Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Satisfação em saber que o Presidente Lula suspendeu o pedido de urgência a respeito dos projetos do pré-sal e que receberá bem os candidatos do bloco de apoio ao Governo para concorrem à Presidência da República. Reflexões sobre a necessidade do PDT lançar um candidato à Presidência da República.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.:
  • Satisfação em saber que o Presidente Lula suspendeu o pedido de urgência a respeito dos projetos do pré-sal e que receberá bem os candidatos do bloco de apoio ao Governo para concorrem à Presidência da República. Reflexões sobre a necessidade do PDT lançar um candidato à Presidência da República.
Aparteantes
Flávio Torres, João Pedro, Mozarildo Cavalcanti, Osvaldo Sobrinho, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 12/09/2009 - Página 42986
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. ELEIÇÕES.
Indexação
  • IMPORTANCIA, DECISÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RETIRADA, PEDIDO, REGIME DE URGENCIA, DISCUSSÃO, PROJETO, EXPLORAÇÃO, PETROLEO, RESERVATORIO, SAL, RECONHECIMENTO, RELEVANCIA, AMPLIAÇÃO, NUMERO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, BANCADA, APOIO, GOVERNO, INCENTIVO, DEMOCRACIA, AUSENCIA, RETROCESSÃO.
  • IMPORTANCIA, ABERTURA, AMPLIAÇÃO, NUMERO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), INTERESSE, TRANSFORMAÇÃO, BRASIL, DEFESA, ECONOMIA, VINCULAÇÃO, ECOLOGIA, CONHECIMENTO, PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, RIQUEZAS, COMBATE, VIOLENCIA, ECONOMIA INFORMAL, GARANTIA, TRABALHO, EFICACIA, SAUDE, MELHORIA, SALARIO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, APERFEIÇOAMENTO, DEMOCRACIA, INEXISTENCIA, ANALFABETISMO, TOTAL, POPULAÇÃO, ACESSO, EDUCAÇÃO, NECESSIDADE, ENERGIA, PRESERVAÇÃO, MEIO AMBIENTE, RECURSOS NATURAIS, FAUNA, FLORA, RECURSOS HIDRICOS, EFICIENCIA, PREVIDENCIA SOCIAL, ATENDIMENTO, DIREITOS, APOSENTADO.
  • DEFESA, EDUCAÇÃO, VIABILIDADE, TRANSFORMAÇÃO, BRASIL, IMPORTANCIA, APROVEITAMENTO, OPORTUNIDADE, PROCESSO ELEITORAL, DEBATE, AMBITO NACIONAL, FUTURO, PAIS.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores presentes, vim falar sobre duas posições tomadas pelo Presidente Lula que, a meu ver, dão certo alívio e certa tranquilidade ao processo político brasileiro.

            A primeira foi a decisão dele de acabar com o pedido de regime de urgência para a discussão dos projetos relacionados com o pré-sal. Creio que foi uma decisão do Presidente que merece todo o nosso elogio.

            A segundo, Senador Pedro Simon, pelo menos é o que está nos jornais de hoje, especialmente em O Globo, é a afirmativa do Presidente Lula de que vê com satisfação outras candidaturas do Bloco de Apoio ao Governo à Presidência da República, chegando a dizer que será uma beleza o Brasil ver um debate em que esteja Ciro Gomes, Marina Silva e Dilma Rousseff.

            Creio que é a primeira vez que a gente vê uma referência da parte do Presidente e do próprio Partido dos Trabalhadores a essa abertura e que candidatos de outros partidos podem representar, sim, um avanço igual ao de um do próprio PT. Essas duas posições do Presidente merecem todo o nosso reconhecimento. E se a gente for olhar melhor, tem até uma variável mais importante ainda, é o fato de que a própria Ministra Dilma não é uma militante do Partido dos Trabalhadores desde a origem desse Partido.

            Então, quero felicitar o Presidente diante dessa abertura, ao reconhecer que um debate entre candidatos diferentes do Bloco de Apoio pode significar algo positivo para a democracia e que a vitória de outro nome não significará necessariamente retrocesso.

            Ao mesmo tempo, quero deixar claro aqui que a meu ver não se trata, Senador Pedro Simon, mais uma vez, de querer apenas continuidade no Governo Lula. O que a gente deve procurar, aqueles que representam, ou pensam representar, como eu, um avanço, como nós, aqueles que nós costumávamos chamar da esquerda, dos progressistas, o que a gente deve buscar é mais do que continuidade; é avanço. Nós não queremos um retrocesso para os tempos de antes. O Presidente Lula é um avanço em relação ao que acontecia no passado, mas a meu ver é um avanço insuficiente. E nós precisamos fazer com que esse avanço, que houve até aqui, vá mais a frente. É nesse sentido que eu acho que não apenas esses candidatos mas outros devem surgir. Candidatos que não cheguem aqui apenas para falar em aceleração do crescimento, mas para falar em mudar a cara do Brasil.

            Dos candidatos que estão presentes, eu creio que, até o momento, apenas a ex-Ministra Marina Silva traz uma ideia de mudar a cara do Brasil. Ela traz a idéia não apenas de avançar. Ela traz uma dimensão nova ao processo de desenvolvimento, que é o meio ambiente.

