Discurso durante a 37ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoraração dos 40 anos de fundação da TV Verdes Mares, de Fortaleza.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoraração dos 40 anos de fundação da TV Verdes Mares, de Fortaleza.
Publicação
Publicação no DSF de 25/03/2010 - Página 9062
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, SENADO, DIVERSIDADE, AUTORIDADE, HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, MUNICIPIO, FORTALEZA (CE), ESTADO DO CEARA (CE), COMENTARIO, ORADOR, IMPORTANCIA, POVO, REGIÃO NORDESTE, ELOGIO, FUNDADOR, BRAVURA, CRIAÇÃO, REDE DE TELECOMUNICAÇÕES.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu gostaria e sei que o Ministro César Asfor Rocha ainda ouvirá os ecos da enorme admiração que, não só este Senador, mas a Casa inteira, a ele devota, pela honradez do seu comportamento e pelo seu senso de justiça, que o faz buscar a melhor aplicação das leis com sensibilidade, sem se preocupar com a opinião pública, mas se preocupando, sobretudo, como distribuir justiça para os mais necessitados, que são justamente aqueles que demandam a ação de um tribunal superior de excelência, como é o caso do Superior Tribunal de Justiça que ele preside com tanta maestria.

            Então, fala aqui um admirador profundo do Ministro César Asfor Rocha. (Palmas.)

            Sr. Presidente, Sr. 3º Secretário da Mesa do Senado Federal, Senador Mão Santa; Exmº Sr. Senador Tasso Jereissati, que é o primeiro signatário do requerimento que deu origem a esta oportuna sessão; Presidente Mauro Benevides, Deputado, Senador, Presidente do Congresso Nacional; gostaria de citar, mesmo nas ausências, os Ministros do Tribunal de Contas da União, o seu Presidente, Presidente, cearense ilustre, Ubiratan Aguiar, e o Sr. Valmir Campelo, também Ministro do TCU, que aqui esteve para homenagear o Dr. Edson Queiroz; Sr. Diretor da sucursal do Sistema Verdes Mares em Brasília, Sr. Wilson Ibiapina, Sr. Edilmar Norões, Diretor de Programação da TV Verdes Mares; eu gostaria de citar, até por uma deferência ao ilustre Governador, seu avô, o Diretor Administrativo da TV, o jovem, muito promissor e muito competente, Igor Queiroz Barroso, neto do Governador Parsifal Barroso; Sr. Vice-Governador do Estado do Ceará, Exmº Sr. Dr. Francisco José Pinheiro; Srª Lenise Queiroz Rocha; e por último, a minha prezada amiga, ex-primeira-dama do Ceará, esposa do Senador Tasso Jereissati e filha do Dr. Edson Queiroz, a prezada e querida Renata; aqui se discute muito da oportunidade das sessões de homenagem, alguns dizem que seria perda de tempo e generalizando como se todas necessariamente fossem banais.

            E as pessoas que pensam assim, que generalizam, já cometem o pecado da generalização, que é o pecado que vem da soberba, vem de um certo orgulho bobo, enfim. E a soberba não é boa conselheira da inteligência. Ela, às vezes, deturpa e turva a própria inteligência, e as pessoas se esquecem do significado até regional de certos símbolos - e Edson Queiroz é um símbolo visível para o Estado do Ceará.

            Então, obviamente que esta sessão teria que ter lugar em qualquer Parlamento do mundo, desde que o homenageado fosse alguém do peso de Edson Queiroz para um Estado relevante - e qualquer Estado nosso é relevante -, o Ceará muito até pela sua função civilizadora e povoadora do meu Estado, da minha região, tivesse o peso da figura que ora aqui estamos a registrar para que comecemos no País a cultuar os nossos valores. O Brasil não pode ser o país do esquecimento, o País dos esquecidos, o País das mentes obnubiladas, não pode ser o país da memória curta. Nós temos que ter memória muito clara para o que aconteceu de ruim, Presidente Marco Maciel, e para o que aconteceu de bom lá para trás. Do que aconteceu de ruim, nada de sentimento de vingança, nada de revanchismos, nada parecido com sentimentos menores; o que aconteceu de bom registrar com orgulho, porque esse é o exemplo para as gerações que se vão formando.

