Discurso durante a 128ª Sessão Especial, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento de Jaime Câmara.

Autor
Demóstenes Torres (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento de Jaime Câmara.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2009 - Página 35275
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, PRESENÇA, SENADO, AUTORIDADE, SESSÃO ESPECIAL, COMEMORAÇÃO, CENTENARIO, NASCIMENTO, JAIME CAMARA, EX-DEPUTADO, ELOGIO, ATUAÇÃO, VIDA PUBLICA, IMPORTANCIA, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO, MODERNIZAÇÃO, ESTADO DE GOIAS (GO), CRIAÇÃO, EMPRESA, EMISSORA, RADIO, TELEVISÃO, RELEVANCIA, REGIÃO CENTRO OESTE, INCENTIVO, REALIZAÇÃO, OBRA FILANTROPICA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmo. Sr. Presidente desta Mesa e 1º Vice-Presidente do Senado Federal, primeiro signatário do requerimento para esta sessão especial em reverência à memória de Jaime Câmara, Senador Marconi Perillo; saudando V. Exª, quero cumprimentar todos os demais Parlamentares, Senadora Lúcia Vânia, Deputado Federal Leonardo Vilela, Deputado Estadual Tiãozinho Costa, bem como o Presidente da Assembléia Legislativa de Goiás, grande Deputado Helder Valin, por intermédio do qual saúdo todos os Parlamentares pelo Estado de Goiás que aqui se encontram. Saúdo o nosso querido filho do homenageado e Presidente da Organização Jaime Câmara, grande Jaime Câmara Júnior; cumprimentando-o, quero cumprimentar todos os seus familiares, todos os servidores, dirigentes da Organização Jaime Câmara, juntamente com o nosso querido Superintendente Tasso José Câmara.

            Srªs e Srs., Jaime Câmara foi um ser humano com tantas qualidade que até seus biógrafos consideram difícil eleger as principais. Entre elas, destaco duas, o empreendedorismo e a generosidade. Já proprietário de diversas empresas, ele acordava todos os dias de madrugada e ia para o edifício-sede do conglomerado, então na Avenida Goiás, no Centro de Goiânia. Ali, as pessoas carentes sabiam que, antes de surgir o sol, apareceria um iluminado. Seu Jaime, como era mais conhecido, distribuía pão com manteiga e café com leite aos trabalhadores que iam entrar no batente não apenas em suas empresas, mas nas diversas firmas da região. Dava o alimento aos estudantes que passavam antes das aulas matutinas. Garantia a primeira, às vezes única, refeição aos moradores de rua e aos demais que comparecessem em busca também de uma palavra amiga, um conselho, um bate-papo de alto nível. Ali, os humildes sabiam que seu Jaime os contemplaria com o que tinha de melhor: o humanitarismo com todos os seus sinônimos, o dom de servir, a dádiva de ser bom.

            Sob a marquise, ofertando pão a quem tinha fome, ou no comando de um banco, nas entidades classistas que dirigia ou ao fundar um instituto para cuidar de pessoas com deficiência visual, como escritor ou empresário bem-sucedido, seu Jaime colocava à frente de tudo o coração. Um coração imenso, que conseguia ser maior que os braços nos quais acolhia os êxitos das iniciativas empresariais e os desvalidos em busca de uma chance. Um coração gigantesco, que alcançou as dimensões de seu senso de justiça, através do qual Jaime Câmara entendeu que o semelhante precisa de muito mais que pão, letra, lucro: necessita de oportunidade. Seu Jaime não queria o desafortunado, ao longo do tempo, todas as madrugadas, esperando o café da manhã. Desejava-o fora da indigência, através dos próprios esforços. Dava-lhe oportunidade, fosse para estudar, encontrar um emprego, aprender um ofício, cuidar da saúde, realizar um sonho. Para ter condição de espalhar tamanha gama de benefícios, se valia dos resultados como empreendedor.

