Discurso durante a 137ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apreciação sobre o resultado da reunião de ontem do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO.:
  • Apreciação sobre o resultado da reunião de ontem do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar.
Aparteantes
Eduardo Suplicy, Jarbas Vasconcelos, Wellington Salgado.
Publicação
Publicação no DSF de 21/08/2009 - Página 37751
Assunto
Outros > SENADO.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, EMPENHO, ORADOR, OBTENÇÃO, TRANSMISSÃO, TELEVISÃO, REUNIÃO, CONSELHO, ETICA, SENADO, VIABILIDADE, OPINIÃO PUBLICA, CONHECIMENTO, INCOERENCIA, ACORDO, ARQUIVAMENTO, PROCESSO, FALTA, RESPEITO, POVO, OMISSÃO, VERDADE, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, MEMBROS, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • INFORMAÇÃO, APRESENTAÇÃO, RECURSO REGIMENTAL, TRANSFORMAÇÃO, PLENARIO, CONSELHO, ETICA, POSSIBILIDADE, VOTAÇÃO, PERMANENCIA, JOSE SARNEY, PRESIDENCIA, SENADO.
  • COMENTARIO, FALTA, TOLERANCIA, OPINIÃO PUBLICA, OMISSÃO, VERDADE, CONTINUAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, DEFESA, ETICA, SENADO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, o senhor tem sido testemunha do meu esforço de chegar aqui e falar sobre o futuro do Brasil.

            Dias depois de dias, eu chego aqui dizendo que venho com um discurso pronto para um projeto que possa ajudar no debate entre os candidatos a Presidente da República. Digo, cada vez que chego aqui, que vim com este discurso pronto, sobre o que seria para mim um Brasil limpo e que não basta mais a palavra “desenvolvido”. Tem que ser um País limpo, com as ruas tranquilas, com uma economia que não devaste a natureza, com um processo produtivo que distribua seus benefícios para todos, com um sistema de saúde onde não haja filas para doentes serem atendidos.

            Cada vez que chego aqui, fico prisioneiro do presente e não falo do futuro, porque o presente da questão ética no Senado obriga a cada um de nós a não fugir desse assunto e enfrentá-lo com firmeza. E fico adiando o discurso sobre aquilo para que vim a esta Casa, que é discutir o futuro do Brasil.

            Ontem, vim certo de que poderia falar sobre o Brasil do futuro, enquanto o Conselho de Ética trabalhava o problema ético, quando soube que o Conselho de Ética seria reunido de forma escondida, longe dos olhos do povo, sem a TV Senado transmitir. Imediatamente, eu disse em minha fala que me negaria a fazer o discurso; que eu ficaria dez minutos aqui parado em frente à televisão. A televisão teria de ficar transmitindo a minha figura por dez minutos em silêncio, a não ser que nós suspendêssemos a reunião do plenário aqui e a televisão fosse transmitir a sessão da Comissão de Ética.

            Felizmente, houve bom senso. O Presidente da Mesa, Marconi Perillo, pôs em votação, os que aqui estavam aprovaram, e nós assistimos ontem ao Conselho de Ética.

            Eu, Sr. Presidente, viria aqui hoje falar do futuro do Brasil. Porém, mais uma vez, não posso fugir da questão ética e comentar a reunião de ontem no Conselho de Ética. Eu fiz questão de não assistir pessoalmente ao Conselho, quando eu soube que tínhamos ganho aqui o direito de o povo brasileiro assistir à transmissão, pela televisão, a toda a reunião do Conselho de Ética. Então, eu preferi não ir ao Conselho e ficar assistindo. E fiz um exercício, Presidente Mão Santa: eu quis assistir à reunião do Conselho com outras pessoas em contato comigo; algumas ao lado, outras por telefone, para sentir o que é que o povo estava achando daquela reunião. Eu anotei, Senador Azeredo, o que as pessoas estavam achando da reunião de ontem, no Conselho de Ética. E eu aqui quero dizer o que é que eu anotei que as pessoas sentiam ao ver aquela reunião.

