Discurso durante a 174ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação contrária à legalização das drogas no Brasil. Intenção de convocar audiência pública para a criação de uma lei de responsabilidade humana.

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EXPLORAÇÃO SEXUAL.:
  • Manifestação contrária à legalização das drogas no Brasil. Intenção de convocar audiência pública para a criação de uma lei de responsabilidade humana.
Publicação
Publicação no DSF de 03/10/2009 - Página 49246
Assunto
Outros > DROGA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EXPLORAÇÃO SEXUAL.
Indexação
  • MANIFESTAÇÃO, DISCORDANCIA, LEGALIDADE, UTILIZAÇÃO, DROGA, BRASIL.
  • CRITICA, CONDUTA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA CULTURA (MINC), EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, LEGALIDADE, DROGA, BRASIL, ALEGAÇÕES, POSSIBILIDADE, AUMENTO, CONTRAVENÇÃO, COMPARAÇÃO, BINGO, INSTRUMENTO, LAVAGEM DE DINHEIRO, TRAFICO, ENTORPECENTE, CORRUPÇÃO, PAIS.
  • IMPORTANCIA, APROVAÇÃO, SENADO, LEGISLAÇÃO, PUNIÇÃO, ACUSADO, ABUSO, EXPLORAÇÃO SEXUAL, CRIANÇA, ADOLESCENTE, GARANTIA, AÇÃO PENAL PUBLICA, AUSENCIA, PRAZO DETERMINADO, REALIZAÇÃO, DENUNCIA.
  • DEFESA, REALIZAÇÃO, AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EXPLORAÇÃO SEXUAL, COMISSÃO, DIREITOS HUMANOS, DISCUSSÃO, CRIAÇÃO, LEGISLAÇÃO, GARANTIA, CUMPRIMENTO, ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, REFERENCIA, CONSELHO TUTELAR.
  • CONCLAMAÇÃO, PREFEITO, BRASIL, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), GARANTIA, EFICACIA, FUNCIONAMENTO, CONSELHO TUTELAR.
  • SAUDAÇÃO, PREFEITO, SECRETARIO MUNICIPAL, MUNICIPIO, VILA VELHA (ES), ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), REDUÇÃO, VIOLENCIA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Mão Santa; Sr. Senador José Nery, meu companheiro na CPI da Pedofilia; nobre Senador Paulo Paim; senhores e senhoras que visitam este Senado; jovens sentados aqui, do meu lado esquerdo, quero a todos abraçar nesta manhã de sexta-feira.

            Antes de deixar o hotel, eu fui brindado. Recebi um presente antes de me dirigir a esta Casa, assistindo, ouvindo o pronunciamento do nobre Senador Paulo Paim a respeito do aquecimento global, do cuidado com o meio ambiente e a responsabilidade de todos nós.

            Cuidar do meio ambiente é como cuidar de filho: se abrirmos mão dessa responsabilidade, é como estarmos fabricando marginais para entregar à sociedade, abrindo mão de uma responsabilidade divina, que é a criação de um filho. E, ao não tratarmos da natureza com a responsabilidade que ela requer que nós o façamos, ela, de uma forma muito diferente, cobra, reage; e, ao reagir, coloca-nos a todos nós... E os números dados por V. Exª são conhecidos por quem milita na área, os ambientalistas. V. Exª evocava a presença da ex-Ministra Marina Silva, que lhe prometeu que estaria no plenário caso a sua agenda coubesse; e não coube, por isso ela não veio, mas, certamente, já deve ter tomado ciência do seu pronunciamento, tecnicamente preparado, com dados e números, fazendo um apanhado mundial até chegar aonde o sertão virou mar.

            Eu era menino e, no meu Nordeste querido, seco, ossadas pelo sertão, vegetação seca, faltava vida. Falar no Rio Grande do Sul para uma criança do Nordeste significava que ela podia fechar os olhos e imaginar tudo verde, água por todos os lados. Nunca imaginamos ver uma cena, na televisão, do Rio Grande do Sul com ossadas e terras secas, e o Nordeste debaixo de água. Brincaram, zombaram da natureza, desprezaram-na. Permitimos desmandos contra o meio ambiente. Ainda há tempo para se reparar, mas há um dado absolutamente horrível informado por V. Exª. Especialistas dizem que, se o abuso contra o meio ambiente se encerrar amanhã, ainda precisaremos de mil anos para recuperarmos... Gerações e gerações... Espero que Jesus volte antes, porque não dá para conviver com tanto sofrimento. Maranata, ora vem, Senhor Jesus! Que seja muito rápido, por conta da violência estabelecida no seio da família, no seio da sociedade, abuso de crianças e uma série de outras coisas que ainda doem muito mais. Mas, mutilações somadas, não há quem possa segurar.

            V. Exª mostra o sofrimento de Santa Catarina, de Florianópolis. Mostrou e descreveu, com tanta propriedade, as catástrofes, os tsunamis ocorridos e deu o número de mortos e desaparecidos. E o número dos desaparecidos ainda não é exato, porque, dizia V. Exª, outros ainda podem aparecer, e vão aparecer.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Estou perplexo com sua memória, por tudo isso... Eu fiz meu discurso pesquisado e estava escrito. V. Exª guardou dados e números. Meus cumprimentos!

