Homero, você pode até ser amigo dele. Ele não é teu. Ele não tem perfil de ser amigo de ninguém. Olhe para ele”. Deus dá a cara que a pessoa... Não é questão de ser bonito nem ser feio. É a cara. É uma coisa que a alma vai mexendo com faces. Eu acredito muito nisso, porque eu sou muito instintivo, como bom escorpiano que sou.

Mas, eu agradeço o seu aparte, Senador Wellington. V. Exª fez bem em expender seu ponto de vista, que eu acolho com muito respeito, com muita amizade, com muita fraternidade, no meu pronunciamento.

Eu cedo o aparte ao Senador Alvaro Dias.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Arthur Virgílio, nós já conhecemos a sua extraordinária capacidade de indignação. E quem não tem a capacidade de indignação também não tem autoridade política e moral de representar quem quer que seja. Por isso, V. Exª representa o seu Estado e o nosso País com muita autoridade moral, política e competência.

Aliás, seria mais importante se neste momento V. Exª estivesse podendo utilizar essa capacidade de indignação em relação a fatos gravíssimos que assolam o País. V. Exª pudesse, neste momento, por exemplo, defender a instalação da CPI da Petrobras, já no dia de amanhã, para apurar denúncias da maior gravidade. Temo, Senador Arthur Virgílio, que os espertos estejam alimentando a crise aqui para acobertar mazelas logo ali. Algumas providências foram tomadas. Podemos até discutir se foram suficientes ou insuficientes, se foram tímidas ou ousadas, mas, na verdade, elas foram adotadas e devemos reconhecer. Nós, que desde o primeiro momento, convocamos o Ministério Público para investigar, temos o Ministério Público investigando pelo menos em três pontos essenciais: o dos contratos de créditos consignados, o das horas extras e o dos atos secretos. O que me parece estar faltando é maior clareza na comunicação dos atos oficiais do Senado Federal. Quando se alardeou a existência de centenas de atos secretos, deu-se a impressão à população de que cada ato secreto era um roubo, de que cada ato secreto era um assalto aos cofres públicos no Senado Federal. Isso não é verdade. Boa parte desses atos secretos devem integrar o anedotário da política nacional. Um ato secreto que autoriza, por exemplo, uma carta de elogio, e aí colocam o nome do Senador Augusto Botelho. Certamente, os desavisados imaginam que o Senador Augusto Botelho possa ter cometido um ilícito, e ele é um homem honrado. Um outro ato secreto designa o Senador Pedro Simon para uma comissão comemorativa dos 180 anos do Legislativo. E ele, uma figura franciscana, que tem um comportamento ético inquestionável, acaba sendo alvo de suspeitas porque apareceu numa listagem de pessoas beneficiadas por atos secretos. Então, é preciso distinguir bem o que é ato secreto imoral, o que é ato secreto ilícito, o que é ato secreto malandro para proporcionar o roubo, daquilo que foi um descuido de algum funcionário que deixou de divulgar um ato irrelevante, sem importância alguma. Isso em nome da transparência e também na preservação de uma instituição essencial no Estado de direito democrático, que é o Poder Legislativo e, sobretudo, o Senado Federal, que é a Casa da maturidade política. Esta que é a Casa da maturidade política está vivendo momentos de imaturidade absoluta. Essa esperteza de colocá-lo, por exemplo, numa situação de constrangimento, de ter que ir à tribuna para se defender, quando V. Exª não tem que se defender de nada. A conduta de V. Exª é reconhecida pelos 81 Senadores e suplentes e funcionários e o povo do seu Estado. Não há razão para V. Exª se colocar na defensiva. Buscam artifícios, artifícios malandros, para deslocar V. Exª. Ao invés de V. Exª estar, hoje, na tribuna, analisando, por exemplo, essa ridícula entrevista do presidente da Petrobras, com uma postura autoritária, acusando os grandes órgãos de Imprensa do País de produzirem artifícios para alimentar e dar vida à CPI da Petrobras, V. Exª tem de estar aí, explicando, porque alguém depositou alguns reais na conta de V. Exª. Portanto, olha, nós estamos verificando que há, sim, uma estratégia para prolongar a crise. Há uma estratégia para alimentar a crise. As denúncias estão se tornando, inclusive, repetitivas em alguns pontos. Há uma matriz, uma matriz do escândalo, e, a partir dessa matriz algumas vertentes, que são utilizadas como conta-gotas, alimentando a crise para que ela sobreviva, a fim de que não se investiguem mazelas existentes no Poder Executivo. Enquanto isso, acabamos constrangidos e não defendemos como deveríamos defender esta instituição, que está sendo achincalhada a cada momento. Portanto, Senador Arthur Virgílio, a minha solidariedade a V. Exª. Eu digo: não foi V. Exª que pediu isso. V. Exª não desejou isso. V. Exª não está feliz nesta tribuna, produzindo este discurso. E V. Exª produziria um discurso com muito mais brilhantismo ainda se V. Exª pudesse estar nesta hora exercitando o seu papel de Líder da Oposição, exigindo a instalação da CPI da Petrobras no dia de amanhã. Enfim, a minha solidariedade a V. Exª. Espero que este calvário tenha vida curta, a fim de que nós possamos respirar um pouco mais de respeitabilidade no Senado Federal e exercitar o nosso mandato, para alcançar os objetivos pelos quais nós fomos eleitos. Muito obrigado, Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Alvaro Dias. Agradeço a solidariedade de V. Exª. E mais: V. Exª tem razão. Seria muito melhor que não tivesse havido nada. Por outro lado, quando acontece algo que visa, embora não seja possível, tisnar a honra de uma pessoa honrada, essa pessoa tem de sair com tudo pra cima de quem quer que seja.

         Sobre a CPI da Petrobras, viajei hoje de Manaus para cá, ele vinha de Boa Vista, Roraima, para cá, com o Líder Romero Jucá, que me disse que, por ele, instala no dia 30. Precisamos refazer a conversa com o Líder do PMDB, com o Líder do PT, para, finalmente, desatarmos esse nó. Temos esse compromisso com a Nação. Agora, obviamente que, no dia de hoje, embora eu também preferisse estar aqui falando sobre essa entrevista que, de fato, é grotesca, é ridícula, eu preferiria fazer isso, agora, óbvio, que não poderia deixar passar em branco. Conversei com o nosso Presidente Sérgio Guerra e com o Senador Jarbas, que até me falaram: “Espera até terça-feira”. Eu disse: “Só se vocês não me conhecessem para achar que vou esperar até terça-feira.” “Nós vamos estar aí terça-feira”. Eu disse: “Olha, se dependesse de mim, abria o Congresso domingo para eu falar. Abriria no domingo. Eu não esperaria terça-feira. Ainda que eu estivesse sozinho aqui, eu quereria dizer o que eu disse domingo”. Se pudesse sábado, sábado. Se pudesse sexta, sexta. Não poderia esperar jamais. Se quiseram amanhã falar, como certamente vão falar, e dizendo muito do inconformismo deles com essa política do medo que estão implantando aqui, falem, enfim, e amanhã já será dia, se Deus quiser, de podermos exigir e cobrar a instalação, que ficou programada precisamente para amanhã, 30 de junho, da CPI da Petrobras. Espero que amanhã não haja mais desculpas. Que possamos finalmente dar essa resposta justa, exigida pela população brasileira.

Por outro lado, temos uma crise aqui no Senado que não pode ser ignorada. É uma crise que se alimenta e se retroalimenta dos documentos acumulados por pessoas que perderam o poder e que ganhavam muito dinheiro com o poder que empalmavam. Portanto, seria ingenuidade, eu repito, de qualquer um de nós, seria ingenuidade minha imaginar que isso seria dado de mão beijada. Eles até se conformam com a ética genérica, aquela coisa do “não gosto de roubo”, mas não dizem quem é o ladrão e aí não tem por que o ladrão ficar incomodado, porque o nome dele não está citado. Agora essa posição incômoda que eu adotei ao longo da minha vida pública, que é dar o nome do ladrão e dar onde roubou, quanto roubou, de quem roubou, essa arranja inimigo, uma coisa incrível, essa arranja as maiores complicações.

Mas eu queria ceder o aparte ao Senador Eduardo Suplicy; em seguida ao Senador Mário Couto, depois Senador Papaléo, Senador Mozarildo e Presidente Garibaldi Alves.

 

O SR. PRESIDENTE (Heráclito Fortes. DEM - PI) - A Mesa apenas apela aos companheiros aparteantes que usem o bom senso nesses apartes, uma vez que nós temos alguns oradores aqui inscritos e que desejariam trazer suas mensagens.

Senador Suplicy, por determinação do orador.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Prezado Senador Arthur Virgílio, ainda hoje de manhã, convidado pela entidade Pensamento Nacional das Bases Empresariais e cinquenta outras entidades, todas preocupadas com o que está acontecendo no Senado Federal e perguntando a nós, Senadores, o que estamos fazendo, tive a oportunidade de ter um diálogo muito significativo e importante. Avalio que é da responsabilidade de cada um de nós, os 81 Senadores, colaborarmos para corrigirmos todos os problemas que aconteceram na nossa Casa. Temos a responsabilidade de legislar, fiscalizar os atos da administração do Poder Executivo. V. Exª é uma das pessoas que primam por sempre estar apontando problemas e exigindo apuração e, portanto, aqui no Senado precisamos dar o exemplo. Se em cada momento surge uma situação em que se demanda de nós Senadores esclarecimentos, é importante que estejamos prontos a dá-los. Ainda na semana passada, telefonei a V. Exª, quando expôs que formularia um pronunciamento dizendo que alguns Senadores aqui estariam sendo objeto de chantagem e que por causa disso estariam se acovardando em falar as coisas como deveriam. Eu de pronto telefonei para V. Exª e disse que em nenhum momento fui aqui objeto de qualquer pressão nesse sentido. E reitero isso. O pronunciamento de V. Exª, entretanto, resultou, por exemplo, que a revista Carta Capital resolveu insinuar algo que de maneira alguma aconteceu comigo. Uma simples insinuação, e estou enviando à Carta Capital uma carta de esclarecimento, porque, por exemplo, disse que eu teria providenciado as passagens da escritora francesa Fred Vargas, que veio ao Brasil já nove vezes, por estar convencida de que é preciso esclarecer inteiramente o episódio Cesare Battisti, que ela estudou com toda a profundidade e quer inclusive esclarecer aos Ministros do Supremo que vão decidir a respeito. Estou transmitindo nesta tarde uma carta ao Sr. Mino Carta, para esclarecer que ela fez questão inclusive de dizer que demonstrará, se necessário, o quanto ela própria pagou; ela que é a escritora com mais livros vendidos na França, hoje. Então, é um esclarecimento que avaliei como importante dar a V. Exª. É importante que V. Exª, portanto, de pronto, no primeiro dia de sessão, logo após a informação dada pela IstoÉ, tenha aqui providenciado os esclarecimentos. Acredito que eles serão importantes agora para toda a imprensa, e é fundamental que tudo seja bem esclarecido. Ontem, Senador Arthur Virgílio, faleceu um dos campeões da luta pela democracia, o Professor Goffredo da Silva Telles. Inclusive, agradeço V. Exª ter participado do requerimento que estou apresentando à Mesa. Eu gostaria de pedir à Presidência que tenha o tempo hoje suficiente para fazermos a devida homenagem ao Professor Goffredo da Silva Telles, que V. Exª assinou. Eu gostaria de lhe transmitir que, nesse requerimento, na justificativa, recordarei aqui as palavras da Carta aos Brasileiros, de 1977, um histórico documento, e também da Carta aos Calouros da Universidade de Direito da USP, do Largo São Francisco, de dois anos atrás, em que, justamente, o professor Goffredo Silva Telles conclamou a todos para procederem com ética em todos os campos da atividade humana. Portanto, algo muito relevante para o que estamos vivendo hoje no Senado Federal. Obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Suplicy. Eu respondo dizendo que V. Exª tem todo o direito de enviar sua carta à revista Carta Capital. Aliás, esclareço que meu sentimento em relação a outra revista é um pouco diferente, porque eu, por exemplo, tenho divergências ideológicas com a Carta Capital, mas eu a respeito. Mantenho uma relação muito cordial com os seus repórteres que me procuram, que me entrevistam. Não sei se tem alguém aqui neste plenário mais criticado pela Carta Capital - sempre com respeito, mas criticado - do que eu. Podem continuar fazendo. Não estou aqui para cercear a liberdade de imprensa; ao contrário, junto com V. Exª lutei, e muito, para que se instalasse o regime de liberdade de imprensa no País. Agora, eu queria V. Exª mais na ofensiva; está muito na defensiva. Veja bem, V. Exª já foi atingido por essa gente, quando disseram que V. Exª teria concedido uma passagem a sua digna companheira, a Srª Mônica Dallari. Não tinha nada de mais ali. V. Exª estava certíssimo. Nada de mais. Certíssimo mesmo. V. Exª poderia dispor - o Senador Wellington tinha toda razão - das suas passagens como bem entendesse, e V. Exª fez isso com critério. Não teria havido nada de mais se V. Exª tivesse também fornecido a passagem para vir ao Brasil, se fosse essa a condição sine qua para a presença dela, à ilustre escritora francesa.