            Alguns me disseram: “Isso é uma falta de respeito”. Isso é uma falta de respeito ao povo que deseja saber o que é que de fato aconteceu e que se vê impedido, o povo, de saber o que aconteceu pelo arquivamento dos processos. Não se estava ali discutindo cassar ou não cassar nenhum Senador. Estavam ali discutindo cassar ou não cassar a verdade e o direito do povo de conhecer a verdade, inclusive a verdade de que tudo aquilo era falso, de que tudo aquilo era mentiroso. Esta foi uma afirmação que ouvi repetidas vezes: “É uma falta de respeito ao povo”.

         A outra é essa frase, martelada por muitos do povo, hoje, no Brasil inteiro: “Quero saber de tudo”. E, ali, ninguém conseguiu saber de nada. Por isso, casa tão bem com a anterior expressão de falta de respeito.

         Outra, que eu fico triste em dizer, é a ideia: “Houve um acordão. Fizeram um acordo. Havia dois blocos e cada um estava sendo acusado. Eles anularam as suas acusações.” Para mim, não existe a verdade, porque todos votaram - os que tinham apresentado os recursos contra o Senador Sarney - pelo desarquivamento. Se houvesse acordo, eles teriam votado pelo arquivamento, para que tivessem votado também pelo arquivamento do processo contra o Senador Arthur Virgílio. Mas a sensação que ficou foi de que fizeram um acordo.

         Outra frase, Senador, que eu vi foi: “O PT está cavando sua sepultura”. Cada vez que falava alguém do PT - como o Senador Mercadante, quando falou indo para um lado, indo para o outro, querendo se explicar - e quando foi lida a nota do Presidente do PT, as pessoas, por perto, diziam: “Estão cavando a sepultura para sepultar o PT”.

            Outra expressão que eu ouvi - e essa é muito forte: “Tiraram os pés da lama e colocaram nela a própria cabeça”. Essa é uma expressão que ouvi em relação não a fulano ou a sicrano, mas em relação ao Senado inteiro, ao próprio Senado. Tiraram os pés da lama e colocaram nela a cabeça. Isso é o povo assistindo. Isso é o povo vendo.

            Outra, que é de preocupar qualquer um de nós aqui que deseja continuar na vida pública: “Não votarei mais”. Eu perguntei: “Não votará mais em quem?” “Em ninguém.” Eu disse: “Em ninguém, não. Nesses?” Ela disse: “Não, não nesses. Em ninguém. Eu não preciso mais de título eleitoral a não ser para mostrar que tenho esse documento, que é obrigatório”. Essa é a sensação com que as pessoas foram ficando à medida que se desenrolava ontem a reunião.

            Outros disseram diferentemente, Senador Jarbas, de quem disse que não votaria mais. Foram para o outro lado: “Eu vou para as ruas. Eu vou para as ruas, porque, de lá de dentro, não vai sair nada que nos permita saber a verdade, punir quem for responsável, caso seja verdade que foi responsável”.

            Ouvi também uma dizendo: “Melhor fechar”. E a gente perguntava: “Fechar o quê?” “Fechar tudo”. E aí você tem de explicar que fechar tudo significa manter abertos os quartéis, que vão mandar. Mas, quando a gente precisa explicar por que o Congresso tem de estar aberto, significa que o Congresso está muito fraco.

            Uma outra pergunta foi: “Foi para isso que lutei para abrir o Senado no passado?” Essas são as afirmações que eu ouvi enquanto assistia de longe. Não quis ficar dentro do Conselho exatamente para ter a opinião das pessoas que iam assistir àquela reunião.

            Senador Mão Santa, eu fiquei indignado com a maneira como foi conduzido esse processo. E quero conceder um aparte ao Senador Jarbas Vasconcelos e, depois, concluir o meu discurso.