            O Senador Tasso Jereissati, prezado colega e amigo que tenho aqui nesta Casa, sempre se referiu ao seu sogro como uma espécie de segundo pai para ele, na verdade. Alguém que o aconselhava nos negócios, alguém que sempre lhe dava sábios conselhos e, segundo o próprio registro do coração do Tasso, amor que era correspondido pelo pai da Renata, pelo Sr. Edson Queiroz.

            E vendo, de maneira perfunctória, os dados da sua vida, registramos que não é nada pouco alguém que - exageraríamos se disséssemos que nasceu pobre, pois não é bem assim -, de muito pouco, construiu um império com legitimidade, com respeitabilidade, acatado pelos seus interlocutores comerciais, respeitado pelos seus coestaduanos, respeitado pelos seus patrícios. Era uma figura que tinha peso na economia do País, e seu grupo tem peso na economia do País. Alguém que construiu, enfim, um império empresarial diversificado, que gera empregos, produz tecnologia, movimenta a economia e cria uma sensação de orgulho e de otimismo para o Estado do Ceará.

            Eu estava lendo aqui um pequeno release que a minha assessoria me apresentou, dizendo que a TV Verdes Mares, Renata, desde o dia 16 de dezembro, vem fazendo reportagens alusivas à data. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que poderia estar fazendo as reportagens, ou melhor, estaria fazendo meramente um anúncio: tal dia, festa tal, com o Padre Marcelo Rossi. Isso é muito bonito. Mas eu estava pensando ali, enquanto conversava com o Tasso um pouco e olhava para os meus dados: será que isso não satura, uma campanha de tantos meses? Será que os especialistas da TV Verdes Mares não perceberam que isso aí saturaria? Mas não foi isso que aconteceu. Não foram vinhetas dizendo que, em tal dia, vai ter a festa tal em homenagem aos 40 anos da TV Verdes Mares por tantos meses. Não. Foi, pelo que li, pelo que soube, um passar em revista dos fatos históricos do Ceará, do País e do mundo, sob as lentes da TV Verdes Mares. Ou seja, de 40 anos para cá o que aconteceu? A redemocratização do País e, antes disso, as agruras da ditadura. Quantos homens públicos morreram? Quantos eventos relevantes se deram nestas quatro décadas? Quantas desgraças e desastres foram cobertos pela TV Verdes Mares? Quantas vitórias e conquistas brasileiras no esporte, nas artes e na economia essa televisão não registrou no seu já significativo acervo histórico?

            Então, percebi que não eram as vinhetas. Era, sim, um registro muito bonito. Era um processo contando a história do Ceará, de como o Ceará via o mundo, de como a TV Verdes Mares via o Ceará, o mundo e o Brasil pelos olhos muito particulares de quem teve a ocasião de dar sua versão. Se todas as televisões dizem que o homem foi à lua, alguém registra do seu jeito e outro registra do seu outro jeito também.

            Tenho muita admiração a distância - e sem ter conhecido - pela figura forte e que conseguiu construir tanta coisa durante seu período de vida. Não fez mais em razão de algo que todos recordamos: um mais do que trágico acidente que ceifou mais de uma centena de vidas, um desastre aéreo, algo realmente traumatizante, que impediu que Edson Queiroz continuasse - ele próprio - tocando seus projetos do Ceará.

            Tenho certeza absoluta de que uma pessoa com sua grandeza pensava obviamente em construir sua própria prosperidade, mas não esgotava seu sentimento de Ceará na sua prosperidade, até porque seria apequená-lo. A prosperidade deveria ser uma consequência da vontade que tinha de servir, a seu modo, a seu Estado - a prosperidade como consequência de um trabalho muito sério no campo empresarial.

            Cada um se dedica a fazer o melhor por seu Estado e por seu País no campo que lhe cabe: uns na vida pública, outros na vida artística. Como o Ceará é rico em matéria de talentos artísticos - basta se falar em Chico Anysio, uma figura quase genial, no Fagner, no Tom Cavalcante - e esse eu diria que é genial mesmo.

