Discurso durante a 240ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas a declarações feitas na semana passada por Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2008, que alertou para o fato de o fluxo de dólares para o Brasil ser uma bolha especulativa.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL.:
  • Críticas a declarações feitas na semana passada por Paul Krugman, ganhador do prêmio Nobel de Economia de 2008, que alertou para o fato de o fluxo de dólares para o Brasil ser uma bolha especulativa.
Publicação
Publicação no DSF de 08/12/2009 - Página 65350
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL.
Indexação
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, ECONOMISTA, PROFESSOR, UNIVERSIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), CRITICA, ECONOMIA, BRASIL, DEFICIENCIA, EDUCAÇÃO, OBSTACULO, INVESTIMENTO.
  • RECONHECIMENTO, DEFICIENCIA, EDUCAÇÃO, BRASIL, IMPORTANCIA, DIAGNOSTICO, ORIENTAÇÃO, PODER PUBLICO, PRIORIDADE, APERFEIÇOAMENTO, SISTEMA DE ENSINO, SISTEMA DE EDUCAÇÃO, MELHORIA, POSIÇÃO, COMPARAÇÃO, DIVERSIDADE, PAIS.
  • REGISTRO, PREVISÃO, ESPECIALISTA, CRESCIMENTO, ECONOMIA NACIONAL, RECUPERAÇÃO, CONFIANÇA, SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL, DIVULGAÇÃO, RELATORIO, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), JORNAL, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA, CONSOLIDAÇÃO, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, BRASIL.

                          SENADO FEDERAL SF -

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            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, foi com muita alegria que V. Exª, nesta tarde, ao adentrar o plenário do Senado Federal, nos apresentou um livro que será lançado aqui na próxima quarta-feira. Não tive oportunidade ainda de ter um contato mais profundo nem de ler o livro. Porém, pela apresentação, pela capa, pelas fotografias, pelo que está ilustrado e por seu conteúdo, sem dúvida, será um grande marco na política brasileira, no tocante aos Anais deste Senado. Sem dúvida, o livro refere-se à passagem de V. Exª por toda a vida pública.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Desculpe-me interrompê-lo.

            O livro é uma realidade, e o Brasil vai conhecer - parte já conhece - um dos maiores escritores da nossa história. É Zózimo Tavares, da Academia de Letras. É professor universitário de comunicação e foi secretário. Ele é um misto de Sebastião Nery - não há o folclore político? - com Machado de Assis. Então, a garantia do êxito é o autor.

            Evidentemente, pela convivência, já que ele vive no Piauí, resolveu retratar minha figura como Senador - V. Exª, com certeza, está por aqui -, como Governador do Estado do Piauí e Prefeito na minha cidade.

            O Zózimo Tavares tem já várias publicações. Aqui tenho em mão, para que vocês tenham noção: Falem Mal, Mas Falem de Mim; Pra Seu Governo; O Pulo do Gato; Meus Senhores, Minhas Senhoras; O Velho Jequitibá. Olhem o que Sebastião Nery diz dele. Eu conheço o Zózimo. Eu sempre disse que ele se iguala a Carlos Castello Branco, o Castelinho, que é piauiense, até fisicamente.

            Veja o que disse Sebastião Nery dele - Sebastião Nery todo o País conhece, aquele do folclore político; já leu, não é?

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Lógico. Lógico.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - “Com o seu texto curto, seco, direto, leve, claro, Zózimo Tavares nos dá uma bela lição de texto enxuto e iluminado” - Sebastião Nery.

            Com a palavra V. Exª.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na semana passada, mais precisamente na quinta-feira, dia 3 de dezembro, ouvi, estarrecido e indignado, declarações do economista Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia e Professor da Universidade de Princeton, alertando para o fato de que o fluxo de dólares para o Brasil seria uma bolha especulativa.

            Em evento em São Paulo, após declarar que tem aplicações em fundos que investem na moeda brasileira, Krugman, diante de uma plateia atônita, manifestou a sua intenção de se desfazer de suas posições, pois já começa a pensar em tirar o dinheiro do País por causa do otimismo, para ele exagerado, com a economia brasileira.

            Ora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, uma pessoa pública da importância do Sr. Krugman, Nobel de Economia, repito, não pode se arrogar o direito de falar o que lhe vem à cabeça como simples pessoa física, sob pena de ser leviano e até, quem sabe, fraudar a opinião pública, porque conhece o peso que suas palavras terão junto aos investidores no mercado global.

            Cabe perguntar a quem interessam as declarações do Sr. Krugman. A que interesses escusos poderia ele estar servindo ao tentar manipular o mercado no momento em que houve enorme correria para se tentar abafar eventuais repercussões com a crise de Dubai, paraíso de investidores norte-americanos?

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, insisto com veemência no tema da responsabilidade pública, porque a história econômica recente tem sido pródiga em registrar declarações equivocadas e estapafúrdias, cujos desdobramentos quase sempre são danosos aos países emergentes.

            Na prática recorrente de dar palpites no quintal alheio, recentemente, causou muita polêmica o professor Sebastian Edwards, da Universidade da Califórnia (Ucla), e ex-economista chefe do Banco Mundial para a América Latina.

            Segundo afirmou Edwards, num seminário em Buenos Aires, “o entusiasmo dos investidores reflete uma percepção de curto prazo, mas o Brasil não manterá esse desempenho sem uma evolução produtiva e de inovação. No Brasil a qualidade da educação é deplorável e os obstáculos burocráticos aos investimentos ainda são enormes”.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sabemos que a educação no Brasil é deficiente. Esse diagnóstico deve servir para direcionar as ações do Poder Público no sentido de aperfeiçoar o sistema educacional e o processo educativo para que o País realmente possa chegar a um lugar de destaque entre as nações.