            Mas, quero dizer que, neste momento, ao assistir àquela reunião eu me senti muito mais afinado com o povo lá na rua do que com os meus colegas aqui dentro. Muito mais, muito mais! E isso eu levo para uma lição que precisamos tomar. Não adianta a paz da sepultura fechada por acordos ou não aqui dentro. Enquanto não tivermos a paz com as ruas, nós não estaremos em paz aqui dentro.

            Senador Jarbas Vasconcelos.

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE. Com revisão do aparteante.) - Senador Cristovam, eu gostaria de em primeiro lugar parabenizá-lo pela iniciativa de ontem. V. Exª foi muito feliz ao convocar companheiros senadores, para que comparecessem aqui, ao plenário, no início da sessão, às 14 horas, para mostrar que, embora soubéssemos antecipadamente o resultado do Conselho de Ética, era importante que a reunião da Comissão fosse transmitida à Nação, que aquela pantomima fosse mostrada à Nação. A oposição tem enfrentado alguns percalços, como é natural, mas nos últimos meses está a enfrentar aqui neste plenário uma verdadeira guerra regimental, com o Regimento Interno sendo usado sempre contra a Oposição. E V. Exª conseguiu, com aquela sua iniciativa, apoiada por alguns Senadores, fazer com que a sessão do plenário fosse interrompida, para que a reunião do Conselho de Ética fosse transmitida para o Brasil inteiro. O único reparo que faço em sua fala é exatamente este: V. Exª disse que a atitude de ontem para nada serviu. E não é verdade. Serviu, e muito. V. Exª não tem idéia, da quantidade de manifestações que temos recebido, do País inteiro, por termos viabilizado a reunião do Conselho de Ética ontem, pela TV Senado. Se não fosse a sua iniciativa, o País não teria visto ontem o que viu: o Senado completamente desmoralizado.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE) - De forma que foi muito importante a sua iniciativa, e V. Exª é um daqueles que se coloca na linha de frente aqui. Quem imaginar que este Senado vai passar a conviver e a existir a partir de hoje como se nada tivesse acontecido, é um erro. O Senador que está renunciando ao cargo de Líder do PT, o Senador Aloizio Mercadante, disse isso hoje numa entrevista: “Se iludem aqueles que imaginam que, no Senado, não vai acontecer nada”. Vai acontecer, sim. Isso independe de jogadas ou de malandragem. É questão de tempo, é um processo. Esse processo está estabelecido. Quem moveu ações contra o Presidente da Casa não foi V. Exª, não fomos nós, da Oposição. As ações são frutos de um vazamento da Polícia Federal, de inquérito que corre sob segredo de justiça e que a imprensa teve acesso. Não teve nenhum Senador, aqui, nenhum membro do Parlamento, que chegou para entregar à imprensa aqueles fatos. E esses fatos, evidentemente vão continuar sendo analisados, por maior perseguição que se possa fazer à imprensa. Não adianta censurar jornais, como se encontra censurado o jornal O Estado de S. Paulo. O volume das indignações vai aumentar, não vai cessar, não vai diminuir. É uma completa ilusão imaginar que esse processo de insatisfação, esse processo de indignação, de repúdio à ação do Senado vá passar - por isso o questionamento da sociedade sobre a existência ou não do Senado, e nós devemos ter paciência para enfrentar isso. É normal que uma parte da população pense assim. É o nosso dever mostrar que o Senado é importante, como V. Exª sempre tem feito, mostrando a importância da existência do Congresso. Não é por se encontrar desmoralizado que o Congresso deva ser fechado. A gente deve levar essa luta a todos os limites. Ultrapassar esses limites da indignação, da repulsa que existem hoje na opinião pública, para demonstrar a importância do Senado. Isso é um momento, é um episódio, muito ruim para o Congresso e péssimo para o Senado da República. Tenho certeza de que, em toda sua existência, a instituição nunca viveu esse momento de degradação que está vivendo. Mas eu tenho certeza de que sairemos disso. Para encerrar, senhor senador. Imaginar que a partir de hoje, 20 de agosto, este Senado vai voltar a funcionar como se nada tivesse acontecido, é o maior dos enganos. E V. Exª, que é um homem inteligente, sabe disso e por isso foi à tribuna hoje, mais uma vez, para reiterar a sua indignação, que é a indignação hoje que toma conta de larga parcela da opinião pública. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador. Eu concluo, na linha do Senador Jarbas Vasconcelos. Hoje nós estamos piores do que ontem na opinião pública. Até ontem, estávamos mal, porque não estávamos apurando. Agora, estamos muitas vezes pior por termos dito: “Não vamos mais apurar.”

