Discurso durante a 33ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apelo ao Presidente Lula por anistia aos pequenos agricultores do Nordeste. Críticas à falta de solução para a febre aftosa no Piauí.

Autor
Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PECUARIA. MOVIMENTO TRABALHISTA. POLITICA AGRICOLA. :
  • Apelo ao Presidente Lula por anistia aos pequenos agricultores do Nordeste. Críticas à falta de solução para a febre aftosa no Piauí.
Aparteantes
Magno Malta.
Publicação
Publicação no DSF de 19/03/2010 - Página 8271
Assunto
Outros > PECUARIA. MOVIMENTO TRABALHISTA. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO PIAUI (PI), AUSENCIA, SOLUÇÃO, PROBLEMA, FEBRE AFTOSA, REGISTRO, INFORMAÇÃO, INTERNET, RECUSA, GOVERNADOR, AUDIENCIA, NEGOCIAÇÃO, ENCERRAMENTO, GREVE, FUNCIONARIO PUBLICO, RESPONSAVEL, CONTROLE, DOENÇA, GADO, APREENSÃO, AUMENTO, PREJUIZO, ECONOMIA, PECUARIA.
  • SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, CONCESSÃO, ANISTIA, DIVIDA AGRARIA, PEQUENO AGRICULTOR, QUESTIONAMENTO, SUPERIORIDADE, EMPRESTIMO, DIVERSIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, CONTRADIÇÃO, DIFICULDADE, PEQUENO PRODUTOR RURAL, PAGAMENTO, DEBITOS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Senador José Nery, que preside esta reunião de quinta-feira, Parlamentares na Casa, brasileiras e brasileiros aqui no plenário e os que nos assistem pelo sistema de comunicação do Senado.

            Senador José Nery, o estudioso Alvi Toff, um homem de muito saber, norte-americano, escreveu um livro que impressiona a todos, “A Terceira Onda”, em 1980. O mundo, diz ele, no começo eram os nômades; o homem andava aí atrás de alimento, era atrás de caça, atrás de pesca, não tinha residência fixa.

            Então, a sabedoria o levou a fixar-se porque aprendeu, José Ney, a plantar e a criar. Aí ele deixou de ser nômade, e a humanidade levou 10 mil anos nessa onda. É o que ele chama primeira onda da civilização. Fixou-se. Depois, o homem, que começou propriamente na Inglaterra, viveu a onda da indústria. Então, pelos empregos - e a indústria quase sempre nas capitais e cidades grandes -, ele deixou o campo em busca da sua garantia de emprego. Essa é a segunda onda, dos 40 anos. Mas ele advertia que, a partir dali, de 1980 - e é uma verdade -, entraríamos na terceira onda. Em 1980, a gente não imaginava entender. Ele dizia que era a desmassificação da comunicação. Nós não entendíamos, mas está aí. A comunicação. Daí o Governo vai perder as eleições porque estamos na terceira onda, e a ignorância é audaciosa.

            Nessa onda da desmassificação, não cabe mais mentira, não cabe, não cabe. O Hitler foi Hitler, cresceu e se expandiu, porque foi antes da terceira onda. Ele tinha uma rádio poderosa, e só o governo alemão tinha, e o seu assessor de comunicação, Goebbels, Joseph Goebbels dizia que uma mentira, repetida, repetida, repetida, torna-se verdade. Mas ali ele jogava, o Goebbels, só tinha a rádio dele. Está vendo, José Nery? Ele dizia: “Lá vai Hitler com 40 mil soldados.” Era mentira, era só com três mil. Os países se rendiam logo, e ele ia entrando. E não podia. Quem ia controlar? A rádio era do homem. Só tinha ela. Eu, quando era menino, ouvia a BBC de Londres. Você é mais novo, eu não sei se ouvia. A BBC de Londres tinha um programa em português. O noticiário era o Repórter Esso, da Rádio Nacional.

            Mas acontece que veio a desmassificação da comunicação. Não adianta. Aí o Governo vai ficar mal, porque ele dominou os grandes órgãos de comunicação. Mas houve uma desmassificação. Olha aí, as rádios comunitárias. Os grandes jornais eram maiores. Todos diminuíram o número, mas aumentaram em jornais, em panfletos, em jornais especializados e a comunicação. E você vê os grandes jornais, mas surgiu esse negócio a que chamamos de portais, blogs, twitter - eu pensei que era um instrumento musical, não, é comunicação. Então não adianta mentir porque tem contrapartida hoje. Viu, José Nery. Puf, puf.

