Discurso durante a 128ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento de Jaime Câmara.

Autor
Marconi Perillo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Marconi Ferreira Perillo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento de Jaime Câmara.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2009 - Página 35271
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, PRESENÇA, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, JAIME CAMARA, EX-DEPUTADO, EMPRESARIO, MEIOS DE COMUNICAÇÃO, FUNDADOR, JORNAL, O POPULAR, ESTADO DE GOIAS (GO), IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, ATUAÇÃO, REALIZAÇÃO, OBRA FILANTROPICA, ESPECIFICAÇÃO, COLABORAÇÃO, MANUTENÇÃO, INSTITUIÇÃO ASSISTENCIAL, CEGO, IDOSO, APOIO, POPULAÇÃO CARENTE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente José Sarney; Exmªs Srªs Senadoras; Exmºs Srs. Senadores; Exmº Sr. Presidente da Assembléia Legislativa do Estado de Goiás, Deputado Helder Valin; Ilmº Presidente da Organização Jaime Câmara e filho do nosso querido homenageado, Jaime Câmara Júnior; Ilmº Diretor-Superintendente da Organização Jaime Câmara, Dr. Tasso José Câmara; Ilmºs Diretores da Organização Jaime Câmara, aqui presentes; Ilmº jornalista Luiz Fernando Rocha Lima, que aqui representa todo o complexo de rádio, televisão e jornal, todos os repórteres e jornalistas; Exmºs Srs. Prefeitos; Exmº Sr. Deputado Federal Leonardo Vilela; Ilmºs convidados aqui presentes, senhoras e senhores,

            Sonhar, todos nós podemos - e até devemos.

            Sonhos alimentam os ideais da alma e nos permitem projetar o futuro. Mas de que valem os sonhos e os ideais se não nos esforçarmos para convertê-los em realidade? De que valem os sonhos e os ideais se não os utilizamos para direcionarem as substantivas realizações do cotidiano?

            Jaime Câmara, que esta sessão solene do Senado Federal homenageia em seu centenário de nascimento, decerto foi um sonhador, um visionário no sentido mais amplo da noção humana.

            Porém, mais do que um homem de grande percepção do futuro e da marcha dos tempos, Jaime Câmara foi um empreendedor, uma dessas pessoas cuja vida se traduz na concretização de sonhos e ideais, uma dessas pessoas cujo toque torna pensamentos em ações e transforma a própria realidade.

            Boa parte da sociedade goiana e do centro-norte do País conhece a história de Jaime Câmara como um homem das comunicações, do empreendendorismo e - acima de tudo - como alguém que teve a coragem de acreditar na modernidade que representaria a criação de Goiânia, de Brasília e, mais tarde, do Tocantins.

            Boa parte da sociedade reverencia Jaime Câmara como mentor e idealizador da organização que leva seu nome. Mas a visão desse homem se projetava para além dos meios de comunicação de massa e alcançou não só o campo administrativo e político, sobretudo do Estado de Goiás, mas também a área social e cultural.

            Sr. Presidente José Sarney, Srªs e Srs. Senadores, admiráveis traços compuseram o perfil do comunicador e empresário Jaime Câmara. A fortaleza de espírito, de resistência às adversidades, de determinação em face dos objetivos e das decisões incorporaram-se como sólidas virtudes de sua personalidade empreendedora.

            Podemos, assim, comparar Jaime Câmara ao “nordestino, antes de tudo um forte”, na definição irreparável de Euclides da Cunha, mencionando-se a circunstância de sua origem natal, seu querido Rio Grande do Norte, mais precisamente de Baixa Verde, depois chamada de João Câmara.

            Foi de lá que partiram ele e dois de seus irmãos, empreendedores, Joaquim e Rebouças, em uma viagem que chegaria hoje na construção do maior complexo de comunicação da Região Centro-Oeste, e também da região centro-norte do Brasil.

            Sua ligação com o Estado de Goiás se iniciou na velha capital, a cidade de Goiás, a nossa antiga e querida Vila Boa, fundada pelo bandeirante alcunhado Anhanguera, onde havia, ao contrário do que alguns supõem, um ambiente receptivo à cultura, Presidente Sarney.

