Discurso durante a 163ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas ao desempenho do Chanceler Celso Amorim, do Ministério das Relações Exteriores.

Autor
Demóstenes Torres (DEM - Democratas/GO)
Nome completo: Demóstenes Lazaro Xavier Torres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Críticas ao desempenho do Chanceler Celso Amorim, do Ministério das Relações Exteriores.
Publicação
Publicação no DSF de 24/09/2009 - Página 46763
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • AVALIAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, ANALISE, POPULARIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, PROGRAMA ASSISTENCIAL, AUSENCIA, PLANEJAMENTO, FUTURO, INCLUSÃO, EXCESSO, NUMERO, MINISTERIO.
  • AVALIAÇÃO, ESTABILIDADE, BRASIL, CRISE, ECONOMIA INTERNACIONAL, MOTIVO, CONTINUAÇÃO, PLANO, REAL, ESCOLHA, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).
  • CRITICA, GESTÃO, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), CRIAÇÃO, SITUAÇÃO, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, GOVERNO, ESPECIFICAÇÃO, PLANO, LIDERANÇA, TERCEIRO MUNDO, BUSCA, VAGA, CONSELHO DE SEGURANÇA, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), ABANDONO, CANDIDATURA, BRASILEIROS, SECRETARIA GERAL, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO A CIENCIA E A CULTURA (UNESCO).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, o Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva demonstra, às vezes, preocupação sobre como as próximas gerações vão comentar o seu período no Governo. Não é preciso o timoneiro esquentar a cabeça coroada: o futuro vai tratá-lo como ele trata o futuro. Preferiu investir em maquiagem no lugar das obras macroestruturantes. Baseou sua administração em pilares que lhe sustentam a aprovação, distribuindo dinheiro e outras benesses, substitutas da velha política de trocar voto por dentadura, cabo eleitoral por par de botinas. Popularidade tem a duração de um clique. Se parar de pagar a Bolsa Família, por um mês que seja, na pesquisa seguinte estará ruim na foto. E a memória do estômago é impiedosa: os verdadeiros programas sociais, os que significam inclusão, foram idealizados e implementados pela socióloga Ruth Cardoso, merecedora de reconhecimento.

            O Ministério de Lula, que teve e tem até pessoas decentes, será lembrado pela quantidade de pastas e a inutilidade de algumas. Os componentes do time, para usar uma expressão cara ao Senhor Presidente, se dividiram em trapalhões, aloprados, mensaleiros, sanguessugas, malfeitores e uma gente que parece sempre estar com enxaqueca ou com a gravata muito apertada. Um povo que não ri e, quando ri, é do povo. Deles também as próximas gerações haverão de recordar.

         Lula falhou ao nomear os principais da equipe, de setores importantes, como a Justiça e a Saúde, nos quais começou com ministros ruins, foi trocando e foi piorando, foi mudando e foi ficando cada vez mais lastimável.

         No Ministério da Fazenda, o Presidente da República contou com o acaso. Estava a distribuir os uniformes e, quando viu, só faltavam a camisa 10 e o enroladíssimo Prefeito de Ribeiro Preto Antonio Palocci. Os mais próximos do então Presidente eleito esperavam algum cargo em troca do papel de Palocci na campanha de 2002, mas nunca que fosse exatamente o comando da economia. Pode ser mentira de quem diz que o Presidente às vezes se sente Deus, mas é verdade que acerta por linhas tortas. Aproveitou quase seis anos de notícias sempre boas, sopradas de todo lado do mundo, e governou com tranquilidade. Quando a crise chegou, o País estava preparado, pois o Plano Real o havia deixado com uma estabilidade inédita, que perdura.

            O segredo do equilíbrio brasileiro estava, evidentemente, na continuidade firme do Real, mas também em um acerto de Lula, a escolha do Presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Num amontoado de companheiros incapazes de gerir boteco pé-sujo, a chegada de Meirelles foi o suficiente para o Risco Brasil virar traço. Mas Meirelles é a exceção com brilho internacional. Conhecidos no exterior havia apenas ele e a então Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, agora de volta ao Senado para o engrandecimento desta Casa. Nesta área, a do Ministério das Relações Exteriores, o Presidente Lula cometeu o seu maior erro e, o que é pior, mantém o equívoco pendurado no Itamaraty. Essa falha nababesca se chama Celso Amorim, definido pelo jornalista Reinaldo Azevedo como “megalonanico” e suportado pelo Presidente no posto que deveria ser a vitrine globalizada do Brasil.