O que eu digo é que, se fôssemos abrir as passagens de todos nós - eu pego uma pessoa honrada, estimada como V. Exª -, duvido que V. Exª só tenha usado passagens só com V. Exª, ao longo de tantos anos como Senador. V. Exª deu passagem para movimento social, deu passagem, enfim, para pessoas enfermas. V. Exª haverá de ter feito isso. Não tem delito nenhum. Ou seja, eu discordei de V. Exª - e cheguei a lhe dizer isso fraternalmente - quando V. Exª se desculpava de uma coisa que não tinha feito, de um mal que não havia praticado, de um delito que não havia cometido, porque V. Exª tinha viajado junto com a sua companheira, certamente pesquisando preço de passagem. Ou seja, isso não pode mais, não pode mais, é a regra que vai valer para o futuro, nada a comparar com quem vendeu passagem, nada a comparar com a roubalheira de Agaciel e cia ltda.

Portanto, seja o que for que esteja no arquivo das suas passagens, ou o que for, eu gostaria de ver V. Exª mais na ofensiva - e vou estar aqui para homenagear Goffredo Telles com V. Exª -, mas essa gente imagina que pode colocar na defensiva homens como V. Exª, e não pode colocar. Não deve, não pode e não vai, tenho certeza disso, porque vai funcionar a honra de cada um de nós, vai funcionar a independência de cada um de nós e a capacidade de indignação de cada um de nós.

Se o problema comigo é difamação, podem difamar à vontade, podem vir quentes que eu estou fervendo. Literalmente, podem vir quentes. Quem dá a temperatura da luta comigo é o adversário, a que ele quiser eu aceito. Se quiser ar refrigerado, melhor; se quiser o caldeirão do inferno, eu aceito também. O que não fazem é calar a minha voz. O que não fazem é me colocar de joelhos. Não fazem, não fazem e não fazem, porque eu não nasci para me ajoelhar diante de quem quer que seja. Eu nasci para colocar minhas idéias com altivez, repondo pelos meus atos, respondo pela minha dignidade e respondo pela boa-fé com que eu acerto e erro na vida pública. Quando erro, reconheço erros, mas eu não trabalho com a figura da má-fé, como V. Exª também não.

Então, V. Exª está absolutamente a cavaleiro para engrossar esse coro pela demissão desses dois meliantes, está a engrossar esse coro pela moralização deste Senado, o que, a meu ver, exige providências urgentes, enfim.

Mas agradeço o aparte de V. Exª.

Antes de mais nada, eu coloco até, voltando à revista IstoÉ... Certa vez,... Eu citei já o ex-Governador Amazonino Mendes, atual Prefeito de Manaus, citei o candidato de 98 ao Governo do Estado e hoje Governador Eduardo Braga, vou citar agora o ex-Prefeito de Manaus e candidato a Prefeito em 96, Serafim Corrêa, e vou citar o meu querido amigo Governador Gilberto Mestrinho.

Eu estava no Hotel Tropical de Manaus, eu era padrinho de casamento da Tatiana, filha do proprietário do maior jornal da época, não sei se hoje é. Mas, enfim, um grande jornal de Manaus, que é A Crítica. É um grande grupo, talvez o maior grupo sim, o maior grupo que mistura jornal, rádio, TV, um grupo fantasticamente bem conceituado e muito forte lá, que é o grupo Calderaro de comunicação, do meu querido amigo Umberto Calderaro. Mas, muito bem. Estava lá um cidadão chamado Sidney Kuntz, Senador Wellington. O Sidney Kuntz... Sidney Kuntz? Acho que é, porque tem o Rolf Kuntz, que é uma outra figura que escreve muito bem, no jornal O Estado de S.Paulo. Sidney Kunz. Se não me engano, ele era dono ou sócio de uma empresa parceira da IstoÉ, que se chamava Data Brain, uma coisa assim. Data não sei o quê. Então ele chegou para o candidato Serafim Corrêa, ex-Prefeito de Manaus e à época candidato a Prefeito de Manaus. Foi ao segundo turno, derrotando por pouquinho Gilberto Mestrinho, e perdeu por dois mil votos para o atual Ministro, ex-Prefeito Alfredo Nascimento, e Senador colega nosso. Esse Sidney chegou com a cara dura que só os cínicos têm, e disse ao Serafim que, se o Serafim pagasse a ele determinada quantia, ele colocaria, naquela capa regional que a revista faz perto de eleição, ele colocaria o Serafim na frente do Gilberto Mestrinho. O Serafim recusou. E meu amigo Gilberto Mestrinho apareceu em segundo lugar. Acredito até que, já que o Serafim não quis pagar, Gilberto Mestrinho também não deve ter pago nada e devem ter se vingado do Serafim. Saiu Alfredo Nascimento, que estava na frente e que terminou o primeiro turno com 34%; saiu Gilberto Mestrinho em segundo lugar, com 28%, uma coisa assim; em terceiro lugar, Serafim com 27%, 26%, quando foi o inverso. Serafim teve 28%; Gilberto Mestrinho, 27%; Alfredo Nascimento, 34%. No segundo turno, Serafim perdeu por dois mil votos no eleitorado, que não era um eleitorado pequeno, como o de Manaus.

Mas se Serafim tivesse pago aquilo que o rapaz queria, ele teria simplesmente saído na capa da IstoÉ Regional, na véspera da eleição, de modo a influenciar talvez algumas pessoas, teria saído como o homem do segundo turno. E quem foi para o segundo turno foi ele mesmo. Ele fez muito bem em não pagar. Primeiro, porque não se deve ceder a chantagens; segundo, porque não se deve fazer nada desonesto - eu o louvo por isso -; e terceiro porque, enfim, não precisou, foi para o segundo turno. E se perdeu a eleição foi porque o outro teve mais votos. É o resultado de qualquer eleição. Por que perdeu? Por que outro ganhou, o outro teve mais votos. Não tem o que discutir. Mas eu estou só me lembrando de um outro episódio dessa revista. Enfim...

Mas obrigado, Senador Suplicy. Eu estarei presente aqui, seja a que horas for, na homenagem que V. Exª propõe prestarmos, que eu quero prestar, a essa figura insigne, que conheci muito de leve, mas que tive a honra de lhe apertar as mãos. Sei que era seu amigo íntimo, meu não foi, mas eu tive a honra de lhe apertar as mãos, por saber que se tratava de um grande brasileiro. Foi uma época em que nós, pessoas com V. Exª, eu e ele, não tínhamos o direito de ter divergências, porque se tratava de enfrentar uma ditadura. Hoje, nós temos o direito de ter divergências, e é saudável que tenhamos o direito, e devemos exercitar esse direito de termos divergências. Mas eu gostaria muito de dizer algumas palavras sobre Goffredo Telles.

Então, Senador Mário Couto. Em seguida, Senador Papaléo. Depois, Senador Mozarildo e Presidente Garibaldi Alves.

O Sr. Mário Couto (PSDB - PA) - Senador Arthur Virgílio, valeu a pena eu ter permanecido aqui no plenário. Quando fiz minha fala, pensei em ir para o meu gabinete, mas resolvi ficar para ver sua fala. Valeu a pena. E eu lhe digo por que: eu me sinto, a cada dia, mais honrado por ser liderado por V. Exª. Lógico, Senador, V. Exª foi o primeiro Senador a dizer que esse moço, Agaciel, era uma pessoa que não merecia nenhuma confiança e nenhum respeito desta Casa. E V. Exª, sem nenhum receio... É lógico, Senador, quando um homem tem a coragem de falar como V. Exª falou a respeito desse rapaz, desse moço, desse senhor... V. Exª está, neste exato momento da sua fala, dizendo que não tem nenhum receio de nada. Quem tem alguma coisa a pagar não fala como V. Exª falou desse rapaz. Não fala. Não tem coragem de falar. Duvido eu. Duvido eu. Era lógico, Senador, que eles iam procurar qualquer coisa na sua vida. E aí é que eu lhe digo: V. Exª merece, cada dia que passa, maior respeito deste seu liderado. Sabe por que, Senador? Porque eles procuraram tudo na sua vida, com certeza, durante todo esse tempo em que V. Exª está aqui, e não acharam nada. Olha o que eles vieram trazer, querendo acusar: o nada. Isto aqui não é nada. Isto aqui não é erro. Queria eu ter o prazer de lhe emprestar R$10 mil. Queria eu ter o prazer de lhe emprestar R$10 mil, contanto que V. Exª me pagasse. Não é verba pública. É um dinheiro particular que um secretário seu foi atrás para resolver o problema do patrão. E resolveu normal, e foi reposto o dinheiro. Qual é o seu pecado aí, Senador? Absolutamente nenhum. Qualquer um faria isso, qualquer pessoa faria isso. Eu pensei, Senador, a princípio, que o dinheiro fosse público. Então, V. Exª está de parabéns. V. Exª mostra, mais uma vez, à Nação brasileira, que é um homem sério, que não deve nada, fala abertamente o que deve falar. Desde que cheguei aqui, que lhe conheci, que lhe vi assim. Parabéns pela tarde de hoje. V. Exª sai daqui de peito lavado. Agora, Senador, eu só tenho uma preocupação: esse bandido está sendo muito valorizado. Muito valorizado. Ele conseguiu criar uma crise dentro desta Casa. Ele é poderoso. Ele ficou poderoso. E o poder dele, logicamente ninguém sabe. Aí é que é difícil lidar com esse tipo de bandidagem. Ninguém sabe em que está apoiado, Senador. Ninguém sabe em que está apoiado. Precisamos saber em que está apoiado. Mas que é forte é.