            Enfim, um parêntese: Tom Cavalcante um dia almoçou comigo aqui e, de repente, a voz dele mudou. E eu achei esquisito ele ter mudado a voz. Aí percebi que ele estava me imitando. E eu custei a entender que ele estava me imitando. Então, eu disse: “Nossa, é a minha voz”. Se eu precisasse de alguém para me substituir num programa de rádio, o Tom segurava tranquilo. Isso, com pouco tempo de conversa.

            Outra vez, logo que aqui chegamos, houve uma história engraçadíssima, porque ele liga para o Tasso e o Tasso pega o telefone e me passa. Em 2003, começo do nosso mandato. Tinha sido feita aquela transição tão bonita do Presidente Fernando Henrique para o Presidente Lula, havia um clima de muita cordialidade entre as duas facções políticas mais relevantes do País, e o Tasso me diz assim: “Olha, o Presidente Lula quer falar com você”. Aí eu pego o telefone e disse: “Pois não, Presidente, boa-tarde”. Aí ele fala: “Boa-tarde como, se você fica me aperreando, se você fica com molecagem comigo?”. Eu tomei um susto. Aí eu disse: “Tasso, eu vou devolver, porque eu não vou falar com ele nesses termos não, eu vou denunciá-lo da tribuna. Vou dizer que elegemos uma figura que não tem compostura e que liga para um Senador nesses termos baixos”. Eu digo: “Olha, Presidente, eu não tenho nada que falar com o senhor nesses termos não. Fique com a sua conversa, com a sua grosseria por aí, que eu vou ficar com a minha independência para cá”. E entreguei o telefone para o Tasso. E eu ia para o microfone. E o Tasso: “Espera aí, rapaz, é o Tom Cavalcante”.

            Mas o Tom Cavalcante enganou Aloizio Mercadante. O Aloizio jura que não enganou, mas enganou. Ele jura, morre dizendo: “Não, eu sabia que era ele”. Não sabia nada, pensou que era o Lula, levou um pito do Lula. O Lula, naquele dia, avacalhou com todo mundo. A um determinado Senador que estava aqui, ele disse: “Você não está me defendendo! Está esse tal de Arthur aí, junto com não sei quem, atacando o meu Governo e você não me defende! Você acabou de chegar! Você estava onde? Você está de cabelo molhado!” E o Tasso dizia para ele como é que estava o fulano de tal. E ele foi enganando todo mundo, foi passando todo mundo. Até o Senador Tião Viana: “Tião, até você me criticando?”

            E ele : “Não, quem estava na tribuna era fulano de tal. Não era eu, não, Presidente!”

            Enfim, uma figura de um talento enorme, que é bem a marca do Ceará.

            Eu tenho algumas passagens que, para mim, explicam o que é o talento empresarial de um Edson Queiroz.

            O Senador Geraldo Mesquita falou, como cearense, como um homem radicado no Acre, que representa com muita dignidade o seu Estado, e o Acre é basicamente um Estado descendente de cearenses. E o Amazonas, até pouco tempo, também tinha como principal item da sua miscigenação a presença cearense. No meu Estado, é muito fácil se encontrar descendente de cearense, e antigamente era muito difícil encontrar quem não fosse descendente de cearense. Com o Polo Industrial de Manaus, com a Zona Franca de Manaus e com o tamanho que a cidade tomou, mudou um pouco de figura, mas o percentual ainda é muito alto.

            E nós vamos olhar os cearenses que fazem o melhor na alta costura, os melhores sushi men do Japão são cearenses, é o que a gente ouve, e eu já cheguei a encontrar um no Japão. Uma vez, eu estava numa praia na Grécia, com uns amigos, quando eu ainda estava na diplomacia, e nós estávamos lá. E eu disse, brinquei e falei assim: Um lugar tranqüilo, a gente não vai ter brasileiro aqui nenhum, falta só ter um cearense”. Quinze minutos depois, a moça diz: “Cuidado com essa água fria, esse menino!”. Tinha uma pessoa do Ceará ali. Ou seja, na verdade, os que conseguem desbravar mundo, os que conseguem invadir o desconhecido, os que conseguem, pela sua coragem, implantar novas idéias. Enfim, uma civilização, Deputado Eunício, muito marcante na vida do País e com toda uma simpatia que se espalha, porque é um Estado muito simpático mesmo aos olhos de todos.