            Essa é uma declaração que o Conselho de Ética deu...

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE) - Mas V. Exª há de reconhecer que o fato de a reunião do Conselho de Ética ter sido transmitida ontem para o Brasil inteiro ajudou isso. Senador Cristovam, primeiro para parabenizá-lo pela iniciativa de ontem. V. Exª foi muito feliz ao convocar companheiros seus, Senadores, para que comparecessem aqui ao plenário, no início da sessão, às 14h, para mostrar que, embora sem nenhuma importância o Conselho de Ética, era importante que aquilo fosse mostrado à Nação, que aquela pantomima fosse mostrada à Nação. Enfrentamos alguns percalços, como tem sido natural, nos últimos meses, a Oposição enfrentar aqui neste plenário uma verdadeira guerra regimental - sempre o Regimento sendo usado contra a Oposição. E V. Exª conseguiu, com aquela sua iniciativa, apoiada por alguns Senadores, fazer com que a sessão aqui fosse interrompida e transmitida para o Brasil inteiro. O único reparo que faço em sua fala é exatamente este: para que serviu ontem? Para nada. Não, serviu, serviu muito. V. Exª não tem ideia das manifestações do País inteiro que temos recebido de ter visto o que viu ontem na televisão. Se não fosse a sua iniciativa, o País não teria visto ontem o que viu: o Senado completamente desmoralizado e uma série de atos promovidos aqui dentro do Senado e levados ao Conselho de Ética, e que a população, por meio daqueles que pensam...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Jarbas Vasconcelos (PMDB - PE) - ...puderam perceber tudo isso. De forma que foi muito importante a sua iniciativa, e V. Exª é um daqueles que se colocam na linha de frente aqui. Quem imaginar que este Senado vai passar a conviver e a existir a partir de hoje como se nada tivesse acontecido, é um erro. O Senador renunciante, que está renunciando ao cargo, o Senador Aloizio Mercadante, dizia isto hoje numa entrevista: “Se iludem aqueles que imaginam que, no Senado, não vai acontecer nada”. Vai acontecer, sim. Isso independe de jogadas, de malandragem, disso, daquilo, independe disso. É questão de tempo, é um processo. Esse processo está estabelecido. Os que moveram as ações contra o Presidente da Casa não foi nem V. Exª, não fomos nós, da Oposição, mas um vazamento da Polícia Federal em inquérito sob segredo de justiça a que a imprensa teve acesso. Não teve nenhum Senador da República, nenhum membro do Parlamento, que chegou para entregar à imprensa aqueles fatos. E esses fatos, evidentemente, vão continuar sendo analisados, por maior perseguição que se possa fazer à imprensa, censurar jornais, como se encontra censurado o jornal O Estado de S. Paulo, mas esse volume de indignação vai aumentar. Ele não vai cessar, ele não vai diminuir. É uma completa ilusão imaginar que esse processo de insatisfação, esse processo de indignação, de repúdio à ação do Senado - daí a questão da existência ou não do Senado, que a gente deve ter paciência para enfrentar isso. É normal que uma parte da população pense isso, está no dever nosso, meu e seu, mostrar que é importante, como V. Exª sempre tem feito, a existência do Congresso. Não é por se encontrar desmoralizado que o Congresso deva ser fechado. A gente deve levar essa luta nossa a todos os limites. Ultrapassar esses limites da indignação, da repulsa que tem hoje a opinião pública, para demonstrar que é importante o Senado. Isso é um momento, é um episódio. É muito ruim para o Congresso, péssimo para o Senado da República. Tenho certeza de que, em sua existência, ele nunca viveu esse momento de degradação que está vivendo. Mas eu tenho certeza de que a gente sai disso. Agora, para encerrar, imaginar que a partir de hoje, 20 de agosto, este Senado vai funcionar, e vai funcionar como se nada tivesse acontecido, é o maior dos enganos. E V. Exª, que é um homem inteligente, sabe disso e por isso foi à tribuna hoje, mais uma vez, para reiterar a sua indignação, que é a indignação hoje que toma conta de larga parcela da opinião pública. Muito obrigado a V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Sem dúvida alguma, foi fundamental para que o povo tomasse consciência. E nós não vamos sair disso enquanto a nossa consciência não casar com a consciência da opinião pública e da população brasileira.