            Mais que dar o peixe, adquirido com seus recursos, seu Jaime ensinava os segredos da aquicultura, para o agraciado com sua generosidade não ficar dependente de doações. Para isso, criou escola de artesanato para deficientes, levou para Goiás o Sesc e o Senac, nos quais milhares de jovens ainda hoje se capacitam para o mercado de trabalho. O próprio Jaime Câmara era uma escola de vida. Ele acreditava nas pessoas, ele ousava, ele realizava. Eis o tripé sobre o qual se tornou um vencedor nos negócios. Era PhD em gerir gente, em gerar dividendos bastante para a cadeia produtiva inteira. Sua modernidade como administrador se evidenciava em valorizar o que cada colaborador tinha de melhor, em investir no potencial, em revelar talentos, delegar-lhes atribuições e colher os dividendos de crer que toda pessoa é possível.

            Foi assim que Jaime Câmara se tornou tão importante para a história das Comunicações que seu nome é um chamamento para a atual e as próximas gerações conhecerem-lhe a trajetória. O roteiro de sua vida daria um filme, não desses açucarados para passar na sessão da tarde, mas um épico. Mal completara a maioridade, deixou o lugar em que nasceu e atravessou o Brasil para ajudar no nascimento de três capitais: Goiânia, Brasília e Palmas. Exerceu diversos cargos públicos e na iniciativa privada. Foi Prefeito de Goiânia, Presidente da Caixa Econômica do Estado e Diretor do Banco de Goiás, Secretário da Agricultura, Deputado Federal que a ditadura cassou e o povo voltou a eleger. As obras como escritor e jornalista lhe deram uma cadeira na Academia Goiana de Letras, a 17, cujo patrono é Machado de Assis. Mas foi, sobretudo, empreendedor. Fundou o que viria ser o maior complexo de comunicação do Centro-Oeste brasileiro, com três jornais diários, 20 emissoras de rádio e televisão. Fundou de clube de futebol à Federação do Comércio, de jornal de humor à TV de maior audiência do Estado. Fez de cada dificuldade uma oportunidade, de cada obstáculo um objetivo, de cada meta alcançada uma etapa que precedia a próxima a ser atingida.

            Mas, até se tornar merecedor de homenagens como esta do Senado e um portento da Comunicação, Jaime Câmara venceu um infinito percurso, transformando os trilhos do caminho em escada rumo ao topo. Os três mil quilômetros que separam sua terra natal e a terra escolhida foram assim descritas pelo jornalista Rogério Borges em A saga de um visionário:

Uma longa viagem que, como todas as viagens, tem uma origem e um destino. A origem foi a pequena Cauassu, distrito do Município de Jardins dos Angicos, que depois mudou o nome para Baixa Verde e hoje se chama João Câmara, Cidade do Rio Grande do Norte [terra do nosso querido Líder Agripino Maia]. O destino... Bem, o destino desta jornada nem mesmo seu viajante poderia supor qual seria. Aos 20 anos, Jaime Câmara e seus muitos projetos chegaram a Goiás.

            O projeto ao qual Jaime Câmara mais se dedicou foi o do desenvolvimento e da modernização do Estado de Goiás. Encontrou a Unidade da Federação nos românticos tempos da tipografia e trabalhou para que ela entrasse na era da fibra ótica. Quando chegou, em 1930, Goiás era essencialmente rural, o Estado mais pobre do Brasil; quando partiu, em 1989, o Estado estava preparado para receber montadoras de automóveis e ser um elo logístico nacional. Ao aportar em Planaltina, antiga Mestre d’Armas, o Planalto Central era apenas um rincão ermo; pouco tempo depois, ajudaria a concretizar o sonho de Juscelino Kubitschek e erguer a Capital da República.

