Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Expectativa com relação à edição de amanhã do jornal O Estado de S.Paulo, tendo em vista as denúncias feitas contra o Senador José Sarney. (como Líder)

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. SENADO.:
  • Expectativa com relação à edição de amanhã do jornal O Estado de S.Paulo, tendo em vista as denúncias feitas contra o Senador José Sarney. (como Líder)
Aparteantes
Papaléo Paes.
Publicação
Publicação no DSF de 18/08/2009 - Página 36597
Assunto
Outros > IMPRENSA. SENADO.
Indexação
  • EXPECTATIVA, PUBLICAÇÃO, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ARTIGO DE IMPRENSA, POSSIBILIDADE, CONFIRMAÇÃO, DENUNCIA, JOSE SARNEY, SENADOR, DESMENTIDO, ACUSAÇÃO.
  • SUGESTÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ENTRADA, REPRESENTAÇÃO, COBRANÇA, ESCLARECIMENTOS, SITUAÇÃO, DEFESA, NECESSIDADE, CONSELHO, ETICA, APURAÇÃO, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, SENADOR.
  • DEFESA, RESPEITO, DIREITOS, JUVENTUDE, REALIZAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, MANUTENÇÃO, ORDEM, SENADO, RETORNO, POSSIBILIDADE, TURISTA, VISITA, CONGRESSO NACIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, falo por cessão do Senador Osmar Dias, mas falo em meu nome pessoal, não em nome do meu Partido, ainda que eu esteja tentando que seja a posição do Partido.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - É porque tem um documento aqui.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu sei, há um documento. Mas para dizer que o meu Líder é o Osmar Dias, e a posição do meu Partido é ele que traz.

            Eu estava aqui na sexta-feira, Senador Mão Santa, e o senhor presidindo. E eu lhe disse que tinha preparado um discurso para falar do futuro do Brasil, Senador Pedro Simon, porque, com o surgimento da candidatura da Senadora Marina, eu creio que agora vai haver debate sobre para onde devemos levar o Brasil. Creio que a Ministra Dilma e o Governador Serra iam propor o mesmo: apenas quem aceleraria mais em direção ao que eu acho que seria um desastre, para onde estamos caminhando, do ponto de vista ecológico, do ponto de vista civilizatório, do ponto de vista social e até mesmo do ponto de vista da economia, e que continuaríamos um País exportador de bens primários e produtor de bens industriais mecânicos e não de bens da inteligência.

            Lamentavelmente, porém, na sexta-feira, eu disse que não tinha condições de falar no futuro do Brasil diante do presente que a gente vive. Ia parecer alienação do presente, ia parecer omissão, ia parecer até parte de um acordão do qual se fala por aí. E prometi que hoje falaria do projeto de Brasil que eu sonho. Mas, mais uma vez, o noticiário do fim de semana não permite, porque de repente eu estou diante de algo que eu nunca imaginei. Eu nunca esperei tanto um jornal como espero o Estado de S. Paulo amanhã, porque amanhã o Estado de S. Paulo ou vai pedir desculpas ao Senador Sarney ou vai dizer que o Senador Sarney não disse a verdade aqui no plenário. Não há mais meio termo.

            Ou ele faltou com a verdade quando falou desses apartamentos, ou O Estado de S. Paulo mentiu. Por isso, eu vou esperar com grande expectativa o jornal de amanhã. E, como Senador, com a responsabilidade que eu tenho, torço para que O Estado de S. Paulo peça desculpas, que diga que tudo aquilo foi um erro, foi uma elocubração de algum dos seus jornalistas, porque isso acalmaria um pouco a opinião pública, o Senado e o funcionamento da democracia no Brasil.

            Mas eu temo que o que virá poderá ser a confirmação dos fatos. Que, como disse o Senador Pedro Simon, apesar de O Estado de S. Paulo jamais ter estado dentro do bloco ideológico do qual eu me sinto parte, não há dúvida de que ele lutou pela democracia, lá atrás, ainda no regime de Getúlio Vargas, e agora, no final do regime militar. Eu não acredito que um jornal daquele porte, que não deixa de ser um orgulho para este País, tenha cometido alguma leviandade com esse noticiário. E se eu não acredito que ele cometeu, eu temo que o Presidente Sarney não falou tudo completo hoje.