            Antes de encerrar, concedo um aparte ao Senador Suplicy.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Cristovam Buarque, quero concordar com V. Exª e com o Senador Jarbas Vasconcelos sobre a relevância de o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar ter tido a sua reunião ontem transmitida ao vivo pela TV Senado, pela Rádio Senado, para todo o Brasil. O interesse foi tão grande que praticamente todas as emissoras que acompanharam transmitiram também ao vivo, o que fez com que a Nação acompanhasse toda a dificuldade envolvida com as decisões. Quero também expressar, no que diz respeito ao Senador Aloizio Mercadante, que ele havia tomado a decisão de deixar...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - ...a liderança do Partido dos Trabalhadores no Senado, mas avaliou que deveria atender ao pedido do Presidente Lula transmitido pelo Ministro José Múcio de um diálogo antes que ele tomasse a decisão. Eu aqui, no aguardo do diálogo, transmiti ao Senador Aloizio Mercadante que eu e a maior parte dos Senadores do PT fomos solidários a ele no sentido de manter o posicionamento de que o Presidente José Sarney, conforme V. Exª também propôs, comparecesse ao Conselho de Ética, pedisse licença do cargo de presidente para, então, submeter-se ao esclarecimento completo do fato. Ele poderia e pode ainda fazê-lo. Claro que estamos aguardando a decisão do Senador Aloizio Mercadante. Mas imagino que, no diálogo com o Presidente Lula, ele esteja dizendo por que nós avaliamos que, ao contrário de ser uma atitude de diminuição, será uma atitude de engrandecimento por parte do Presidente Sarney comparecer ao Conselho de Ética, senão aqui dentro do próprio plenário, respondendo as minúcias sobre cada uma das dúvidas que acontecem relativamente ao conteúdo das representações. E isso ainda pode ocorrer, porque, como V. Exª e outros, pelo menos dez, Senadores assinaram um recurso para que a matéria seja reexaminada no plenário do Senado. Então, o assunto voltará para o exame de nós Senadores. E eu aqui expresso, caso o Senador José Sarney permaneça com a atitude de não realizar o que nós... Eu próprio tenho reiteradamente proposto que ele possa, como fez ontem o Senador Arthur Virgílio, esclarecer os episódios; S. Exª reconheceu ali onde houve algo que ele avaliou, e outros Senadores, como inadequado, tomou as providências - no caso ali de ressarcimento e assim por diante - e, em função do reconhecimento dos fatos, das atitudes para corrigi-los, então, praticamente, por consenso, a representação sobre ele foi arquivada. No outro caso do Presidente, avalio que o assunto voltará para ser discutido no âmbito do plenário do Senado, em função do recurso que regimentalmente deverá ser levado em consideração, conforme V. Exª, que é um dos signatários.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Eduardo Suplicy, agradeço sua força e otimismo diante da possibilidade de a gente continuar tentando aqui dentro, e é nesse sentido que estamos apresentando um recurso ao Plenário, que é superior a tudo mais. Se isso acontecer e pudermos transformar este Plenário em um imenso Conselho de Ética e pudermos, no final da fala do Presidente Sarney, defendendo-se, explicando-se, fazer uma votação aqui, aberta pelo painel, para saber se ele tem mais de 41 votos ou não, aí a gente pode voltar a ter esperança de resolver isso aqui dentro.