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Minha mãe era analfabeta funcional, Dona Dadá. E ela dizia coisas que tem gente que estudou e que, hoje, não sabe falar ainda. Senador Paulo Paim, eu era menino e saí de um Município chamado Macarani, pequenininho - aliás, meu abraço a Macarani, pois eles devem estar nos vendo lá, agora -, onde aprendi a assinar meu nome, onde comecei a frequentar a igreja, pequenininho, levado pela mão de minha mãe. Graças a Deus por isso! Meu avô tinha um pequeno açougue; meu pai era relojoeiro. Quando nos mudamos para Itapetinga, uma cidade maior - a minha querida Itapetinga, onde eu fiquei até os 17 anos de idade -, fui estudar numa escola e os meninos da escola descobriram que eu tinha o nariz grande. Eu não sei por que, mas descobriram. E começaram a me colocar apelido: “Narigudo”, “Tucano”... Quer dizer, tucano eu não sou nem hoje que estou na política, quanto mais quando eu era menino, com todo o respeito. E eu comecei a achar aquilo ruim. Quando você não gosta de apelido, é um inferno. Como eu era um menino absolutamente sanguíneo, eu comecei a dar pedradas em todo mundo, porque, naquela época, não havia calçamentos nem nada, as pedras estavam todas no meio de rua, e, quando chovia, aflorava tudo. E, aí, eu arrumei uma legião e eles gostaram disto: eu, com a minha valentia, reagindo quando me chamavam. Um dia, eu não aguentei mais e fui embora chorando. E cheguei em casa chorando. A minha mãe, uma baianona despachada e forte, me abraçou. Nem me perguntou nada e falou: “Chore, chore... Vá, chore”. E eu chorei. Ela olhava para mim e passava as mãos no meu rosto, enxugava e falava: “Chore mais, chore...” E eu chorava. E ela perguntou: “Por que você está chorando?”. E eu disse: “Não vou para a escola mais, não”. E ela perguntou: “Por que você não vai para a escola?”. E eu disse: “Eu não volto mais, não, porque os meninos de lá estão me colocando apelido, e eu estou brigando e estão me dizendo que eu tenho o nariz grande”. E ela falou: “Então, chore mais...” E eu chorei. De repente, ela passou as mãos no meu rosto, enxugou as minhas lágrimas e falou: “Meu filho, o seu nariz é grande mesmo, mas você se parece comigo. Você me acha feia?”. E eu falei: “Não acho muito não, mãe”. Ela falou: “Meu filho, o seu nariz é grande, mas em compensação seu olho é verde”. Eu lá sabia o que era compensação. Hoje, eu fico pensando: como é que Mãe sabia isso? Mãe era semianalfabeta. “Meu filho, Deus te deu esse olho verde. Colega nenhum seu tem esse olho seu. Vá lá ver, vá!” Aí, eu corri, fui ao quintal, entrei na privada. Sabe aquele “espelhozinho” que tem a moldura cor de abóbora, que ainda vende hoje na feira? Eu tinha um daquele. E eu olhei, estava quebrado, só tinha metade, ainda me lembro direitinho. Foi a primeira vez que eu vi que tinha olho verde. Achei bacana demais. E minha mãe falou: “Deus compensa, meu filho”. Eu aprendi a compensação ali.

            Sou filho de uma faxineira. Eu nunca tive um livro, Senador Paulo Paim. Os cadernos que eu e meus irmãos tivemos eram daqueles que só tinham um grampinho no meio; se você tirasse uma folha, desmontava o caderno todo. Então, certamente, Deus me compensou com a minha mente. Então, é uma compensação de Deus. Não me deu a possibilidade de uma escola pública boa, particular, mas graças a Deus pelas professoras que eu tive - professora Emília, professora Neli, professora Nívea -, que me ensinaram. Aliás, à professora Nívea a minha maior gratidão, porque, como menino pobre, foi a primeira pessoa que comemorou um aniversário meu. Foi um dia tão feliz da minha vida! Cheguei à escola, tinha bola, estavam comemorando. Eu sou filho de uma faxineira. A minha mãe não tinha a menor condição de fazer festa para nós. Pois é. Mas ela disse: “Meu filho, Deus compensa”. Quem sabe é uma compensação?

            Na verdade, eu não tinha intenção de decorar o discurso de V. Exª, mas, diante de um discurso tão propício, tão bem colocado, tão significativo, eu fiquei parado, atrasei a minha vinda para cá e fiquei diante da televisão ouvindo V. Exª o tempo inteiro.

            Realmente é um discurso muito bem pesquisado, que chama a atenção de todos nós e que técnicos e leigos... Aliás, as pessoas poderiam requerer o DVD do seu discurso para passar nas escolas. Estou falando com toda pureza de coração: aprendi muita coisa, porque não é minha área. Sei, na verdade, que temos de preservar, preservar a vida. Por isso que fico muito chateado quando vejo um ambientalista que fuma, que vai para congresso e fica bebendo até de madrugada. Fico pensando: será que esse pessoal tem preocupação mesmo com a vida? Porque a mais importante é a minha. Na hora em que eu me destruir, não posso tomar conta da árvore, não posso tomar conta do rio; na hora em que eu me destruir, não posso levar as crianças, não posso prepará-las para tomar conta do meio ambiente, porque não preservei o bem maior, que é a vida que Deus me deu.

            Então, penso que ambientalista, que defende o meio ambiente, não tinha de fumar, não tinha de beber, não tinha de defender droga, não tinha de fazer apologia às drogas, como o Ministro Minc faz. Ninguém merece, o Brasil não merece isto: ter um Ministro que vai às ruas fazer apologia às drogas. Aliás, apologia a crime é crime. Se ele não fosse um Ministro, fosse um cidadão comum, um filho da pobreza, ela já estaria preso. Mas, como é um Ministro, pode ir para as ruas fazer apologia às drogas, enquanto as mães choram nas filas para entrar nos presídios, tiram suas roupas para serem revistadas em suas partes íntimas para visitar um filho que está na penitenciária por causa de droga, enquanto mães choram no cemitério porque o filho morreu nas drogas. O filho dela era um atleta que não recebeu medalha. Esse menino, cujos restos mortais estão no cemitério hoje, é um corredor que não chegou, é um nadador que não deu a última braçada, é um vencedor que poderia ter sido, é um herói que não se realizou, é um medalhista que não chegou à medalha, é um triatleta que não fez a última etapa, porque esse campeão ficou pelo meio do caminho, por causa das drogas que o Ministro Minc defende no meio das ruas. E isso me entristece.

            Quem defende o meio ambiente precisa respeitar a vida, precisa respeitar a família, e o Brasil não merece um Ministro que vai para a rua fazer apologia às drogas. O Ministro não conhece o País onde nós vivemos, um País que tem 1,1 mil quilômetros abertos de fronteira com o Paraguai, tem 700 quilômetros abertos com a Bolívia. Na Amazônia, há 2,5 mil pistas clandestinas para pouso de aeronave de pequeno porte com droga e arma para matar a nossa sociedade, para destruir os nossos filhos, para pouso de aeronave com droga.

            “Legaliza as drogas que acaba a violência”, foi o mesmo discurso que fizeram para legalizar as bebidas alcoólicas. Diminuiu a violência? Não. Diminuiu acidente na estrada? Não. Diminuiu acidente de trânsito? Não. Acabaram-se as brigas familiares? Não. Dizem que 73% dos órfãos do Brasil são filhos da bebida alcoólica, são vítimas de casamentos em que pai e mãe se separaram por causa da bebida alcoólica.

            O grande drama da sociedade é a bebida alcoólica. Tem 29 anos que tiro drogados da rua. O meu problema não é com o viciado em cocaína, nem com o viciado em crack, nem com o viciado em maconha. O meu problema é com o alcoólatra. De cada 50 viciados em cocaína, nós recuperamos um bêbado. O que a bebida alcoólica faz no sistema nervoso central é alguma coisa fora do controle. Aí você vê as matérias de televisão entrevistando jovens bebendo na noite, agora, por causa da chamada Lei Seca, que alguns criticam, mas que foi uma bênção tremenda. É só analisar o número de ocorrências policiais, o número de pessoas que eram internadas nos hospitais na madrugada por causa de acidente e ver como caiu, como diminuiu, exatamente porque se brecou e se enfrentou a bebida alcoólica.