            Então, aí está o nosso Governo, e, infelizmente o Governo do Piauí é do PT, o Partido dos Trabalhadores. Inspirado nisso, fixou-se no tripé: mentira, corrupção e incompetência nos órgãos de comunicação.

            Mas eis que há esses portais, e aqui estou com dois deles. Um é o GP1, denunciando.

            O Piauí é um Estado de vocação - não sei o seu Pará, que está se industrializando -, aquela vocação que chamamos de primeira onda ainda. Ele está plantando e criando. É um Estado de vocação agropecuária. Esta é a riqueza nossa: a agropecuária. Pode haver uma agroindústria, mas a base ainda é a agropecuária.

            Então, o Portal GP1 acusa que os funcionários - aqui ele dá o nome do médico veterinário e fiscal agropecuário Fernando Neiva, que pede ajuda - estão em greve, os funcionários de lá que cuidam da agropecuária. A gravidade é tão grande, porque... Por exemplo, o Governo é tão incompetente - olha o tripé mentira, corrupção e incompetência - que a aftosa é de risco desconhecido. O Governo não sabe. E o prejuízo disso é extraordinário porque o gado, os caprinos só podem ser comercializados internamente. Então, enquanto um boi do seu Pará, que não tem aftosa, vale R$600,00, R$800,00, no Piauí, vale a metade. Assim, os cabritos, os cordeiros, os carneiros e os bodes têm o preço reduzido, porque a comercialização não é livre por causa da aftosa.

            É justamente esse pessoal da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Piauí (Adapi) que está em greve. Mas o ridículo, o triste e o que é mentira daquele negócio do diálogo do Partido dos Trabalhadores, é que eles do portal reivindicam ao fiscal agropecuário Fernando Neiva, o líder deles, uma audiência com o Governador. José Nery, desde outubro essa gente quer uma audiência com o Governador - está aí, Suplicy, do PT. Use sua influência! Desde outubro! Está aqui o documento. O líder deles é o fiscal agropecuário Fernando Neiva, médico veterinário; e sua associação é a Adapi.

            O Estado já está fragilizado por causa da aftosa, e o pessoal da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Piauí (Adapi) é que faz esse controle, essa vacinação e essa fiscalização. Então, é muita desgraça. O Piauí não tem terremoto, maremoto nem tsunami, mas tem o Governo do PT. Faz um estrago! Faz um estrago! Faz um estrago! Atentai bem! Graças a Deus, o Suplicy está aí, e ele é do PT do bem. O Suplicy é uma pessoa boa. Ele vai levar este meu apelo ao Presidente Luiz Inácio.

            Então, José Nery, essa renegociação da dívida rural... Isso é um absurdo.

            Suplicy, V. Exª não tem mais mãe, não? Já faleceu ou está viva? Está no céu?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP. Fora do microfone.) - Está com 101 anos.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Viva? Vá curtir sua mãe, rapaz! A sua mãe tem 101? Isso é uma benção de Deus!

            A minha está no céu. Agora, a minha mãe... Eu não sou mão santa, mas mãe santa eu sou. Ela era terceira franciscana, a minha mãe.

            Suplicy, ô Suplicy, eu sei que a sua família era poderosa na indústria. O homem mais rico de São Paulo é o tio-avô dele. Mas o meu avô também era poderoso industrial - ouviu, Suplicy? -, e mesmo assim, José Nery, a minha mãe foi ser terceira franciscana, ordem religiosa dedicada aos pobres.

            Então, entre o Luiz Inácio e a minha mãe, eu fico com minha mãe. Sabe o que ela me ensinou, Suplicy? Suplicy, olhe o que minha santa mãe dizia: “A caridade, para ser boa, começa com os de casa”. Ouviu, José Nery, a frase da minha santa mãe, Janete? “A caridade, para ser boa, começa com os de casa”. Os empregados que a serviam, ela se preocupava em alimentar e dar a eles um dinheiro. Começa! Então, eu não entendo a caridade do Luiz Inácio, nosso Presidente - ouviu, Suplicy? Eu sei que a mãe dele também foi fabulosa, uma mulher guerreira, retirante, mas a minha tinha mais sabedoria. A minha mãe era intelectual mesmo. Autora de livro A vida, um hino de amor. Ela repetia isso - ouviu José Nery? Ouviu, Suplicy?. “A caridade para ser boa começa com os de casa”.

            Ô Jayme Campos, o Luiz Inácio... Eu peguei nos documentos que estão aqui... Esses dinheiros que ele sai dando por aí, o Portal GP-1 somou. O homem dá dinheiro na Ásia, na Bolívia, na Venezuela e tal. José Nery, ele deu um bilhão e meio. “A caridade, para ser boa, começa com os de casa”.