            Creio que a gente precisa colocar mais candidatos que tragam a ideia de uma nova cara para o Brasil. Não basta a cara do desenvolvimento. Ficou demonstrado que o desenvolvimento traz riqueza, mas traz concentração; traz produção, mas traz depredação ecológica; traz urbanização, mas ela vem com violência. Nós precisamos mudar a cara do Brasil. Nós precisamos de um projeto que não seja mais o puro e simples desenvolvimento econômico, mas também não seja mais a ideia da promessa do sonho do socialismo, como se defendia antes. Nós precisamos de um novo projeto, um novo projeto que represente um avanço em relação ao Governo Lula, que traga pós-Lula e não a continuação do Lula. Em entrevista, o ex-Ministro José Dirceu disse com a maior clareza: “A Dilma será o terceiro mandato do Lula”. Logo, não será nenhum avanço em relação ao Lula; será pura e simples continuidade. A gente tem que ir além do que o Lula ofereceu e até mesmo do que fez neste País.

            Eu tenho chamado essa ideia de um Brasil limpo. Não é apenas um Brasil desenvolvido, não é apenas um Brasil rico; é um Brasil limpo. Limpo nos seus diversos setores, limpo, por exemplo, na economia. O que é uma economia limpa? É uma economia que cresce. A economia estagnada não é limpa. mas não basta crescer. Economia limpa, Senador Flávio, é a economia que, além de crescer, cresce convivendo com a natureza de maneira equilibrada, é a economia casada com a ecologia. A economia limpa é a economia que, além de crescer, cresce baseada sobretudo no conhecimento e não apenas na produção industrial mecânica, como a gente está acostumada a ver, e não apenas na exportação de bens primários. Economia limpa é uma economia que começa a exportar para o mundo inteiro produtos da ciência, do conhecimento, da tecnologia, da inteligência brasileira. A economia limpa é a economia que, além de crescer, distribui a renda, mas não aquela que distribui a renda intermediada pelo governo, como hoje acontece com o Bolsa Família. Essa não é a distribuição da economia.

            No Brasil, quem distribui renda não é a economia. A economia, ao contrário, concentra renda e exige concentração de renda para vender os caros produtos da nossa indústria mecânica. Aí surgiu - e esse é um avanço do Presidente Lula - o Bolsa Família no tamanho que ele fez. É até um retrocesso no conceito, porque, no começo do Governo Fernando Henrique, o Bolsa Escola tinha um conteúdo educacional; no Governo Lula, tem um conteúdo assistencial, mas não deixa de ser um avanço do ponto de vista da generosidade do Estado brasileiro com a população pobre desse País. Mas não é uma distribuição da economia; é uma distribuição do setor público.

            Nós precisamos fazer com que a economia brasileira tenha, dentro dela, as estruturas de distribuição do seu produto e da sua renda. Essa seria uma economia limpa: a economia equilibrada com o meio ambiente, a economia produzindo os produtos da inteligência, a economia distributiva dentro dela, fazendo com que a maneira como ela produz leve à distribuição. É completamente diferente essa idéia da economia distributiva da atual distribuição de renda permeada e intermediada pelo Estado, pelo Governo. A economia produz concentrando. Agora, o Governo pega uma parte desse dinheiro da economia que vem dos impostos e envia para as camadas mais pobres. É a distribuição pelo Estado, não pela economia.

            É preciso fazer com que a cara nova do Brasil tenha as suas cidades com as ruas limpas. Limpas, por exemplo, da violência que temos hoje, caracterizada e mostrada todas as noites pela televisão de uma maneira que nos envergonha. A cidade limpa é a cidade onde as crianças estão na escola e não nos sinais de trânsito pedindo esmola. A cidade limpa é a cidade onde os adultos estão trabalhando e não como nós vimos hoje: muitos deles na informalidade, trabalhando sim, mas de uma maneira que não permite garantir um sistema que a gente chame de plena limpeza. Essa é uma proposta de avanço além do Governo Lula e não a continuidade do Governo Lula.

            O Brasil precisa ter uma cara em que a sua saúde, a saúde de seu povo seja limpa, e uma saúde limpa é não apenas uma saúde eficiente, mas uma saúde para todos. Uma saúde limpa é aquela em que não há fila nos hospitais para serem atendidos, até porque ela é tão limpa que, lá atrás, antes de precisar ir para o hospital, haverá um sistema de prevenção para evitar que se chegue à necessidade de um hospital.

            O Brasil precisa de uma saúde limpa. E uma saúde limpa é uma saúde eficiente, em que os profissionais ganhem bem, em que os profissionais sejam bem-preparados, bem-formados, e em que os profissionais trabalhem servindo ao público.

            O Brasil precisa de uma democracia limpa, Senador Flávio. E hoje a nossa democracia não está limpa. Democracia limpa é a democracia com ética na política; senão ela não é limpa; pode até ser democrática, mas não é limpa.

            E ontem estudos mostraram como, no Brasil, nós estamos atrasados em relação à democracia, se comparados com os outros Países. Estamos, se não me engano, em 56ª posição. Não é porque aqui não se pratica a democracia no voto. Essa, nós temos boa. Mas é porque nós não praticamos o complemento da democracia, para que ela seja limpa. A democracia da participação, nós não a temos. Nós temos toda a liberdade de escrever, mas não temos a liberdade de ler. Não porque haja censura, mas porque as pessoas não sabem ler. Que democracia é essa em que 14 milhões de habitantes são incapazes de ler um jornal, porque são analfabetos? Em que 50 milhões são incapazes de entender o que está nos jornais, mesmo sabendo ler o que ali está escrito?

            Nós não temos uma democracia limpa, porque a nossa democracia não é plena de liberdade, porque nós não fomos capazes de fazer com que o povo participasse, com que o povo entendesse. Uma democracia limpa é uma democracia sem analfabetismo, é uma democracia com a plena educação de todos.