            Esse é um discurso fácil, o da legalização das drogas. No dia em que nós legalizarmos as drogas, Senador Nery, V. Exª, que é um homem de causa, um homem da causa da vida, é um homem que luta pela vida, que repudia trabalho escravo e abuso de criança... Aliás, V. Exª é um dos guerreiros da CPI da Pedofilia, juntamente com o Senador Paim, auxiliando-me nessa grande luta, e eu auxiliando V. Exª. Esse é um discurso fácil.

            No dia em que legalizarem as drogas, cidadãos, este País será o paraíso da contravenção do mundo. Eles virão viver aqui, sabe por quê? O País de vocês tem portos, tem um complexo portuário, graças a Deus! Nós temos fronteiras secas maravilhosas nas nossas estradas, nós termos aeroportos, nós temos a saída para o mundo. Sem legalização de drogas aqui, nós já somos um entreposto das drogas para o mundo. Nós já somos usados sem as drogas serem legalizadas no Brasil.

            É como legalizar o bingo no Brasil. Bingo é instrumento de lavagem de dinheiro do narcotráfico, de dinheiro de corrupção. No dia em que legalizarem o bingo neste País - prestem atenção, famílias do Brasil -, o Brasil se tornará o paraíso da contravenção, os contraventores do mundo virão para cá, lavar o dinheiro aqui. “Ah, mas, nos Estados Unidos, tem região...”. Eles podem até ter vocação para o jogo. Nós não temos.

            As nossas fronteiras são abertas, são abertas exatamente com os nossos vizinhos, com todo o respeito aos nossos vizinhos. Mas a contravenção vem de lá. Eles não têm compromisso conosco, com o Brasil. Hoje, já há partilhas e consórcios de cocaína vindos do Paraguai para cá que antes não havia, era só maconha, só arma para matar os nossos filhos. Olhem as cabriteiras do Mato Grosso! Olhem as nossas vertentes de rio no Amazonas!

            Nós viraremos um paraíso. Nós não podemos legalizar bingo neste País, Senador Paim. Nós não podemos fazer a infelicidade de milhões de aposentados. Nós não podemos criar mais loucos enquanto meia dúzia de bicheiros... Aliás, os bingos são dos velhos bicheiros, que se tornaram bingueiros.

            Nos bingos, tem que se ressalvar, há 20% de gente honesta, que, acreditando na Lei Pelé, migraram de suas atividades para essa atividade, acreditando em uma atividade lícita. Você não pode incluir todo mundo aqui. Mas quem trabalha em bingo... Eles formam cooperativas de servidores de bingo. Sabe para quê? Para não pagarem imposto, para não assinarem carteira, Senador Paim. Uma garçonete de bingo engravida e o empregador não tem responsabilidade nenhuma com ela. Ela não tem direito a nada, ela é da cooperativa. Você sabe quem é segurança de bingo?

            Eu falei para o Presidente Lula, quando ele fechou os bingos: peça ao seu Ministro do Turismo para fazer um pronunciamento e chamar para dentro o turismo brasileiro, chamar para dentro a CNTur, chamar para dentro aqueles que operam turismo, a rede hoteleira, a rede de churrascarias, chamar todo mundo para dentro, rede de resorts; chame todo mundo, tenha uma reunião e diga... Os empregos que existem nos bingos são de garçons e de garçonetes, de cozinheiros, de maitres. Os empregos que existem no bingo são de segurança. Eles estão dizendo que, com os bingos fechados, perderemos muitos empregos. Eu disse: Presidente, diga à CNTur que você precisa desses empregos no Brasil. Onde houver um garçom demitido, um hotel vai admiti-lo, uma churrascaria vai admiti-lo. E peça para se cadastrarem nos Estados. A partir de amanhã, cadastramento dos demitidos de bingos. Primeiro, venham se cadastrar os que têm carteira assinada. Vossa Excelência verá que vão aparecer para se cadastrar 5% do que eles estão falando. Em segundo lugar, mandem cadastrar os seguranças dos bingos. Senador José Nery, não vai aparecer um, sabe por quê? Porque segurança de bingo é policial expulso. Segurança de bingo é policial criminoso. Esse número de demitidos não existe.

            Não tem emprego no bingo que o turismo no Brasil não possa consumir. Chamem a Confederação Nacional do Turismo. Eles estão prontos para atender. Chamem a rede hoteleira. Quem tem formação de garçom está empregado; quem tem formação de cozinheiro está empregado. Aliás, com R$3 mil gera-se um emprego no turismo - não sei por que o Brasil não faz isso -, mas é preciso R$300 mil para gerar um emprego na indústria. E o Brasil tem vocação para o turismo.

            Então, isso é balela, isso é balela! “Ah, mas o bingo aberto gera emprego.” Então, vamos legalizar as casas de prostituição também; vamos legalizar as bocas de fumo, porque geram empregos. A família brasileira tem que reagir a isso. Isso é discurso fácil. Isso é discurso fácil, como o é o da legalização das drogas.

            Eu fico triste porque é o mesmo discurso do ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, Senador Paim. Sabe por que fico triste? Porque na CPI convivi com ele. Na CPI do Narcotráfico, estive com ele. Foi ele quem criou a Senad - Secretaria Nacional Antidrogas. E ele fez um discurso na ONU dizendo que iria erradicar as drogas no Brasil em dez anos. Primeiro, ele não iria ser Presidente por dez anos. Errou aí. Segundo, não vai erradicar. Bandido, criminoso vai ter sempre. Nós precisamos é minimizar, a partir do fortalecimento da família, do resgate da família. Pai e mãe precisam entender que a melhor leitura que um filho tem para fazer é a vida deles, do pai e da mãe. Se o livro for ruim, o filho vai decorar coisa ruim. Se o livro for bom... Por isso que a Bíblia diz: “Ensina a criança no caminho que deve andar e, mesmo quando velho, não se desviará dele”. O provérbio diz que filho sem correção é a vergonha do seu pai e a decepção da sua mãe. Filho precisa de correção! Mas não é da polícia, é dentro de casa. Se pai e mãe soubessem disso na hora de prevenir, na hora de educar! Filho olha para vida do pai e tem o que ler!

