Discurso durante a 125ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Manifestação ao pronunciamento do Senador José Sarney, durante a sessão de ontem.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Manifestação ao pronunciamento do Senador José Sarney, durante a sessão de ontem.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/2009 - Página 34756
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • CRITICA, CONDUTA, DESRESPEITO, SENADOR, PREJUIZO, DEBATE, ESCLARECIMENTOS, AUSENCIA, REALIZAÇÃO, REUNIÃO, GABINETE, ORADOR, OPOSIÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, LEITURA, DOCUMENTO, ASSINATURA, GRUPO, CONGRESSISTA, SUGESTÃO, AFASTAMENTO, RESPONSAVEL, PRESIDENCIA, PERIODO, APURAÇÃO, DENUNCIA, IRREGULARIDADE, ADMINISTRAÇÃO, GARANTIA, EFICACIA, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO DE ETICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


      O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Para uma explicação pessoal. Sem revisão do orador.) - Presidente Sarney, eu o chamo aqui Presidente da República. Eu o trato aqui como o Presidente da República. O Presidente, um dos poucos, na história deste País, que teve a chance de fazer uma inflexão na história, de mudar o rumo. O Presidente da Constituinte, do fim da censura, da tolerância; o Presidente que conseguiu fazer com que esse processo acontecesse.

            Eu quero dizer, Presidente, que, quando eu o vi ontem naquela tribuna, eu fiquei triste, porque o senhor é maior do que aquela tribuna. Aquela tribuna é para nós, ex-Governadores, ex-Prefeitos, ex-Deputados, alguém que teve apenas 2,5% de votos para a Presidência, como eu. Não é a tribuna para um ex-Presidente que teve a chance, a competência e a seriedade de fazer aqueles cinco anos.

            Eu fiquei triste. Fiquei triste também, não nego, com o seu discurso, porque a sua oratória, a sua capacidade de comunicação, que eu vi aqui, de maneira muito especial, no dia da eleição contra o Senador Tião, em que o senhor se impôs de uma maneira brilhante, eu não vi esse discurso.

            Mas eu gostei do final. Eu gostei, quando o senhor, no final, disse que queria a paz, que queria ser o Presidente da paz no Senado. Essa foi a parte, Senador, que me tocou.

            Mas o senhor está vendo, pelo dia de hoje - o dia seguinte ao seu discurso em que propôs a paz - que essa paz ficou impossível, Senador. Eu não vejo como, sinceramente, com toda a sua experiência, competência e respeitabilidade, vai conseguir trazer a paz a um Senado onde uma tropa de choque tomou de assalto o funcionamento da Casa.

            E essa é a realidade. Nós estamos com a tropa de choque mais truculenta do que até os militares, que até, de vez em quando, podiam prender, mas não desrespeitavam, como a gente ouviu certos desrespeitos aqui, nesses últimos dias. Desrespeito, pedindo que Senador engula o que diz, ou até pior, dizendo que o Senador vá para aquele lugar. Falta de respeito, como há pouco, com o Senador Jereissati. Essa tropa de choque, a meu ver, não vai permitir a paz com o senhor na Presidência.

            Todas as acusações contra o Senador Arthur Virgílio - não sou eu aqui que venho defendê-lo - ele vai se defender; ele tem se defendido, inclusive, de uma maneira rara, assumindo a culpa, pedindo desculpas e pagando pelo pecado. Mas isso é uma questão que ele vai fazer com a competência dele. 

            O que eu lamento é que a maneira como estão fazendo não é para zelar pela ética. Que o Senador Arthur Virgílio possa ter pecado. A maneira que estão fazendo não é para zelar pela honestidade, pela truculência, pelo gesto do Senador Arthur Virgílio nas últimas semanas aqui.

            Essa truculência, Senador Sarney, não me parece ser aquela que melhor casa com sua figura. Quando vejo pela televisão o senhor saindo daqui, rodeado dessa tropa de choque, pergunto-me: “Será que o Senador Sarney tem com esse pessoal um diálogo sobre o que é história e o que é política?” “Será que esse pessoal assessora o Senador Sarney sobre o papel dele na história e o papel dele na política de hoje?” “Ou será” - e aí é que eu penso - “que esse pessoal só pensa na política, não na história, só pensa no hoje, não no amanhã?” E o senhor pensa no amanhã? Eu já conversei aqui com o senhor muitas vezes e ouvi esse sentimento de história que o senhor tem.