Porque ele está fazendo toda essa confusão. Ele está, inclusive, tirando do foco o nosso trabalho, inclusive as próprias CPIs que foram pedidas aqui, bem como o nosso trabalho rotineiro, cotidiano, dos nossos projetos, dos nossos debates. Atingir V. Exª, Senador, não vão conseguir. V. Exª mostrou, na tarde de hoje, que não deve nada e não teme nada. V. Exª mostrou à Nação o caráter de homem que tem. V. Exª mostrou a educação que recebeu de vossos pais. V. Exª honra o nome de sua família. V. Exª honra os seus liderados. E eu não estou aqui para agradá-lo não, Senador. Se V. Exª cometer um ato grave, daqui para frente eu serei o primeiro a dizer a V. Exª. Mas V. Exª até hoje me honra com a sua postura. E eu tenho certeza de que amanhã eles vão procurar de mim e de outros aqui, porque somos assim, porque somos reais. Vão procurar. Procurem de mim. Nada vão achar. Podem criar uma bobagem, uma invenção, mas nada vão achar de sério. E V. Exª deu o testemunho à Nação. Olha que eles devem ter catado, Senador, catado tudo contra V. Exª, e não acharam nada. Vieram com isso aí, que nada significa e não mostra nenhum erro seu. Falou porque quis, falou porque tem dignidade, falou porque tinha necessidade de falar; não podia passar. Nem tinha obrigação de falar pelo tamanho tão pequenino desse ato. Parabéns! V. Exª mostrou, mais uma vez, que não tem nada a dever e que pode ir a essa tribuna para falar à vontade das pessoas que cometem irregularidades. Parabéns!

O SR. ARTHUR VIRGILIO (PSDB - AM) - Obrigado, meu prezado Senador Mário Couto. De fato tudo começou quando o Presidente Sarney estava sendo naquela cadeira, na segunda da primeira fileira, e eu aqui disse uma parte, fui delicado. Eu disse uma parte do porquê de não votar em S. Exª. Procurei ser delicado e cordial, ele é que não foi, reunindo um grupelho para engendrar infâmias, ignomínias, numa revista controlada por um parceiro dele, que é o Sr. Gilberto Miranda Batista. Eu não disse isso; eu disse apenas: “Não voto em V. Exª, porque V. Exª não vai mudar, vai conservar; o outro candidato, o Senador Tião Viana, tem o compromisso conosco de, por exemplo, mudar o Diretor-Geral, Agaciel Maia”. Eu não disse que comecei, na minha cabeça, a processar a mudança, depois de ter defendido, perante a nossa bancada, tão enfaticamente, que deveríamos votar em Sarney, porque tínhamos que ser contra o PT - e fazia lógica, afinal de contas, é o nosso concorrente na luta à Presidência da República. Quando saí da casa dele e dei de cara com a dupla Egberto Batista e Gilberto Miranda Batista, lembrei-me do caso Lurian, lembrei-me de alguém que enlameou o nome da Zona Franca. Lurian, Egberto, caso Zona Franca... A Zona Franca desfrutou, durante muito tempo, de uma má fama perante setores da imprensa brasileira, que até não se dão ao trabalho de saber o que se faz lá de agregação tecnológico, de valor industrial, de valor econômico. Não é montagem, não. Fala-se de uma Honda, uma empresa que tem 98% de agregação de valor nacional, Senador Mozarildo, e 60% de valor de agregação de valor local. Então, vi aquilo e disse: “Meu Deus, essa dupla é a que vai estar ali, é a dupla parceira”; tanto que, quando precisaram uma vez, estava lá a dupla de Egberto, para escrever aquelas besteiras, enfim, e o outro, que é o manda-chuva lá, fazendo o que sempre fez: a infâmia.

Quando o Brasil fazia, no Governo Fernando Henrique, o acordo com a Raytheon para estabelecer o Projeto Sivam, de repente, foi uma coisa incrível. Durante três ou quatro dias, a imprensa ficou tonta e comprou essa coisa errada, comprou gato por lebre. O Sr. Gilberto Miranda, defendendo a Thomson. Não era bem defendendo a Thomson, mas falando que era uma negociata brutal o Governo brasileiro optar pela Raytheon, atingindo o Brigadeiro Mauro, o Chefe da Aeronáutica da época, uma figura correta, Mauro Gandra, se não me engano. E o Governo brasileiro optou pela Raytheon por uma razão bem simples: porque a Raytheon, além de trazer a melhor tecnologia, aos olhos da Aeronáutica, que era quem tinha de opinar sobre tecnologia, trazia para o Projeto Sivam o financiamento a juros baixos, longo prazo de pagamento, Exim Bank, e a Thomson francesa não trazia nem o pagamento, nem era considerada a tecnologia mais avançada. Mas o que ele estava fazendo era o papel de lobista, que foi o que sempre fez aqui, papel de lobista da Thomson. Sabe-se lá a peso de quê! Não se constrói uma fortuna como a dele tendo sido professor de natação aqui, em Brasília. Não se constrói uma fortuna desse porte, e não foi uma fortuna de trabalho, como a gente já viu tantas pessoas construírem fortuna, vindo de baixo para cima, mas com trabalho. Ele não é nenhum José Alencar, que é homem de valor, que derrota o câncer e derrotou as adversidades da vida, uma figura admirável. Ele é apenas alguém que virou advogado administrativo dentro da Suframa e que difamava a Suframa, porque “Quem é que resolve?”, Gilberto Miranda, e haja propina a correr lá por dentro.

Hoje a Suframa é um órgão limpo, muito limpo, e isso se deve, inclusive, em 1996, se não me engano, a uma figura, que é muito criticada na minha cidade, o Ministro de Planejamento de então, José Serra, ter colocado lá um homem de bem, Mauro Ricardo Costa, que realmente implantou regras muito claras, das quais os demais Superintendentes não se afastaram, o falecido Ozias Monteiro, a atual Superintendente, Flávia Grosso, pessoas corretas. Mas é gente desse tipo.

         Então, disse: como é que a gente podia votar? Eu não podia dizer ao Sr. Presidente Sarney - seria uma grosseria: “Eu não voto em V. Exª, porque V. Exª está ligado àquela dupla infernal de Gilberto Miranda e Egberto Batista. Egberto Batista não é capaz de ter um pensamento bom, nenhum pensamento bom. No dia que ele tiver um pensamento bom, ele enfarta; e o outro pensa em dinheiro, dinheiro, dinheiro o tempo inteiro. E fazem, inclusive agora, dessa revista um instrumento de ataque, de difamação, cada vez mais desmoralizado esse instrumento. E, se pensam que com ele me amedrontam, repito: podem vir quente, que estou absolutamente fervendo. E mais, conheço a vida de Egberto, conheço a vida de Gilberto Miranda, conheço o que essa gente é do ponto de vista de receita, essa vida fiscal deles, estou pronto para o que der e vier. Pronto para o que der e vier; literalmente, para o que der e vier.

Agradeço a V. Exª a solidariedade de amigo, de companheiro, solidariedade fraterna, de quem não falta nas horas em que a gente precisa que não falte. Mas, sobretudo, V. Exª esteja absolutamente seguro de que não vou nunca fraudar a confiança de quem quer que seja. Ou sou uma pessoa digna da vida pública, ou me afasto dela. Eu não saberia fazer diferente.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Senador Arthur Virgílio, é com muito respeito que recebo a concessão de um aparte de V. Exª. Quero dizer que, talvez, V. Exª - talvez, não; tenho certeza absoluta -, não conhece profundamente a minha vida - minha vida política, pessoal, muito distante. Mas conheço a sua vida política, a sua vida pelas lutas democráticas deste País. A convivência... Nunca esqueço, quando houve uma eleição do PSDB, e V. Exª... Eu era Prefeito de Macapá, no período de 1993 a 1996, estávamos em um almoço, que era uma reunião grande dos Prefeitos, e V. Exª descia de um táxi, correndo atrás de companheiros, pedindo voto para ser Secretário-Geral do PSDB. Então, conheço V. Exª. A convivência que temos dentro do PSDB é uma convivência em que V. Exª é livre, aberto nas suas idéias. Isso impõe a nós - impõe - a condição de respeitá-lo. Isso é uma imposição. Mas tenho certeza de que todos nós que convivemos com V. Exª espontaneamente o respeitamos, exatamente por todas as suas ações. V. Exª já falou que, se pudesse abrir o Senado ontem, estaria aqui falando o que falou hoje. Concordo com V. Exª. Nós só podemos deixar para amanhã aquilo em que erramos e em que temos que ficar pensando e pensando e pensando e pensando, para tentar reparar com palavras ou para dar nossas desculpas em cima de erros. Li a matéria, vi que é extremamente maldosa contra V. Exª - maldosa, indevida! Foi uma baixaria o que fizeram ali. V. Exª já falou muito bem qual foi a revista. Logicamente, não podemos concordar. Sejamos companheiros do PSDB, sejamos companheiros de outros partidos, mas não devemos concordar, nem podemos concordar com isso. Por trás de uma matéria como essa, podem estar escondidos muitos outros acontecimentos, que não têm nada a ver com V. Exª, e pode-se vir a ser, pela infelicidade de quem está promovendo isso, injusto com outras pessoas. Gosto da sua clareza; gosto da sua honestidade nas palavras. Até ainda há pouco, falávamos aqui da sua ansiedade, que é sua característica - ninguém lhe tira isso -, de prestar contas a todos nós e à Nação. V. Exª é um homem respeitado neste País, é oriundo de uma família que realmente honra o povo brasileiro, porque sempre participou da vida política. V. Exª diz que seus filhos não querem saber da política partidária, porque...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Tenho um que, infelizmente, já caiu nela. Três não querem.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Um filho? É. Os demais... Assim também tenho duas filhas. As duas filhas...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador, peço permissão para interromper porque, regimentalmente, o tempo da sessão terminou; mas prorrogo-a por mais uma hora para que o Senador Arthur Virgílio possa concluir e alguns oradores, os que estão inscritos desde cedo, possam usar da palavra.

