Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Anúncio da apresentação de projeto de lei que objetiva resguardar o Rio Araguaia e a área de proteção ambiental do Vale do Encantado, em Goiás, da degradação ambiental. Registro da realização do festival em homenagem aos 120 anos de nascimento da poetisa goiana Cora Coralina , na cidade de Goiás. Crítica à viagem realizada pelo presidente Lula a Goiás, para divulgar a candidatura da Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão presidencial.

Autor
Marconi Perillo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/GO)
Nome completo: Marconi Ferreira Perillo Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE. HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Anúncio da apresentação de projeto de lei que objetiva resguardar o Rio Araguaia e a área de proteção ambiental do Vale do Encantado, em Goiás, da degradação ambiental. Registro da realização do festival em homenagem aos 120 anos de nascimento da poetisa goiana Cora Coralina , na cidade de Goiás. Crítica à viagem realizada pelo presidente Lula a Goiás, para divulgar a candidatura da Ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, à sucessão presidencial.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2009 - Página 37551
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE. HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • APREENSÃO, DESTRUIÇÃO, ECOSSISTEMA, RIO ARAGUAIA, CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE, DROGA, GARIMPAGEM, AREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL, VALE, NEGLIGENCIA, GOVERNO FEDERAL, CRITICA, POLITICA DO MEIO AMBIENTE, POSTERIORIDADE, SAIDA, MARINA SILVA, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA).
  • JUSTIFICAÇÃO, PROJETO DE LEI, AUTORIA, ORADOR, PRESERVAÇÃO, ECOSSISTEMA, RIO ARAGUAIA.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, SAUDAÇÃO, FESTIVAL, COMEMORAÇÃO, VIDA, OBRA LITERARIA, CORA CORALINA, POETA, MUNICIPIO, GOIAS (GO), ESTADO DE GOIAS (GO), LEITURA, TRECHO, DECLARAÇÃO, DIRETOR, MUSEU, AUMENTO, NUMERO, TURISTA, DIVULGAÇÃO, LITERATURA.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, VISITA, ESTADOS, ANTECIPAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, SUCESSÃO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PROTESTO, VIAGEM, ESTADO DE GOIAS (GO), MANIPULAÇÃO, INFORMAÇÃO, APRESENTAÇÃO, DADOS, IRREGULARIDADE, OBRA PUBLICA, ANUNCIO, INICIATIVA, ORADOR, AÇÃO JUDICIAL, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), PROIBIÇÃO, GASTOS PUBLICOS, PROMOÇÃO, CANDIDATURA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MARCONI PERILLO (PSDB - GO. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Agradeço ao Senador Mão Santa, Presidente em exercício desta Casa.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, como Senador da República pelo Estado de Goiás, não ficarei nem ficaria inerte ou imóvel, não serei nem seria complacente ou conivente com a absurda degradação do maior patrimônio ambiental do verdadeiro santuário que é o rio Araguaia, causada pela ação criminosa de dragas nos garimpos da APA do Vale do Encantado.

            Não podemos permitir, Sr. Presidente, que um dos mais importantes ecossistemas do mundo seja destruído porque o Governo Federal, no tom contemplativo - e isso acabou fazendo com que Marina Silva deixasse o PT hoje - que lhe é peculiar pelo menos nestes últimos tempos, compactua com a irresponsável destruição desse santuário e do meio ambiente.

            Isso não pode, nem deve ficar assim, porque, se o Estado não assume o papel que lhe é devido, iguala-se ao criminoso, nivela-se a quem perpetra a degradação. Se a ação das dragas do garimpo é inaceitável, igualmente é inaceitável o comportamento inercial do Presidente da República e do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Nós não podemos aceitar que esse santuário seja destruído pela ação das dragas, e o Governo tem-se mostrado insensível em relação a esse tema.

            Se a ação das dragas do garimpo é inaceitável, neste caso porque destrói o ecossistema, destrói o nosso Vale do Encantado e destrói o Araguaia, igualmente devem ser responsabilizadas as autoridades federais.

            Aliás, talvez seguindo a doutrina do Presidente, o Ministro fala demais, aparece demais, exibe-se demais, mas, na prática, faz pouco ou quase nada para proteger e preservar o meio ambiente, patrimônio da sociedade brasileira.