            Nós precisamos de uma energia limpa neste País; nós precisamos de uma energia que seja casada com o meio ambiente, que não destrua a natureza, que não elimine espécies de animais, como muitas vezes algumas das grandes reservas de água para hidrelétrica, que deveria ser plenamente limpa, terminam extinguindo espécies de animais, destruindo valores culturais que ficam submersos na água. Precisamos de uma previdência limpa. Previdência limpa é aquela em que os nossos aposentados não sofrem porque, a cada ano, têm que perguntar qual vai ser o reajuste para compensar as perdas. Agora, previdência limpa também é aquela que é eficiente do ponto de vista financeiro. Não é limpa a previdência que dá aumento de salários aos aposentados, sabendo que isso vai ser pago com um buraco no orçamento público, tirando recursos de algum outro setor. Precisamos de uma previdência limpa na solidez financeira e no atendimento das necessidades.

            Precisamos de uma infraestrutura limpa na eficiência, mas também no respeito à natureza. Precisamos de um Brasil limpo. Essa é uma visão diferente daquela que está hoje nos discursos dos candidatos a Presidente. Precisamos de um Brasil que vá além do desenvolvimento, além da aceleração do crescimento que o Presidente Lula está tentando.

            E esse Brasil limpo tem um vetor fundamental, Senador Flávio, aquele sobre o qual o senhor falou mais cedo: a revolução na educação. Não é que a educação possa fazer tudo, mas é que a educação é o único caminho capaz de transformar, de fazer uma revolução. O resto é bom e necessário até para que a educação aconteça. Mas o resto mantém o mesmo rumo. A educação é que dobra; é a educação que permitirá dobrar.

            Até alguns anos atrás, imaginava-se que não era na educação, mas que era na economia que estava a capacidade de dobrar o País. Era a idéia de que, estatizando, a gente faria a revolução. Ficou provado que a estatização não faz uma boa revolução. Não faz uma boa revolução porque tira a criatividade do setor empresarial, que é fundamental para fazer a economia crescer.

            A estatização não consegue conviver com as liberdades individuais. Não é a estatização que faz dobrar em direção a um bom caminho. Não é a economia que faz dobrar, porque ela apenas continua o rumo. O que faz um País dobrar o seu rumo hoje, como antes foi a abolição da escravatura, como antes foi a ideia do desenvolvimento, é uma revolução na educação de base deste País. Até porque, quando houver uma educação de base com alta qualidade e para todos, aproveitando todos os cérebros deste País, não tenho dúvida de que a universidade ficará boa automaticamente e surgirão centros importantes de ciência e tecnologia, porque a mãe do conhecimento é a escola.

            O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - V. Exª me concede um aparte?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Sim, só um momento, Senador.

            É essa a mudança que falta ainda aparecer nos discursos dos candidatos a Presidente. E volto a insistir na minha satisfação de ver o Presidente Lula recebendo bem novos candidatos do seu Bloco de Apoio. Até pouco tempo atrás, e comigo mesmo, ele disse que deveríamos ter uma eleição plebiscitária, onde todos do Bloco de Apoio estariam juntos com a candidata Dilma e, do outro lado, estaria o candidato do PSDB. Hoje, pelo que eu vi no jornal O Globo, ele percebeu que esse plebiscito não levará a um avanço, não levará a uma inflexão. Poderá até levar a uma aceleração do mesmo rumo. É nesse sentido que eu, ao mesmo tempo que felicito o surgimento desses novos candidatos como Ciro Gomes e, muito especialmente, não nego, a Marina Silva, porque ela traz a dimensão do novo, eu creio que nós precisamos que o meu Partido, Partido do Senador Flávio, tenha candidato a Presidente. Em 2006, eu carreguei essa bandeira. Se o meu Partido quiser, estou pronto para carregar de novo. Mas não precisa ser eu, em absoluto.

Podemos escolher outro, mas precisamos ter um candidato a Presidente da República, porque, se não, o Partido vira pura e simplesmente um apêndice do Partido do Governo - ou de outro Partido, se migrarmos para aprovar o candidato de outro Partido. Precisamos ter um candidato. E um candidato que traga a idéia revolucionária, a dimensão transformadora, e não o continuísmo, e muito menos o retrocesso que os candidatos das forças conservadoras apresentarão.

            Quero hoje dizer que felicito o Presidente por essa abertura e trago para o meu Partido, Senador Flávio, e para o Brasil a idéia de que precisamos ter um candidato próprio. Um candidato que traga mudança, transformação. Não importa quantos votos vai ter. Não importa se será viável ou não do ponto de vista eleitoral. Não importa se chegará ou não ao segundo turno. Mas deixará a sua marca de um Brasil diferente, a sua marca de não apenas dizer que vai continuar o Governo Lula, como Ciro Gomes e como Dilma Rousseff se propõem, como se fosse, nas palavras do ex-Ministro José Dirceu, o terceiro mandato do Lula. Mas que traga, sim, mais do que isso, uma esperança nova, uma proposta alternativa, uma visão de um Brasil diferente, uma inflexão na nossa história.

            Creio que é preciso que o PDT, Senador Flávio, tenha um candidato próprio e que os outros Partidos também, se possível, tenham candidatos próprios, para que o grande debate nacional se faça neste momento sublime do processo eleitoral que é quando se discute para onde vai o País a partir do ano seguinte.

            Antes de encerrar, Senador Mão Santa, quero passar a palavra a três que pedem aparte.

            Passo a palavra, Senador, por favor.

