Discurso durante a 22ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Relato sobre aula inaugural ministrada por S.Exa., na última segunda-feira, em uma escola pública do Rio de Janeiro, mantida pelo SESC, localizada em Jacarepaguá, ao lado da Cidade de Deus, que oferece regime escolar integral, internato, e cujo acesso é gratuito.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO.:
  • Relato sobre aula inaugural ministrada por S.Exa., na última segunda-feira, em uma escola pública do Rio de Janeiro, mantida pelo SESC, localizada em Jacarepaguá, ao lado da Cidade de Deus, que oferece regime escolar integral, internato, e cujo acesso é gratuito.
Aparteantes
Valdir Raupp.
Publicação
Publicação no DSF de 05/03/2010 - Página 5638
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO.
Indexação
  • REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, ORADOR, AULA, INAUGURAÇÃO, ANO LETIVO, ELOGIO, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), RESPONSABILIDADE, SERVIÇO SOCIAL DO COMERCIO (SESC), SUPERIORIDADE, QUALIDADE, ENSINO MEDIO, PERIODO, TEMPO INTEGRAL, REGIME ESCOLAR, INTERNATO, OFERECIMENTO, ATIVIDADE, ESPORTE, DANÇA, BALE, EDUCAÇÃO ARTISTICA, PREPARAÇÃO, MERCADO DE TRABALHO, EXECUÇÃO, PROCESSO, AMBITO NACIONAL, SELEÇÃO, ALUNO, ORIGEM, DIVERSIDADE, ESTADOS, BRASIL, GRATUIDADE, ACESSO, SAUDAÇÃO, PROFESSOR, DEDICAÇÃO EXCLUSIVA, RESIDENCIA, LOCAL, AUMENTO, PROXIMIDADE.
  • INEXISTENCIA, DIFERENÇA, ALUNO, IGUALDADE, TRATAMENTO, ELOGIO, INICIATIVA, SERVIÇO SOCIAL DO COMERCIO (SESC), PROMOÇÃO, OPORTUNIDADE, JUVENTUDE, ESPECIFICAÇÃO, BAIXA RENDA, SUPERIORIDADE, DISTANCIA, REGIÃO METROPOLITANA.
  • SUGESTÃO, CRIAÇÃO, MINISTERIO, EDUCAÇÃO BASICA, IMPORTANCIA, FEDERALIZAÇÃO, ATENÇÃO, CARENCIA, SETOR, NECESSIDADE, INVESTIMENTO, GARANTIA, MELHORIA, FUTURO, CRIANÇA, BRASIL, COBRANÇA, GOVERNO FEDERAL, ESTABELECIMENTO, AMBITO NACIONAL, CARREIRA, PROFESSOR, POSSIBILIDADE, PREFEITURA, LIBERDADE, ADMINISTRAÇÃO, COMPARAÇÃO, REITOR, UNIVERSIDADE, CONCESSÃO, CORPO DOCENTE, AUTONOMIA, PEDAGOGIA.

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            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Mas se o Senador quiser, não tenho nenhum problema ou pressa até as 18 horas e 30 minutos, quando tenho um compromisso. Não tem nenhum problema. Quer vir antes, Senador? Até porque um duque sempre está na frente de um plebeu.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Então, deixa o Duque porque ele viaja, não é, às quintas?

            O SR. PAULO DUQUE (PMDB - RJ) - É um prazer ouvir V. Exª.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Está bom. Vai ser rápido e vou falar do seu Estado e de bem, Senador.

            Sr. Presidente, na segunda-feira, tive o privilégio de, pela terceira vez, dar a aula inaugural numa escola no Rio de Janeiro, uma escola pública, porque é pública toda escola gratuita, cujo ingresso não se dá por influências, e, sim, por um processo de seleção. Senador João Pedro, nessa escola em que fui dar aula pela terceira vez pertence ao Sesc, mantida pelo Sesc, fica em Jacarepaguá, ao lado da Cidade de Deus. Cidade de Deus, que tem virado um símbolo no Brasil de violência, de dificuldade e que, inclusive, lá, a impressão que me deu pelas conversas é de que tem passado por um período de pacificação.