            No site da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), tivemos acesso ao artigo “A Crise Financeira e a Educação no Brasil”, de autoria de Maria Clotilde Lemos Petta. Esse artigo foi publicado no apogeu da crise financeira, em 31 de outubro de 2008, e trata, principalmente, dos baixos investimentos em educação, sem omitir a questão da baixa qualidade do ensino oferecido. A conclusão é de que a educação ainda não se tornou prioridade para o Poder Público no Brasil.

            O texto aborda também um estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) - “Education at a Glance, 2007”. Segundo esse estudo, em 2004, quando os dados foram apurados, o volume de recursos aplicados em educação no Brasil, em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), atingia míseros 3,9%, situando o País em antepenúltimo lugar entre os pesquisados.

            Por sua vez, no jornal O Globo, de 19 de maio de 2009, pode-se ler o artigo de Demétrio Weber intitulado “Na série B da Educação”. Ali o autor discorre sobre o desempenho dos alunos brasileiros no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). O baixo desempenho do Brasil e de um grupo de países num dos mais importantes testes de ensino levou a OCDE a reformular a prova para o ano de 2009. Esse exame, que é realizado a cada três anos, teve início em 2000. Nesse ano, o Brasil amargou o último lugar em leitura entre as 32 nações. Em 2006, já com 56 nações, o Brasil ficou em 49º lugar no exame, atrás de países como Indonésia, México, Uruguai e Chile.

            Mas a notícia que nos deixa esperançosos com relação ao futuro do país parte do próprio coordenador-geral do Pisa, Andreas Schleicher. Diz ele que o grande desafio para os sistemas de ensino é diagnosticar as falhas e ajudar os alunos a melhorarem.

            Acrescenta ele que, apesar de o Brasil precisar superar o abismo da falta de qualidade, comparando os últimos cinco ou seis anos, fizemos mais avanços do que Chile, México e a maioria dos países do continente americano. Portanto, o momento é mais de confiança nos destinos País do que de previsões catastróficas.

            Aliás, Srªs e Srs. Senadores, as palavras de Sebastian Edwards contrastaram com a de outro grande especialista, pelo menos nas expectativas de curto prazo. Trata-se do economista-chefe do Citigroup para a América Latina, Alberto Ades. Segundo esse economista, a economia brasileira crescerá 5% em 2010, com inflação de 4% e superávit comercial de 14 bilhões. E mais: contrastando com a previsão pessimista de Edward e outros economistas, Ades não vislumbra problemas cambiais e sustenta que o “ponto de equilíbrio” do real se situa entre R$1,55 e R$1,60 por dólar.

            O Brasil recuperou a confiança do sistema financeiro internacional. A situação dos investimentos estrangeiros é cada vez mais sólida. Em agosto do ano passado, o Banco Central já divulgava, por meio do relatório especial denominado Evolução da Sustentabilidade Externa, que os investimentos estrangeiros diretos (no setor produtivo) cresceram 225% de 2001 a 2007, de US$101 bilhões para US$328 bilhões. No mercado de ações, esse volume aumentou dez vezes e atingiu US$364 bilhões.

            Por sua vez, a Agência da BBC divulgava em seu site, em 20 de maio de 2009, matéria cujo título era “Investimentos estrangeiros no Brasil cresceram 30% em 2008”. Assim começa a matéria: “Na contramão da tendência global, a entrada de investimentos diretos no Brasil cresceu 30% entre 2007 e 2008, segundo um relatório publicado pela Unctad (Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento)”.

            E mais: entre os 19 países em desenvolvimento pesquisados, dez sofreram redução no fluxo de investimentos vindos do exterior, como México, Peru e Turquia. Mas os países do grupo conhecido como Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) tiveram aumento na entrada de investimentos vindos de fora.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o economista Alberto Ades avalia que, mesmo com um crescimento forte em 2010, o déficit brasileiro em conta corrente não deverá ser superior a 2,2% do PIB, o que ele considera bem razoável. Com crescimento significativo, observou o economista, é de se esperar um suave aumento da inflação a partir do segundo trimestre, como resultado do afrouxamento monetário e da expansão econômica. Esse item deverá ser o desafio maior para o Banco Central, o que exigirá um aumento de cerca de dois pontos percentuais na taxa de juros.

            Srªs e Srs. Senadores, sabemos que, em matéria de economia, não é possível fazer previsões sem possibilidade de erro. Mas, conforme as fontes mais insuspeitas, o Brasil está no rumo certo para o desenvolvimento e para o crescimento, o que fica sobejamente comprovado pela confiança dos investidores internacionais. Ninguém, em sã consciência, aplicaria seu dinheiro onde não veja uma grande possibilidade de lucro e segurança. E os números a favor do Brasil não mentem. São insuspeitos.

            Por isso, vou entrar para o coro daqueles que pensam como Alberto Ades e que veem um futuro mais promissor para o Brasil, e repudiar, mais uma vez, a infeliz declaração de Paul Krugman. Ao contrário do que ele disse em São Paulo, acredito, sim, que o Brasil será uma grande potência amanhã.

            Estão aqui as manchetes dos principais jornais do Brasil, nos quais esse cidadão norte-americano, no nosso quintal, no quintal da nossa casa, em São Paulo, vem ameaçar a economia brasileira.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/12/2009 - Página 65350