O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Vou falar desse tema, Senador Arthur, porque V. Exª. é um pai de família que, graças a Deus, teve todos seus filhos bem encaminhados. Tenho duas filhas. Uma delas telefonou-me dizendo: “Pai, o que está havendo que seu nome está aqui em uma lista de 37 pessoas beneficiadas por atos secretos?” Digo-lhe, sinceramente, amigo, que não perdi o controle, mas a minha indignação triplicou. E vim, então, fazer uso da tribuna para que fosse realmente esclarecida publicamente a questão dos beneficiários. Foi uma injustiça muito grande com pessoas como o Senador Suplicy, como o Senador Pedro Simon, como o Senador Paulo Paim, como o Senador Cristovam Buarque, como o Senador Marcelo Crivella, como o Senador Mozarildo Cavalcanti. Enfim, foi uma injustiça muito grande. Quando nós somos obrigados, por uma circunstância dessas, a vir prestar esclarecimentos, devemos vir, sim. É um dever e uma obrigação. V. Exª, nada mais nada menos, está prestando um esclarecimento a todos nós. Isso aí faz com que fiquemos cada vez mais orgulhosos do senhor. Quanto à questão da Casa, nós temos que olhar por esta Casa, sim, com muito carinho. Senador Arthur, quando eu disse que V. Exª. não tem um conhecimento mais profundo a meu respeito, eu quero que não paire qualquer dúvida sobre os meus posicionamentos aqui no plenário. Eu quero que esta Casa vença todos esses desafios que está enfrentando. Eu quero que pessoas dignas, como V. Exª., não sofram conseqüências, numa eleição do ano que vem, por causa de pessoas irresponsáveis, corruptas, malversadoras do dinheiro público e que conseguiram transformar uma crise, que é uma crise da Casa, sim, é uma crise da administração da Casa, numa crise política, aqui, dos Senadores que estão presentes. Porque eu vim outro dia, dei uma justificativa; V. Exª., hoje, uma justificativa; daqui a pouco, um outro sofre uma agressão injusta, outra justificativa. Aí nós passamos a ser um dos maiores ativadores da crise por que esta Casa passa, porque nós temos necessidade de nos defender. Então, por exemplo, eu li, ontem, no jornal, parece-me que na Folha, que 57% dos brasileiros dizem que nós não tratamos de assuntos importantes, mas, da Casa. Tratamos de assuntos vários. Isso é muito sério. Nós precisamos, assim, na ânsia aqui de defendermos, de repararmos esses erros administrativos, às vezes, nós damos informações que nos colocam até em mais dúvida ainda. Na madrugada da quinta para a sexta, eu estava assistindo ao Senador Pedro Simon - eu quero até aqui dizer que o Senador Suplicy está presente; eu já disse isso para ele - e quando foi naquele dia aberto, na quinta-feira, o Portal da Transparência da Casa. Então, cada Senador tem relacionado seus assessores. E o Senador Suplicy, na ânsia de mostrar para a população que a transparência estava ali, um dos pontos importantes, ele disse: “Olha, eu e mais o Senador Tasso e mais um outro Senador - cujo nome não me lembro - somos aqueles que menos temos assessores em nosso gabinete”. Muito bem! Agora, para a opinião pública, isso pode gerar uma situação de difícil interpretação. Então, se eles têm menos, é porque não entraram em atos secretos e os outros nossos seriam por atos secretos. Mas não é. Teria que ser muito bem explicado isso. Um dos atos considerados secretos, que é o ato da Mesa em que fui incluído como beneficiário, é que eu e mais sete Senadores, os membros da Mesa, assinamos uma decisão da Mesa que autorizava o FC-2, um cargo grande, cheio, cujo salário é grande, para dividir em oito cargos. Então, é isso que acontece na maioria dos casos, como o de V. Exª. Eu olhei o de V. Exª, dos meus companheiros do PSDB. Então, nós temos maior número de assessores porque dividimos um salário que é alto e que seria pago para uma pessoa, por oito pessoas. Portanto, dá um salário bem aquém - R$1.500,00 ou R$1.400,00 - para os assessores. Então, nessa nossa ânsia de dar transparência, acabamos causando outras dúvidas. Então, Senador Arthur, eu quero dizer que todas as propostas que V. Exª faz são felizes, importantes e que poderiam sair de V. Exª com a maior tranquilidade e com a maior segurança. Aí vem o outro lado, só para concluir. Será que não estamos - e não me refiro a V. Exª, hoje - por exemplo, fazendo o jogo do Governo? V. Exª observe que só o Senador Suplicy não falta aqui, mas a turma do PT, os Senadores do PT estão todos ausentes. Eles não precisam entrar em campo agora para não cansar, mas, quando voltarem aquelas ações firmes, - e V. Exª. foi um dos que participaram ativamente -, eles voltarão cheios de gás para defender a não abertura da CPI da Petrobras. Então, temos que ter muito cuidado; devemos olhar que a Mesa Diretora realmente foi eleita dentro da legalidade. A legalidade foi atendida quando sete membros - titulares e quatro suplentes - foram empossados. Essa Mesa - eu já participei - é democrática porque decide com os votos dos sete. Vamos ver realmente a eficiência da Mesa Diretora. Essa Mesa Diretora precisa... E ouvi do Senador Heráclito informações que nós não podemos saber, só se a Mesa for estimulada, como V. Exª estimulou. Temos que saber isso diariamente, para nos atualizarmos e, quando possível for, dizermos “Calma!”, porque para se destruir é muito fácil. Soltamos uma bomba e destruímos tudo; implode-se um edifício. Agora, para construir, é muito mais difícil. Vai ser muito mais longa essa espera pelos resultados que queremos, porque as alterações profundas na administração - tenho certeza, espero, sim - serão feitas. Então, temos que ter as nossas condições plenas do conhecimento, para até podermos defender a instituição. Nunca defender pessoas suspeitas de atos ilícitos, nunca. Mas a instituição, sim. Não deixar o povo perder a confiança em nós, os 81, porque somos nós que defendemos, que somos a cara do Senado. Nós somos a cara do Senado, que estamos sendo abatidos ou massacrados pelo lado administrativo da Casa, que é uma outra instituição. Isso porque se nós fôssemos dirigir esta Casa e fazer, ao mesmo tempo, os trabalhos parlamentar, nós não daríamos conta da carga que é ser titular de uma vaga aqui no Senado. Eu agradeço a atenção de V. Exª. Volto a dizer: V. Exª. tem a minha solidariedade mesmo, independente de ser ou não do meu partido. Digo-lhe que tenho orgulho de participar de um partido que tem como Líder V. Exª., Senador Arthur Virgílio. Muito obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Papaléo Paes. Eu respondo a V. Exª., brevemente, dizendo que a saída para mim está, obviamente, para recuperarmos a plena capacidade de ação política, está em “desagacielizarmos” esta Casa. Não adianta; de minha parte é uma determinação santa. Usaram duas páginas da IstoÉ; podem usar a IstoÉ inteira, o que mais queiram; eu vou insistir em que nós temos que mudar profundamente os rumos políticos e os costumes políticos desta Casa, porque aqui está tudo viciado. Aqui se acha natural: ganhou pouco, então pode ser neto do fulano que está tudo bem. Ganhou pouco; se tivesse ganho muito, talvez, enfim... A coisa está complicada aqui. Temos que “desagacielizar” esta Casa. Quando digo isso, refiro-me a ele e a todos os seus comparsas, enfim.

Mas V. Exª fala dos atos secretos. Isso é uma coisa tão tola aparentemente, mas não é tola, não. O Senador Alvaro Dias se referiu ao Senador Augusto Botelho, que é um homem de comportamento muito humilde, mas muito correto, muito aplicado. Todos nós aqui admiramos e prezamos o Senador Augusto Botelho. Um ato secreto que designa o Senador Augusto Botelho, Senador Wellington, para fazer alguma coisa; o Senador Simon para fazer parte das festividades de Brasília; a gente diz: “Poxa, isso é uma cretinice”. Aparente. Aparentemente é uma cretinice, mas não é. Não é. Porque se espalha a notícia de que tem um ato secreto envolvendo o Senador Augusto Botelho; de que tem um ato secreto envolvendo o Senador Pedro Simon. O que passa pela cabeça do Senador Pedro Simon? “Que ato será esse?” Ele começa imediatamente a pensar: “O que será que fizeram no meu gabinete? Não eu, mas meu chefe de gabinete, minha subchefe de gabinete. O que fizeram no meu gabinete?” O Senador Augusto Botelho diz: “Puxa, será que aquela passagem que eu dei para Fulano foi uma passagem execranda?”

As coisas vieram à baila, mas, se não viessem à baila, e ficasse só aquele bizu entre setores da imprensa e aqui essa rádio-corredor, ficaria a dúvida.

E quem sabe os atos secretos não escondam mais imoralidades como aquela de nomearem, como fizeram no gabinete do Senador Demóstenes, uma pessoa sem o Senador Demóstenes pedir. A que ponto chegaram! A que ponto chegaram! Aí justifica esse Gazzineo, em uma das peças - e olha que já li muita cretinice, mas, numa das peças mais cretinas que já li na minha vida -, ele diz assim, explica tecnicamente que “nomeamos só por 14 dias e, depois, realocamos em outro lugar”. Ou seja, queriam arrumar uma boca rica para quem quer que fosse, e aí por 14 dias usaram o gabinete do Senador Demóstenes. Podiam ter usado o meu. Cheguei a pensar que eles estavam inventando, fazendo cargos-fantasma, para colocarem no bolso R$100mil, R$150mil por mês, enfim, o que nunca é demais... Afinal de contas, não trabalhavam mesmo! Descobrimos isso aqui, dentro da Casa que deveria ser a mais transparente.

E uma vez eu, aqui, já questionei a prisão, a enxovia aqui dentro: aqui você pode chamar a polícia para prender alguém. É para impedir baderna, mas não para prender um cidadão brasileiro. Agora, descobri uma coisa pior: um bunker do Sr. Agaciel, cheio de vídeos, segundo a revista Época, de toda sorte, enfim - alguns que a gente deve ver só em casa -, frigobar, boas bebidas. Que conversa, meu Deus! Um bunker aqui dentro, quer dizer, uma coisa que não era do conhecimento dos Senadores!

Eu não conhecia onde era a Diretoria-Geral da Casa e fui lá no dia que tive de interpelar o Sr. Gazzineo. Não sabia onde era, Senador Mozarildo, soube que era no terceiro andar do Anexo I, e fui lá. Agora, eu não sabia por culpa minha e deveria saber. Agora, como é que eu poderia admitir que tinha uma dependência secreta aqui, algo que só era dominado por algumas pessoas da máfia, que o mafioso chefe detinha a chave e abria os segredos ali, enfim. E diz ele que era para passar transparências, para meditar. Uma pessoa dessas, se tivesse meditado, não teria praticado os atos que praticou. Quem medita mesmo não faz tanta arbitrariedade, tanta loucura com o dinheiro do povo, não faz tanto malfeito em relação à postura ética que deve ter um servidor público; enfim, uma figura completamente degenerada, que se desvirtuou completamente.

Agradeço a V. Exª, Senador Papaléo Paes, pela solidariedade, pela amizade de sempre e concedo o aparte ao Senador Mozarildo Cavalcanti, que é o penúltimo aparteante de uma sessão tão longa e, para mim, tão reconfortante, embora desagradável, porque eu preferia mesmo estar discutindo outros assuntos. Mas, enquanto tiver roubalheira para se denunciar aqui, eu vou fazer, ainda que tenha de enfrentar qualquer campanha de difamação. Repito: podem vir quente porque estou absolutamente fervendo.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PTB - RR) - Senador Arthur Virgílio, desde quando começaram essas denúncias, e muito antes desse episódio mais recente sobre o Senado, venho coletando e colecionando todas elas, para analisar com serenidade e ver o que tem realmente algum fundo de verdade, para poder ter posições pessoais e propor ações. Quando começou essa história de atos não publicados, que foram rotulados de atos secretos, porque o Senado não tem nenhum tipo de dispositivo que permita que ele edite atos secretos, a não ser o Executivo... A única ação secreta que o Senado tem são as reuniões da Comissão de Relações Exteriores quando nós sabatinamos embaixadores, porque discutimos assuntos de interesse nacional, de segurança nacional, portanto, assunto de Estado. É o único ato secreto que conheço nesses dez anos em que estou aqui no Senado. Portanto, esses atos não publicados por terceiros, que foram batizados de atos secretos, para mim, começaram a perder credibilidade, como V. Exª já colocou, quando foram relacionados nomes como do Senador Augusto Botelho, do Senador Pedro Simon, do Senador Papaléo. E aí o meu.

