Discurso durante a 147ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagens ao Senador Edward Kennedy, falecido na semana passada.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagens ao Senador Edward Kennedy, falecido na semana passada.
Aparteantes
Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 03/09/2009 - Página 41141
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, PARLAMENTAR ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), ELOGIO, VIDA PUBLICA, CONTRIBUIÇÃO, HISTORIA, DEMOCRACIA.
  • REGISTRO, HISTORIA, VISITA, EX SENADOR, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), MUNICIPIO, NATAL (RN), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN).

            O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi com dramática comoção que o mundo tomou conhecimento da notícia do falecimento do senador norte-americano Edward Kennedy, na semana passada, vítima de um fulminante câncer no cérebro. Considerado um dos mais atuantes parlamentares da história dos Estados Unidos, seu compromisso democrático e intransigente com a garantia dos direitos civis e com o final das desigualdades selou vitoriosamente sua contribuição para a história política e parlamentar daquele país.

            Como bem salientou o atual Presidente norte-americano Barack Obama, a morte do Senador Kennedy representa o fim de uma era heróica na história dos Estados Unidos. Membro mais novo de uma família integralmente dedicada ao exercício da política mais nobre na tradição do Mayflower, Ted Kennedy seguiu os mesmos passos dos irmãos mais velhos, John e Robert, condensando e consolidando um itinerário mítico de carisma, idealismo político e trágicas mortes.

            Sr. Presidente, como é sabido, Senador Paulo Paim, Senador Mão Santa, o auge do domínio do clã Kennedy na política se deu nos anos 60, com a eleição do então jovial Senador John Kennedy à Presidência da República. Foi durante tal período que se costurou um futuro de dominação política familiar por décadas à frente. Em que pesem todas as mortes trágicas que se sucederam a partir de então, nada, nem ninguém, soube impedir o avanço carismático do clã sobre o imaginário norte-americano. Pelo contrário, os assassinatos dos irmãos John e Robert serviram, ainda que ironicamente, a perpetuar a ideia e o sentimento de dívida da nação em prol da família Kennedy.

            Carismático, sem dispor do talento, talvez, dos irmãos mais velhos, Ted Kennedy soube paulatinamente ocupar o vazio de liderança herdada dos irmãos, introduzindo-se como prometida candidatura à Casa Branca. Para tanto, cumprira rigorosamente os requisitos exigidos, elegendo-se Senador nas eleições de 1962. Todavia, em virtude de tropeços pessoais irreconciliáveis com o padrão requerido à época para galgar a presidência, desistiu, nos anos 80, do plano original e entregou-se por inteiro à causa parlamentar.

            Nesse contexto, o Senador democrata por Massachusetts foi notadamente o motor político do Congresso nas últimas décadas e o último representante do clã na Casa revisora. Sem dúvida, incorporava a alma do Partido Democrata. Prova disso é que, durante o cortejo fúnebre no sábado último, milhares de pessoas em Boston saudavam o Senador Kennedy e toda sua família.

            No Senado, converteu-se na principal figura liberal, defendendo a aprovação de centenas de milhares de leis e, por isso mesmo, colhendo a estima até de rivais Republicanos. Em 46 anos de representação no Senado pelo Partido Democrata, Edward Kennedy alternou momentos de farta celebridade e de desmesurada catástrofe. Como bem relatou o The New York Times, “ele foi um homem de grande confiança...”, combinando um caráter jovialmente melancólico com ares de austera disposição guerreira e de liderança implacável.

            Líder inconfundível, Sr. Presidente, dos democratas, imprimiu marca indelével na confecção legislativa norte-americana, envolvendo-se em questões de direitos civis, de saúde, de educação, de trabalho e de direitos eleitorais. Pelo mérito que soube conquistar, exercia no Senado a presidência da poderosa Comissão de Saúde, Educação, Trabalho e Pensões.

            Srªs e Srs. Senadores, livre da expectativa de que deveria perseguir o mais alto cargo da República americana, o Senador Kennedy dedicou-se plenamente à atuação parlamentar. E não poupou esforços de lutar pelo voto aos 18 anos, pela abolição do serviço militar, pela desregulamentação das indústrias de transporte aéreo e de caminhões. A ele também se atribui a campanha pela regulamentação da legislação financeira, após o escândalo de Watergate.

