Discurso durante a 111ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Acredita que o Presidente Sarney não vá se licenciar ou pedir renuncia, em prejuízo do Senado, uma vez que em sua biografia vem sempre acumulando poder.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Acredita que o Presidente Sarney não vá se licenciar ou pedir renuncia, em prejuízo do Senado, uma vez que em sua biografia vem sempre acumulando poder.
Publicação
Publicação no DSF de 03/07/2009 - Página 29453
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • PREVISÃO, CONTINUAÇÃO, CRISE, SENADO, ANALISE, FALTA, DISPOSIÇÃO, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, PEDIDO, LICENÇA, PREJUIZO, IMPARCIALIDADE, REFORMA ADMINISTRATIVA, PUNIÇÃO, RESPONSAVEL, IRREGULARIDADE, APREENSÃO, FRUSTRAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, COMENTARIO, CONVENIENCIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANUTENÇÃO, SITUAÇÃO.

            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Serei bastante breve, Sr. Presidente. É algo que deverá estar decidido até amanhã, mas eu suponho que o Presidente Lula fará - talvez até já tenha feito e, amanhã, seja apenas a oficialização deste apelo - um apelo ao Presidente Sarney para que S. Exª não renuncie, não se licencie, nada disso.

         Por outro lado, quero aqui externar a minha opinião, jamais acreditei, por um minuto sequer, Senador Paim, que o Presidente Sarney fosse renunciar ou pedir licença. A renúncia não faz parte do dicionário do Senador Sarney. S. Exª, ao contrário, foi acumulando poder, inclusive em Estado que não o seu, depois de ter sido Presidente da República. Não acredito na figura da renúncia por parte dele. Acumular poder, sim.

         E, portanto, acredito que, docemente constrangido, o Senador Sarney dirá que fica. Agora, volto a dizer, não é bom para o Senado nem é bom para o Presidente Sarney, porque fica enfraquecido e sustentado artificialmente por partidos, a pedido do Presidente Lula, que sabem que até talvez não fosse - refiro-me, especificamente, ao PT - esse o desejo da maioria dos seus Senadores, algo assim como um lame duck, na linguagem política americana.

         O Presidente que tivesse que tocar - e eu vejo a boa vontade de membros da Mesa, como V. Exª, como tantos outros que estão aí - essas mudanças todas, ele teria que, primeiro, estar bem distante pessoalmente, afetivamente, politicamente dessas pessoas que infelicitaram o Senado. E não estou vendo que isso possa acontecer, não acredito, pessoalmente não acredito que o Presidente Sarney possa fazer mudanças profundas. E qualquer coisa que frustre a opinião pública, que signifique a não punição, a impunidade ou uma punição fajuta: suspensão de não sei quantos dias, enfim, para pessoas que chegaram a ter bunker aqui na Casa, para fazer sei lá o quê.

            Com toda essa boataria que enlameia o Senado, com essa central de infâmias, de calúnias, que tentam tornar reféns Senadores. E é uma coisa absurda que Senadores, porventura, possam se considerar reféns de quem quer que seja, com informações que, se divulgadas, devem ser enfrentadas, como as pessoas de honra, as pessoas de coragem moral devem fazer.

            Mas acredito que simplesmente o resultado final será a permanência do Presidente Sarney e o prolongamento dessa crise, porque vamos tocando no ritmo, através do qual o próprio Presidente Sarney vê o País. É o ritmo da conciliação eterna, o ritmo do deixa como está para ver como é que fica, o ritmo do não mudar a não ser cosmeticamente, o ritmo de não enfrentar as questões de maneira mais dura.

            Faço esse registro, porque - posso estar enganado, se estiver, vou ficar muito feliz - vejo que é da conveniência do Presidente Lula manter o Presidente Sarney. E vejo que não é da intenção do Presidente Sarney efetivamente se licenciar nem se afastar de cargo algum. Seria algo inédito na sua vida pública, porque sempre o vi acumulando poder.

            Aqui falamos muito do seu passado, enfim, do que seria sua biografia. É alguém que manda no Maranhão há 40 anos. Falamos da sua biografia, mas não vamos colocá-lo como herói da luta pela redemocratização, porque ele aderiu à redemocratização depois que meu pai foi cassado, depois que tantos de nós fomos presos, fomos espancados nas ruas, alguns espancados nos cárceres. Aderiu num momento em que foi um momento muito bom de aderir, no finalzinho, e foi bom para nós, para todos nós. E conduziu bem o processo democrático. Ele faria dois papéis de grande valia para o País: o primeiro, ele já fez - quero registrar isto - foi o de conduzir, com bastante habilidade, a transação democrática; o outro, seria se afastar do cargo, para que houvesse isenção e profundidade nas investigações de que esta Casa carece para, efetivamente, se limpar.

            Agradeço ao Senador Paim pela deferência e a V. Exª pela atenção de sempre, meu prezado amigo Senador Mão Santa, Presidente desta sessão.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/07/2009 - Página 29453