Fui ver que ato secreto assinei ou ato que possa ter se tornado secreto, porque, se tem alguma coisa que eu faço quando vou fazer alguma coisa é procurar me inteirar qual será a minha atividade. Por exemplo, quando fui 4º Secretário da Mesa, procurei saber qual era a atribuição do 4º Secretário: ler lista de presença, não sei o quê, nada de administrativo. Então, os atos que eu assinei foram atos coletivos da Mesa. E, entre os atos secretos, o que havia? A nomeação de uma pessoa dita como meu filho. Eu tenho três filhos, Senador Mão Santa: o mais velho, que é Mozarildo Monteiro Cavalcanti, tem o “Monteiro” da mãe. É juiz de direito lá em Roraima...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - E eu tive a honra de conhecer.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - ...a segunda, Geanne Cavalcanti; e a terceira, Geilza Fátima Cavalcanti Diniz, juíza de Direito aqui no Distrito Federal. Aliás, eu não podia ter um filho com o final de “Júnior”, com o nome de Rafael de Almeida Neves Júnior. Ora, o meu nome é Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti. Como é que poderia colocar o nome, num filho meu, de Rafael de Almeida Neves Júnior? É, no mínimo, um contrassenso. Aí, procurei saber e até me desculpar com o pai desse rapaz, mas, infelizmente, ele já morreu. E essa pessoa existe, mas ela sequer foi nomeada por ato meu, se é que foi nomeada, e não tem qualquer vinculação com o meu gabinete. Então, a partir daí, comecei a duvidar de qualquer relação dessa. Comecei a duvidar e acho que temos de ter, realmente, muita cautela em julgamentos. Então, esses atos secretos, que são atos não publicados por terceiros, por quaisquer que sejam os interesses, me preocupam, porque, como disse V. Exª, há uma intenção, talvez no meio de atos válidos, de misturar alguns atos inválidos. E, portanto, não publicando, fica tudo numa bolsa só. Essa história de misturar todo mundo aqui, como se todo mundo... Nós somos iguais no sentido de que fomos eleitos igualmente, nós somos iguais no sentido de que temos os mesmos direitos aqui. Mas não somos iguais, não, no que tange à conduta moral de todos. Não somos, não. Não adianta ficar sofismando. E é muito fácil, portanto, querer misturar todo mundo: se um cometeu uma ilicitude, todos cometeram. Assim, eu iria dizer que todo padre é pedófilo, porque teve caso de pedofilia lá nos Estados Unidos, na Irlanda, não sei o quê. Então, todo padre é pedófilo? Eu ia dizer que todo médico é irresponsável por causa de um médico que praticou atos de cirurgia estética, cirurgia plástica e matou não sei quantos? Todos os médicos são irresponsáveis? E eu sendo médico? Não acho, não concordo com essas generalizações, como também acho que é até muito bom - aí, é meu raciocínio como médico - que estejamos passando por essa purgação. Que o Senado seja realmente bem passado a limpo...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concordo.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Bem passado a limpo, para daqui sair um Senado realmente... Lógico, não vamos ter nunca aqui... Aqui não é o céu mesmo, não. Aqui não vai ter santos, só santos. Aliás, ninguém é santo aqui, mas também não terá aqui essa pecha de que todo mundo não presta. Finalmente, Senador Arthur Virgílio, eu queria só pedir desculpas a V. Exª. V. Exª colocou en passant uma referência à Maçonaria. E, da forma como V. Exª colocou, dá impressão de que Maçonaria é alguma coisa de mafiosa, que se reúne secretamente para fazer máfia, e não é. A Maçonaria não é diferente, por exemplo, de um clube que se reúne só com a sua diretoria; não é diferente, por exemplo, dos membros do clero da Igreja que se reúnem, só eles que são do clero; não é diferente, por exemplo, dos presidentes ou dirigentes das igrejas evangélicas que se reúnem, só eles, para decidirem sobre a igreja. A Maçonaria, inclusive, quando se reúne, só podem participar das suas reuniões os maçons que estejam regulares. O que significa regular? Que esteja em dia com o pagamento das suas taxas e que tenham frequência. O maçom que não tiver isso não pode nem participar daquela reunião. Então, quero deixar bem claro que a Maçonaria, de secreta, não tem nada. Os atos da Maçonaria, no mundo todo, desde a Inglaterra, passando pela Revolução Francesa e pelos atos históricos aqui no Brasil, nenhum foi secreto. O que temos de secreto, Senador Arthur Virgílio, são apenas os meios de nos identificarmos, que, por sinal, é uma herança de uma tradição da época em que fomos extremamente perseguidos, na época da Inquisição, na época em que os reis tinham um conluio com a Igreja para liquidar quem tinha qualquer pensamento que divergisse do deles. Então, queria concluir com essa observação a respeito da Maçonaria, porque sei que V. Exª colocou en passant e pode passar para a imagem pública que a Maçonaria é isto: uma sociedade como, aliás, a Igreja Católica, reis etc. sempre tentaram colocar que a Maçonaria era, alguma coisa mafiosa, satânica, e não tem nada disso.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito bem. Até respondo o seu aparte, Senador Mozarildo Cavalcanti, dizendo que concordo com o restante e que V. Exª me protege ao me permitir fazer esse esclarecimento, porque longe de mim dizer algo parecido com a satanização da Maçonaria, por uma razão bem simples: dou uma razão histórica, a importância da Maçonaria no processo que levou à proclamação da República neste País, e uma razão familiar, o meu avô, Desembargador Arthur Virgílio, foi talvez a maior autoridade da Maçonaria, no seu tempo, no Amazonas. Eu me referi ao fato de que tem aquelas reuniões frequentadas só por homens, enfim, às vezes, com convidados. Já fui convidado tantas vezes, e fiz palestras. O debate é muito amplo, muito livre. Depois, tem aquele jantar. Faz parte do ritual. A ritualística prevê um jantar, uma coisa muito generosa. Mas não é uma coisa aberta ao público. Foi nesse sentido que eu quis dizer. Longe de mim fazer qualquer crítica ou qualquer análise pejorativa a pessoas que me tratam bem e me estimam...

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Arthur Virgílio, tenho certeza disso. Eu apenas fiz questão de ressaltar isso porque, na cabeça de quem está acompanhando esta sessão, diretamente ou através da TV Senado ou da Rádio Senado, pode ficar aquela frase solta, que pode realmente levar... Por isso, fiz questão de...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu sei que V. Exª fez isso no sentido até de me proteger, porque... Certa vez, eu cometi uma falta real. Eu aqui disse: este Governo parece autista. Eu recebi um e-mail da minha amiga Telma Viga, que dirige a Associação dos Autistas do Amazonas, e uma reprimenda pessoal da minha querida amiga Senadora Heloísa Helena. A Heloísa me disse: “Arthur, você está falando de mensalão, está falando de corrupção. Você não pode confundir autista, que é um ser diferente e que não é inferior a ninguém em nada, com isso”. Ela falou em sintonia com a Telma Viga. Eu, que era muito alheio a essa luta, apaixonei-me pelos autistas. Hoje, tenho uma certa luta já acumulada ao lado deles, ao lado de todas as pessoas que padecem de alguma deficiência, mas muito especialmente em relação aos autistas no meu Estado - e no resto do País, onde eu possa ajudar. Conheço pessoas fantásticas, mentes brilhantes. Daí para frente, eu já repreendi muitas pessoas que disseram: “fulano parece autista”. Eu digo: “Não. Não parece autista. Não confunda má-fé, desonestidade com autismo”.

Eu me apaixonei muito por eles. Outro dia, ganhei uma ação da Gol, por essa forma de tratar errado os consumidores, e destinei aquela pequena quantia à AMA - Associação dos Autistas do Amazonas. E a TAM está me enrolando para não pagar uma outra ação que ganhei também. Houve uma época em que eu banquei o chato: eu fiquei processando as empresas. Elas atrasavam e eu, em vez de ir para casa, descia e ia ao Juizado de Pequenas Causas e entrava com uma ação. E ela está me enrolando um pouco. Faz perguntas... Mas eu vou, de novo, destinar para os autistas, enfim... Então, eu espero ter ficado bem esclarecido e agradeço V. Exª pelo aparte sempre tão fraterno.

Presidente Garibaldi Alves Filho, um prazer muito grande ouvi-lo em meu discurso.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Arthur Virgílio, não tive a possibilidade, a oportunidade de ouvir todo o seu discurso, porque cheguei há pouco tempo do Rio Grande do Norte, mas quero dizer a V. Exª que sou um dos Senadores... E acredito que todos eles se mostram dispostos a apoiar as investigações, de modo que tudo fique bem claro, bem esclarecido, no que toca aos atos secretos, principalmente. Houve uma divulgação, pelos jornais, de que eu teria assinado os tais atos secretos. Eu fiz um levantamento, Senador Arthur Virgílio, e até já li, no plenário desta Casa, em um aparte ao Senador José Nery, os meus atos secretos. Submeti o Senador José Nery a esse sacrifício de ficar ouvindo e não quero submeter V. Exª a esse novo sacrifício.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Para ele deveria ser um prazer. Para mim é um deleite.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Mas, na verdade, são atos que dizem respeito à realização de concurso público, dispõem sobre o acervo produzido pela TV Senado, criam a Comissão ao Ano Cultural Artur da Tavola, designam servidor para compor Comissão Única de Licitação e por aí vai. Não há nenhum ato - eu confesso a V. Exª - que me preocupe, que me deixe apreensivo. Então, quando V. Exª fala que já não são mais 600 - e, se não me engano, 672 - poderão ser mais de 1.000, que sejam. Bem, eu não desejo, é claro, porque isto compromete o Senado, mas que sejam 1.000 ou que sejam 1.500. Eu estou disposto a levantar os atos secretos - como foram levantados aqui - e colocá-los à disposição da imprensa e dos Senadores, porque há uma comissão de sindicância apurando isso. Senador Arthur Virgílio, creio que estamos em uma situação muito difícil. As pessoas, sobretudo, perguntam-nos: “E quando é que vai terminar isso?”. Eu estou preocupado com que isso termine, é claro. Isso é um grande pesadelo. Isso tem nos levado a uma situação realmente lamentável. Agora, acho que só deveria terminar quando tudo fosse devidamente apurado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Concordo plenamente com V. Exª.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - É o que eu estou dizendo. As pessoas nas ruas mesmo, porque a indignação popular é muito grande... Preocupo-me muito com essa indignação popular. Ela me preocupa não apenas pela minha próxima candidatura, mas pelo conceito que tenho, sobretudo no meu Estado, onde as pessoas me conhecem, e fora do meu Estado também algumas pessoas me conhecem. Quero dizer a V. Exª que conte com todo o meu apoio no sentido de que tudo isso possa ser apurado. Temos que colocar o Senado numa situação que depois se diga: passou por uma grande crise, mas nada ficou impune. Agradeço a V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Presidente Garibaldi, digo algumas coisas a V. Exª. Em primeiro lugar, quando digo que me preocupo com o fato de talvez serem 1.000 os tais atos secretos, eu o faço porque meu instinto de animal racional, porém animal, obviamente, me diz que ao lado dessas platitudes podem ter encaixado mais malícias como aquele do Senador Demóstenes Torres. O que V. Exª disse até perde não divulgando. Um ato em que V. Exª homenageia o grande Artur da Tavola e esse ato porventura virar secreto é até ruim politicamente para V. Exª, porque V. Exª teve uma ideia que encheu de alegria, encheu de agradecimento o PSDB, porque estava homenageando um dos nossos melhores militantes, falecido tão prematuramente em condições tão drásticas, enfim.