            Mas, sobretudo - e aí eu não vou mais me alongar porque o Senador Pedro Simon diz tudo por nós -, faltou na fala dele, e eu tentei falar, numa questão de ordem, sem o brilhantismo do Senador Pedro Simon, pedir que isso fosse investigado.

            Senador Pedro Simon, é incrível como o senhor diz algo tão óbvio e tão necessário para ser dito. Houve uma denúncia em relação a um personagem qualquer que seja deste Senado, mas especialmente a qualquer um da Mesa, ainda mais ao Presidente, ainda mais um Presidente com a dimensão de José Sarney, a obrigação da gente é investigar. E a obrigação dele seria pedir a investigação para limpar o nome dele.

            Mas não foi isso que a gente viu.

            Eu não vou discutir se foram suficientes ou não as explicações porque eu não sou investigador, porque eu não vou entrar em detalhes do que está no jornal e não me interessa ser aqui juiz. Mas eu não estou satisfeito com a maneira como esse debate foi feito.

            Por isso eu vou tentar que o meu Partido entre com uma representação para esclarecer tudo isso, se amanhã O Estado de S. Paulo não pedir desculpas ao Senador Sarney. Se O Estado de S. Paulo pedir desculpas, muito bem. Aí temos é que criticar o jornal, mas não podemos levá-lo ao Conselho de Ética. Mas, se o jornal amanhã reafirma, traz mais dados, desfaz o que disse o Senador ou mostra que foram incompletas as explicações, nós não temos outra saída a não ser apresentar mais uma representação e continuar esse sofrimento contínuo que nós estamos vivendo há tantos meses. Porque já faz meses que eu próprio aqui recomendei a licença dele, um pedido dele. Tem que ser ele a fazer isso. Depois, apoiei a posição do Senador Pedro Simon, de que não bastaria mais uma licença de 60 dias; precisaria, sim, de uma renúncia à Presidência. Ninguém até hoje propôs - e seria leviandade propor - a palavra cassação. Não faz sentido propor isso. E aí é que me deixa triste a posição do PT, porque, se na próxima quarta-feira fosse discutir cassação de um Senador, estou de acordo que o PT, pelas ligações, pelo que chamam hoje de governabilidade, não aceitasse a abertura das investigações. Mas não é cassação; é apenas o direito de o povo saber o que é verdade e o que é mentira. O PT não pode fazer isso com o Brasil.

            Tenho a impressão de que, desde a Copa de 1950, Senador Pedro Simon, o Brasil não viveria uma tristeza tão grande quanto a desta quarta-feira, se o PT votar para impedir que o povo brasileiro saiba da verdade. O senhor disse que seria o fim do PT. Eu acho que vai ser o dia realmente do fim do PT se os seus representantes votarem para esconder do povo a verdade, que não sabemos ainda qual é. Não se sabe. Eu não sou aquele que está aqui jogando pedra, dizendo que o Senador Sarney tem culpa de tudo isso. Mas eu acho que é uma obrigação nossa investigar, ele hoje e, amanhã, nós aqui, porque virão acusações contra qualquer um de nós aqui - ninguém está livre disso -, verdadeiras ou falsas, mas eu quero que sejam investigadas, contra qualquer um de nós.

            E isto eu faço até como apelo, pelo patrimônio que é o Partido dos Trabalhadores: que não deixe o povo brasileiro olhar para o Partido dos Trabalhadores como veículo que impede o conhecimento da verdade do que acontece no Senado. E Deus queira que todos nós, inclusive esses 74% da opinião pública, descubramos que estamos errados, que tudo isso é um jogo da mídia contra o Presidente Sarney, mas temos que descobrir, comprovar e mostrar ao povo, porque o povo quer saber.