            Veio para Goiás atendendo a uma ordem do pai, Joaquim, para procurar o irmão, Joaquim Câmara Filho, dez anos mais velho que Jaime. Na homenagem que a Academia Goiana de Letras prestou a Jaime na semana passada, a ex-presidente da entidade, escritora e educadora Maria do Rosário Cassimiro saudou o confrade. Trata-se, assim como Jaime, de alguém especial. Cassimiro foi reitora da Universidade Federal de Goiás e da Universidade do Tocantins. Em seu discurso, Cassimiro lembrou que Joaquim Filho saíra de casa cedo para fazer o ensino básico no Recife, cursar Engenharia em Minas Gerais, ser agrônomo no Paraná e chegar a Prefeito em cidades de Goiás e Minas. A notícia era de que estaria por aqui, em Planaltina. Bendita a hora em que um se mandou, e o outro foi atrás. Jaime veio e ficou. Não em Planaltina, a hoje próspera cidade governada por outro nordestino de fibra, José Olinto Neto, o Prefeito que desafia os cartéis, que enfrenta os graúdos em prol dos humildes. Mas o parâmetro é outro. Jaime Câmara encontrou não apenas o irmão, Joaquim. Ele descobriu um território a conquistar. De Planaltina, foi para a Capital goiana, a então Vila Boa - e aí me permitam um trocadilho: deixou de ser Vila Boa, mas continua ótima.

            Daí para frente, o que aconteceu está nos compêndios de História. Junto com Joaquim Câmara Filho e Rebouças Câmara, Jaime fundou a J. Câmara & Irmãos, que começou com uma pequena tipografia em Vila Boa e hoje é um dos maiores complexos de comunicação do País. Seus veículos de comunicação foram e são vitais para a cultura, a educação, a informação, a economia, os esportes. Goiás, que iniciou o século XX na lanterna do progresso entre os Estados, contou com a Organização Jaime Câmara como vetor dessa evolução. Mas seu Jaime, com todo o tino comercial e a vocação para a vitória, não conseguiu tudo isso sozinho. Contou com os irmãos, com a mulher, Dona Célia Câmara, mecenas de primeira qualidade, a quem as artes goianas devem o alargamento das fronteiras e o aprimoramento de tantos pintores, escultores, gravuristas, escritores e músicos. Com o filho, Jaime Câmara Júnior, que cedo começou a trabalhar, não ocupando cargos de direção. O início da carreira do filho único nas empresas da família foi como operário, ajudante, auxiliar de produção na TV Anhanguera, retransmissora da Rede Globo. Após a experiência em diversos postos, nos quais foi de aprendiz a dirigente, Jaime Câmara Júnior foi eleito pelos acionistas, em 1969, para dirigir as empresas. Vinte anos depois morria o benemérito e empreendedor Jaime Câmara pai. Nos últimos vinte anos, o filho multiplicou a credibilidade, maior bem que herdou. Engrandeceu o nome da família, afixado no frontispício dos empreendimentos. A matéria de que o pai, Jaime Câmara, foi feito é ímpar, pois a fibra que o constituiu e a época em que triunfou o tornam único, mas o filho honrou a tradição em todos os quesitos.

            Agora, por ocasião do centenário de nascimento de Jaime Câmara, a 16 de julho, muitos lembraram o privilégio que tiveram de conhecê-lo, conviver com ele e, prêmio supremo, ser seu amigo. Não tive essa honra, mas ostento um troféu. Seu Jaime, no princípio de sua carreira profissional, atuou como revisor na imprensa oficial do Estado. Exerci o mesmo ofício, no mesmo jornal, pouco tempo antes da morte do grande visionário. As comparações param por aí, pois para alguém ser equiparado a seu Jaime tem de, além de ser bondoso e empreendedor, ter ajudado a fundar três capitais e ter ido para a guerra defender a integridade territorial da terra que o adotou. O potiguar que chegou a Goiás pelo rio Mestre D’Armas mostrou ser realmente mestre em armas durante a Revolução Constitucionalista de 1932. Estava em Goiás havia menos de dois anos e já gostava tanto do Estado que foi para a trincheira. Acabou triunfando. Depois disso, suas armas voltaram a ser o talento, o esforço, a visão, a generosidade.

            Só nos resta agradecer a seu Jaime por ter escolhido Goiás para vencer e tornar vencedores todos os goianos.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2009 - Página 35275