Discurso durante a 122ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Pedido de renúncia do Presidente José Sarney.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. SENADO.:
  • Pedido de renúncia do Presidente José Sarney.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2009 - Página 34316
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. SENADO.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, APARTE, WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA, SENADOR, RECONHECIMENTO, ORADOR, ATUAÇÃO, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, HISTORIA, REDEMOCRATIZAÇÃO, BRASIL, REITERAÇÃO, PEDIDO, RENUNCIA, PRESIDENTE, SENADO, PRESERVAÇÃO, BIOGRAFIA, MEMORIA NACIONAL, GRAVIDADE, CRISE, LEGISLATIVO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) Senador, eu quero me referir à fala do Senador Wellington para dizer que, por diversas vezes, eu tenho dito aqui da importância do papel histórico do Presidente Sarney na República.

            O SR. WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB - MG. Fora do microfone.) - V. Exª confirma então que ele fez todo aquele processo quando V. Exª era Secretário do...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Wellington, não é só isso; ele fez a regularização de todos os partidos, a liberdade, como nunca se teve neste País. Ele reatou relações com todos os países, enfrentando a resistência dos americanos. O Presidente Sarney não...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Wellington, art. 14 não tem aparte. Pela ordem, eu darei a palavra a V. Exª em seguida.

           O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Ele não interveio na Constituinte. Ele respeitou a autonomia das universidades, inclusive me nomeando - eu fui eleito - eleito! - pelos três segmentos. Ele me nomeou, e todos os outros reitores eleitos. Isso eu tenho dito e insistido. E, por isso, eu peço a renúncia dele, porque o papel histórico que tem o Presidente Sarney não merece passar por isso em que vocês o estão jogando. Na verdade, hoje, Senador Presidente, eu creio que nós podemos nos dividir aqui em dois grupos: aqueles que respeitam a figura histórica do Presidente da República, e aqueles que se aproveitam do Presidente do Senado.

            Escrevi isto, disse e está publicado: há diferença entre a figura histórica e a figura política; a biografia e a militância são duas coisas diferentes. Se o Presidente Sarney tivesse saído da Presidência, entregue a Presidência ao seu sucessor - eu não devo dizer o nome, para não ter direito ao art. 14, como ele não citou, em nenhum momento, o Senador Simon - e tivesse se recolhido como um velho estadista - não velho pela idade, mas velho pela experiência -, hoje ele seria um dos nomes a que este País recorreria cada vez que tivesse um grande problema. Mas não fez isso. E, ao fazer isto, ao dizer “não sou ex-Presidente; eu quero ser Senador”, ele colocou a biografia na gaveta para os historiadores futuros e nos liberou para tratá-lo como político.

            E é como político, Senador Wellington, respeitando a figura histórica dele pelo que ele fez... E vou mais longe: a História do Brasil tem poucas inflexões, e uma delas foi liderada pelo Presidente Sarney quando transformou um regime militar em um regime civil. Não só por ele; muitos de nós aqui participamos disso. Ele até veio no final, mas viabilizou e levou adiante, sem nenhuma transição do lado errado. Ele conseguiu fazer tudo certinho, salvo ser Presidente do Senado agora. Então, fico muito à vontade.

            Sobre ser chefe de gabinete do Ministro Fernando Lyra, eu e Fernando Lyra fomos escolhidos pelo Presidente Tancredo.

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG. Fora do microfone.) - ...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas ele confirmou. Claro, estou reconhecendo tudo. Wellington, estou reconhecendo tudo.

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG. Fora do microfone.) - O Presidente era o Presidente Sarney.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Estou reconhecendo tudo. Só estou lembrando tudo. O senhor só lembrou uma parte. Ele cumpriu tudo. Para uma coisa, ele me nomeou da cabeça dele - e o senhor talvez nem saiba: ele me nomeou membro da Comissão Afonso Arinos, para escrever a Constituição deste País.

            Reconheço tudo, e é por isso que acho que a gente deveria proteger a figura histórica dele. É por isso que acho que os livros de história do futuro não precisavam citar o que ele está passando hoje, inclusive a devassa na vida dele. Ele poderia estar livre disso hoje. E creio que os amigos dele deveriam lembrá-lo de que a história fica muito mais tempo do que os mandatos. Ele pode até terminar o mandato dele, às custas de um Senado funcionando dessa maneira e da sua vida sendo cada vez mais pesquisada e se descobrindo mais coisas, mas, mesmo assim, termina daqui a um ano e meio. A história daqui a um século, dois séculos, vai estar escrita.

            Por isso, fico contente, Senador Pedro Simon, quando ouvi o Senador que me antecedeu, como ele disse, ter mantido tudo o que disse contra o senhor. Fico contente, sabe por quê? Porque, daqui a 50 anos, quando forem ler, vão ver quem vai ficar melhor na história: se o senhor, que dali disse tudo aquilo; ou se um ex-Presidente da República, que mandou “engolir”, em vez de dizer : “Fale, fale, fale”.

            Então, Senador, o senhor falou pouco sobre a importância do Presidente da República José Sarney. Isso eu não tiro! E tenho dito sempre e escrito! Por isso mesmo, acho que ele merece um lugar tão bom na história deste País que não merecia estar passando por isso, que, em grande parte, é por pressões de aliados dele. Pessoas que estão mais interessadas em tirar proveito da Presidência dele no Senado do que manter o respeito a ele na História.

            Faço parte daqueles que respeitam a figura histórica do Presidente Sarney. Por isso...

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Vou terminar. Por isso defendi a simples licença dele, há algum tempo: para proteger a figura histórica.

            Hoje, acho que não dá mais para ser apenas a licença, até pelos imbróglios que demonstram uma coisa positiva do Sarney, comparado hoje ao imbróglio de o Presidente Lula estar se intrometendo aqui: o Presidente Sarney nunca se intrometeu aqui, nunca se intrometeu na Constituinte. Mas isso é passado. E ele quis continuar na política. Se quis continuar, ele tem que nos enfrentar politicamente, e não com a fatura do seu passado. A fatura do seu passado de Presidente da República - estou olhando o lado positivo - os historiadores vão analisar.

            Hoje aqui, a gente está analisando o presente, o passivo deste momento dele na política, e não na história que ele fez na Presidência da República.


Modelo1 6/25/2410:31



Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2009 - Página 34316