Devo dizer também que, durante o tempo em que convivi com V. Exª, seja no plenário, seja na Comissão dos Bingos, seja como líder, muitas vezes dando trabalho a V. Exª, um presidente da Casa muito sereno, muito equilibrado, nunca pressenti nada que cheirasse a má-fé em V. Exª. Nunca pressenti nada. Se dissesse que V. Exª não deve ter cometido erros, acredito que deve ter cometido, mas V. Exª soube comandar a Casa, soube tocar a Casa, tomou medidas interessantes, que deveriam ter sido implementadas. Talvez V. Exª não tenha tido o necessário apoio para implementar medidas que poderiam ter ajudado a sanear parte desse lodaçal todo, a aceitar a manutenção de um Agaciel. Acho que entregaram a V. Exª um prato feito. V. Exª entrou numa emergência, quando o Senado saía de uma crise, e V. Exª seria uma solução apaziguadora, era uma transição. Então, entregaram-lhe um prato feito. Eu não o culpo por tê-lo mantido. Creio que, àquela altura, era para mantê-lo mesmo. Também, o Agaciel de 2005, o tal ao qual o meu amigo Carlos Homero Nina recorreu, não era esse Agaciel que nós conhecemos hoje. É muito fácil, depois de ver tudo que fez, não é? V. Exª não tinha obrigação nenhuma.

Mas devo dizer que eu me senti muito bem presidido por V. Exª, como me sinto muito bem presidido por V. Exª hoje na Comissão de Assuntos Econômicos.

Em relação à comissão de sindicância, eu acredito muito nela agora, porque, na última reunião, para não ficar nesse jogo de empurra - eu sou uma figura antagônica ao jogo de empurra -, eu fiz uma pergunta. Toda vez aqui o próprio Presidente Sarney dizia “investigação completa, com a presença do Ministério Público, do Tribunal de Contas da União”, eu ficava querendo saber que raio de homem do Ministério Público era esse que não falava nada. E até brinquei com o pessoal: será que mandaram um mudo para cá? Mandaram para cá um surdo-mudo que não fala nada? Aí, lá na última reunião da Mesa a que eu estava presente, eu perguntei: diga-me o nome, alguém sabe o nome desse moço do Ministério Público? Aí um olhou para o outro, ninguém sabia, ninguém sabia. Não sabia por uma razão simples: porque não existia, porque não havia sido enviado para cá o representante do Ministério Público.

Então, a primeira parte da sindicância transcorreu conforme o método “agacieliano”, ou seja, transcorreu dizendo assim: vamos tocar que, depois, a gente inocenta quem puder inocentar, dá uma pena mínima para quem a gente não puder inocentar completamente.

Agora, disse-me o próprio Presidente Sarney outro dia que já tem o nome do tal representante do Ministério Público, que agora ele vai ter que se manifestar. Ele é que vai dizer da necessidade, por exemplo, de se ter a Polícia Federal investigando. E eu entendo que é necessário se ter a Polícia Federal investigando.

É a mesma coisa o Tribunal de Contas da União. Esse tempo todo que funcionou a comissão, numa primeira etapa dela, não havia, Senador Nery, a figura do Tribunal de Contas da União; não havia. Eu digo: então vamos agora providenciar esse nome. Já tinha um nome lá, esse nome já estava mais adiantado. Já tem um nome, já vai se agregar, já estaria agregado. Então, começa, sim, a ganhar credibilidade a comissão de sindicância, porque este Senado não tem alternativa a não ser se investigar e se purgar. E mais: dando exemplo para os demais Poderes.

E não vamos também acreditar que os demais Poderes são uma beleza, uma pureza, algo tão branco no sentido de puro. Uma vez, eu fui até repreendido por essa coisa politicamente incorreta, por um colega meu Deputado pelo PDT do Rio de Janeiro, já falecido. Esqueço o nome dele agora. Ele me disse: “Por que se diz branco para significar claro? Não há preconceito nisso aí?”. Eu lhe disse: “Meu avô era negro, não tenho nada a ver com racismo, enfim”. Mas criou-se, talvez até pela dominação econômica dos brancos ao longo de tanto tempo, essa ideia de que “quero tudo no branco”. Mas tem algo que não é racista, vamos dizer então uma coisa melhor: quero tudo preto no branco. Enfim, tudo bem claro.

O fato é que nós estamos diante de uma realidade, que, comparada com os outros Poderes, talvez seja aquele Poder que está avançando mais, os outros estão fechados. Fechados e não se sabe que caixas-pretas eles contêm. Nós estamos aqui abertos, até porque escancarados para a imprensa e podendo travar debates dessa sorte, debates desse tipo.

Eu disse, V. Exª deve ter prestado atenção, se prestou, deu-me muita honra, que não me arrependo do voto que dei no Senador Tião Viana. Daria de novo. Não me arrependo da defesa que fiz da sua candidatura. Faria de novo. Lutei por ele e ajudei muito a transformar a opinião da minha bancada, que era pró-Sarney àquela altura. Agora, digo a V. Exª que, se Tião Viana tivesse vencido - V. Exª é um político experimentadíssimo e certamente concordará comigo -, ele não iria transformar o Senado tão profundamente quanto o Senado será transformado agora, quer queiramos ou não queiramos, porque é um processo que ganhou uma velocidade, ganhou uma força que ninguém segura.

Ou seja, ele faria alguma coisa: ele tiraria Agaciel e o jogaria para uma diretoria menor, tiraria Zoghbi e o jogaria para uma diretoria menor. Haveria um inquérito aqui, um inquérito acolá, mas, no fundo, no fundo, aconteceria um pouco a impossibilidade de ele fazer todas as mudanças que ele haveria de gostar de fazê-las por que haveria influência externa, o Palácio ia entrar em ação: “Não rompa com a nossa base!”. Haveria isso aí e não sei mais o quê. Ou seja, as alterações seriam menores.

Portanto, este é um momento histórico que estamos vivendo, é uma grande oportunidade. É o sentido grego da palavra crise: obstáculo e oportunidade. É uma oportunidade de mudarmos profundamente, até porque não temos alternativa: ou perecemos como instituição, ou mudamos radical e profundamente o Senado. É um absurdo que estejamos, até esta hora, discutindo e debatendo os efeitos de propaganda difamatória que chantagistas fazem, juntado-se a outros chantagistas e apoiados por pessoas que, se estão lá, são pessoas chantagistas também, com mandato ou sem mandato, todos eles merecendo punição, merecendo repúdio da opinião pública.

Agradeço a V. Exª, sobretudo, pela última frase: vamos investigar e vamos punir. É ilusão imaginarmos que não há o que punir aqui. Seria baile da ilha fiscal, os nobres não percebendo que Marechal Deodoro estava com as tropas já nas ruas e que, ainda na ressaca do baile da ilha fiscal, havia um novo sistema político implantado no Brasil.

Agradeço a V. Exª e quero, na verdade, aqui trazer a V. Exª minha admiração de sempre e meu carinho.

Concedo um aparte ao Senador Nery e, em seguida, ao Senador Gilberto Goellner.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senador e Líder Arthur Virgílio, estou chegando, neste momento, do Estado do Pará, exatamente da região sul, vindo de Marabá, de Parauapebas, de Curionópolis. Em Parauapebas, participei da abertura do 2º Encontro Paraense de Geografia. Hoje cedo, estive em Curionópolis, Município onde está o garimpo de Serra Pelada. Pude perceber, com quem falei, a exigência de parcela da população para, entre outras coisas - lutam pelo atendimento de várias reivindicações -, mudar o nome do Município, que é uma homenagem indevida ao Major Curió, carrasco da guerrilha do Araguaia. Esses dias, andou contando pelos jornais as atrocidades que fez com aqueles que queriam um novo tipo de sociedade para o Brasil, que queriam um novo regime para o Brasil, e, com certeza, não era o regime da corrupção e da safadeza, que, infelizmente, está instaurado em várias instituições. Cheguei há pouco. Não tive a oportunidade de ouvir todo o pronunciamento de V. Exª nem de ler as matérias que circularam, no fim de semana, em algumas revistas, dando conta, mais uma vez, de histórias, fatos ou invenções, criações dessa verdadeira quadrilha que se instalou no Congresso Nacional, comandada pelo Sr. Agaciel, com Zoghbi e com outros asseclas. Acredito que há outros envolvidos. Sem dúvida, não pude...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com mandato, inclusive.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Com mandato, inclusive. Exato.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estou batendo nessa tecla há um tempão.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Exato. Inclusive, eu já disse também aqui, Senador Virgílio, que muitos desses crimes que foram aqui cometidos não ocorreriam sem a chancela, sem o apoio de membros da Mesa Diretora nesse período todo de quatorze anos em que Agaciel reinou absoluto aqui, no Senado Federal. Quero dizer, primeiro, que V. Exª conta com a solidariedade de vários de seus pares, como tem contado aqui em vários momentos de luta, de disputa, de busca de coisas que possam melhorar este País. Nesse caso específico, Senador Arthur Virgílio, V. Exª anunciou, no seu pronunciamento, dezoito denúncias envolvendo o Presidente Sarney e pediu providências. Como V. Exª anunciou, levará essas denúncias ao Conselho de Ética. Como o Conselho de Ética tem um procedimento regimental um pouco rígido para receber denúncia quando o Senador a faz individualmente - creio até que precisamos mudar esse dispositivo constitucional; na verdade, não é só regimental, é constitucional -, sugiro a V. Exª que leve sua denúncia não só ao Conselho de Ética, mas também à Corregedoria da Casa, ao Senador Romeu Tuma, a quem cabe também, por denúncia de Senador, apurar graves delitos ou mesmo conduta ética inadequada no exercício do cargo de Senador. É uma sugestão que faço a V. Exª. Assim, atacamos em duas frentes, pois, de acordo com o rigor do Regimento e da disposição constitucional, o partido é que deve fazer a representação. Mas eu queria, ainda nesse particular, dizer a V. Exª e comunicar ao plenário e ao País que nosso Partido, Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), desde a última quinta-feira, discute, elabora, trabalha uma representação com base em todos os fatos de que o Brasil e todos nós temos conhecimento e que, de alguma forma, a nosso ver, envolvem, direta ou indiretamente, o Presidente desta Casa, Senador José Sarney. Então, o PSOL anuncia, Sr. Presidente e Senador Arthur Virgílio, que, amanhã, ao meio-dia, fará uma representação à Mesa da Casa, que, depois, seguirá para o Conselho de Ética, sobre todos os fatos que envolvem a prática ou a influência para a nomeação de parentes em vários gabinetes; que envolvem o uso indevido da verba para moradia, o auxílio-moradia; que envolvem contratos consignados envolvendo o neto do Presidente do Senado; que envolvem os atos secretos, que vêm sendo adotados desde 1995, período em que Agaciel foi nomeado Diretor-Geral do Senado, no primeiro mandato do Presidente Sarney. Esses atos foram criminosamente ocultados, e tenho certeza de que muitos deles acabaram envolvendo indevidamente vários Senadores. Certamente, muitos Senadores jamais tiveram conhecimento de que tinham usado seu nome para nomearem alguém no gabinete, como aquela denúncia que o Senador Demóstenes Torres aqui apresentou. Se isso foi feito com cargos vagos no gabinete do Senador Demóstenes, foi feito também em cargos de outros Srs. Parlamentares, muito provavelmente. Portanto, a questão é muito grave. Antes de nós, do PSOL, propormos, Senador Virgílio, essa representação, eu, particularmente, enderecei uma correspondência ao Senador Sarney, pedindo, há duas semanas, a providência da criação de uma comissão especial de investigação para apurar todos esses fatos e a suspensão temporária de todos os envolvidos, dos diretores e dos funcionários envolvidos, para que se pudesse produzir uma investigação sobre todos esses fatos que abalam o Senado, que abalam cada um de nós. Aqui, ninguém está satisfeito de ficar, por duas, três, quatro ou cinco semanas, discutindo questões que seriam plenamente resolvidas se houvesse maior determinação para investigar ou punir exemplarmente todos os envolvidos, fossem eles servidores, fossem Senadores.Diante desse quadro, a não criação da comissão especial de investigação, proposta formalmente à Mesa... A Mesa nem sequer se deu ao trabalho de analisar aquela proposta. Sugeri que fosse composta por um Senador de cada partido e ainda presidida pelo Presidente Sarney, tal era a nossa vontade de que a questão fosse tomada por nós como uma tarefa prioritária do conjunto do Senado, já que o Presidente Sarney disse, dessa tribuna, que a crise não era dele e nem era da Mesa; a crise era do Senado. Pois, se a crise é do Senado, vamos nós, conjuntamente, buscar os meios para equacioná-la, para enfrentá-la, para resolvê-la. Não foi isso que aconteceu. Diante da negativa da instalação de uma comissão especial de investigação, tomamos duas atitudes, Senador Arthur Virgílio. A primeira: apresentei aqui, na semana passada, um requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar os contratos terceirizados de pessoal e de prestação de serviços, os contratos dos empréstimos consignados - esse, inclusive, que envolve o neto do Presidente Sarney - e também para a investigação sobre todos os atos secretos ou atos não publicados e seus responsáveis. Alguns, Senador Virgílio, têm me dito que a proposta de uma CPI para investigar o Senado é uma loucura, é algo que nunca se viu e que não se deve fazer. Mas estou convencido de que, diante da gravidade dos fatos, sabendo que comissão de sindicância não tem poder para quebrar sigilo fiscal, bancário e telefônico dos envolvidos para apurar em profundidade e chegar a conclusões decisivas e determinantes sobre as responsabilidades por todos os desmandos, por todos os crimes que foram perpetrados durante tanto tempo neste Senado Federal, acredito que deveríamos nos colocar diante do País e dizer que nós reconhecemos a gravidade desses fatos todos e tiraremos aqui 60 dias, 40 dias para uma investigação profunda em toda a sua extensão, que possa ser feita para que possamos ter a condição de passar a limpo todas essas denúncias, todos esses fatos e, assim, contribuir para essa limpeza ampla, geral e irrestrita, essa verdadeira faxina administrativa e ética por que o Senado precisa passar. Portanto, as nossas sugestões vão também, agora, no sentido da apresentação de uma representação assinada pela Presidente nacional do PSOL, Senadora Heloísa Helena, que amanhã estará aqui em Brasília para, junto com a bancada federal, com os senhores Parlamentares que assim desejarem, amanhã, ao meio-dia, protocolarmos na Mesa Diretora, na Secretaria-Geral, o pedido de investigação por atos que, a meu ver, ferem a ética e o decoro parlamentar, representação para que sejam apuradas as responsabilidades do Presidente Sarney em todos esses fatos, ao longo de todo esse período, nos últimos 14 anos, em que ele teve aqui o seu diretor Agaciel Maia. Por sinal, não sei se V. Exª se lembra, no dia em que o Agaciel foi demitido, o Presidente Sarney fez um discurso bastante elogioso lamentando que um servidor com tantos serviços prestados ao Senado e ao País tivesse que, por conta de uma denúncia infundada de uma mansão de cinco milhões de reais que não estava na sua declaração de Imposto de Renda - V. Exª lembra que houve um lamentar pela saída do Agaciel...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se fossem ao menos cinco milhões e duzentos... Mas “só” cinco milhões!