            Agora quero dizer, Luiz Inácio, dou um testemunho. Olha, eu já tenho alguns quilômetros rodados; tenho 67 anos. José Nery, fui Deputado Estadual de um dos homens... Ô Suplicy, você conheceu Lucídio Portella, Senador, irmão do Petrônio Portella. Eu fui - Juarez Tapety era Líder - Vice-Líder do Governo dele. Então, o Lucídio, austero, não bebia, não gostava de inauguração. Ele me dizia: “Deputado Mão Santa, você quer inaugurar aquela luz para mim?”. Eu ia lá. Era uma festa, Zezinho! Chegava ao interior, na região ribeirinha, acendia ali a luz que o Governador mandou e o Deputado... Olha, isso nos anos 80. Eu fui Deputado em 79/80.

            José Nery, era uma festa. Era peru, era galeto, era boi, era churrasco, era cerveja. O campo era mais rico. Quero dar o testemunho.

            Olha, inaugurei muita energia. O Governador não ia. Ele não gostava de tomar umas, e eu ia. Sou alegre e tal. Inaugurava nas fazendolas aquela luz que o Governo levava à região. José Nery, era bom demais! Era peru, era muita cerveja, era festa, era churrasco de carneiro, de boi. Isso em 79 e 80. Quero dar o testemunho.

            Interessante, eu era Deputado Estadual e apenas ia representando o Governador Lucídio Portella. Era festa. Daí, fui Secretário de Saúde, fui Prefeito, Governador do meu Estado e Senador. Vou agora ao campo e vejo que estão lascados, estão mais empobrecidos no Nordeste. Eu falo pelo que sei.

            Olha, não tem mais, Suplicy, aquele negócio de peru, não; se pegarmos um galetinho, damos graças a Deus. Não há mais essa riqueza. Tudo é mentira. O campo está empobrecido, a não ser... Eu desbravei o sul. Esses que chegaram com maquinaria, com capital, que plantam soja, têm riqueza. Mas estou falando daquele tradicional homem do campo, que, nas regiões, nas vazantes, nas lagoas, plantava o arrozinho, o feijão, o milho, a mandioca. Esses tradicionais que criavam a vaquinha, o carneirinho. José Nery, eles estão muito mais pobres. O Governo Sarney teve uma coisa boa: aquele programa do leite. Vamos analisar. Estou fazendo história. Então, havia aquele programa do leite, eles compravam a vaquinha, viviam em função dela, porque os Governos compravam o leite. Então, eles ficavam no campo com a família. Com essa globalização, o leite em pó passou a ser mais barato, e eles se lascaram; não se vê mais, não.

            Olha, está muito mais empobrecido. Esse é um testemunho meu.

            Chego agora, Magno Malta, olho os pratos encardidos, rachados, a cadeira com uma perna. Os fazendeiros do Nordeste, do semiárido, estão empobrecidos. Seca, calamidades, juros...

            Ô Luiz Inácio, sei que a mãe do Luiz Inácio era como a Dadá aqui. A Dadá é a mãe do Magno, uma santa. Aprendo muito com os ensinamentos dele. Mas, aprenda com a minha mãe. Sei que a mãe do Luiz Inácio é uma figura fabulosa, mas a minha me dizia sabe o que, Magno Malta? “A caridade, para ser boa, começa com os de casa.

            E eu não entendo por que o Luiz Inácio saiu emprestando um bilhão e meio. Tive o cuidado - está aqui - de somar esse dinheiro. Um bilhão e meio! E nossos homens rurais que tiraram empréstimo, que negociaram com os bancos, os bancos estão executando-os. Eles não pagaram porque não puderam mesmo. A seca... Estão lascados. Os bois... Empobreceram-se, o juro é alto. Olha, gente que tirou 5 mil está devendo 270 mil. A propriedade toda não dá dez. Então, o banco passou para outra agência, ativa, e eles estão executando. Estão tomando carro de boi, a Rural velha, o burro velho que tinham na fazenda, o cavalo, as cadeiras velhas. Os bancos estão executando os pobrezinhos!

            Então, Magno Malta, quero saber... Minha mãe, que está no céu com a sua, dizia: “A caridade, para ser boa, começa com os de casa”. Como é que o nosso Presidente deu 1,5 bilhão, emprestando por aí? Somei. Está somado. Na Bolívia, na Argélia...Todo dia ele fala: “Dê dinheiro” Dá 200 milhões, dá 500 milhões. E juntando todos esses que estão lascados, endividados no banco, dá 1,2 bilhão.