            Estou e estarei em permanente vigília em defesa do rio Araguaia, que precisa de imediato socorro. Se não for acudido em tempo hábil, terá o paraíso que é hoje o Vale do Encantado transformado em terra arrasada, em razão da omissão do Governo, em razão da falta de medidas enérgicas do Presidente da República, do seu Ministro do Meio Ambiente e dos órgãos ambientais.

            Essa inércia tenebrosa e dantesca reforça o que todos nós já sabíamos: a atual política ambiental, especialmente depois que a Ministra Marina acabou sendo obrigada a sair por conta dos atritos com a equipe econômica e com outras áreas do Governo, transformou-se em uma grande farsa, em uma história de faz de conta, mais um dos infindáveis instrumentos de retórica.

            Sr. Presidente, a fauna e a flora do rio Araguaia impressionam por sua beleza, riqueza e exuberância dos 76 conjuntos de cachoeiras dessa região, onde habitam espécies dadas como extintas.

            Todos nós temos um compromisso inadiável com a sustentabilidade planetária, como legado a ser ofertado às gerações futuras. Por isso, apresentarei projeto no sentido de preservar o rio Araguaia, esse maior patrimônio ambiental dos goianos, e de resguardá-lo de toda e qualquer ameaça capaz de devastá-lo.

            Que fiquem registrados nos Anais desta Casa o meu protesto e a indignação diante da falta de atitude do Governo Federal.

            Faço aqui outro registro, Sr. Presidente. Trata-se das comemorações dos 120 anos da nossa poetisa maior, Cora Coralina. Com grande alegria, registro desta tribuna da Casa de Rui Barbosa a realização do Festival 120 anos de Cora Coralina, na nossa querida Cidade de Goiás, berço da obra dessa inigualável escritora, cada vez mais reconhecida pelo público de todo o Brasil.

            O festival apresenta diversos eventos, que vão de hoje a domingo, com publicação de livros, apresentação de grupos de teatro e bandas de música, além de mostras de vídeo sobre a poetisa Cora Coralina.

            Contenta-me salientar aqui que a obra de Cora Coralina tem ganhado notoriedade no âmbito não só do Estado de Goiás, mas especialmente do Brasil.

            A respeito, vale referir as palavras da Srª Marlene Velasco, Diretora do Museu Casa de Cora, que observa: “Temos recebido aumento no número de visitantes ao museu, principalmente este ano. Estamos recebendo cada vez mais turistas, incluindo muita gente do exterior. Eles vêm e levam livros de Cora. Isso difunde o nome dela lá fora”.

            Nesse mesmo sentido, ressalta a Diretora: “Estão chegando muitas teses e dissertações de todo o País (...) A Academia tem uma visão mais atenta para a poesia de Cora”. Percepção semelhante, senhoras e senhores, tem Sérgio Brêtas de Almeida Salles, neto de Cora Coralina e organizador do festival.

            É Sérgio Brêtas quem nos traz uma visão interessante sobre a poeta da Casa da Ponte, quando esta dizia em poesia que a mensagem dela só seria entendida pelas gerações vindouras.

            De fato, o entendimento de Brêtas tem mostrado forte ressonância no meio poético e acadêmico, sobretudo a idéia da universalidade e, principalmente, da atemporalidade da poesia de Cora. Isso ocorre porque as palavras dessa maravilhosa “senhora dos versos” falam do ser humano, e o ser humano transcende o tempo nas angústias e questionamentos, nas alegrias e tristezas.

            Minha admiração pela obra de Cora Coralina é forte e profunda, porque será difícil encontrar alguém com tamanha percepção desse imenso e mágico universo que nos rodeia.

            Cora publicou o primeiro livro, Poemas e Becos de Goiás e Outras Histórias, quando já tinha 76 anos de idade. Por isso, fico a imaginar a dimensão que teria alcançado a obra de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a nossa Cora Coralina, se as circunstâncias de sua vida não a tivessem impedido de regar a vocação pela poesia, quando esta brotou ainda na juventude.

            O Festival 120 anos de Cora Coralina reafirma a permanência, alcance e longevidade da obra de nossa ilustre poeta, razão pela qual parabenizamos os seus realizadores e, em particular, o povo da cidade de Goiás, que tem sabido preservar a memória e a obra dessa expoente da cultura de Goiás.