            Será que eles falam de literatura, sobre os livros que o senhor escreveu, está escrevendo e que vai escrever e sobre a importância de livros, muito mais até talvez do que a política, e as suas Memórias, que a gente está esperando e não chegam por falta de tempo ...

            (Interrupção do som.)

            (O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - ... por falta de tempo, talvez devido a isso?

            E aí, Presidente, eu tenho dito e reafirmo: há pessoas que zelam para manter, porque o Brasil precisa... A quebra da sua biografia será ruim para o Brasil, não será ruim para o senhor apenas. Nós dividimos hoje entre aqueles que pensam no Sarney da biografia. E não estou perdoando os seus outros erros, mas só aqueles cinco anos justificam essa posição. Eu defendo aqueles que querem manter aquilo e os que querem tirar proveito do Sarney de hoje.

            E esses que querem tirar o proveito, a impressão que a gente tem é a de que eles querem, através da truculência, tomar o comando do Senado. E, aí, eles não vão conseguir, porque a maneira como eles estão pensando é a maneira da truculência...

            (Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Senador Cristovam Buarque, V. Exª já usou seis minutos. Vou dar mais um minuto a V. Exª, até mesmo porque V. Exª teve a palavra para uma explicação pessoal, respondendo sobre a sua pessoa, e esta tratando de outro assunto. Por isso, V. Exª está vendo o meu espírito democrático, de paciência e de tolerância, inclusive por ouvir o que estou ouvindo de V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Quanto a isso, eu não tenho dúvida. Mas eu não vou responder o que foi falado contra mim, porque a única coisa que foi falada contra mim é que eu tive pouquíssimos votos em uma campanha presidencial, disputando com o Lula, com Alckmim, com Heloísa Helena aqui em Brasília, não disputando com os políticos locais. Foi a única crítica que ele fez. Essa eu não mereço responder até porque é verdade. Eu não vou precisar responder.

            O que eu quero concluir, Senador, é que não me parece que seja a turma boa para estar ao seu lado neste momento se o senhor realmente quer a paz. Não se consegue a paz com truculência, com ameaças; não se consegue paz com chantagens ou com pré-chantagens, que é pior que a chantagem - aquele que diz que tem coisas e não mostra o que é. 

            E aí quero lhe dizer: não houve nenhuma reunião para fazer manifesto; o que houve foi apenas a feitura de uma carta ao senhor, com dois parágrafos, nada mais, que diz o que todos que assinam vêm dizendo há tempo, só que agora no papel, assinado pelos Líderes dos partidos e alguns outros Senadores que quiseram assinar porque seus partidos não assinaram. Levo menos de um minuto para lê-la:.

            Exmo. Sr. Senador José Sarney, Presidente do Senado,

Consideramos e reafirmamos que, para iniciar a recuperação da dignidade do Senado, é preciso a apuração com credibilidade de todas as denúncias contra a administração da Casa e o possível envolvimento de V. Exª. O primeiro passo para isso [nós achamos, não nós, eu não sou Líder, apesar de ter assinado a pedido de alguns] é o afastamento de V. Exª da Presidência do Senado durante os trabalhos de investigação na Comissão de Ética. [Colocamos “afastamento” porque não estamos pedindo renúncia].

Sabemos que a decisão desse afastamento é exclusiva de V. Exª, mas fica registrada aqui nossa sugestão de que faça um gesto histórico em defesa do Senado e de sua biografia pessoal afastando-se da Presidência durante o tempo necessário para a apuração dos fatos de denúncia contra V. Exª.

            Concluo dizendo, Senador, que o que a gente está vendo hoje - e vai continuar vendo nos próximos dias -, é que a paz de que o senhor falou não vai chegar por uma maneira muito simples: na sua posição, o senhor precisa da ajuda de alguns e os que o ajudam não querem a paz; eles querem massacrar, destruir Eles não pensam na História; eles pensam apenas na política.


Modelo1 6/25/2410:24



Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/2009 - Página 34756