            O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - Eu agradeço a oportunidade e quero dizer que ouvir V. Exª é, acima de tudo, um privilégio, não só para nós Senadores que aqui estamos, mas um privilégio para o Brasil também, pelas suas palavras abalizadas, pelo conhecimento, pela visão de educador que tem, uma visão futurista, uma visão de Brasil novo, uma visão de mundo novo. Aliás, não seria diferente para um homem que dedicou a sua vida à educação como V. Exª, como reitor, como professor e como homem que sempre cultuou o que há de melhor na educação deste País. Portanto, quero me congratular e aqui dizer que é realmente importante que o País tenha várias opções para mostrar aos brasileiros que nós não temos uma via só, só duas vias; nós temos várias vias, cada um voltado para aquilo que sabe e para aquilo que pode propor. E, na verdade, eu acredito que o País só será decente de verdade quando tiver essa revolução educacional, que não é pelas armas, mas é uma revolução através das ideias, através de procedimentos, através de formulações políticas, através de projetos implantados, através de homens que possam pensar e executar. E V. Exª é um homem que honra a história deste Brasil, honra a educação. Sou educador. Desde os 16 anos de idade, eu sou educador lá do interior do Brasil, do meu Mato Grosso, mas a gente acompanha e gosta. Sou um dos homens que acham que só há uma saída para o País, não há outra, nem duas, nem três, nem quatro, só uma: é o processo educacional, é a educação. Sem ela, nós estaremos fadados a ficar nos países de Terceiro Mundo mesmo. A educação que vai nos redimir, que vai nos elevar, que vai nos dar condições ...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Osvaldo Sobrinho (PTB - MT) - Portanto, quero parabenizar V. Exª não só pelo pronunciamento sobre a educação, mas também pela proposição que faz aqui da sua possível candidatura a Presidente da República. É realmente uma grande opção para o Brasil. É, na verdade, uma porta que se abre para aqueles que querem ouvir todas as tendências deste País e para todos aqueles que podem oferecer alguma coisa no exercício do poder. Parabéns a V. Exª por esse pronunciamento.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador Osvaldo Sobrinho, a quem dou as boas-vindas por estar aqui conosco agora.

            Quero dizer que estou dizendo que aceitarei de bom grado ser o candidato do meu Partido, mas não tenho nenhum outro caminho a não ser se for escolhido pelo meu Partido, o PDT, que, de fato, creio que está precisando de uma voz que traga transformação, que traga mudança, e não apenas continuidade ou, pior ainda, retrocesso.

            Senador Mozarildo.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Logicamente, Senador Cristovam, sem nenhum compromisso com a sua candidatura, quero dizer, de antemão, que fico muito feliz de ver uma pessoa decente se dispor a ir para o debate político e tratar prioritariamente de um tema fundamental para o País, que é a educação. Portanto, espero que o seu Partido realmente decida lançar candidato e escolha V. Exª, porque realmente o Brasil só terá a ganhar. Como disse V. Exª, independentemente do resultado, o debate, a luta e o esclarecimento das ideias colocarão a disputa presidencial em outro patamar. Portanto, manifesto o meu entusiasmo pela candidatura de V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Mozarildo, esse entusiasmo vale mais até do que o voto, por causa das circunstâncias partidárias que nós todos temos. Mas o senhor percebeu qual é a ideia: a ideia de que é preciso debater qual é o progresso, e não apenas como progredir.

(Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Aí é que está, Senador João Pedro, a falha do debate sobre o pré-sal hoje. A proposta que está sendo feita é a de onde colocar para continuar o mesmo progresso. O debate deveria começar com qual progresso queremos.

            O Presidente Lula pediu corretamente que todas as pessoas pressionassem o Congresso para aprovar os quatro projetos que ele enviou. Acho que ele tem todo o direito disso. Eu reclamei quando ele interferiu no Senado da parte dele, mas não quando ele pede que o povo interfira aqui. Acho até que ele usou pouco o povo para nos pressionar. Com o carisma e a popularidade dele, se tivesse usado mais o povo para nos pressionar, o Senado e o Congresso talvez estivessem melhor hoje.

            Mas ele não pediu ao povo para debater qual progresso queremos. Ele tinha de ter pedido aos universitários brasileiros para discutirem o desenvolvimento que queremos. Ele não pediu aos professores, aos servidores das escolas, aos donos de casa e aos empresários qual progresso queremos, porque é partir de então que a gente discute o que fazer com o pré-sal e em que não podemos esperar pelo pré-sal, porque é urgente demais.

            Então, agradeço, Senador Mozarildo. Mas tenho ainda dois apartes: o Senador Flávio e o Senador Pedro Simon. Não sei até que ponto o Senador Mão Santa terá paciência para atender a todos apartes que temos. Mas, da minha parte, não quero deixar de conceder o aparte ao Senador Flávio, que certamente, pelo que vai expor, enriquece minha fala.

            O Sr. Flávio Torres (PDT - CE) - Senador Cristovam, eu, como membro do PDT, não poderia, neste momento, deixar de apoiar sua sugestão, porque sou daqueles que acham que, quando criamos o sistema político brasileiro com eleição para Presidente em dois turnos, foi para que os partidos políticos, no primeiro turno, apresentassem as suas bandeiras. Nós não nos fundimos a nenhum Partido. O PDT continua com a sua identidade, com os seus programas, com as suas prioridades. E time que não participa de campeonato tende a desaparecer. Então, nós temos que participar desse campeonato, eu sou um entusiasta de uma candidatura no primeiro turno. Se não for para o segundo, não interessa, mas as bandeiras do Partido estarão colocadas para o povo brasileiro. E aí o segundo turno é para isso. O segundo turno é para sentarmos e vermos qual é a candidatura que mais se aproxima daquilo que nós pregamos durante a eleição, e compormos. E é assim que se faz política. Então, o senhor tem aqui o meu compromisso. É isso que eu defendo no Partido. E vou defender que nós tenhamos uma candidatura no primeiro turno. Naturalmente, a pessoa que se destaca e que seria o candidato natural seria V. Exª, Senador. Muito obrigado.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Flávio, eu agradeço, porque o senhor trouxe algo que eu não tinha nem ao menos lembrado de colocar aqui, que é a ideia dos dois turnos. A sabedoria das constituições que têm dois turnos é exatamente para que não haja coalizão antes do primeiro turno. O primeiro turno é para votarmos naquele mais próximo da gente; o segundo é para votarmos no menos distante de nós, porque, se não houvesse dois turnos de fato, eu acho que eu não estaria aqui defendendo essa pulverização de candidaturas, com medo do retrocesso. Mas nós temos a certeza de que podemos estar juntos no segundo turno. Então, retrocesso não haverá por causa de muitas candidaturas, porque qualquer que seja desse bloco fará parte dos mais próximos, um deles, e dos menos distantes, algum deles também. Então, agradeço a sua lembrança. Os dois turnos são feitos para que se possam lançar candidatos sem medo de, com isso, estar servindo às forças reacionárias do País; senão estaríamos prestando um serviço a elas.