            Luiz Inácio, a caridade, por que você fez lá fora e por que não vamos anistiar esses bichos que estão lascados? Estão lascados, estão lascados, estão lascados mesmo. Eu conheço. Houve um que me mostrou um contrato, tirou cinco mil e está devendo duzentos e tanto, porque esses bancos são aloprados mesmo, são aloprados em juros e, agora, estão executando. Tomam o carro de boi, a carroça velha, o burro, o jumento e a mulher, e a desgraceira do campo.

            Então, este apelo, porque ele está rodeado de aloprados por todos os lados. Esse Mantega é um aloprado! Um bicho desse nunca viu um pobre, nunca viu um homem do campo. Ele só sabe viajar para Londres, para os Estados Unidos, para o Bird, para o Banco de Londres, para o Banco Mundial. Um pobre, ele nunca viu. Então, esse aloprado, esse Mantega aí está lascando, está executando tudinho. Estão tomando as coisas dos pobres no campo. Estão tomando. Eu vi a choradeira. Suplicy não permitiria um negócio desse. Suplicy devia ser o Richelieu do Luiz Inácio. Mas ele está rodeado de aloprados. Estão tomando as coisas dos pobres. E é de dar dó. Eu freqüento o campo, Magno. E estou contando os fatos. Pelo menos na minha região, no Piauí, no Nordeste e tal.

            Então, é este o apelo que podemos utilizar: para que aqueles que devem abaixo de 15 mil sejam anistiados. Quinze mil. Tu sabes o que é 15 mil, Magno Malta? José Nery, você ainda não foi Governador, foi?

            O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Não, ainda não.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Pois eu já fui. Tem um negócio de DAS que a gente dá, basta assinar, eu dei foi muito. DAS 1, DAS 2, DAS 3, DAS 4. É Direção de Assessoramento Superior. No Governo Federal, é mais: tem o 5 e o 6. O DAS 6, você sabe quando ganha, Magno Malta? O DAS 6 entra pela porta larga, sem concurso - não tem na Bíblia a porta larga da vadiagem, da perdição? - tem 50, 60 mil. Só com uma assinatura. Eu assinei foi muito quando Governador. O Luiz Inácio e os aloprados botam e ele bota. Sabe quanto ganha um DAS 6, Magno Malta? Ganha R$11.848,00 por mês. Olha as professorinhas! Não ganham R$600,00. O teto que estão pedindo é de R$970,00? Não ganham, não é? Não conseguiram. O Governo não deu. Vetaram a Justiça e o Governo.

            Olhem quanto ganha um médico, quanto ganha uma enfermeira, quanto ganha... Um aloprado desse DAS 6, bastou uma assinatura do nosso querido Presidente Luiz Inácio e ele ganha R$11.848,00 por mês. Então isso aqui... As dívidas por aí. O que nós estamos pedindo, Luiz Inácio, é um mês desses aloprados para salvar uma família, uma dignidade, uma história.

            Ô Magno Malta, eu quero já a sua participação. Então, eu estou falando a pedido desses homens do campo todo. Rapaz, e o estresse? Estão executando.

            Então, Luiz Inácio, você está ficando... e eu estou advertindo. Esqueça os aloprados. Você já foi ao México, Magno Malta? Nosso Presidente foi e tirou uma fotografia muito bonita nas pirâmides com sua encantadora esposa. Mas ele deveria ter ido ao Palácio do México. Tem uma frase, Senador Magno Malta, que diz assim, do General Obregón: “Prefiro um adversário que me leve à verdade do que um aliado que me engane.” E o estão fazendo. O que estamos pedindo...

            O SR. PRESIDENTE (José Nery. PSOL - PA) - Senador Mão Santa, peço a V. Exª para concluir em razão dos demais Senadores inscritos.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Queria só enriquecer com um aparte.

            Magno Malta quer participar. Dê um minutinho aí.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - V. Exª gosta muito da Bíblia, como eu também gosto. A Bíblia diz que quem cuida mal da sua casa é pior do que o ímpio. V. Exª comentou que sua mãe dizia que a caridade começa com os de casa. A Bíblia diz que quem cuida mal da sua casa é pior do que o ímpio. Congratulo-me com V. Exª. V. Exª faz referência aos pequenos agricultores e eles estão no Piauí, no Espírito Santo, no Pará, no Paraná, no Mato Grosso. São centenas de homens e mulheres que fazem a sustentação deste País nos mantendo vivos a partir do campo. São os resistentes que ainda não vieram para as cidades criar os bolsões de miséria e se desiludirem vendo os filhos virarem drogados e as filhas prostitutas. Assim se formam os bolsões de miséria quando o desencanto bate no homem do campo. De fato, o que seriam R$15 mil para se anistiar um homem?