            Mas, ao lado da Cidade de Deus, em Jacarepaguá, existe um colégio, Senador Mão Santa. E V. Exª me levou para ver um bom colégio em Teresina, faz algum tempo, mas esse colégio não é apenas em horário integral; ele é em caráter residencial. São 500 meninos e meninas, escolhidos no Brasil inteiro, todo o Estado tem um grupo de meninos e meninas que ficam ali para fazer o ensino médio ou segundo grau. Eles moram no colégio. Mas não moram em instalaçõezinhas; moram em instalações que raras universidades podem dizer que tem. As pessoas ficam horrorizadas quando eu digo que precisamos de 8 horas às quatro da tarde, pois eles têm atividades, não aulas, de oito da manhã às 22 horas, incluindo aí, obviamente, o período de lanches diversos, o período de almoço - muito bom, diga-se de passagem - de atividades esportivas, de balé, de dança, de arte, tudo de oito da manhã às 22 horas. De 22 horas às 22 horas e 30 minutos, tem um último lanche e as luzes se apagam para que eles se preparem para o dia seguinte.

            Os professores dessa escola do Sesc ganham cerca de R$9 mil por mês e mais um apartamento dentro do campus onde está o colégio, onde está também uma biblioteca que, em breve, atingirá 40 mil exemplares, onde está o restaurante, a quadra de futebol, a quadra de multiuso, o teatro. Aí moram os professores, com dedicação exclusiva, com a seleção rigorosa. E esse conjunto de professores e crianças, adolescentes, convivem permanentemente durante esse período de três anos e praticamente todas as horas úteis do dia. É aí que a gente vê o resultado de uma educação em que não se faz apenas transmitir algumas aulas mas uma convivência educacional permanente ao longo de todo o dia.

            Conversei com os meninos quando eles começaram três anos atrás. Vi esses meninos entrando, dois anos atrás, na primeira série. Conversei com esses meninos da primeira série quando chegaram à segunda e conversei com os que entravam na segunda. E, agora, conversei com alguns dos meninos que chegaram à terceira série. E a gente vê a evolução dessas crianças.

            Enquanto nas outras escolas por aí os cursos de idiomas apenas fazem com que as pessoas aprendam uma ou outra palavra, lá a gente vê crianças que saíram de pequenas cidades do Brasil e que hoje, no final, ou melhor, ainda não no final, quando chegam à terceira série, falam inglês e espanhol. Leram uma quantidade grande de livros, porque, nesse espaço de 8 às 22 horas, uma parte é dedicada à leitura; uma parte é dedicada, Senador, a assistir ao noticiário, mas com um professor perto, discutindo e debatendo o que é assistido.

            Essa escola existe. Essa não é uma hipótese de escola que se pensa para o próximo século no Brasil. Ela existe! Está no seu terceiro ano e acaba de completar, agora, a totalidade dos seus alunos: quase 500. Cada turma, Senador Duque, tem, no máximo, 15 alunos, quando no Brasil, a gente vê 40, 50 alunos. Cada turma tem alternativas para aquelas áreas em que os alunos têm mais habilidades, o que faz com que terminem o ensino médio com um ofício, com a possibilidade de um trabalho, embora todos eles pensem em seguir carreira universitária.

            Aqui, um detalhe. Quando vou às escolas pelo Brasil, sobretudo as de qualidade maior, e vejo... Naquela escola, Senador Mão Santa, a que o senhor me levou no Piauí, em Teresina...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Dom Barreto.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - ...eu fiz a seguinte pergunta aos meninos e meninas do 3º ano: O que vocês vão querer? Vão fazer vestibular? A maioria levantou a mão para advocacia, medicina, mecatrônica - que hoje todo mundo quer -, relações internacionais... Nenhum levantou para professor. Na escola do Sesc, alguns levantam a mão dizendo que querem ser professores. E esses vão passar em qualquer vestibular que quiserem, porque eles veem a realidade dos professores com os quais convivem, eles sabem as condições de vida que esses professores têm, com uma carga duríssima de trabalho e uma exigência fortíssima de preparação permanente. Eles veem.

            Ali, em Jacarepaguá, eu me senti, no primeiro momento, com uma sensação estranha de que estava noutro país, quando, na verdade, o orgulho deve ser dizer “Jacarepaguá é aqui”. Há quem diga que o Haiti é aqui. É verdade que o Haiti é aqui em muitas coisas, mas eu descobri que Jacarepaguá é aqui, pelo lado positivo. Não é apenas na Finlândia que há aquilo. Duvido que na Finlândia haja escolas como aquela. Pode haver algumas na Inglaterra e nos Estados Unidos, mas caríssimas e pagas pelos pais; públicas, não.