            Mas eu confesso que não vejo muita esperança nisso, Senador Suplicy. Não vejo muita esperança nisso, porque vão alegar razões regimentais, porque vão criar mecanismos que impeçam isso e, como eu não vejo isso como uma possibilidade, embora vamos continuar tentando, eu temo, como disse o Senador Jarbas, que continuemos iludidos com a ideia de que o Conselho ao arquivar, o Senado arquivou e, em o Senado arquivando, a opinião pública arquivou.

            Não é verdade. O Conselho de Ética arquivou, o Senado ainda não engoliu o arquivamento e, se o Senado o engolir, eu duvido que o povo brasileiro, como está hoje, Senador Wellington, arquive essa situação.

            Nós vamos continuar por meses e meses até a próxima legislatura, provavelmente, sem que isso seja arquivado...

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Cristovam, um minuto para concluir.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Para mim, não é preciso mais do que um minuto.

            Vamos levar até a próxima legislatura, talvez, para que novos Senadores cheguem aqui e o povo diga: “Temos gente nova. Vamos ver se haverá um comportamento novo”.

            Até lá, não vai estar arquivado esse processo na opinião pública, e vão continuar os movimentos de jovens, de adultos; os adesivos de carro, como os que já existem; as manifestações nas ruas; os nossos e-mails cheios de manifestações todos os minutos, e o processo, que parecia arquivado, continua aberto.

            Nós estamos com algo muito ruim insepulto.

            É isso que eu tenho para dizer, Senador, mas o Senador Wellington quer um aparte, e eu jamais negaria um aparte a ele, especialmente.

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Obrigado, Senador Cristovam. Se o Senador Mão Santa me der um minuto...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Muito obrigado, Presidente. Senador Cristovam, entendo perfeitamente como as coisas acontecem, os posicionamentos de determinados políticos, as situações em que acreditam determinados políticos. Acredito em uma coisa: Regimento Interno. Se não houver regra vira confusão, balbúrdia, não se sabe nem para aonde vai. Acredito no Regimento Interno do Senado. O Regimento da Comissão de Ética é a Resolução nº 20. Na época em que tivemos problemas com o Presidente Renan existiam caminhos que poderiam ser tomados, recursos para a Mesa, da Mesa para a CCJ; aí reuniu-se um grupo de Senadores que modificou esse Regimento do Conselho de Ética. Modificou-se como? Tudo agora acontece dentro do Conselho de Ética. Estou aqui com eles nas mãos. Estou com os dois aqui porque estou estudando os dois. Hoje sou Vice-Presidente da CCJ. Mandei pedir nos arquivos. Está aqui a Resolução nº 38, nº 999 e nº 1000/2007. Estou estudando tudo isso. O que foi colocado? Foi colocado o seguinte: tudo se passa no Conselho de Ética. Se for arquivado no Conselho de Ética não há nenhum recurso mais. Essa regra foi criada em 2007, essa legislação específica para o Conselho de Ética, para que não houvesse recurso para tudo o que passasse pelo Conselho Ética. Isso não retardaria os julgamentos. Foi aprovado. Inclusive - e peguei a lista de presenças - fui um dos que estavam presentes e votei a favor. Foi Relator o Senador Jarbas. Claro que com emendas de vários Senadores, como o Delcídio, Valadares, uma série de Senadores. Não cabe mais nenhum recurso. Participei da votação. Não botei emenda, mas aprovei porque era a vontade dos Senadores. Muito bem, primeiro caso que temos é este agora do Presidente Sarney e o do Senador Arthur Virgílio, os dois estão agarrados. Muito bem, morreu ali para mim...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Morreu porque eu estou seguindo a regra, a regra criada pelos Senadores desta Casa na Comissão de Constituição e Justiça. Aí vem, passa-se por cima da modificação que foi criada naquela crise do Presidente Renan e se passa para a imprensa e para o povo brasileiro que existe mais um recurso: não, vamos protocolar, que tem mais um recurso para o Plenário. Esse recurso não existe. Aí o que acontece? Não sei para aonde vai isso. Vai para a Mesa, a Mesa, se seguir o Regimento, dirá não, não tem, está arquivado. Aí criam-se expectativas como se estivessem fazendo pizza aqui dentro. Isso não existe. Então muda-se a regra e fala-se o seguinte: olha, dali pode-se recorrer para o Plenário, do Plenário pode-se recorrer para uma grande votação da população... É possível também, mas tem que se fazer a regra, sem regra não funciona. O que a gente não pode, Senador Cristovam - e disso eu discordo -, é criar falsas expectativas para o povo, para a imprensa, para os telespectadores da TV Senado de que existe um recurso que pode levar de novo. E o que acontece, Senador Cristovam? Eu costumo circular no Senado e converso com todos os Senadores. Não existe nesta Casa, todo esse embate que aconteceu, se colocarmos, tem 20 Senadores, nos quais eu me coloco, que participaram dessa discussão inteira, V. Exª também, com posições bem definidas; e existem 60 Senadores que não participaram desse embate, têm posição formada e sofreram desgaste junto à opinião pública, pela agressividade desta Casa. E eles não participaram, Senador Cristovam, conheço todos eles, grandes Senadores, ex-Governadores, ex-Prefeitos, Senadores já outras vezes, têm opinião formada sobre o assunto. E nós sabemos que não existe clima neste Senado para cassação nem do Senador Arthur Virgílio, nem do Presidente desta Casa.