            A propósito, citemos o escritor Bernardo Elis - que já foi membro da Academia Brasileira de Letras -, extraindo um trecho de seu discurso de posse na ABL:

Goiás foi, na verdade, semente e berço da cultura da dilatada pátria que é o Oeste. Ali, durante dois séculos, encasulado no coração do Brasil, permaneceu como sentinela avançada, vigilante no cerco perene e invisível das distancias e do deserto. Num recolhimento morno de grão que germina, realizava a defesa da cultura e da língua nacional.

            Pois foi ali, na cidade de Goiás, que se deu o batismo do comunicador Jaime Câmara. Ele faz surgir primeiro a Tipografia Popular, que cria em sociedade com Henrique Pinto Vieira, no momento em que o assunto principal era o embate político a respeito da mudança da capital para Goiânia.

            Em seguida, ele cria a publicação Vossa Senhoria, de cunho satírico, que logo foi extinto e deu lugar ao jornal A Razão, surgido em 1936 e em cuja fase final, em 1937, tinha João Perillo como redator-chefe e, como diretor, o Deputado Estadual Alfredo Nasser, de oposição ao Governador Pedro Ludovico Teixeira, o grande líder do movimento mudancista da capital para a Goiânia que se erguia.

            Em A Razão escrevia também Joaquim Câmara, o grande Joaquim Câmara, já assentado em Goiânia, onde colaborava com Pedro Ludovico na divulgação dos valores positivos do Estado e, em especial, da capital nova que se inauguraria em 1942.

            Pode-se dizer que foi em A Razão que Jaime e Joaquim treinaram, sempre com a inestimável colaboração do terceiro irmão, Rebouças Câmara, para fundar em 1938 O Popular, hoje o diário mais antigo e de maior circulação no Estado de Goiás, um diário de grande credibilidade. Uma reunião entre os irmãos definiu esse tradicional título, que é uma homenagem à pioneira Tipografia Popular.

            Na verdade, Jaime Câmara, Joaquim e Rebouças se completavam como companheiros para o empreendimento da comunicação. Eles acreditaram na idéia da nova capital, na ousadia de Pedro Ludovico de construir Goiânia e mudar a história e os rumos do Estado de Goiás.

            Tanto acreditaram que transferiram o empreendimento gráfico para Goiânia em 1937, e, no dia 3 de abril do ano seguinte, faziam circular, pela primeira vez, o jornal O Popular, que iria ser o embrião do maior grupo de comunicação da nossa região.

            Mais tarde, ainda em companhia de Joaquim, que faleceria no ano seguinte, Jaime Câmara acreditou no veículo rádio, enxergando ainda além, pois sua visão indicava a Rádio Anhanguera como plataforma para chegar à televisão. E o grupo Câmara iria agregar, no curso dos anos seguintes, uma grande rede de emissoras de rádio e televisão.

            A coragem e a audácia impregnavam também a personalidade de Jaime Câmara. Não no sentido presunçoso e, sim, no plano elevado e digno dessas virtudes. Coragem e audácia que ele colocou em todos os projetos e empreendimentos. E que foram tão importantes em momentos difíceis, como o da grande provação de setembro de 1967, quando um incêndio destruiu totalmente os estúdios e os equipamentos da TV Anhanguera.

            “Não vamos ficar apenas chorando, vamos ressurgir das cinzas” - declarou em agradecimento à grande solidariedade que recebia após o sinistro.

            E então ele acrescentou à coragem o lado guerreiro e foi à luta. Conseguiu receber os recursos da cobertura do seguro em prazo que parecia impossível. Depois de um período funcionando precariamente, período bem menor do que se previa, graças à agilidade e ao empenho desse empreendedor, a TV Anhanguera recebia os novos equipamentos.

            Novíssimos e modernos, com eles se deu uma espécie de milagre. A excepcional qualidade de imagem e som possibilitada pela nova aparelhagem levaria a emissora ao primeiro lugar em audiência - o lugar que nunca mais perderia.