            Hoje, o Senador Pedro Simon falou e repetiu, e eu reafirmo: é triste saber o que significa ser Senador hoje em dia na opinião brasileira; é triste ouvir as piadas que se contam hoje - e eu não vou usar a tribuna para contar aqui quem tem vergonha de dizer que o pai ou mãe é do Senado, Senador ou Senadora. Não há hoje orgulho de nossos filhos dizerem que nós somos Senadores. E nós deveríamos ser os exemplos para a juventude brasileira. Nós não somos esses exemplos.

            Vou dizer mais: há um evento que sempre ocorre aqui, no Senado, e que sempre teve patrocínio de uma tal empresa. Nesta semana, fui procurado pelos organizadores - é uma atividade cultural -, para ver como ajudar a realização desse evento, porque essa empresa disse que, neste ano, não quer se misturar com o Senado. Não vou dizer o nome da empresa, a não ser que perguntem por aí. É um evento cultural, e ela disse: “Nós não temos como colocar o nome da nossa empresa vinculado ao Senado Federal”, e cortou o apoio que faria. E o evento pode ser paralisado, Senador Pedro Simon, um evento dirigido à leitura para crianças. Cada dia é uma notícia, é uma tristeza que a gente vai ouvindo e sendo cobrado aí fora.

            Eu gostaria de falar aqui sobre um projeto de Brasil, um Brasil limpo. Para mim, isso resumiria o que eu gostaria. Limpo nas ruas, onde a gente possa andar sem a violência; limpo na estabilidade monetária; limpo na democracia; limpo na ética; limpo na educação para todos, de qualidade; um Brasil que seja limpo pelo meio ambiente, que seja limpo pelo crescimento, mas um crescimento baseado no equilíbrio ecológico e na economia do conhecimento.

            Eu gostaria de ver um Brasil limpo, onde o Congresso estivesse acima de qualquer suspeita.

            Eu gostaria muito de ver um Brasil limpo por não ter um único doente em fila para ser atendido. É um Brasil limpo que a gente precisa construir.

            Mas eu tenho de falar do presente, porque hoje este Brasil limpo passa, em primeiro lugar, por um Congresso que passe a idéia de limpeza e que não apenas seja limpo. Isso a gente não pode esperar até 2010, quando vai haver eleições e podemos ser renovados todos - dois terços dos que aqui estão, inclusive eu. Não vejo problema nisso. Se for preciso, para melhorar o Senado, não terei o menor problema de continuar as minhas atividades de professor. Mas nós precisamos fazer o possível para não esperar 2010; para, em 2011, passarmos para outros, porém com a Casa limpa, decente, respeitada - e não sairmos daqui quase que escorraçados, passando para os próximos um Senado a ser recuperado. Nós não podemos deixar que se chegue a ponto tal que nós aqui desapareçamos do mapa e se fique esperando mais um ano e meio para renovar esta Casa.

            Por isso, a Comissão de Ética tem de apurar tudo: as denúncias que aí estão e as próximas que virão, contra o Presidente Sarney, sem dúvida alguma, e contra outros de nós - eu, qualquer um, o Senador Flávio, que acaba de chegar. Nenhum de nós está livre disso. Mas isso tem de ser apurado.

            Além disso, Senador, não é possível continuar com esta Casa fechada. Senador Pedro Simon, há visitante me dizendo que virá aqui agora com habeas corpus para poder entrar no Senado. Turistas querem chegar aqui com habeas corpus, porque dizem que têm o direito de entrar na casa do povo. E não vai faltar advogado, juiz que dê habeas corpus. E quero saber o que vai fazer a segurança desta Casa quando chegarem aqui jovens com habeas corpus, querendo entrar. Vão rasgar o habeas corpus? Aí, a ditadura ficará definitivamente caracterizada.