(Interrupção do som.)

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Obrigado, Presidente Mão Santa. Nós criamos mais uma situação para continuar esse embate. A opinião pública já está formada. Ela já sabe o que acha diante do que está. E vamos, mais uma vez, tentar criar mais uma posição para que esse grupo se confronte mais uma vez e desgaste não só esse grupo, mas também os outros 60 Senadores que não estão participando do que está acontecendo aqui; eles têm opinião formada e também estão sendo desgastados por esse confronto que está acontecendo aqui, que interessa para alguns, mas para outros, não. Eu me senti totalmente desgastado porque defendi o que eu acredito. Fui contra amigos que tenho em outros partidos. Tive posicionamento firmado no que eu acredito e no que acredita o meu partido. Eu acredito na governabilidade deste País e no que este Governo está fazendo pelo País. Eu acredito que este é um bom Governo. E V. Exª fez parte deste Governo no início, um grande Ministro. Sofreu também, foi demitido por telefone, mas foi um grande Ministro. Eu vi V. Exª como um grande Ministro. Problemas políticos acontecem. V. Exª pagou o preço. Está aqui como um grande Senador, defendendo o que acredita. Agora, vamos criar a falsa expectativa para a população, para a imprensa e para os ditos formadores de opinião de que existe mais um recurso. Aí a Mesa diz: não tem condição. Aí vamos expor a Mesa, vamos voltar a expor os 60 Senadores. Eles não aparecem. Aqui, agora, nós temos o Presidente Mão Santa, V. Exª, eu, o Senador Jayme Campos, o Senador Azeredo, o Senador Suplicy, e os demais estão trabalhando, visitando os ministérios ou vendo nos gabinetes. Esses que não estão aqui é que representam a alma deste Senado. Não é quem fala todo dia na tribuna não. V. Exª também definiu o seu lado, Senador Azeredo, como eu também. Mas esses que não falam na tribuna e falam sobre os seus Estados em outras situações, esses é que representam a alma do Senado, esses é que dão os conselhos, esses é que conversam e são os que menos aparecem. Muitas vezes, os que vão à tribuna toda hora se acham melhores do que esses que não aparecem. É isso, Senador Cristovam, que acontece. A pior desgraça para um homem é a vaidade. A vaidade quando vem você acha que é o melhor do mundo, que é valente, que pode tudo, aí você se arrebenta. É isso que acontece. Então, eu acho que esses que estão assinando estão criando mais um problema para o Senado, que já sofreu um desgaste grande. É um jogo do perde-perde. Eu nunca vi ética coletiva. V. Exª tem uma ética, eu tenho uma, o Senador Jayme Campos tem, e o ideal é que seja aceita 90% pela sociedade. Noventa por cento, se a nossa ética for aceita pela sociedade. Agora, em ética coletiva eu não acredito. Totalmente igual, eu não acredito. Então eu acho que é mais um desgaste para o Senado sobre algo que não existe. Mas, em todo caso, o direito de requerer todo mundo tem. Eu sou oriundo de universidade. Qualquer aluno pode requerer qualquer coisa. Recebe sim ou não. Mas eu sinto que o desgaste para com esses outros Senadores, que não estão sendo desgastados por esse confronto, isso não é honesto da nossa parte, Senador Cristovam. Não é honesto da nossa parte.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Wellington, em primeiro lugar, eu quero dizer que em nenhum momento apareceu a palavra cassação em relação, nem ao Arthur Virgílio, nem ao Senador Sarney. Pelo menos de minha parte, nem em pensamento chegou a aparecer.