            Eu estava fazendo uma palestra em determinado lugar, Senador José Nery, e um homem levantou a mão e falou: “Senador, posso fazer uma pergunta?”. Digo: “Pode”. Ele disse: “Eu fui ontem ao Conselho Tutelar e falei mesmo para o conselheiro. Eu tenho uma filha de 14 anos. Ela está fumando crack. Tem uma semana que ela saiu de casa. Ela está andando com traficante. Se o Conselho Tutelar não tomar providência, eu vou denunciar vocês”. Eu falei: “Ei, cara de pau, essa menina não foi criada na casa do Conselho Tutelar, foi criada na sua. Essa menina cresceu vendo você fumar. Essas carteiras de cigarro que estão no seu bolso, ela cresceu vendo isso aí. Ela cresceu vendo bebida foi na sua geladeira, não foi no Conselho Tutelar. Não foi na minha casa. Ela cresceu vendo você bêbado foi em casa. O livro que ela leu foi sua vida. Agora, você vai denunciar o Conselho Tutelar?”

            Então, ensinaram mal para a sociedade. Polícia, Conselho Tutelar, Ministério Público e Justiça agem quando a porta foi arrombada. Nós não queremos crime em porta arrombada, o que nós queremos é que não haja crime. E, para não haver o crime, a prevenção tem que começar na família. Esse trabalho não é de polícia, é de família. A família é o nascedouro de tudo.

            Não adianta desassorear o rio, se você não cuida da nascente do rio. A nascente do rio está cheia de lama. Você quer desassorear no meio? Cuide da nascente! A família é a nascente para o bem e a paro o mal.

            Aí, o Presidente Fernando Henrique Cardoso disse que é preciso legalizar as drogas no Brasil. Poderia ter tentado fazer isso quando foi Presidente! Fico triste porque ele mostra que não conhece o País que ele governou. Ele não sabe quem são nossos vizinhos e do que eles são capazes. Não há Sivam em 1.100 quilômetros abertos com o Paraguai; não há Sivam no Marajó, Senador José Nery. Estou repetindo informação sua, do seu Marajó. Lá, não tem. É por isso que Dom Azcona está condenado à morte, com os outros bispos. E pessoas de bem - Conselho tutelar, Ministério Público -, ameaçadas de morte, porque denunciam aberração de crianças que são levadas para as Guianas Francesas, para o abuso, os nossos adolescentes, dentro do Marajó, porque lá não tem o olho, não tem a mão do Poder Público.

            Quero até abraçar o pessoal de Curralinho. Estive lá. Um abraço para eles. Vi tanta precariedade! Fui ao local do depoimento, junto com V. Exª, num mototáxi, porque nem carro tinha. Abandono de um povo que não tem água, onde parece que lei nada vale.

            Fico triste, porque o Sivam poderia ter ido para lá, poderia estar agora em Mato Grosso, nos 700 quilômetros. Fico triste porque o ex-Presidente Fernando Henrique está pregando a legalização de drogas. Eu gostaria de saber do Serra e do Aécio se esse é o discurso do partido, se essa é uma tese do PSDB. Aécio tem que falar isso. Aliás, eu queria que alguém comunicasse ao Aécio - se estiver me ouvindo - que ele precisa ir para a rua falar isto, se legalização de droga é uma tese do PSDB, se é uma tese que o Serra vai defender ou não é uma tese, porque alguém vai perguntar isso no processo eleitoral.

            Sabe, em relação à legalização de droga, Presidente Fernando Henrique Cardoso, fico pensando como pai de família. Vai fazer trinta anos que tiro drogados da rua, Senador Paim. Tenho uma instituição chamada Projeto Vem Viver. Tem menino de oito anos, de dez, gente de setenta, de vinte, de cinquenta; V. Exª conheceu, esteve lá.

            O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Estive lá. Fui lá em Cachoeiro de Itapemirim.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco PR - ES) - Fico pensando assim: o que vale a lágrima de uma mãe que chora com um filho drogado, para depois ouvir o discurso de um Ministro falando isso? O que vale o sofrimento de uma mãe que se angustia, de um pai que perdeu o emprego - ele não consegue trabalhar, tal é a alucinação, o corre-corre, o vai e volta, tentando salvar a vida de um filho? O que leva uma mãe a amarrar o filho no pé da cama, para não vê-lo morto com o crack, ir trabalhar para trazer alimento para ele, para, depois, ligar a televisão e ver o Ministro falar isso, ver o ex-Presidente da República?

            Eu queria mandar um recado para o ex-Presidente Fernando Cardoso: Presidente, com todo o respeito que tenho ao senhor, o senhor é um sociólogo, um homem formado, tem tantos diplomas, tem tantos títulos, e eu sou um semianalfabeto. Nunca consegui passar num vestibular, Presidente! Meu sonho era ser advogado. Não consegui - Deus sabe por quê. Mas, Presidente, tenho muito respeito à vida. Eu queria dizer uma coisa ao senhor: o Brasil vai estar preparado para legalizar a droga. E eu vou dizer ao senhor qual o dia. O dia em que estaremos prontos para legalizar a droga, Presidente, vai ser exatamente o dia em que o senhor tiver que cumprir um compromisso internacional e a companhia aérea avisar ao senhor o seguinte: “os dois pilotos que pilotam o Boeing são viciados em cocaína”. Se o senhor tiver coragem de embarcar, essa será a hora. O senhor tem neto? Se o senhor descobre que o diretor da escola do seu neto é viciado em crack; que o professor de natação da sua netinha é viciado em crack; que o sujeito que dirige a van, o motorista, ele para na rua para comprar maconha enquanto leva sua neta para a escola, e, se isso não tiver problema nenhum para o senhor, está na hora de legalizar as drogas. Se você acha que pode contratar um diretor financeiro para sua empresa e sabe que ele é viciado em cocaína, que ele cheira muito, cheira a noite inteira, ou que vive com o bolso cheio de baseado, de maconha, e se para você está tranquilo, é hora de legalizar. Sem problema!

            Se o senhor, Senador Paim, for contratar um motorista e achar que não tem problema que ele fume maconha, que ele faça a cabeça antes de sair de casa para lhe levar para o trabalho, essa vai ser a hora, Senador José Nery, de legalizar as drogas no Brasil; vai ser a hora de legalizar as drogas no Brasil!

            Se no dia em que chegarmos a uma reunião, um pai de família, reunião de pais e mestres, na escola, e dizerem: “Esperem um pouco aí, porque a professora está com um cachimbo, queimando uma pedra de crack; daqui a pouco ela vem”. Se isso estiver legal para vocês, é hora de legalizar as drogas no Brasil.

            Estamos diante de um monstro adolescente, que temos denunciado na CPI. Não é o nosso foco, mas é o monstro do crack. Não sou profeta do apocalipse, mas se a sociedade civil não reagir à sua real responsabilidade, a família, daqui a dois anos o crack vai ajoelhar o País.