            Nesse nível de envolvimento, destinou parte de sua trajetória senatorial à sustentação pública dos centros comunitários de saúde, bem como ao financiamento de pesquisas em favor da cura do câncer. Exaustivamente, batalhou por programas nutricionais de apoio às mulheres grávidas e às crianças.

            Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

            O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Garibaldi, em boa hora V. Exª rememora e revive na democracia os Kennedy. O pai, obstinado, queria fazer um filho Presidente. Primeiro, ele preparou o mais velho: Joseph Kennedy que era da Aeronáutica e que, na última guerra, faleceu. Aí, ele transferiu o sonho ao John Fitzgerald Kennedy, e continuou o Bob e o Ted... Mas é muito oportuno no momento que nós vivemos, porque o Kennedy - além daquela simpatia da Jacqueline e da Aliança para o Progresso, a Bacia dos Porcos -, o que o eternizou não foi a Aliança para o Progresso, em que ele é benemérito; foi o Projeto Apollo 11 para conquistar o espaço, competindo com a Rússia. E nós devemos tudo a ele, sobre essa conquista do espaço: o homem à lua, esses satélites e tudo. Quer dizer, foi a visão de futuro que V. Exª rememora, e é muito oportuno hoje no Brasil que está começando a se debruçar sobre o futuro da nossa riqueza, que é o petróleo.

            O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN) - Agradeço ao Senador Mão Santa, que trouxe novas informações a respeito da atuação não apenas de Ted Kennedy, mas dos três irmãos que atuaram na política norte-americana com grande vigor e com grande idealismo.

            O que é certo, Sr. Presidente, é que, sem exageros, os biógrafos são unânimes em relatar que o Senador Kennedy estava determinado a transformar a função parlamentar em algo muito mais socialmente produtivo do que a reproduzir o mero rótulo de celebridade fácil para fins midiáticos. O seu compromisso inarredável com as obrigações públicas jamais o deixou ingressar despreparado em quaisquer dos debates em sessões de comissão e do plenário.

            É bem provável que sua atuação mais proeminente no Senado norte-americano tenha sido no campo dos direitos civis, mais especificamente em 1990, quando se aprovou a lei em favor dos americanos portadores de deficiência, exigindo das empresas e dos órgãos públicos mudanças logísticas para a acomodação de empregados naquelas condições. Isso sem levar em consideração que, no final dos anos 60, não hesitou em se posicionar inarredavelmente contra a guerra do Vietnã.

            Sr. Presidente, tendo em vista que o tempo já foi ultrapassado, eu queria encerrar o meu discurso dizendo que também na opinião dos biógrafos do Senador Ted Kennedy, uma das características indiscutíveis foi sua habilidade em identificar aliados entre os representantes do Partido Republicano, os seus adversários. Com o propósito de aprovar projetos espinhosos e controversos, não se furtava a atrair potenciais adversários para o seu campo de batalha.

            Eu não poderia terminar sem dizer que Natal, a minha cidade, recebeu não a visita de Ted Kennedy, mas de Bob Kennedy, seu irmão, nos idos de 1960, mais precisamente em 1962. O Governador Aluízio Alves convidara o Presidente John Kennedy para se fazer presente dentro do Programa Aliança para o Progresso a uma inauguração justamente do Instituto Kennedy. E Bob Kennedy chegou a subir no telhado daquela instituição, juntamente com o Governador, tal era a multidão que se formara para aplaudi-lo em sua visita a Natal e ao Brasil.

            Desde aquela visita de Bob Kennedy, fiquei com a impressão da informalidade, da disposição daquela família para enfrentar os desafios políticos de qualquer natureza. E Bob Kennedy, realmente, conquistou a todos nós naquela sua visita. Mas hoje, lamentavelmente, estou aqui para render homenagens ao último deles: o Senador Ted Kennedy.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/09/2009 - Página 41141