            Segundo, Senador em silêncio não é Senador. Tem que falar, tem que estar aqui, tem que tomar posição, Senador Wellington.

            O senhor disse que ética é relativa. A minha ética de Parlamentar é essa. Agora, eu admito que haja diferenças realmente.

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Os melhores são os que não falam; V. Exª está enganado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu não falei se é melhor ou pior.

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - V. Exª está enganado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu não falei se é melhor ou pior. Isso eu nunca, jamais falei aqui que alguém é melhor do que outrem. Agora, parlamentar vem de falar. Quer dizer falar, na etimologia da palavra. Não é possível não falar. Eu duvido que fiquem em silêncio durante a campanha.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senador Cristovam, um minuto para a conclusão.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Se falam durante a campanha, têm que falar durante o mandato. Agora, a relatividade da ética eu ainda admito, mas tem uma coisa que não...

            O Sr. Wellington Salgado de Oliveira (PMDB - MG) - Senador Cristovam, não me faça ser injusto com os Senadores - desculpe até falar -, mas eles não falam sobre esse assunto, que foi o confronto que aconteceu nesta Casa.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Está bem. Está bem. Então está melhor explicado. Não falam sobre este assunto - aí é até um direito -, um assunto ou outro. Ninguém é obrigado a falar de todos os assuntos. Nisso eu estou de acordo. Agora, há uma coisa que é absoluta: não a ética em si, mas a verdade. A verdade é essa. Não existe verdade para um e verdade para outro, e nós não estamos mostrando ao povo a verdade, não deixamos o povo saber se os jornais estão mentindo. Não deixamos! Aí é que há a diferença entre o Senador Arthur Virgílio: ele veio aqui e expôs a verdade e a verdade é a que saiu nos jornais. Aí pediu desculpas, pagou. É outra coisa a analisar se isso justifica perdão. É outra coisa.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Um minuto, Senador Cristovam.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Está bem, Senador. Aí é analisar relativo à ética. Há o que acha que, ao pagar, já foi perdoado e há o que acha que o erro não tem perdão porque foi um erro. Aí eu aceito que haja diferença. Agora, tem que saber a verdade. No caso dele, a gente soube a verdade porque ele confessou, depois que foi divulgado. No caso das representações e denúncias contra o Presidente Sarney, nós vamos continuar sem saber se elas são verdadeiras ou não.

            Isso é ruim para o Senador Sarney e isso é ruim para a Casa, porque ele é o Presidente; e isso é ruim para a República. E isso faz com que o povo pense da maneira como eu disse aqui e como eu fiquei conversando durante o Conselho.

            E, lamentavelmente, o que é pior de tudo é deixar algo insepulto, quando deveria ser sepultado. Mentira, mentira; verdade, verdade; perdão, perdão; punição, punição! Nós não enterramos o que está aparecendo.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/08/2009 - Página 37751