            Por último, já encerrando, Sr. Presidente, eu gostaria de fazer aqui um registro. O Presidente da República, o Presidente fanfarrão, falastrão, mais uma vez levou a sua caravana política, levou o seu palanque eleitoral para um Estado brasileiro. Desta feita o escolhido foi o meu Estado, o grande e o extraordinário Estado de Goiás, Estado que cresceu, nos últimos dez anos, muito mais do que a média brasileira, duas vezes mais do que a média brasileira.

            Durante os dois mandatos em que fui Governador, durante sete anos e três meses, esse Estado teve o seu PIB multiplicado por três e, suas exportações, por dez; chegou ao oitavo lugar em competitividade e ao nono em riquezas; gerou mais de quinhentos mil empregos; realizou investimentos superiores a R$10 bilhões, viabilizando mais de mil grandes indústrias. É um Estado forte, um Estado que colabora com a geração de empregos. Neste último mês, acabou sendo o terceiro Estado colocado em termos de geração de empregos no Brasil.

             Pois bem, o Presidente foi ao Estado para lançar a candidatura de sua candidata à Presidência da República, escolher o seu preferido à sucessão estadual, montou um palanque político e não quis saber de assuntos que dissessem interesse ao Estado - falou en passant desses assuntos. Os governos locais, Senador Mão Santa, gastaram R$5 milhões para a promoção da ida do Presidente da República ao Estado: gastos com mídia, gastos com palanque, gastos com transporte, gastos com ônibus; dispensaram os alunos, dispensaram o comércio. Pensavam em levar cinquenta mil pessoas ao local e levaram pouco mais de oito mil pessoas; falavam em inaugurar cinco mil casas e sequer inauguraram as cerca de duas mil construídas com dinheiro da Caixa Econômica Federal. Enfim, um fiasco total de público e, principalmente, um fiasco político.

            O Presidente conseguiu desagradar a gregos e troianos. Gastou-se dinheiro público, não se levou em consideração que a maioria dos hospitais, em Goiás, não tem tomógrafo funcionando - acorrem hoje ao Crer, que é um hospital que nós construímos -, deixaram de levar em consideração a precariedade de muitas escolas, das cadeias públicas, para fazer uma verdadeira farra com o dinheiro público na promoção da visita do Presidente da República.

            Visitaram um túnel da Ferrovia Norte-Sul, que está embargada em quase todos os seus trechos por superfaturamento nas obras. Falou-se do aeroporto, que está embargado por superfaturamento também para construção da sua obra. Mas, de concreto mesmo, o que se viu foi um palanque político com um Presidente destemperado a falar dos seus adversários e a fazer promoção política dos candidatos de sua preferência.

            Lamento o que ocorreu no meu Estado, Sr. Presidente, porque, na verdade, nós esperamos de um Presidente da República a figura de um magistrado, de uma pessoa equilibrada, sensata, que não misture as questiúnculas políticas regionais, locais com as questões maiores da Nação. O verdadeiro estadista, como foi Juscelino Kubitschek, como se portou Fernando Henrique Cardoso, como foi Getúlio Vargas, realmente precisa pensar nas futuras gerações e não nas próximas eleições; precisa pensar no conjunto da sociedade, respeitar a oposição, respeitar aqueles que têm a coragem de aqui, desta tribuna, colocar com franqueza suas divergências em relação a pontos de vistas, Senadores e homens públicos que não sejam cooptáveis, que tenham um lado que não sejam flexíveis de acordo com as necessidades e com as conveniências de oportunidades.

            Desta forma, Sr. Presidente, vamos entrar com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral, com fitas, etc, no sentido de pedir que se coíba esse tipo de utilização de gasto público com promoção de candidaturas.

            O Presidente tem suas razões para não gostar de mim. Eu avisei que havia “mensalão”, ou seja, corrupção no País; no episódio da CPMF, tive a coragem de me posicionar contra a CPMF, porque o Brasil é o país que tem a maior carga tributária do mundo, quase 40% em relação ao seu PIB, o que encarece os produtos para os consumidores, sobretudo para os mais pobres; e tenho tido a coragem de manter uma postura independe aqui nesta Casa. Fiz a leitura da CPI da Petrobras. E não vou mudar uma vírgula em relação ao meu comportamento. Continuarei a ser coerente, continuarei a trabalhar pelo meu Estado, pelos goianos e pelos brasileiros.

            Era isso o que eu gostaria de dizer, agradecendo ao Sr. Presidente Roberto Cavalcanti, ao Senador Mão Santa e aos demais Colegas pela oportunidade de fazer aqui este pronunciamento.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2009 - Página 37551