            Quero começar uma campanha agora - aliás, já comecei no meu Estado - chamada Projeto Cara Limpa, para salvar essa geração.

            Você sabe que uma pedra de crack faz o cara dependente. Só uma pedra. O que o craque faz em 90 dias, a cocaína leva 12 anos para fazer. Você sabe que tem milhões de pessoas fumando crack hoje. E se pergunta: “como é que entrou nisso?” É porque eles experimentaram para testar, para ver se realmente é o que falam. E ficaram dependentes com a primeira pedra, porque a dependência é feita com a primeira pedra.

            Aliás, eu queria saudar o Kiko, do KLB. Esse artista magnífico, um músico magnífico, com seus irmãos, Leandro e Bruno, filhos do meu amigo Franco. O Kiko já começou uma campanha, em São Paulo, chamada Brasil de Cara Limpa. Os três irmãos. Sabe que esses meninos nunca beberam, Senador Paim? Sabe que o KLB não tem vício nenhum? Esses meninos nunca fumaram nada e vivem dentro de casa com a mãe e com o pai. Que coisa! Com a mãe e com o pai!

            Eu também tenho duas filhas, uma de 23 e outra de 24, que vivem com mãe e pai. Que coisa maravilhosa! Que beijam a mão do pai para dormir, que não dormem na rua, que não fizeram da balada sua novidade de vida. A pílula do dia seguinte! Tenho duas filhas. E dizer: “Não, o mundo é moderno!” Não, não é! Nós é que não podemos aceitar isso pacificamente, porque o caráter de uma criança é formado dentro de casa, com o que vê, e não com o que ouve. Não é a creche, não é a escola, a faculdade, o cursinho que vão formar pai e mãe no Brasil hoje. A sociedade precisa ser fortalecida a partir dos poderes públicos. Tem-se que olhar para dentro de si e perguntar: que tipo de filho estou criando? Que tipo de cidadão estou formando para entregar à sociedade? Não é o caráter que um partido político vai formar em alguém. Não vai! Que a creche... Não! Que a igreja... Também não!

            A primeira instituição que Deus criou foi a família. O pai, tão avassalado de trabalho, querendo ganhar dinheiro: “preciso deixar um patrimônio para meus filhos...”. O melhor patrimônio é a criação, é o caráter. “Não, eu nunca tirei férias. Só trabalho para minha família!” Grande coisa, o cara bate no peito e pensa que está fazendo grande coisa. Amigo, deixe de bobagem! Vá tirar férias, leve sua família, vá viver! A vida é fugaz, é rápida. Cuide dos seus filhos. Olhe o boletim do seu filho.

            Tenho uma filha de 23 anos, que liga para mim quinze vezes por dia para nada. Eu falo: “Minha filha, estou aqui, no plenário”. “Você vai chegar que dia?” “Minha filha, chego sempre no mesmo dia.” “Ah, então tá bom. Um beijo.” “Pai!” “Minha filha, estou aqui, conversando com sua mãe.” “Pai!” “Já vou.” “Pai, vem cá, pai.” Eu vou. Chego lá, está ela no quarto, no computador, e fala: “Pai, vá pegar um copo d’água pra mim?”. Eu vou. “Senta aí.” Eu sento. “Vou lhe mostrar esse vídeo aqui.” Eu fico. Aí, estou escutando a outra conversando sozinha na sala, xingando jogador do Flamengo. São flamenguistas doentes. “Pai, vem cá para você ver o lance que esse ignorante fez aqui.” Eu vou, sento-me lá. “Fica aí! É brincadeira! Flamengo é de uma instabilidade! É um jogo bom hoje, amanhã perde, depois empata, a gente não consegue ter alegria com esse time.” Eu falo: “É, minha filha, tenho que pegar os vídeos do Flamengo de Zico, de Andrade, de Nunes, para a gente ver juntos, porque vocês não viram”. “Pai, você vai para onde? Não, vamos ali comigo.” E aí elas me levam para o shopping.

            Aliás, Senador Paulo Paim, quando morrer, quero ser cremado e quero que minhas cinzas sejam jogadas dentro do shopping, porque a certeza que tenho é que minhas filhas e minha mulher vão me visitar todos os dias. E vou eu andando, e mulher gosta de entrar em loja dos outros, desarrumar prateleira e não comprar nada A gente fica sem graça.

            Entro ali, junto com elas, que dizem: “Puxa aqui, vendedor! Puxa aqui”. E fico lá. Dizem: “Magno Malta, tudo bom? Tome um cafezinho aqui”. E fico sem graça. Aí elas saem de lá e deixam tudo desarrumado, sem comprar nada. E eu as vou acompanhando, eu as vou acompanhando.

            Os filhos são dádivas de Deus. Filho é presente de Deus para pai e mãe, não para creche, não para conselho, não para Polícia. É presente para nós. Aí, o sujeito põe o filho para beber cerveja com ele e pensa que é uma coisa grande: “Ah! Meu filho tem treze anos e já é um homem”. Espera, porque a lágrima que você vai chorar daqui a pouco vai ser muito sofrida. Espera, espera! O Brasil precisa de Deus na família. O Brasil não precisa de religião, precisa de Deus na vida da família. Adianta ter religiosidade sem Deus?

            Quero ver o Poder Público - o ex-Deputado Wanderval está ali, conosco -, o mesmo Poder Público, Senador José Nery, que enche o Brasil de outdoors no carnaval com o dizer “use camisinha!”, para enricar os fabricantes de camisinha... O País inteiro fica cheio de outdoors: “Use camisinha.” Quanto custa um outdoor? Eu queria ver a coragem de colocarem também outros outdoors, dizendo: “Olha, preserve-se! Guarde-se para o casamento. Cuidado com doenças sexualmente transmissíveis! O casamento é bom. A família é boa”. Não, há um trabalho para se desconstruir a família. Inventaram uma frase do inferno: não tem nada a ver, nada tem a ver. Tudo tem a ver. Fico preocupado quando ouço um ex-Presidente da República fazer um discurso infame desse, sobre a legalização de droga.

            Senador Nery, a ciência diz que lágrima é H2O mais cloreto de sódio. A ciência não sabe nada sobre lágrima, não. Diz que lágrima é água e sal, mas não o é. Quem sabe de lágrima é a mãe que tem um filho drogado. A ciência não sabe disso, não.