            Eu vi essas escolas públicas, como já vi escolas não tão radicais, as 56 ou 58 do Bradesco, que também são públicas. São mantidas com dinheiro privado, mas são escolas gratuitas, onde a seleção é feita de maneira séria. Um dia isso pode ser no Brasil inteiro.

            Aí, Senadores, o que mais me pergunto é quanto custa isso. Eu me nego a falar quanto custa, porque eu tenho certeza de que não fazer esse investimento custará muitíssimo mais do que fazer.

            Preciso dizer que a família de 80% dessas crianças tem rendimento inferior a cinco salários mínimos. Ou seja, são de renda baixa. Tem alguns, porém, de renda alta. Mas sabe qual é a surpresa bonita? É que ninguém nota quem é de família com renda maior e quem é de família com renda menor. Ninguém nota, ninguém sabe, ninguém percebe, porque todos têm a mesma farda, comem a mesma comida, moram no mesmo lugar, ali dentro, e porque estudam as mesmas coisas, com os mesmos professores e com os mesmos livros.

            E, finalmente, não há diferença entre ricos e pobres porque as oportunidades que eles terão serão as mesmas. Há uma diferença pequena, nas férias. Desses vinte por cento, é possível que os pais levem alguns para passar férias na Disneylândia, em Disneyworld, nessas coisas. Outros precisam de ajuda para voltarem para os seus Estados, como o Amazonas, que é mais distante, como Roraima. Precisam de ajuda para voltar nas férias. Essa é a única diferença durante os momentos de férias. Mas não há diferença no dia a dia das aulas e não haverá diferença no futuro de cada um deles, a não ser dependendo do talento, do esforço, da vocação que seguir.

            Jacarepaguá e o Sesc estão mostrando que é possível. Se custar muito fazer isso para todos no Brasil, então levará mais tempo para chegar a todos, mas não será impossível. O que a gente pode discutir é quanto tempo é preciso, mas não se é possível. É óbvio que é possível, não em cinco anos, não em dez anos, talvez não em vinte anos, pois eu ainda acho difícil para o Brasil inteiro, embora já pudéssemos cobrir boa parte do Brasil, mas em trinta ou quarenta anos é possível para o Brasil inteiro, se houver a força de vontade que a gente vê nas pessoas que começaram aquela escola e que a mantêm até agora, especialmente o Presidente do Sesc, que, em vez de colocar dinheiro em atividades outras que, muitas vezes, entidades como essa colocam, ele disse “vamos colocar esses recursos todos numa escola de ensino médio e trazer para cá crianças do Brasil inteiro, inclusive de Rondônia, para que vejam o que é uma educação da máxima qualidade”. Isso já existe, isso é aqui. Do jeito que se diz que Haiti é aqui, a sensação, em Jacarepaguá, é de que a Finlândia é aqui. Mas é mais do que a Finlândia, é o Brasil que mostra que pode fazer isso, ao lado da Cidade de Deus, ao lado de uma área pobre. A gente pode fazer.

            Para concluir, Senador, volto a dizer que não vou dizer quanto custa. Embora eu saiba quanto custa, não vou dizer, porque ninguém perguntou quanto iam custar as Olimpíadas quando a gente decidiu trazer. Ninguém está perguntando quanto custa fazer o PAC, de onde vem o dinheiro. A gente tem que saber, e eu aceito responder, é quanto tempo levaria para aqueles quinhentos meninos e meninas se transformarem em sessenta milhões. É uma diferença grande de quinhentos para sessenta milhões. Quanto tempo leva? Vamos discutir.

            Vai depender da vontade de querer. Vai depender da disponibilidade de professores que não há no Brasil na quantidade que a gente precisa. Não é só dinheiro. Quanto tempo leva? Pode-se conversar. Quanto custa? Não vou dizer, porque custará muito mais não fazer um esforço como esse que vejo, desde que começou a construção.

            Eu fui lá, vi as obras no seu início, vi a inauguração, fui no final do primeiro ano e espero, no dia 11 de dezembro deste ano, estar na primeira formatura e que, a partir do ano seguinte, em 2011, 2012, 2013, possamos acompanhar onde vão estar esses meninos e essas meninas de famílias pobres, de cidades pequenas, de Estados distantes das capitais, mas que tiveram a chance, a oportunidade de colocarem seus pés na escada social chamada Escola de Ensino Médio do Sesc, em Jacarepaguá.