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Esses são os maiores. Tem de R$5 mil, mas que eles não têm não têm mesmo.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Então, na média, o que seria?

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Aí, o banco entra lá e está executando, tomando os trecozinhos deles, os trecos, os troços. 

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Seriam R$7 mil, R$8 mil.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Quinze é o máximo.

            O Sr. Magno Malta (Bloco/PR - ES) - Agora V. Exª está correto. Os técnicos - e muitos são brilhantes porque se formaram em Harvard - nunca pisaram o chão, eles fizeram cursinho antes de entrar para a faculdade indo para o cursinho de carro importado. E eles são muito brilhantes, fizeram cursos brilhantes e voltaram para o Brasil. E são tão brilhantes que tudo que eles fazem, se der certo, eles são gênios; se der errado, o povo não cooperou. Infelizmente, a prática aqui é esta: o povo nunca cooperou, o povo não coopera. E as coisas dão errado. E, na verdade, eu tenho, na CPI do Narcotráfico, um dos maiores narcotraficantes deste País que nós prendemos - eu não quero dar o nome, até para não identificar algumas pessoas -, e ele é filho do Banco do Brasil. Mas como é que esse narcotraficante é filho do Banco do Brasil? É sim. Porque o pai vivia num pequeno terreno, numa pequena propriedade ao redor de Campos e tomou empréstimo no Banco do Brasil para comprar um tratorzinho, daqueles de pneu, e ele não conseguiu pagar porque a lavoura não resistiu à falta de chuva. Em vez de refinanciar o empréstimo para ele continuar trabalhando no campo, eles tomaram a pequena propriedade dele. Sabe o que ele fez? Foi embora para o Rio, foi para uma favela, o filho virou um dos maiores narcotraficantes deste País e das nossas Américas. Filho do descalabro, da falta de sensibilidade dessas instituições. Por isso V. Exª está correto. E é em nome dos pequenos do meu Estado, de R$8 mil, de R$5 mil, de R$7 mil que estão desesperados, sem saber que rumo vão tomar e como fazer, sem contar com a misericórdia dos bancos, que misericórdia não têm. Aliás, o Itaú e o Bradesco têm faturado mais nos seus lucros do que o Produto Interno Bruto do País. Podiam muito bem fazer essa generosidade e a partir de uma ação do Governo. O Presidente Lula, que tem trabalhado muito na inclusão social - e nós temos que reconhecer isso - e que tem força para fazer isso e tem disposição, que ele ouça o apelo de V. Exª. Eu me somo ao apelo de V. Exª. Que Sua Excelência, que realmente tem a sensibilidade de quem veio do sofrimento, da fome, enxotado com a falta de tudo e com a necessidade, realmente dê ouvidos ao apelo de V. Exª e que os pequenos agricultores deste País recebam a anistia dessa dívida, ínfima aos olhos de todos nós, mas um montante enorme aos olhos de quem batalha com a enxada na mão lá no campo. Obrigado.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - E, para encerrar, o Franklin Delano Roosevelt disse uma frase, Magno Malta: “Toda pessoa que vejo é superior a mim em determinado assunto e eu procuro aprender”. Franklin Delano Roosevelt, Presidente Luiz Inácio, foi Presidente dos Estados Unidos por quatro vezes. Ele enfrentou a guerra, se aliou a Stalin, enfrentou a recessão. Ele disse o seguinte: “Olha, as cidades poderão ser destruídas, mas ressurgirão do campo. Se o campo for abandonado, for destruído, as cidades perecerão”.

            Então, com essa mensagem ao Luiz Inácio, o campo do semiárido do Nordeste está destruído. Então, nós apelamos para a sensibilidade neste último ano de Governo. Governar é navegar. A anistia, jogue para adiante, mas não permita e não fique para a história como o pai dos pobres e a mãe dos banqueiros, porque os banqueiros estão na boa. Faliu o banco nos Estados Unidos nessa crise. Faliu na Inglaterra. Está ouvindo, José Nery? Faliu na Espanha. No Brasil, nenhum. Então, Luiz Inácio, não queira ser o pai dos pobres e a mãe desses banqueiros que estão executando os nossos pobres do campo..


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/03/2010 - Página 8271