            Senador Pedro Simon, eu lhe dou o aparte se o Senador...

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Olha, Senador, em primeiro lugar, não sei se V. Exª concorda: que belo pronunciamento o da Senadora Marina ontem na televisão! Eu fiquei emocionado. Eu fiquei emocionado, porque aquele negócio de dizer “Santa Marina” é meio correto. Ela é uma santa. Aquela origem dela, aos 16 anos, analfabeta... Mas o que me emocionou foi a pureza do pronunciamento dela. Ela não saiu com mágoa do PT, fez referências positivas. Ela é de um pronunciamento igual ao seu. Igual. V. Exªs falam absolutamente a mesma coisa, mas é uma demonstração de como podemos chegar lá. O Lula está dizendo hoje no jornal que o bicho vai pegar em 2010 e que só tem uma saída: ou ganha o candidato dele, ou vão parar todas as obras. Não é bem assim. Eu acho que o Lula está exagerando. O Lula tem um lado positivo hoje: ele resolveu abrir mão da urgência. Eu acho que houve um gesto de entendimento - vamos fazer justiça - do Presidente da Câmara dos Deputados, e nós vamos equacionar essa questão. Nem 45 dias para votar, que é ridículo, nem deixar para o ano que vem. Se for possível, vamos votar este ano. Uma outra coisa que achei muito positiva e que está nas manchetes é que o Lula e o Serra fizeram um entendimento de que a questão dos royalties vai ficar para o próximo Governo. Acho isso de uma correção absoluta! Não vamos discutir essa questão agora, com quem é que vai ficar, com quem não vai ficar. Não sabemos nem quanto é que vai ter, quanto é que vai ser, se vai dar certo ou se vai dar errado. Vamos fazer toda a discussão, deixando essa questão para depois. Então, veja como há coisas que são positivas e que podem ser feitas. Entendo o espírito de V. Exª: V. Exª quer uma campanha que seja... Por amor de Deus, não vamos ficar numa campanha PSDB e PT pela terceira vez! “Então, vamos fazer uma rinha de galo: a primeira ganhou o Fernando Henrique, a segunda ganhou o Fernando Henrique, a terceira ganhou o Lula, a quarta ganhou o Lula. Agora, é a negra!” Não é por aí, até porque, cá entre nós, vamos falar com toda a sinceridade, e tenho dito e repetido: nada mais igual ao Governo do PSDB do Fernando Henrique do que o Governo do PT do Lula. Tanto que a simbiose disso tudo é o Jucá. Está aí o grande Líder. Foi o grande Líder do Governo do Fernando Henrique. Foi o grande Líder do Governo Fernando Henrique! Um dos grandes nomes do Governo Fernando Henrique foi o Jucá. E é o grande Líder do Governo do Lula! É o Jucá! E há uma qualidade no Jucá, sou sincero: o Jucá não mudou. Pegue V. Exª os discursos do Jucá, defendendo o Governo do Fernando Henrique, e pegue os discursos do Jucá, defendendo o Governo do Lula. O Jucá é o mesmo! O Lula mudou. O Fernando Henrique também mudou, mas o Jucá é o homem! O Brasil não merece isso. Vou ser muito sincero com V. Exª: gosto da Dilma. Acho que o Lula está fazendo mal para a Dilma. O Lula não podia, lá na África, recebendo homenagem, mandar a Dilma à casa do Sarney dizer para ele não renunciar, para ele ficar na Presidência. Foi uma maldade o que ele fez. Foi uma maldade o que ele fez! Então, o Lula está judiando, com toda a sinceridade, da Dilma. Nesses últimos tempos, a Dilma está caindo por causa do Lula, porque o Lula tem um problema muito sério, que é a soberba. Olha, o pecado capital da soberba é muito grave, muito grave! Aliás, quanto à soberba, até que foi uma piada gostosa, mas meio fruto da soberba, quando ele diz: “Daqui a pouco, vou ganhar os aviões de presente!”

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É verdade.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - “Vou ganhar os aviões de presente, pois já está o americano oferecendo a mesma coisa que a França!” Soberba é um problema delicado. E ele está, não nego a V. Exª. Repare que hoje o Lula está numa posição... Quer dizer, o Obama está numa situação mais difícil que o Lula. Que situação dramática do Obama lá no Congresso! Nunca tinha acontecido aquilo na vida do Congresso americano. Ele está fazendo um discurso corajoso. O problema lá é de uma gravidade total. O país mais rico do mundo tem 40 milhões de cidadãos que não têm saúde, que não têm chance nenhuma. Se ele não tem dinheiro para ter... Quer dizer, como é que o país mais rico do mundo... A Inglaterra tem um plano de saúde, a França tem um plano de saúde, o Brasil tem um plano de saúde - mixuruca, mas tem -, e o americano não tem. O Presidente democrata quis fazer isso, a mulher dele perdeu a convenção por causa do plano de saúde e do marido dela. E agora o desgaste que ele está tendo...

(Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Está falando o Presidente Obama, fazendo um discurso à nação, e um Deputado americano diz aos berros: “Você está mentindo!” Ele se levanta e grita: “Você está mentindo!” Reparem que coisa fantástica! Nem no Congresso brasileiro acontece isso. Aconteceu lá. E Obama, num gesto de grandeza, perdoou ele. “Eu o perdoo.” Mas teve um discurso corajoso, enérgico, dizendo que vai fazer alguma coisa. É uma questão dramática essa. Mas o que quero dizer é o seguinte: com esse desgaste, e o Obama já está baixando, o Lula é um grande nome em nível internacional; é um grande nome em nível internacional. Eu já disse a V. Exª, sou homem de muita fé. Tem um ditado árabe, minha ascendência, que diz: maktub, está escrito. O que tem que ser será. Então, acho que o Lula, que tem mil qualidades... Acho que Deus ...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS. Fora do microfone.) - ...fez esse calcanhar de aquiles nele porque, se o Lula não tivesse essa vaidade, não tivesse essa petulância; se o Lula tivesse a humildade de reconhecer os equívocos; se o Lula fosse o velho Lula, que perdeu a primeira para o Collor... Perdeu injustamente. Foi um absurdo o que a Globo fez, as acusações. O Collor tinha que ganhar aquela eleição. Eu era Governador e estava no palanque do Lula. Perdeu com categoria. Perdeu duas para o Fernando Henrique. Perdeu com categoria. Ganhou a primeira eleição com categoria, sem dinheiro de multinacional, sem fazer concessão a quem quer que seja. De repente, ele está aí! Não é mais o mesmo Lula. No momento em que o Waldomiro apareceu na televisão pegando dinheiro e fazendo as negociações de quantos por cento... E o Lula deixou, e o Lula não deixou criar a CPI aqui. Ele e o amigão dele, o Sarney ...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - E, por isso, quando saiu a candidatura do Sarney à Presidência, ele disse: “Esse é da minha confiança, porque confio; esteve ao meu lado nas horas difíceis.” A hora difícil foi essa, quando eles não quiseram criar a CPI, e tivemos de entrar no Supremo. E o Supremo mandou criar. Se o Lula não fosse isso, se o Lula fosse o Lula, acho que hoje estaríamos numa situação muito complicada, porque hoje ele era deus. Hoje, ele estaria numa posição em que não adiantava V. Exª, não adiantava eu. É o Lula, é o Lula, é o Lula! Por causa disso, ele fica no estágio em que está. Ele não se aventura a ser concorrente pela terceira vez. Mas, uma candidatura que nem a de V. Exª, por exemplo, à Presidência da República... Uma candidatura que nem a de V. Exª à Presidência da República não tem explicação.

            (Interrupção do som.)

             

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Pela bandeira, pelo conteúdo, pela profundidade. V. Exª vai marcar época porque não tem Darcy Ribeiro, não tem ninguém. V. Exª, nesta Casa... A causa da educação é antes e depois de V. Exª Parlamentar nesta Casa.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador!

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Está certo que o Darcy criou a Universidade de Brasília; está certo que o Darcy Ribeiro, lá no Rio de Janeiro, criou o Cieps, do Brizola. Tudo certo. Mas V. Exª, não. É a causa da sua alma, do seu sentimento, do dia a dia: a causa da educação. V. Exª diz: não adianta o Brasil crescer, progredir, avançar, ter índice de desenvolvimento na lua, se não cuidar da inteligência, não cuidar do cérebro, não tiver educação; o povo não vai, não vamos chegar lá. Uma candidatura que nem a de V. Exª gabarita, porque V. Exª vai obrigar todos a ir a esse debate.

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Em vez de ser uma discussão entre Serra...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ... e Dilma, neste sentido: “não, eu fiz tantas escolas, eu fiz tantas fábricas, eu aumentei não sei o quê, eu estou fazendo isso, eu estou fazendo aquilo, se não ganhar, a Dilma vai parar”; aí o Serra responde: “não, não vai parar porque vou continuar, não sei o quê”. Com V. Exª, o debate não vai ser esse. Com a Marina o debate não vai ser esse. O debate vai ser de estilo da sociedade brasileira, de como devemos fazer. Não há como deixar de reconhecer: o Brasil cresceu. O Brasil hoje é uma grande Nação. Isso não é por causa do Lula nem por causa do Fernando Henrique. É porque o Brasil é. As maiores terras, as maiores reservas de terras agricultáveis do mundo estão no Brasil, queira ou não queira. A grande potencialidade neste século está no Brasil, queira ou não queira. As maiores reservas de água potenciais estão no Brasil.