            Na semana passada, um grupo pequeno de jovens que aqui esteve, que não tocou em nada, foi preso. Preso! Não tinha grade, tinha água, tinha cafezinho, tinha cadeira, mas não podiam sair de lá até serem fichados - com outra palavra, que não dizem isso legalmente, não sei qual é. Isso é prisão. Só eu fiquei três horas com eles, acompanhando. Não preso, obviamente. Mas eles ficaram cinco horas.

            E a Deputada Capiberibe, que decidiu vir para cá, tendo escutado, foi acusada no jornal - e isso lembra o que disse o Senador Papaléo, como os jornais acusam levianamente - de insuflar. Ela nem sabia quem é que estava ali. Que ela está sendo investigada pela Polícia do Senado. A Polícia do Senado não tem nem direito de investigar Deputado. Imaginem o que querem fazer com jovens estudantes, se estão fazendo isso, que não é verdade. Mais: que teria pago para os estudantes virem, o que nos provoca indignação, porque esses jovens são sérios, mobilizados.

            O jornal publicou. Ela agora tem que mostrar que não é verdade. Mas não é por aí que vamos dizer pura e simplesmente que não é. Ela está batalhando. E não devemos demorar muito a lembrar: foi por causa de falsas denúncias contra ela que terminou cassada, com o seu marido Capiberibe. Isso foi usado. Isso foi usado. E naquele momento os jornais eram tidos como dizendo a verdade. Hoje os jornais são tidos como dizendo mentira.

            Nós não podemos continuar numa Casa em que jovem não pode entrar porque é visto como malfeitor. Hoje está assim o Senado.

            E se entrar um a um, provando o que tem que fazer aqui dentro, senão não entra, se ficar em grupo com mais de cinco, terminam empurrados para fora. E esses jovens aceitaram até serem empurrados, já estavam saindo, quando foram presos. Por quê? Porque os policiais disseram que eles estavam indo devagar demais. É inacreditável isso. Isso eu vi lá, conversando com eles, estavam indo devagar demais e gritando slogans.

            Nós não podemos continuar sem apurar tudo, sem abrir esta Casa. Se os jovens e os turistas precisam pedir habeas corpus para entrar aqui, acho que está na hora de nós, Senadores, entrarmos com habeas corpus para que não precise nem incomodar, Senador Simon, como o senhor foi incomodado por turistas gaúchos que queriam entrar aqui. Que tenhamos habeas corpus prontos para que o povo entre aqui.

            A que ponto estamos chegando? Para entrar aqui, hoje, talvez seja preciso habeas corpus ou a boa vontade da segurança.

         Por isso, não é hora ainda de eu falar de um novo Brasil. Vou continuar falando do Brasil de hoje, Senador Mão Santa. E agradeço o tempo que me concedeu.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Permita-me, Senador?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Claro.

            O Sr. Papaléo Paes (PSDB - AP) - Quero entrar em defesa da Deputada Janete Capiberibe. Tenho certeza absoluta de que a Deputada Janete não tem participação nenhuma nesse tipo de insuflação de pessoas, principalmente dos jovens, porque acredito que os jovens, principalmente hoje, nas lutas que tiveram, em que foram os grandes responsáveis pela redemocratização do País, eles não precisam que ninguém sofra, a decisão é deles. Eles são muito mais sábios do que nós. Por isso quero fazer esta referência e isentar a Deputada Janete de qualquer tipo de participação num processo que pudesse afetar fisicamente algum dos políticos, dos Parlamentares, ou da estrutura física da Casa. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agradeço em nome da Deputada, já que falei nela aqui.

            Mais uma vez, Senador Mão Santa, eu lhe prometi na sexta-feira que hoje viria falar sobre o futuro do Brasil. Cansei de prometer, porque não sei como vai estar aqui amanhã, então esse discurso vai continuar adiado. Talvez nesta semana seja impossível a gente conseguir falar, como eu tanto desejo e como é a nossa obrigação, nosso papel, nossa responsabilidade, sobre o futuro do Brasil. E tenho de continuar falando deste presente, triste e sombrio, que estamos vivendo. Mas, enquanto for preciso, ficarei preso ao presente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/08/2009 - Página 36597