            De refinado tino político, Jaime Câmara foi Secretário de Estado, Prefeito de Goiânia - onde iniciou o processo de autonomia administrativa e financeira da Capital -, e Deputado Federal duas vezes. Além disso, fundou o Tiro de Guerra do Estado, com o objetivo de evitar que os jovens saíssem de suas cidades para cumprir o Serviço Militar; criou a Associação de Imprensa; e ajudou a implantar o Serviço Social do Comércio e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial.

            Foi Presidente da Associação Comercial do Estado de Goiás, cargo no qual permaneceu por meio de sucessivas reeleições; Diretor da Junta Comercial do Estado de Goiás; Secretário de Estado da Agricultura e de Viação e Obras Públicas; presidente da comissão encarregada de executar as obras da Hidrelétrica de Cachoeira Dourada, fundamental para a consolidação de Goiânia e Goiás; e integrou os quadros de várias academias de letras, inclusive o da Academia Goiana de Letras.

            Autor de importantes livros históricos, como Tempos da Mudança e Nos tempos de Frei Germano, Jaime Câmara exerceu o mecenato em grande categoria. Ajudou praticamente todas as entidades culturais e apoiou firmemente sua esposa, Dona Célia Câmara, numa grande obra de apoio às artes plásticas. Os artistas muito devem à histórica Casa Grande Galeria de Artes, cuja sucedânea é a atual Fundação Cultural Jaime Câmara, que dá cursos de arte, promove ações sociais capacitantes, promove lançamentos de obras literárias e realiza apresentações musicais, apoia menores, entre outras atividades de grande importância e relevância.

            Jaime Câmara sempre é lembrado também por suas atividades na área da responsabilidade social. Fundou, dirigiu e manteve por décadas o Instituto Artesanal dos Cegos; colaborou intensamente para a manutenção de instituições como abrigos de idosos; concedeu bolsas de estudos e, com um fôlego permanentemente renovado, ajudava as famílias mais pobres que o procuravam com empregos em suas empresas ou em outros lugares a que tinha acesso como pessoa influente que sempre foi ao longo de toda a sua vida.

            A causa da criação do Estado do Tocantins igualmente encontrou, na sensibilidade e no descortino de Jaime Câmara, um ponto de apoio valioso. Muito antes de a Constituição de 1988 estabelecer esse novo Estado, Jaime Câmara já determinara que seus veículos de comunicação divulgassem, com prioridade editorial, a luta pela criação dessa nova unidade federativa, o pensamento e o trabalho de seus principais próceres e líderes.

            E o grupo Câmara está desde o início presente, ajudando Tocantins a encontrar firmes caminhos de desenvolvimento econômico, atitude que aliás tomara com relação a Brasília no seu início, com o Jornal de Brasília, onde igualmente plantou raízes pioneiras.

            A Organização Jaime Câmara, Sr. Presidente, é integrada hoje por 22 veículos de comunicação em Goiás e no Tocantins. São nove emissoras de tevê afiliadas à Rede Globo de Televisão, três jornais diários e oito emissoras de rádio, além das empresas TMK Telemarketing e da Fundação Cultural Jaime Câmara.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ilustres convidados aqui presentes, nós podemos e até devemos sonhar. Aliás, é uma obrigação nossa sonhar. E, quanto mais ao sonho abstrato pudermos responder com a concretude das obras, mais próximos estaremos do exemplo que deixa para todas as gerações esse homem público de grande magnitude, esse maior homem de comunicação do Brasil Central, esse homem chamado Jaime Câmara, cuja memória reverenciamos e aplaudimos em seu centenário de nascimento nesta sessão solene do Senado Federal.

            Agradeço ao Sr. Presidente por presidir esta sessão histórica

            Agradeço aos Senadores a honra de aprovarem este requerimento de minha iniciativa. Agradeço a Deus pela oportunidade de estar aqui no Senado representando os goianos e homenageando um dos mais ilustres e um dos maiores construtores da história recente do meu Estado, o querido Estado de Goiás, Jaime Câmara.

            Muito obrigado a todos. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2009 - Página 35271