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - O que não pode é isso que nem agora, por exemplo. O pré-sal é um grande projeto, mas, de repente, o Lula quer transformá-lo em uma bandeira. Parece que, semana que vem... Aqui nem houve reunião, aí se levanta um prefeito e faz a seguinte pergunta: “Eu gostaria de saber se já posso botar a verba do pré-sal para o Orçamento do ano que vem.” Sim, porque a discussão estava de tal maneira, que parece que amanhã vamos começar a ganhar o dinheiro! Então, o prefeito: “Estou às vésperas de mandar o Orçamento para a Câmara de Vereadores. Quero saber se já posso botar a receita do pré-sal para o ano que vem.” Por isso que eu lhe felicito. V. Exª está aqui, sexta-feira, sem ninguém, segunda-feira, com gente, sem gente. É verdade que nós assistimos V. Exª. Eu não sei se os líderes do MDB, do PSDB ...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - ... eu não sei se alguém ouve os pronunciamentos de V. Exª. Eu não sei. Sinceramente, eu não sei, porque o Presidente da República, o que eu sinto é o seguinte: ele está naquela fase que a assessoria leva pra ele a síntese, as coisas que são boas. As coisas que são ruins,o pessoal deve dizer: nem leva isso, ninguém está dando bola. Eu, quando fui governador, quando fui ministro e quando fui líder do governo, a minha assessoria me trazia - e era minha exigência - as coisas graves que se falavam, contra mim e contra o governo, que eram essas que me interessavam. Essas é que eu queria responder. Mas o Lula, o Governo do Lula... o Congresso é o Congresso, ele faz do Congresso o que quer. Mandou com o prazo de 45 dias, porque quis, de repente resolver liberar, liberou.

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Foi um gesto, foi o Presidente da Câmara que foi lá e exigiu que não pode ficar em 45 dias, vai ter um entendimento. Não, o Lula resolveu, o Lula aceitou. E está certo. É ele que manda, é ele que decide e nós somos uma Casa de assessoramento. Eu lhe felicito, e uma das razões que eu tenho ficado aqui na sexta-feira é para ouvir o pronunciamento de V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito obrigado, Senador.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Acho que V. Exª está no caminho e talvez um dia o Congresso e o Senado cheguem à altura de poder participar do trabalho de V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Obrigado, Senador Pedro Simon. O pronunciamento de V. Exª obviamente enriquece muito a fala.

            Quero fazer dois comentários. Um é que eu creio que ninguém do governo, mesmo as lideranças da Oposição, ouve os nossos discursos aqui. A própria mídia só ouve quando há denúncias, mas o povo está ouvindo. Fica sempre alguma coisa. E isso é que é importante.

            Quero dizer que o Presidente Obama pode até hoje estar com menos popularidade, apesar de ter seis meses de governo, do que o Presidente Lula, mas ele está tentando uma revolução. O que ele está fazendo na saúde é uma revolução, não é uma evolução em relação aos governos anteriores, nem mesmo do governo do partido dele, o Clinton.

            Segundo, em relação à saúde.

            O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Aceitou enfrentar a oposição, aceitou enfrentar o Congresso e diz que vai fazer independente de ter ou de não ter apoio do Congresso e do Partido Republicano.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Ele está fazendo uma revolução diante do conservadorismo americano. Segundo, na educação ele está conseguindo fazer algo que aqui o Presidente Lula não está. É colocar a educação na pauta, como uma necessidade. Durante seis anos, Senador João Pedro, todos os anos, eu mando um documento ao Presidente Lula sugerindo que na abertura do ano escolar ele fale, em cadeia nacional, sobre a importância da volta às aulas. No primeiro ano e no segundo eu ainda estava no governo, eu levei isso para ele e para o Ministro Gushiken que cuidava da parte de comunicação, e acharam que isso não merecia cadeia nacional.

            Eu faço questão de todo ano mandar. O Presidente Obama, no primeiro momento dele, na semana passada, na volta às aulas, foi a uma escola e fez um discurso sobre a importância da educação na vida dessas crianças.

         Imagine o Lula, com o carisma dele, que é muito maior do que o do Obama, falar isso para as crianças brasileiras; falar para os pais que não deixem suas crianças na escola sem irem conversar com os diretores; dizer para os pobres do Brasil que os professores estão aí para servir as suas crianças, dos pobres.

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Professor Cristovam, realmente nunca houve, no Senado, um pronunciamento como esse.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu peço desculpas.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Mas são os outros que...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não foi tão brilhante.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) -....estão com viagem marcada.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu sei. Eu cumpri o meu prazozinho. Agora, os apartes são muito bons. Tem o Senador João Pedro, a quem eu quero dar; e, no fim, vou precisar de um ou dois minutos, no máximo, só para encerrar, pois eu passei os apartes já no final do meu discurso. Mas eu não deixar de passar para o Senador João Pedro, se o Senhor permitir, é claro.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) -....Está permitido.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - E vamos dar a ele mais do que os 29 segundos que estão aí, por favor.

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - Senador Cristovam, V. Exª fala de dois assuntos. Primeiro, discutir o pré-sal, a destinação dessa riqueza. E V. Exª destaca a questão da educação. E nós já conversamos um pouco, já dialogamos aqui, para todo mundo ver, assistir. O Senado tem mais tempo que a Câmara mas o Presidente Lula mudou a sua posição, tirou a urgência. Quem ganha é o Congresso, a nação. Agora, nós não podemos - esta é a minha opinião, e eu gostaria de ouvir V. Exª sobre isto - deixar esse debate para 2011. Acho que é pauta desse Congresso. Os deputados federais todos vão disputar as eleições. Então, acho que é uma contribuição dessa legislatura discutir o pré-sal, a sua destinação, a aplicabilidade da sua riqueza. Enfim, acho que é hora de assumirmos isso. Temos tempo para fazê-lo. Penso que o ano ideal é este. Mas, aí acabou que V. Exª também falou da sucessão, de ter mais candidatos. Tenho minhas preocupações e quero confessar publicamente.

(Interrupção do som.)