            Senador Duque, um dia desses, o senhor fez um belo discurso aqui sobre os Prefeitos do Rio e sobre o orgulho que tinha de todos eles. Eu quero que o senhor acrescente nesses orgulhos do Rio a Escola Sesc de Jacarepaguá. Vale a pena, um dia, irmos juntos para conversar com aqueles meninos e meninas, com aqueles professores e professoras, com o Dr. Antonio e vermos que, sim, é possível.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Esse foi o Professor Cristovam Buarque, apresentando ao País a sua experiência e a sua confiança na melhoria da educação.

            Eu queria, nesse debate qualificado...

            Professor Cristovam, V. Exª foi interno?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Pois eu fui.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Eu morava ao lado da escola.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eu fui interno no Colégio Marista... Está ali o Paulo Duque. E eu estava refletindo: é, realmente, só vai por aí. Lembro-me que, às cinco horas da manhã, o Irmão Louis Dubois, francês, dava duas palmadas e a gente levantava, tinha que tomar banho, aquele negócio. Só ia dormir às dez horas da noite, em atividade. Aí está... Sabemos que era um estudo meio elitizado, porque se estudava no Marista, no Diocesano, no Salesiano ou no Jesuíta. Mas foi essa elite que desenvolveu este País. E isso, na visão de V. Exª, tem que chegar a todos. Foi assim que nós, da minha geração, estudamos e aprendemos.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Agora, deixe-me eu dizer - perdão aos outros - que era elitizado do ponto de vista dos pais e mães que se interessavam por isso, mas não do custo. Sabe por quê, Senador Mão Santa? Naquela época, pagava-se muito pouco para estudar nesses colégios particulares de padres, porque os padres não eram casados, os padres não recebiam salários, os padres não tinham casa para viver. Eles faziam aquilo por uma vocação muito forte e querendo que a gente virasse padre também. Aquilo era parte de um projeto da Igreja. Por que não há um projeto de Nação? Se havia um projeto da Igreja que terminou fazendo com que nós dois aqui, ex-irmãos maristas, do ponto de vista da escola, porque eu também sou marista... Meu pai pagava pouquíssimo; por que eles tinham um projeto de Igreja e nós não podemos ter um projeto de Nação?

            Era muito barato, naquela época, estudar nas escolas particulares ligadas à Igreja. E foi por isso que tantos de nós pudemos estudar. Alguns ainda mais, porque foram para os Seminários, que eram absolutamente gratuitos e com alta qualidade.

            Então, essa é apenas uma explicação, mas o Internato que o senhor ficou não é necessário hoje. O que a gente vê em Jacarepaguá é mais do que o necessário. Não é necessário Internato. Lá é interno porque eles quiseram, Senador Raupp, trazer do Brasil inteiro. Então, para trazer de Rondônia, para trazer do Amazonas tem que ser interno. Mas os do Rio também ficam internos, e os professores também moram lá dentro com suas famílias - não como os Irmãos Maristas do nosso tempo. Então foi preciso o interno, mas não é preciso mais ser interno. Se a gente fizer muitos desses, não é preciso morar lá. Basta chegar cedo e sair na hora certa. Não precisa ser às dez da noite.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Sr. Presidente, poderia fazer um rápido aparte?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Pois não.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Há poucos dias, Senador Cristovam, fiz um pronunciamento aqui falando da escola integral; que os governos federal, estadual e municipal deveriam fazer um esforço concentrado e, num prazo de vinte anos, mudar a história da educação deste País.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Isso mesmo, Senador.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Lá em Rondônia, Ariquemes é uma cidade governada pelo Dr. Confúcio Moura, Prefeito do PMDB, que foi Deputado Federal por três mandatos, foi Secretário de Estado da Saúde - isso há vinte anos - e agora governa a cidade de Ariquemes, já no segundo mandato. Ele foi reeleito com 72% dos votos, contra o Governo do Estado, contra um grupo muito forte local que governou Ariquemes por muito tempo. Por quê? Ele implantou lá vários programas, entre eles a escola integral. O aluno vai para a escola de manhã, lá ele toma banho, troca de roupa, almoça e volta, no final da tarde, para casa. Então, se é proibido ao menor trabalhar, por que ele não pode ficar na escola integral?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Muito bem.