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Cinco milhões, tão redondinhos assim...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É pouco.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Exato. Então, Senador Arthur Virgílio, creio que o caminho da representação talvez... V. Exª, de forma muito coerente, está apresentando, mas eu gostaria que V. Exª examinasse juntamente com a bancada do PSDB, que V. Exª lidera nesta Casa, junto ao Presidente Sérgio Guerra, para que essa denúncia tão bem formulada - eu me informei de que V. Exª apresenta 18 fatos contundentes, claros, que devem ser objeto dessa investigação -, que o PSDB também pudesse fazer não apenas como V. Exª está fazendo, a iniciativa de V. Exª, de fazer a denúncia enquanto parlamentar, assumindo, com toda a autoridade que tem. Sugeriria que essa questão fosse discutida no conjunto da bancada do Partido para que, tal qual fará o PSOL amanhã, o PSDB pudesse fazer também a representação, porque a meu ver isso fortaleceria esse pedido de investigação, que inclusive poderia ser subscrito... Inclusive, eu também queria dizer a V. Exª e aos demais colegas do plenário que essa representação pode ser subscrita por outros Partidos que tenham interesse igualmente, como temos, de fazer a investigação e a apuração de todas as responsabilidades: uma no âmbito da CPI; outra no âmbito do Conselho de Ética, que é mais direcionado para as responsabilidades específicas do Presidente da Casa. Queria também de público - já tinha conversado com o senhor, mas não chegamos a uma conclusão, foi muito inicial a nossa conversa a respeito da CPI - pedir a V. Exª uma reflexão e um apoio e a possibilidade de trabalharmos juntos, aqui com todas as bancadas lideradas por V. Exª, no sentido de que possamos fazer aqui a verdadeira investigação. A Câmara o fez há alguns anos - e o senhor me parece que ainda estava na Câmara -, e investigou os chamados Anões do Orçamento e mandou para casa mais de uma dezena de Parlamentares. Creio que chegou a hora de o Senado ter uma posição muito firme, decidida, e não é para agravar a crise. Pelo contrário, é para fazer da crise uma possibilidade real de mudanças, de transformações, de retomada da atividade do Senado em outro patamar. Creio que essa é a tarefa que a realidade, que os fatos pedem a cada um de nós. Quero dizer a V. Exª que estamos solidários com a sua indignação, com a sua firmeza, com a sua cobrança, com a sua busca da verdade e da justiça, mas queria ponderar a V. Exª: vamos trabalhar pelo convencimento coletivo para que possamos aqui fazer uma CPI não apenas com a adesão de 28 Senadores, mas vamos trabalhar para que os 81 Senadores assim se pronunciem para dizer: nós reconhecemos os fatos que aqui existem e vamos fazer a investigação pela qual a história ficará sempre marcada pela atitude de coragem, firmeza, de querer fazer o reencontro desta Casa Legislativa com os anseios de ética e de honestidade que o País espera de todos nós. Parabéns a V. Exª pela determinação, pela firmeza.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Com licença. Senador Arthur Virgílio, eu gostaria de ouvi-lo... Rui Barbosa fez um discurso de quatro horas...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Há mais dois aparteantes.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Sim, mas espere. Rui Barbosa fez. Sei que V. Exª revive Rui Barbosa aqui. A quatro horas estamos chegando...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já estou há cinco.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Não, na tribuna não. Há três horas e dez minutos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sr. Presidente, a sensação é de cinco.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Mas a sensibilidade de V. Exª é do tamanho da competência e da grandeza da oratória.

Há três oradores inscritos, que pacientemente...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se eu pudesse conceder rápidos apartes aos dois...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pode, mas eu queria a sensibilidade de V. Exª, porque há três inscritos.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Serei bastante breve, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - O Senador Mozarildo, pacientemente, o Senador Eduardo Suplicy e o próprio Cristovam...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O Senador Goellner e o Senador Cristovam são os aparteantes.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senador Arthur Virgílio, é o seguinte: quero dizer que eu não havia encerrado. O Presidente Mão Santa interveio quando eu ainda estava falando. Eu só gostaria de saber...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Não. Eu deixei V. Exª, educadamente, que disse “vou terminar”, abusivamente, o aparte. Deixei...

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Não, eu não falei isso, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Deixei...

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Eu não falei, Sr. Presidente. Eu queria fazer uma pergunta a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Pode fazer todas as perguntas que V. Exª pretender.

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Se, durante o pronunciamento do Senador Arthur Virgílio, o senhor já havia interrompido algum aparteante como o senhor está fazendo agora comigo.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Por aí V. Exª vê a sensibilidade que nós temos. O tempo se prolonga mais de três horas e eu, mesmo ali, também num pronunciamento do meu interesse, do Piauí e da Pátria, o Senador, pela intimidade, mandou um bilhetinho de que queria usar e eu abreviei.

O nosso jogo é aberto. Nós queremos é uma CPI, não como você está pedindo, para o Congresso, não, é na minha vida, na minha cidade...

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Mas não precisa, a vida do senhor não precisa de CPI nenhuma. Não é papel.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Nós estamos aqui representando a Presidência, com toda grandeza e cumprindo uma lei.

Com a palavra, o Senador Arthur Virgílio.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Antes de conceder um aparte ao Senador Gilberto Goellner, respondo a V. Exª de maneira telegráfica. Senador Nery, o seu aparte me...

O Sr. José Nery (PSOL - PA) - Senador Arthur Virgílio, não queria ser indelicado com o senhor. Peço vinte segundos, só para registrar, Senador Mão Santa, que preside a sessão neste momento. Sou parlamentar que aqui ouço com atenção os pronunciamentos que são feitos com dez, com trinta minutos, com duas, com três horas, mas sempre que se faz um pronunciamento com uma questão que pode, de certa forma, incomodar, acaba havendo sempre um zelo muito grande pelo tempo, o que não se observa em geral e que é motivo de muita reclamação minha nesta tribuna pelo tratamento não isonômico do tempo. É só para reclamar esta questão e para que fique claro aqui, perante todos, essa distinção de como as coisas são tratadas aqui. Mas agradeço muito a V. Exª por ter-me concedido um aparte e saiba que estaremos nessa batalha pela moralização do Senado. Precisamos fazer aqui um verdadeiro mutirão. E, nesse mutirão, V. Exª tem o papel de liderança. Muito obrigado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador José Nery.

De maneira telegráfica respondo a V. Exª. Cabia a mim fazer a denúncia, porque a representação é própria de um partido. Então, fiz a denúncia com base no Regimento Interno e no Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado, nos termos do art. 17 da Resolução nº 20, de 2003.

Em relação à representação, exporei amanhã na reunião da Bancada a sugestão de que o Partido, como um todo, e a Executiva também estude essa hipótese, porque creio que ela é justa; fazermos a investigação profunda enquanto partido, sim. E creio que esse acabará sendo o caminho.

Em relação à CPI, vou igualmente discutir, e amanhã direi isso aos meus colegas. Eles serão livres para definir como bem queiram, mas, ao contrário de outras vezes em que, vencido no voto, segui a maioria, não há quem me impeça de assinar a CPI amanhã. Pessoalmente assinarei, em qualquer circunstância. Amanhã V. Exª terá minha assinatura.

Muito obrigado.

Senador Gilberto Gollner.

O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - Senador Arthur Virgílio, olhando a revista, os assuntos que ocorreram no final de semana, a gente nota o seguinte: o senhor encontrou realmente, na hora certa, uma pessoa errada. O senhor procurou se servir e encontrou uma pessoa errada.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu não procurei, não. Não procurei, não. Pedi socorro a um amigo meu para que ele visse com a esposa dele, que era do Banco do Brasil, como resolver uma situação vexatória para minha família, e ele recorreu a essa pessoa que sempre achei errada. É uma pessoa que se desnudou.