            Amorim é mega nas trapalhadas e nanico como formulador de política externa. No futuro, o Presidente poderia ser lembrado por medidas acertadas, mas o conjunto de absurdos cometidos por Celso Amorim é tamanho que o tornarão inesquecível. Ele consegue colocar o governo em enrascadas a partir do próprio currículo. O Sr. Ministro se dizia doutor em Ciência Política por uma universidade da Inglaterra. A jornalista Malu Gaspar, chefe da sucursal da revista Exame no Rio de Janeiro, telefonou para a famosa escola de Economia, em Londres, e desfez-lhe o título. Como se fingir de doutor é recorrente no Ministério, o Presidente já se acostumou a essas inverdades curriculares. O problema é que o governo vai virando tema de gracejos, a ponto de, nos comentários à reportagem sobre o canudo falso de Amorim, alguém questionar se o diploma de torneiro mecânico do Presidente existe mesmo ou falta ser convalidado por alguma dissertação.

            Enquanto a pândega se desenrola por aqui, leva-se na esportiva, mas Amorim se tornou uma anedota de proporções planetárias. Poderia haver graça se a piada não fosse Ministro de Estado no Brasil. As agências internacionais ligadas ao setor financeiro reconhecem a pujança de nossa economia, mas vira-se a página e lá está Amorim querendo ser mediador de encontro entre o Irã e os Estados Unidos. Mahmoud Ahmadinejad é um tirano amalucado especialista em fraudar eleições, mas não está completamente sem juízo. Amorim já o paparicou diversas vezes, porém será melhor para o iraniano atirar sua bomba atômica no próprio pé a aceitar um interlocutor do nível do chanceler tupiniquim. Se Barack Obama tolerasse um mediador tão rastaquera, provaria ser atarantado como o Amorim texano que o antecedeu.

            Almejar a entrada como protagonista entre os líderes mundiais seria mais um chiste de Amorim se ele não se levasse a sério. O grave é o Ministro carregar para o atoleiro do pastelão seu chefe, o Presidente de uma República que virou reino da pilhéria.

            Lula ao menos é autêntico, não mente ter doutorado, não finge ser especialista em diplomacia, apenas almeja ser eterno, só isso, a eternidade, sendo simples e modesto se comparado aos desejos de Amorim. Ele foi Ministro das Relações Exteriores também no Governo do Presidente Itamar Franco, mas não tinha esse topete todo que exibe desde 2003. Pelo visto, Itamar evitou compartilhar de sua arenga macromaníaca, as teses do Brasil Grande, que não tinha nada até o início do mandatário de plantão e nunca mais vai encontrar um presidente à altura depois dele.

            Lula, infelizmente, até por desconhecimento, enredou-se na conversa do napoleão de almanaque. Um dos contos em que Lula caiu foi liderar o bloco dos esfarrapados e, com isso, conseguir uma vaga no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).

(Interrupção do som.)

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Permita-me concluir, Sr. Presidente.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador Demóstenes Torres?

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Assim que estiver para concluir...

            A Srª Marina Silva (PV - AC) - V. Exª me permite um aparte, Senador Demóstenes?

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Também lhe concederei o aparte, com imenso prazer.

            Um dos contos foi justamente esse. No estapafúrdio planejamento de Amorim, pois uma bobagem dessas deve ter sido esquadrinhada, o Brasil perdoaria dívida de países africanos e atribuiria as crises aos olhos azuis dos europeus, rosnaria com os Estados Unidos e seria um gatinho com a Bolívia, ouviria atentamente Chávez e berraria com Bush. Nessa toada, seria automaticamente o representante dos pequenos, e os membros permanentes, China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, sentir-se-iam pressionados a ampliar o Conselho de Segurança apenas para satisfazer o pleito de Amorim. É claro que deu tudo errado, como é praxe nas ações do chanceler.

(Interrupção do som.)

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Sr. Presidente, dê-me três minutos, e concluo, sem problema. Só quero concluir, Sr. Presidente. Falar do nosso Amorim é algo comovente.

            É claro que deu tudo errado, como é praxe nas ações do chanceler. Como ele gosta demais de aparecer, uma espécie de José Dirceu mirim, leva-se a supor que o Ministro deve ter sonhado com a Presidência da República. Da caixa craniana de onde se extraem semelhantes embustes, falta apenas esse.

            Do Itamaraty para o Planalto? Sim, por que não? Seu esquema era assim: “Consigo colocar tais brasileiros em postos-chaves de organismos internacionais, incluo o Brasil no Conselho de Segurança das Nações Unidas, cuido da América como xerife de quintal. Ah, o Presidente Lula vai acabar me notando como político. Ora, o José Dirceu tombou pelo mensalão, o Palocci foi moído por um caseiro, e a nova opção do Presidente para sua sucessão caminha para ter o desempenho eleitoral do Marrronzinho e a performance de Lívia Maria, os Rousseff de 1989. Ah, pode sobrar para mim”. Isso é Amorim raciocinando, e, quando ele pensa, é um perigo. Continua suas divagações: “Meu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, elegeu-se e reelegeu-se Presidente da República. E ele nem era dos quadros do Itamaraty. Por que não eu, diplomata de carreira há 44 anos?”. É, Amorim é capaz de bolar uma tolice dessas, mas, como já se viu, tudo que sai daquele cérebro brilhante resulta em presepada.