            Senador José Nery, Senador Paim, anteontem - e encerro aqui -, aprovamos a Lei Joanna Maranhão. Não é uma vitória minha. É uma vitória do Brasil, é uma vitória da família, é uma vitória nossa. Quem é Joanna Maranhão? É uma nadadora premiada do Brasil, participante de duas Olimpíadas. Com 22 anos de idade, ela se está preparando para a terceira Olimpíada. Ela foi molestada aos nove anos de idade. A mãe conta o comportamento dessa menina, depois dos nove anos, dando sinais. E a mãe não entendia os sinais. Uma criança abusada dificilmente fala, mas dá sinal: começa a ter pesadelo, grita dormindo, rende menos na escola, volta a fazer xixi na cama, fica agressiva, come compulsivamente ou para de comer, adoece, ou age contrariamente. Se se viciou, se mexeram na sua sexualidade e se ela está viciada, ela começa a querer dormir na casa dos outros. Ela dá sinal. A Joanna ficou medrosa, não queria dormir mais sozinha. Quando via o técnico, ela se escondia atrás da mãe. Ele era amigo da família. Aliás, todo pedófilo é amigo, é conquistador. O pedófilo é um pé-de-pano, é alguém acima de qualquer suspeita.

            A Joanna o denunciou aos 20 anos. E a lei só permite a denúncia com 18 anos e seis meses. Digo isso para que as famílias possam entender. Sabe por que, Senador Nery? No dia em que votamos a Lei, abri o Google, e, naquela mesma hora, já havia publicação em 350 veículos de comunicação no Brasil, no mesmo dia. Muita gente me passa e-mail, perguntando: o que é a Lei Joanna Maranhão? A lei diz, hoje, que, no caso de uma criança abusada, a ação é civil, privada. O Ministério Público só pode denunciar o abusador se a família permitir. Se a família, por qualquer motivo, quiser esconder, acobertar, com medo, para não expor ou até por dinheiro, não pode denunciar. Mas a ação é pública, Senador Paim. O abusador está exposto agora. O Ministério Público pode entrar com ação. O mais importante é que a criança precisava fazer 18 anos. A Lei diz que, ao fazer 18 anos, a pessoa deixou de ser criança, é adulto e tem mais seis meses para denunciar. Se não denunciou, o crime cai. A Joanna denunciou aos 20 anos e começou a sofrer processo do seu técnico.

            É verdade que a Joanna não será alcançada pela lei que leva o nome dela, como a Maria da Penha não foi alcançada pela lei que leva o nome dela. Mas a Lei Joanna Maranhão tem para o Brasil o mesmo peso da Lei Maria da Penha: virou um símbolo. A partir de agora, a criança abusada, Deputado Wanderval, terá o tempo preciso, a partir da sua maioridade, quando se sentir bem emocional, física e psicologicamente, para denunciar seu abusador.

            Nesse mesmo dia, ouvimos o Prefeito de Sebastião Barros, acusado de abusar da filhinha de oito anos de idade do Presidente da Câmara de Corrente - a criança tinha câncer na medula - e acusado de abusar também da filha do Presidente da Câmara do Município de Sebastião Barros, Município dele, uma criança de dez anos de idade. Eu vi esse cidadão. Senador José Nery, que é Relator desse processo, quem inquiriu esse cidadão? Fico triste, Senador Paim, com tanto cinismo! E olhe que estamos investigando seriamente. Sabemos onde está a verdade, há sigilo disso. Ouvimos a mulher dele. Que cinismo! Que cinismo!

            Na próxima semana, Senador Paulo Paim, pretendo oficiar a V. Exª, como Presidente da Comissão de Direitos Humanos, que façamos uma audiência pública juntos - CPI da Pedofilia e Comissão de Direitos Humanos. Será uma grande audiência, quem sabe neste plenário, trazendo especialistas, gente da mídia, gente abusada que tem coragem, como a Joanna. Há duas Deputadas aqui. Uma Deputada de São Paulo me procurou há quinze dias, sentou em meu gabinete e começou a tremer. Chorava e dizia: “Não sei por onde começar. Quero falar, mas não sei por onde começar”. Eu disse: “Fique à vontade”. Chorou, chorou e começou dizendo assim: “Senador, fui abusada aos dois anos de idade”.

            Poderemos entender esse mosaico e, a partir dessa audiência pública, Senador Paim, construir uma lei chamada Lei de Responsabilidade Humana, porque Lei de Responsabilidade Fiscal já a temos.

            Quem é que tem de cuidar dos conselhos tutelares? Os Prefeitos. Conselho tutelar, no Brasil, é abandonado. Raramente, chega-se a um Município onde o conselho tutelar funciona bem, está bem preparado, instalado e equipado, tem utensílios, conta com psicólogos, com bons carros, com gente de plantão. É diferente o Provita de Belém, que, junto com o Senador José Nery, fomos visitar e que nos dá orgulho. Em todo lugar, deveria haver um órgão assim.

            Aproveito para mandar um abraço para a nossa querida irmã... Como se esquece nome de amigo? Margarita. É isso mesmo, não é? Lembre-se do nome dela e o passe para mim. Ela vai ficar chateada comigo e com V. Exª. É melhor que V. Exª mesmo ligue para ela e pergunte o nome dela.

            Senador Paim, essa audiência pública será feita para discutirmos e construirmos a chamada Lei de Responsabilidade Humana. Não há a Lei de Responsabilidade Fiscal? Temos de elaborar a Lei de Responsabilidade Humana. Ninguém cuida dos conselhos tutelares. Os conselheiros estão abandonados. Há conselho tutelar para o qual o Prefeito não dá a mínima. Há Município em que não há telefone. O conselheiro tutelar precisa ter telefone celular hoje, porque, na madrugada, ele pode atender em casa. Eles não têm carro, e, quando o têm, é carro velho, com pneu careca. Eles não têm um sofá decente, no qual uma mãe pode sentar, para chorar pelo filho abusado, pela criança abusada. Temos de fazer uma lei que possa responsabilizar aqueles que precisam cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente e não o cumprem, com relação aos conselhos tutelares.

            Tenho dito por aí que, assim como na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Ministério Público, na classe política, na universidade, debaixo da ponte, no condomínio, na Igreja - há sacerdotes abusando de crianças -, na Justiça... Vejam o Branquinho, Juiz de Tefé! Vejam o Promotor de Infância de Alagoas e o Procurador de Roraima! Que desgraça, que coisa horrível! Tenho dito que não é diferente nos conselhos. Temos encontrado, pelo Brasil, conselheiros abusando de crianças também. Não é que conselheiro, pastor, padre ou político, Ministério Público e Justiça sejam abusadores de criança. O abusador busca a atividade onde terá mais facilidade de estar perto de crianças fragilizadas, de famílias fragilizadas, para cometer o abuso.