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - ...do bloco da Esquerda, mesmo com dois turnos, nós nos dividirmos. O Bloco PSDB e PFL estão juntos. Falta definir ali, existem dois candidatos fortíssimos, o Aécio e o Serra, mas, eles estão ali juntos e esse bloco popular de esquerda com vários candidatos. Tenho minha preocupação e gostaria que V. Exª sinalizasse. Agora, não são 45 milhões de americanos que não têm plano de saúde, são 70 milhões. Quarenta e cinco não tem nenhum plano; 25 têm um plano de saúde precário. Veja V. Exª como um debate expõe um país. O país mais rico, o país mais militarizado, uma referência que são os Estados Unidos, maltratando uma parte da sua população. Penso que, se tem mérito o Presidente Obama, que é de uma geração que vem nesta onda de Lula, de Evo Morales, dessa mudança aqui nas Américas... Nas regras americanas Obama não deveria ser Presidente. E foi. Com métodos novos, a internet, o discurso. Então, enfim, e eu espero e eu desejo que Obama tenha sucesso com essa pauta que o elegeu, que ele cumpra essa pauta. E está encarando um debate que expõe uma chaga, uma ferida na sociedade americana, que é parte da sua população que não tem plano de saúde. Mas V. Exª poderia tocar como um setor da mídia, como esta Casa encara o terceiro mandato aqui na Colômbia: um silêncio, uma concordância. Quando alguém falava de terceiro mandato para Lula, e esse é o gesto de Lula...

(Interrupção do som.)

            O Sr. João Pedro (Bloco/PT - AM) - ... esse é o Lula, que faz uma pauta com Sarkozy, com a França, e pensa do ponto de vista do Estado; esse é o Lula, que não aceitou o terceiro mandato, mas há um silêncio, uma concordância com a Colômbia, que me assusta ver tanta hipocrisia com o terceiro mandato. O Hugo Chávez não pode de forma alguma. Evo Morales? Que é isso? Lula nem pensar! Há uma concordância com esse silêncio que me assusta. Então, V. Exª está de parabéns quando faz em seu pronunciamento essas duas grandes reflexões: uma sucessão transparente, democrática, mas eu tenho minhas preocupações com o bloco popular de esquerda e a destinação da riqueza que é o pré-sal. Parabéns pelo pronunciamento.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Presidente Mão Santa, são três perguntas que eu preciso responder em um minuto, e mais um para encerrar. Pelo menos. Três perguntas. Primeiro sobre o Presidente da Colômbia: eu estou de acordo com o senhor, a mídia está com dois pesos e duas medidas. Demonizaram o Presidente Chávez...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Não, vamos falar em Cristo, que em um minuto fez o Pai-Nosso, o melhor discurso, ainda repetindo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu gostaria que o senhor também falasse feito um Padre-Nosso, Senador Mão Santa. O senhor não aprendeu não.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Eu sei. Ainda lembro aquele que está lá na Bíblia, um negócio de um Santo Estevão, falou muito aí.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Então, descontamos esse pedacinho da sua fala.

            Senador, demonizaram o Presidente Chávez, tentaram demonizar o Presidente Lula, e ele teve a grandeza, a sensibilidade de não fazer, e agora estão de cara fechada.

            Segundo, sobre o pré-sal, estou de acordo com o senhor, a gente não pode esperar 2011, até por uma razão: se esperarmos, os grupos corporativos vão abocanhar os royalties, e o Presidente Lula trouxe, pelo menos, a idéia do Fundo Social e de que os royalties não pertencem apenas ao Estado e ao Município, mas à Nação brasileira. Então, temos que discutir. Sou contra a urgência

            Agora, sobre a outra parte, vejam bem: se há risco de a divisão da Esquerda enfraquecer o candidato da Esquerda, o Presidente Lula deveria ter chamado a gente para discutir quem seria o candidato do Bloco. Mas o Presidente Lula não consultou, a meu ver, nem o PT, já escolheu a sua candidata. Agora vai ter que correr o risco de termos mais de um candidato. Se tivesse feito uma prévia, que é o que acontece nos Estados Unidos... porque o Partido Democrata é uma quantidade de partidos ali dentro, o Partido Republicano é uma quantidade de partidos, eles fazem a prévia. O Presidente Lula não fez prévia. Deveria ter feito uma prévia com todos os partidos do Bloco de Apoio. Aí, sairia até um nome só, porque já teria havido, antes dos dois turnos, um turno anterior aos dois turnos, que seriam as prévias. Por isso eu acho que, agora, vamos ter que ter muitos candidatos, sim, já que não ouvimos os outros partidos antes de escolher o candidato.

            E agora, Presidente, eu vou encerrar minha fala, obviamente com um tempo curto, dizendo que o que eu trouxe aqui hoje foi a necessidade do meu Partido, o PDT, Partido do Senador Flávio Torres, lançar um candidato a Presidente.

            Não podemos ficar diluídos.

            Em 2006, quando o Presidente Lula era candidato, nós lançamos um e corremos um risco de sairmos sozinhos. Apresentamos um programa de governo completo, que virou um livro inteiro. Não foi um programa sobre educação, foi um programa sobre todos os aspectos. Aqui há 56 - se não me engano - ou 46 capítulos, enfrentando um por um dos problemas brasileiros. Agora, a ideia é de que a educação é a revolução, como agora o Presidente Lula diz que é o pré-sal. Só que o pré-sal é apenas uma fonte de dinheiro, se der certo.

            Eu acho que o meu Partido deve apresentar um candidato. Nós temos propostas, não podemos nos diluir e eu espero que o Partido tenha a sensibilidade para isso. Qual será o candidato? Não é o fundamental. Temos muitos nomes, mas que tenhamos um candidato que defenda uma proposta não apenas de acelerar o rumo em que estamos, mas de desviar esse rumo para um Brasil diferente, um Brasil com uma cara diferente, um Brasil mais do que desenvolvido, um Brasil limpo.

            É isso que eu defendo.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/09/2009 - Página 42986