            A mais recente bizarrice do fanfarrão foi abandonar um brasileiro, Márcio Barbosa, que era favorito para Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Márcio Barbosa já era o Diretor-Geral Adjunto, espécie de número dois da Unesco, cargo para o qual entrou via concurso público internacional, disputando com quatrocentos concorrentes dos quatro cantos do planeta. Como a política atual no Brasil é a de esquecer o mérito e reservar cotas para a companheirada, Amorim convenceu o Governo brasileiro a vetar Márcio Barbosa e a apoiar o egípcio Farouk Hosny. Sim, esse é um companheiro vizinho das pirâmides. Foi outra amorinada, que é a patuscada cometida por Amorim. Na ONU, não existe a cota para nazista, e, nesta terça-feira, foi divulgado o resultado da votação: o pupilo de Amorim perdeu a direção da Unesco por 31 votos a 27 para a belga Irina Bokova. Hosny, o protegido do chanceler...

(Interrupção do som.)

            O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO) - Vou concluir, Sr. Presidente.

            Hosny, o protegido do chanceler, apresentou sua meta no Ministério da Cultura do Egito: queimar todos os livros em hebraico. Se um sujeito diz em público uma monstruosidade dessas, nem imagine o que deve fazer longe das câmeras. Vamos rememorar a sucessão de equívocos do Itamaraty nesse episódio. Primeiro, desprezou a candidatura de um brasileiro; segundo, Márcio Barbosa tinha de contar com o Brasil não por ter nascido aqui, mas por ser o melhor. Porém, Amorim seguiu à risca o script da tragicomédia.

            Começa com o Ministro bajulando Ahmadinejad, que nega o holocausto. Então, nada mais natural do que seguir no mesmo patamar e proteger Hosny, que deseja jogar na fogueira todas as obras em hebraico. Passa pelo chefe de Amorim, dizendo não ter paciência nem vontade de ler. Por isso, o Ministro o convence a endossar um queimador de livro. Se a promessa fosse a de incinerar os exemplares também dos demais idiomas, a ajuda brasileira teria se ampliado.

            Termina com a constatação da opção preferencial pelo último mundo. Amorim faz a agenda de Lula por potências como Burkina Faso e Congo, andando em carro aberto com ditadores longevos e se tornando parceiro de déspotas sanguinários. Nas Américas do Sul e Central, a imagem cristalizada é de um país vassalo de tiranetes chefiados pelo boquirroto venezuelano e cúmplice das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o braço ideológico do narcotráfico. Foi nessa vala que o Ministro jogou o Presidente.

            Como o repertório de assombros de Amorim é infinito, ontem e hoje colocou o Presidente Lula em outra roubada e, mais que isso, tornou o Brasil o autor de interpretações estranhas sobre duas ditaduras vizinhas na América Central. De um lado, Amorim autorizou a transformação da Embaixada brasileira em Tegucigalpa em comitê eleitoral pró-retorno de Manuel Zelaya à presidência de Honduras. Sei que chamar Amorim de trapalhão é uma ofensa a Dedé Santana e a Didi Mocó, mas o chanceler afirma que Zelaya não é asilado, ao mesmo tempo em que está desautorizado pelo Presidente Lula a entregar o ex-chefe de Estado da Nicarágua a quem o derrubou do poder. O volume de princípios de diplomacia violados nos dois dias de Zelaya no papel de embaixador brasileiro não pode ser maior que a alegada amizade entre o derrubado líder hondurenho e o Presidente brasileiro.

            Além de se envolver em assuntos internos de Honduras, tentando ser um pitbull fanho no lado de cá do Atlântico, o Didi Mocó do Itamaraty convenceu o Presidente do Brasil a usar a Assembleia-Geral da ONU para pedir a volta de Zelaya, com o argumento de que o tempo e o espaço não cabem mais ditaduras. Mas o assunto seguinte do trapalhão - reforço aqui meu pedido de desculpas a Renato Aragão por compará-lo a alguém tão torpe - foi a defesa da mais duradoura ditadura das Américas, a de Cuba. Ou seja, Zelaya tem de voltar ao poder porque se instalou um regime de exceção em Honduras, e o Presidente Barack Obama está errado em manter o embargo a Cuba porque os irmãos Castro são estereótipos de democracia. Quem sofre com isso é o Brasil, já que o Presidente nem tem noção da enrascada em que se envolveu, e Amorim é tão experiente em erros históricos, que mais um menos um não pesaria em seu currículo de doutor Pinóquio.

            Vou entregar o discurso a V. Exª, Sr. Presidente, para que o dê como lido.

            Lamento não poder ouvir o Senador Suplicy e a Senadora Marina Silva, a não ser que V. Exª autorize, Sr. Presidente. Voltarei à tribuna, e os apartes serão concedidos. Terei imenso prazer em debater sobre essa questão com o Senador Suplicy.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR DEMÓSTENES TORRES.

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O SR. DEMÓSTENES TORRES (DEM - GO. Sem apanhamento taquigráfico) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores,


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/09/2009 - Página 46763