            Quero conclamar os Prefeitos do Brasil, os Prefeitos do meu Estado. Aliás, no meu Estado, há muitos Prefeitos buscando fazer coisas boas, como o Prefeito Neucimar Fraga, em Vila Velha; e o Prefeito Sérgio Vidigal, na Serra. Eles buscam trabalhar direito. Assim faz o Prefeito Amadeu Boroto, de São Mateus; o Leonardo, lá em Colatina; o Valderez, de Barra de São Francisco, onde fiz uma grande audiência pública. Mas, Senador Paim, há outros que estão pouco se lixando para os conselhos tutelares. Conselho tutelar é a caixa de primeiros socorros de abuso de criança, e é preciso cuidar disso.

            Encerro meu pronunciamento, mais uma vez abraçando o Prefeito Neucimar Fraga, de Vila Velha. Aliás, nesses seis meses de mandato, Vila Velha tem outra cara, tem outra face. Convido o Brasil às melhores praias. Digo isso sabe por quê? Porque, no verão, a violência ali caiu 84%. Então, o cidadão está seguro nas praias de Vila Velha, pela ação e pelo trabalho do Secretário Ledir Porto, com a mão do Prefeito Neucimar Fraga. Nas praias de Vila Velha, o turista terá tranquilidade. Você anda pela praia de Vila Velha, alguém o está olhando, alguém o está vendo. As câmeras são tagarelas. Se a pessoa encosta em um carro por um minuto, mesmo que o carro seja dela, a câmera fala: “Desencosta desse carro, nós estamos vendo você”. Oitenta e quatro por cento é um número considerável. Então, é preciso respeitar e abraçar esse Prefeito empreendedor, jovem, ex-camelô. Estamos juntos há mais de 25 anos, tirando drogados da rua.

            O Ledir Porto, que é o Secretário de Defesa Social, que reduziu a violência ali, Senador José Nery, há dezesseis anos, eu o tirei da cadeia. Ele foi recuperado na minha instituição. Chegou lá com o segundo ano primário. Foi lá dentro que ele fez o segundo grau, que estudou, que fez o primário, que se formou, que mudou de vida, que deixou Deus entrar na vida dele. Quando Deus entra na nossa vida, não há jeito. E, por isso, Vila Velha é esse Município que é hoje. Então, abraço o Prefeito Neucimar Fraga, abraço o Ledir, abraço o Nilis, pelo trabalho semelhante que faz em São Mateus.

            Penso que as coisas vão mudando. Penso até que, com essa renovação, Senador Paim, no seu Estado, vai ser assim também, bem como no do Senador José Nery. O Senador José Nery é essa revelação no Senado. Foi Vereador de um Município pequeno. Na cabeça dele, nunca passou a ideia de que viesse parar aqui. Mas quem escreve a história não é ele; é Deus quem escreve a história. E V. Exª sabe disso, porque tem filho pastor, que lhe ensina a Bíblia todo dia. Graças a Deus, seus filhos não vivem na noite, seus filhos não vivem na balada, seus filhos não usam droga! Seus filhos, quem sabe, são até anarquizados na rua porque andam de Bíblia na mão. Mas o beijam, chamam-no de pai, honram-no, não falam palavrão na frente da mãe, nem nas suas costas. Dormem em casa, não andam com droga. É preciso dar graças a Deus. Parabéns pelos seus filhos!

            É essa revelação que é o Senador José Nery. E falo isso, porque eu o conheço. Ele tem andado comigo pelo Brasil inteiro. É corajoso, determinado. Eu gostaria de pedir ao povo do Pará para trazê-lo de volta. S. Exª fica olhando assim. S. Exª veio de um Município pequeno, foi Vereador, foi suplente da Ana Júlia. S. Exª fica sem a perspectiva de entender que um Estado daquele tamanho... Foi Vereador de um Município pequeno. Aliás, Vereador é muito importante. V. Exª foi muito importante e é importante nesta Casa. Mas quer saber de uma coisa, Senador José Nery? As pessoas não são mais tolas. Ninguém engana mais ninguém. A pessoa mais simples, lá no coração do Marajó, tem uma parabólica, vê tudo, sabe de tudo. As pessoas sabem quem é quem. Não é isso, Senador Paim? As pessoas sabem.

            De sua atuação em defesa das crianças, sou testemunha. Tenho ido a alguns lugares sozinho, mas tenho ido a alguns lugares com V. Exª. E V. Exª é daqueles meus, que não bota o galho dentro, que não amarela. Em momento nenhum, amarela na defesa da vida, na defesa das crianças. Não há conversa! Estivemos agora no Maranhão e, para nossa vergonha, prendemos vice-prefeito, prendemos pastor com a CPI. Não há conversa na defesa das crianças! E V. Exª é esse tipo de gente.

            Olhe, tenho muito orgulho do Paim, por quem tenho uma amizade velha, lá da Câmara. E agora estamos aqui, no Senado. A luta de Paim nos direitos humanos é incontestável, é incontestável! Imagina se Paim diz que quer ser candidato à Presidência da República! Se se fala no nome de Paim em Presidente Kennedy, que é um Município bem pequeno do meu Estado, todo mundo sabe quem ele é. Todo aposentado repete, todo mundo que mexe com salário-mínimo repete: “O senhor é um homem de causa”. O político tinha de ter causa. Não dá para ficar atirando para todo canto. A gente precisa ter causa para lutar, precisa ter bandeira para abraçar, para poder pregar a diferença no País. No pequeno Município de Marajó, todo mundo sabe quem é Paim. Chegue ao Chuí, que verá que todo mundo sabe quem ele é. Desça à Baixada e fale “Paulo Paim”, que, de dentro da padaria, um aposentado, comprando pão, vai virar-se imediatamente e olhar para o senhor, como se as fichas dele estivessem todas no senhor, como se a esperança estivesse na sua voz. Isso é bacana para quem tem bandeira, para quem tem luta.

            Lembro-me de que, na luta pelo salário-mínimo, éramos Deputados Federais, e V. Exª fazia um discurso desesperado, angustiado, no Dia do Trabalho. Não havia o que comemorar. Era uma luta com o Governo Fernando Henrique Cardoso!

            Com todo o respeito aos meus companheiros do PSDB, quando os vejo atacando o Governo Lula, fico pensando: “Meu Deus, quem te viu, quem te vê. Quando eram governo, hem, amigos?”. Quando os vejo falando em CPI, vejo a correria deles, fico me lembrando de quando retiravam assinaturas para não haver CPI contra Fernando Henrique Cardoso. Lembra? O povo sabe disso. Ninguém é tolo.

            V. Exª estava desesperado com a Constituição na mão enquanto um Deputado debochava de V. Exª naquele lado da tribuna. De lá, V. Exª jogou a Constituição em cima dele, de tanto desespero na luta por aqueles que são menores.