O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - O que eu gostaria de ressaltar ao público que vê a TV Senado é que estamos, realmente, acuados por essas afirmações dos próprios diretores que passaram por este Senado, mas, na realidade, precisamos propalar à Nação, Senador Arthur Virgílio, todos os trabalhos positivos que o Senado tem feito. Eu, há um ano e cinco meses, aqui no Senado, substituindo o grande Senador Jonas Pinheiro, do Estado de Mato Grosso, sinto-me, hoje, orgulhoso do trabalho que estamos desempenhando aqui - eu, pessoalmente, os senhores, todos. Eu cito, por exemplo, uma medida provisória que foi muito discutida antes de vir ao Senado: a regularização fundiária da Amazônia. Vamos citar só essa. Olhe as consequências e as vantagens que terá a Nação brasileira, para a conservação de toda a flora da Amazônia, regularizando essas áreas, algo tão esperado por toda uma população. Discutimos isso muito com vários Ministros e ela chegou. Nós a votamos e ela foi aprovada. Eu até tenho como exemplo um amigo em comum que nós temos, que é sócio de uma área imensa, vasta, e que está toda conservada, do Grupo Aplub, de Porto Alegre. Nosso amigo em comum, que administrou e conservou essa área durante um tempo, é o Sr. Dorival Melo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Meu grande amigo, de fato.

O Sr. Gilberto Goellner (DEM - MT) - São exemplos, eu diria, porque até eles tiveram dificuldade para regularizar as áreas, áreas grandes. Para conservar uma área na Amazônia, hoje, é difícil. Você precisa... Você tem dificuldade, meio de locomoção é difícil! Então, nós precisamos propalar, Senador Arthur Virgílio, todos os trabalhos positivos, as leis que são aprovadas, todos os trabalhos que são realizados por cada Senador desta Casa. É isso o que nós precisamos. Realmente, nós temos de dar um basta. Se nós ficarmos, aqui, discutindo todas as acusações, esse lamaçal de acusações que está sendo feito, nós vamos passar o ano assim. Nós precisamos, realmente... Eu vejo que nós temos muito o que fazer, ainda, até final do ano e até o final de nossos mandatos. Agora, não podemos mais discutir assuntos administrativos - essa é a minha opinião - aqui dentro, no nosso horário nobre, porque nós estamos passando uma imagem para a Nação de que cada um, agora, vai precisar se defender. Eu acho que isso aí... Chegou a hora de botar uma pedra em cima disso, colocar o Ministério Público, a Polícia Federal, colocar, como já existe, a intenção de se fazer e chegar à administração, ao final do trabalho, e daí mostrar à Nação. Mas essa é uma opinião. Eu desejo que a gente comece a meditar sobre esse envolvimento nosso no dia a dia do Senado.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - É uma opinião respeitável.

Muito obrigado, Senador Gilberto. V. Exª é um notável defensor do agronegócio nesta Casa, além de ser um estimado amigo e companheiro de Oposição.

Eu tenho a fórmula muito correta para isso. V. Exª disse bem, ou seja, por que não tem, ainda, a Polícia Federal? Porque o Presidente Sarney envidava todos os esforços para não ver as coisas aclaradas. Por que não tem o Ministério Público? Falavam, falavam, falavam e só agora... Eu perguntei, outro dia: “Quem é o homem do Ministério Público?” Não sabiam o nome. Era uma figura que... Eu digo: “Mandaram algum surdo-mudo para cá?” Porque não tem! Agora que parece que vem, ou já está, não sei.

A fórmula é demitir Agaciel, é demitir Zoghbi, demitir quem mais seja assecla deles, ver se tem Parlamentares de quaisquer Partidos envolvidos com essas maracutaias todas, botar todos para fora, e nós purificarmos a Casa com atitudes muito concretas.

Imagino que V. Exª ficaria igualmente indignado se atingido na honra que V. Exª tem, como eu tenho a minha e prezo a minha. Imagine se eu vou aceitar que essa molecagem passe em branco. Reúnem meia dúzia de maquiáveis de beira de estrada para dizer que a solução é me difamar, porque eu não calei e nem vou calar. Isso até me excita. Vai ser pior, ou seja, eu aventei as hipóteses no começo.

Eu digo: isso aí é para me intimidar? A mim? Eles sabem que eu não sou esse tipo. É para me punir? Meu Deus, meu Deus, eles vão ver quem é que vai ser punido no final. É para intimidar terceiros? Sim, eles querem intimidar terceiros. É para vulgarizar, dar a impressão de que todo mundo é igual? Também. Seria um acordão, tipo assim: eu não falo nada agora, mando um emissário, o emissário conversa com eles, enfim, ele desmente, diz que não disse nada daquilo, enfim, e eu, também, nada, eu também passaria a falar genericamente sobre as coisas?

Acontece que eles tocaram num ponto fundamental para mim e isto, para mim e para a minha família, é ponto de honra mesmo: a nossa honra. É assim. Veio do meu avô, veio do meu pai, veio para mim e passo para os meus filhos. Nós temos essa noção. Então, tocar nesse ponto aí é mexer em casa de marimbondo mesmo, mexer em casa de marimbondo, porque não fazemos questão de... Se eu pretendesse enriquecimento, ele seria lícito e seria fora, seria na iniciativa privada.

Eu escolhi por dedicação integral à vida pública, escolhi por dedicação apaixonada à vida pública. Eu não saberia ficar nela se não fosse movido pelo sentimento da paixão. Então, não vai ser um mequetrefe desse tipo, nem vão ser os mequetrefes que o protegem, nem vai ser a falta de liderança do Presidente Sarney, não vai ser quem quer que seja que vai ousar tentar tisnar a honradez de uma pessoa como eu! Antes, eles todos juntos, abraçados, ruam, ruam no sentido de ruir, porque pode ser rua no sentido de rua do Senado, daqui para fora, sem brincar, imaginar que eu ia ficar fingindo que não estava ouvindo, enfim.

Eu tenho reclamado, sim, da timidez de alguns colegas. Todo mundo assim, meio: “O próximo sou eu, o próximo sou eu, enfim”. Comigo é o contrário, comigo é o contrário. É o urso que está na sua toca, hibernando, e de repente vem um rato, porque essa gente é rata, mexer com o urso. Quer que o urso faça o quê? Quer que o urso faça o quê?

Então, eu não tenho a menor condição de deixar passar uma coisa dessas em branco, e estou pronto. Já falei da revista com toda a clareza. Tem gente que morre de medo de falar de órgão de imprensa, enfim. Estou dizendo que não é revista de qualidade, disse quem é a IstoÉ, contei 500 exemplos de onde ela vendeu uma matéria, enfim. Já disse tudo. Estou pronto para duas coisas apenas, não para muitas, para duas coisas: a primeira é para o que der e a segunda para o que vier. Apenas isso. Para as outras, eu não estou; para essas duas, eu estou.

Concordo com V. Exª: é botar essa gente para fora, é resolver esse drama criado por esses espertalhões que pensavam que o Senado era valhacouto de criminosos. E o Senado não é, é a Casa do povo, é a Casa dos Estados. Feito isso, poderemos nos dedicar a votar matérias como essa matéria relevante, em que votei 98% com V. Exª e 2% com a Senadora Marina, por convicção pessoal, por razões da minha terra, por convicções minhas, pessoais. Outras matérias têm sido votadas aqui. Outro dia, passamos a limpo praticamente a pauta inteira.

Mas o fato é que nós temos um meliante que, apaniguado por outros tantos meliantes - porque sozinho ele não faria isso tudo -, está paralisando o Senado. Estamos, aqui, discutindo um sujeito cretino, que tinha um bunker aqui, sabe-se lá fazendo o quê. O Presidente Garibaldi não devia saber que ele tinha um bunker aqui - eu não sabia -, um lugar de que só ele tinha a chave, como se fosse haver um bombardeio. Ele precisa receber um bombardeio mesmo, um bombardeio de ética, um bombardeio de seriedade, um bombardeio de decência. Tem de se jogar tudo que é panzer divisions em cima dessa catedral de corrupção que eles esculpiram aqui, no palácio do Senado Federal.

Portanto, estou louco para sair dessa agenda, mas não vou sair dessa agenda porque inventaram coisas contra mim, porque difamadores profissionais de quinta categoria, do estilo de Egberto Batista, com esse negocista chamado Gilberto Miranda Batista, imaginam que podem calar uma pessoa como eu. Os dois são burros, porque estão cansados de apanhar de mim no Amazonas e acham que vão, agora, me calar. Revelam que, além da desonestidade atávica neles, são burros, porque não sabem a que ponto vai a minha altivez, a que ponto vai a minha determinação.

Portanto, agradeço a V. Exª o aparte, a solidariedade. Estou louco para sair desse tema, louco para sair desse tema, mas esse tema só sai quando quem apodreceu o Senado sair junto.

Muito obrigado, Sr. Senador.

O Senador Cristovam Buarque, eu tenho a impressão, desistiu do aparte. Não está, neste momento, presente. Foi embora. Teria sido uma honra.

Presidente Mão Santa, eu quero dizer a V. Exª que agradeço a condescendência da Mesa. Obviamente, é uma coisa excepcional, porque eu não poderia deixar de responder, ponto por ponto, essas aleivosias todas, enfim. E digo a V. Exª que bateram na porta errada, literalmente. Literalmente. Imaginar que tem alguma coisa que me silencie. Cortar a língua? Eu vou aprender mímica. Não há hipótese de eu me silenciar. Eu defendo o meu patrimônio único: que é honradez pessoal que herdei de meu pai. E este é um patrimônio que, não comparável a dinheiro, não mensurável com dinheiro, moralmente, me dá tanta autoridade moral quanto o patrimônio, em dinheiro, de um Bill Gates dá para ele. Não há hipótese de eu fazer qualquer acordo com quem compactua com isso. E o Presidente Sarney compactuou com isso.

Quinta-feira última, uma reunião de maquiavéis de beira de estrada resolveu que o caminho era esse: era partir para me difamar. Então, aqui eu estou. Aqui eu estou. Conseguiram o que queriam. Eu estou aqui, pronto, de cabeça erguida, para enfrentar duas coisas, não mais do que isto: o que der e o que vier. Agora, com a representação que entrego à Comissão de Ética da Casa, que precisa funcionar - esta Casa está se ridicularizando tanto que a Comissão de Ética não está instalada -, a entrego porque eu considero uma situação inusitada, mas necessária, nós termos a avaliação do nome de um Presidente dos trabalhos, do Presidente do Senado, do Congresso, numa Comissão de Ética. É algo inusitado, que, realmente, não me enche de alegria, mas é estado de necessidade. Nós não podemos deixar que toda essa fragilidade, todo esse patrimonialismo, todo esse abastardamento, toda essa cumplicidade, todo esse compadrio - tudo é possível, tudo é permitido -, que isso aí possa passar em branco, e não passa. Se é um Senador comum, vai; se é Presidente do Senado, vai também. Que se explique, se explique, porque todo brasileiro tem de se explicar. É a falta de explicação que tem gerado todo esse clima de descrédito em relação ao Senado. Agora, para cima de mim, não venham. Para cima de mim, não venham, porque terão sempre a resposta mais pronta e mais altiva que possam imaginar de alguém que tem consciência do que é o seu patrimônio moral.

Muito obrigado, Presidente Mão Santa.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/06/2009 - Página 27863