            O Sr. Valdir Raupp (PMDB - RO) - Então, como V. Exª falou, não precisa ser Internato, desde que ele fique integralmente na escola e só venha no final da tarde para descansar, para dormir. E brincar? Pode brincar na escola, pode ter recreação, pode ter esporte, pode brincar nos finais de semana, no sábado, no domingo. Dá muito tempo para a criança brincar, para a criança se divertir e praticar o esporte na escola integral.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É isso mesmo, Senador Valdir Raupp. Já vi essas escolas em outros lugares. Não igual, nenhuma delas, à Escola do Sesc. Igual a essa não existe no mundo. Mas já vi muitas.

            Recentemente, em Palmas, vi uma escola em que as crianças têm de ser empurradas para fora às cinco horas da tarde porque elas não querem sair. É verdade. Não é brincadeira. Vejam bem, em Palmas, que não é uma das cidades ricas do País, os pais têm problemas quando as crianças ficam doentes para segurá-las em casa, porque elas querem ir para a escola mesmo doentes, quando não é uma doença grave.

            Agora, a gente tem que fazer com que isso seja no Brasil inteiro e não apenas em casos específicos, seja de escolas, seja de uma cidade. E aí só há um jeito: federalizar a educação de base. Não podemos deixar que a criança que nasça na cidade de Ariquemes tenha essa sorte, que as que entraram no Sesc tenham essa sorte e que as outras fiquem de fora. Só com o Governo Federal assumindo a educação.

            E aí não há dúvida, é preciso ter um Ministério da Educação de base. Enquanto o Ministério da Educação cuidar do ensino superior e da educação de base, ele só vai dedicar-se à educação superior, porque tem força de pressionar, porque tem sindicatos, porque o reitor estudou com o ministro, abre a porta e entra. O pobre professorzinho, diretor de uma escolinha, não entra. Só com a federalização, por meio de um Ministério de Educação de base, o que não é nenhuma novidade. Isso é o que acontece em todos os países do mundo que dão certo hoje.

            O Senador Mão Santa conheceu aqui um representante da Espanha. Ele é presidente de uma dessas unidades, que são quase que países independentes, falam línguas diferentes, têm presidentes, tudo isso, mas a educação é a mesma no país inteiro, o salário é o mesmo no país inteiro. O idioma é diferente, mas a escola é igual no país inteiro.

            A gente tem que fazer isso. Para isso é preciso um Ministério da Educação de base; para isso precisa o Governo Federal deste País dizer: a carreira do professor é nacional. A qualificação das edificações e dos equipamentos, isso tudo é definido pelo Governo Federal. Agora, o prefeito teria a liberdade de administrar, como têm os reitores das universidades federais, e teriam liberdade pedagógica os professores para não ficarem dependendo daqui da capital do País, no que se refere às suas normas.

            Eu agradeço o seu comentário, o aparte do Senador Raupp...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eu queria perguntar algo a V. Exª. A gente chamava de banca de horas de estudo. Quanto nessa escola tinha? Porque no meu tempo...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Banca...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Banca de horas de estudo.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - De estudo? Fácil! Somando o tempo de almoço, jantar e lanche, de 8 às 22.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eles saem às 22 horas?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Não saem, eles dormem lá.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Então é um Internato.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - É um Internato perfeito, com belos alojamentos de três em três alunos. No seu tempo...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Porque, no meu tempo, às 5 horas da manhã o Louis Dubois batia palmas e tinha que acordar, ia para o banho. Estudava de 5h30 às 6h30 e comia à 1 hora da tarde. Aí tinha um período de 7 às 12, o sujeito... Aí depois almoçava de 1 hora às 2 horas, e jogava esporte às 2 horas. Aí, de 3h30 às 5h30, banca. Cantava ali. De 6h30 às 8h30, banca. Então, dava 6 horas de estudo, fora as aulas.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Leitura. Banca. Dá mais do que isso, se somar tudo, incluindo esporte, as oficinas...

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Não, eu estou falando só...

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - De banca.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - É, CDF que chamava.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas, além dessas 6 horas, havia horas de leitura. Ficava lá, lendo mesmo. Via filmes. Ficava lá vendo filmes, que são importantes para o desenvolvimento cultural, e sob orientação. Isso é possível, Senador Mão Santa. Isso é possível. O tempo é que a gente precisa analisar quanto. Quando se pergunta se é possível, não pergunte quanto custa; pergunte quanto tempo demora. Porque, se der pouco dinheiro, demora muito; se der muito dinheiro e outros recursos, se faz rápido.

            No Brasil não vai ser rápido, mas é possível.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 05/03/2010 - Página 5638