            Senador Paim, acho que o homem que vai para a vida pública precisa trabalhar para fortalecer o forte, a fim de que este continue forte, porque gera emprego. O empresário gera emprego, e quem gera emprego gera honra. Mas a gente não precisa botar as fichas nele, porque o prato dele está feito. Do médio, precisamos preparar o caminho, para que se fortaleça muito, de maneira a gerar muitos empregos e dar dignidade. Mas nossas fichas têm de ser depositadas nos pobres. Jesus disse: “Quem faz aos pobres a mim mesmo faz”. Ou o bem ou o mal! Esses precisam de nós. Esses precisam que gritemos por eles. O outro, não, pode contratar advogado e fazer o que quiser. Mas o pobre precisa de nós.

            Senador Paulo Paim, quando vejo alguém fazer discurso dizendo que o Bolsa-Família é esmola, chega a me dar dor, porque me lembro da minha mãe, lembro-me das minhas tias, que eram faxineiras. Fico pensando: “Meu Deus, neste País, há trinta milhões de pessoas que já sofreram tanto, que já foram tão esfoladas! E já tiraram tudo delas”. Fazer discurso de que tem de ensiná-los a pescar? Como? Eles não vão aprender a pescar mais, não. Esses trinta milhões de brasileiros têm de receber o peixe na mão, na mão! Chame-me de populista, fale o que quiser falar. Qual é o problema? Qual é o problema? Conheço isso. Senti essa dor. Eu calçava chinelo e ia para a escola de calção. Nunca tive livro. Sei do que é que estou falando. Trinta milhões de brasileiros nunca vão aprender a pescar. Mas é preciso criar condições para se fazer inclusão social a partir da educação. Duzentos e cinquenta Cefets o Lula fez. Que alguém faça mais! Que aumente esse número! É preciso criar condições para que os netos e os bisnetos desses não precisem mais do Bolsa-Família. Mas esses, agora, precisam do Bolsa-Família, sim. Precisam da Bolsa-Família, sim. É preciso dar o pão na mão.

            Senador José Nery, talvez, a quantia de R$100,00 não faça diferença para mim e para V. Exª, mas faz diferença para um pobre que tem cinco filhos. Ao chegarem esses R$100,00 à sua mão, imagino a festa! Nesses lugares em que há muitos pobres, isso mexe com a economia local.

            Senador, há muito o que fazer. E cito isso para dizer que é preciso ter bandeira. E V. Exª a tem: a bandeira do salário-mínimo, a bandeira dos aposentados, a bandeira do meio ambiente. Sabe por que você veio para cá, Zé? Não sei se quebro o ritual, se quebro o decoro ao chamar você de Zé. Mas é Zé mesmo. Se o Presidente é Lula, como é que você não é Zé? Veio para cá para gritar contra o trabalho escravo, para gritar em favor das crianças, para sua voz ser ouvida, para sua voz ter eco, ter ressonância.

            Ô Zé, quando acabar a CPI da Pedofilia, vamos fazer a CPI dos maus-tratos, porque envolve desde o trabalho escravo até criança presa em abrigo; envolve adoção internacional, envolve safadeza em abrigos. Há crianças que não são entregues para adoção no Brasil porque têm de ir para adoção internacional. E muitas crianças são entregues para pedófilos no exterior; algumas são entregues, para que lhe arranquem o olho, o rim, o baço. Vão para lá com o pulmão vendido, pensando que serão filhos de uma família no exterior.

            Vamos falar dos maus-tratos. Aí vamos entrar dentro desses abrigos, vamos falar com esses donos de abrigos. Há juiz envolvido nisso, há promotor envolvido nisso, há assistente social envolvido nisso, há atravessador envolvido nisso. Não deixam adotar a criança. A criança faz cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze anos de idade e se desilude: “Ninguém vai me levar mais”. Ela salta o muro e vai embora, para usar droga, roubar, delinquir, prostituir-se.

            Por isso, vocês dois recebam meu afeto. Tenho a felicidade de fazer este pronunciamento, contando com a presença de V. Exªs na Mesa. Senador José Nery, que é o Presidente da Subcomissão de Combate ao Trabalho Escravo, na nossa Comissão de Direito Humanos, de que faço parte - não tenho ido lá, porque a CPI da Pedofilia é uma Subcomissão da Comissão de Direitos Humanos, e eu a presido -, vou oficiar V. Exª, para realizarmos uma audiência pública aqui, para trazermos gente do Brasil inteiro, para daqui tirarmos a Lei de Responsabilidade Humana, que envolva tudo que trata da questão de criança, nesse viés de abuso. Tenho a certeza de que muita gente neste País está querendo participar dessa audiência pública e debater conosco: psicólogos, gente da imprensa, gente que sofreu abuso, gente que milita na área, gente da área do Judiciário, da Polícia, do Ministério Público, da classe política.

            Recebi um telefonema da Lurian, a quem quero dizer que vou atendê-la. Ela, que é filha do Presidente Lula, é assistente social num Município do seu Estado de Santa Catarina. A Lurian está muito envolvida nessa questão e está ligada à CPI da Pedofilia, Senador José Nery, querendo nossa presença para uma grande audiência pública no seu Município. Vamos atendê-la. Estou dizendo a Lurian que vamos atendê-la, assim como à Deputada filha do Senador João Ribeiro. Vamos atender a todos, vamos estar juntos com aqueles que querem realmente cerrar fileiras em defesa da vida, porque é a única saída que este País tem. Os caças são importantes, como também os submarinos e os aviões - um País precisa disso -, mas o dinheiro de um País precisa estar focado na formação das crianças, no fortalecimento da família.

            Na semana que vem, vou fazer um pronunciamento e quero fazer uma emenda na matéria referente ao pré-sal. Diz-se que os recursos obtidos a partir do pré-sal serão destinados à saúde e ao saneamento básico. Não consigo entender isso. Por que o dinheiro do pré-sal não vai para a segurança pública? Tudo de que este País precisa é de segurança pública. O pré-sal não vai financiar segurança pública? Por que o dinheiro do pré-sal não vai para um fundo para atendimento às crianças do Brasil? Por que não se cria esse fundo? Ele existe já. Por que parte do dinheiro do pré-sal não vai para lá? Quem vai governar o Brasil não é a terceira idade, não é a segunda nem a terceira idade, pois já estamos de passagem. As crianças é que vão governar nosso País. Por que o dinheiro do pré-sal não vai para isso?

            Então, precisamos discutir isso. Precisamos fazer essa discussão.

            Senador Paim, muito obrigado pela benevolência. Obrigado, Senador José Nery. Muito obrigado.

            Essa era a minha fala.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/10/2009 - Página 49246