            Ao homenagear a TV Verdes Mares, eu gostaria de registrar que esta festa será uma demonstração de amor, de troca de afeição entre a televisão e o povo de Fortaleza, o povo do Ceará porque, no Ceará, apenas o pessoal de Fortaleza que irá para lá, e irá todo mundo, isso vai ser uma coisa muito bonita. O padre Marcelo Rossi haverá de fazer uma belíssima pregação, enfim. Mas tenho certeza de que a admiração - eu sou católico, sou católico praticante - a admiração pela TV Verdes Mares é ecumênica até pelo seu caráter plural, pela sua capacidade de dar espaço para diversas facções, por estar há quarenta anos cobrindo o cotidiano, cobrindo a moda, cobrindo o esporte, cobrindo a política, cobrindo a economia, cobrindo a vida, cobrindo o bom, cobrindo o ruim, cobrindo polícia, enfim, cobrindo os fatos todos que fazem do Ceará o Estado pujante que é, sobretudo a partir do momento em que ousou - e é do cearense ousar - entregar o poder a uma figura talentosa como o Senador Tasso, que montou uma equipe e geriu o Ceará com a habilidade política que herdou de seu pai - o Senador Jereissati foi colega do meu pai no Senado - e, ao mesmo tempo, com métodos empresariais que faziam com que ele tivesse preocupação com lei de responsabilidade fiscal quando a moda era a gastança, a moda era a despreocupação com inflação, a moda não era a responsabilidade fiscal. Mas Tasso mostrou que, tendo responsabilidade fiscal, haveria recursos para fazer investimentos e para mudar a fisionomia econômica de um Estado que passou, por conta desse processo de modernização, a atrair investidores e a adquirir um novo perfil. A partir daí, temos a idéia de que o Ceará se dividiu de fato em dois momentos: esse momento que significou a eleição de um jovem empresário e o momento seguinte que não permite retrocessos - e eu desejo ao Governador o melhor êxito, as melhores vitórias - não permite retrocesso porque é para frente que se anda mesmo e o Ceará tem andado para frente.

            Mas o fato é que não posso deixar de falar aqui, falar como amigo do Tasso, como amigo da Patrícia Saboya, como colega e amigo do Senador Inácio Arruda - amigo muito querido da Senadora Patrícia Saboya, amigo muito próximo do Senador Tasso Jereissati -, eu não poderia deixar de estar presente, até porque sei o quanto significa para a Renata esta homenagem. O quanto significa para ela a lembrança tão positiva do seu pai, a lembrança tão positiva de uma saga, de uma aventura, uma bela aventura. Aventura que foi interrompida, mas que continua aqui imortalizada nas palavras de todos aqueles que estão homenageando Edson Queiroz e sua imensa obra. Daria para se fazer uma sessão para cada empreendimento seu, mas a TV, por ser um meio de comunicação entre todos, por tornar todo mundo mais vizinho um do outro, pelo caráter pioneiro com que ela foi implantada, pelo caráter desbravador com que ela foi implantada, inclusive indo para o interior com muita rapidez, com investimentos muito caros, certamente com um retorno que deve ter demorado bastante a se mostrar na contabilidade das empresas de um homem que lidava com muito critério com o seu deve e o seu haver, essa TV deveria ser uma menina dos olhos dele. Essa é a impressão que tenho, sem o ter conhecido. E como nós, na verdade, sempre lutamos por liberdade de imprensa - somos contra qualquer tentativa de conselhos e quaisquer atos que visem a castrar a liberdade de imprensa, diminuir o espaço de representação das pessoas que querem se queixar, e quem quer que queira se queixar tem o direito de fazê-lo, tem o dever de fazê-lo - nós registramos que é um dado civilizatório um dia um homem que não precisava ter se envolvido com televisão, nem com rádio, nem jornal, nem nada, um homem ter dito - e não precisava disso nem sequer para se defender, porque ninguém o acusava de nada -: “Não, tenho um dever a mais a cumprir, além do que já faço, os empregos que gero, os impostos que pago, tenho ainda o dever de propiciar ao povo um canal de comunicação com os governos e consigo próprio, povo com povo, povo com governos”.

            Portanto, com muito afeto Tasso, com muito afeto Renata, os meus parabéns à vida do seu pai, e vida longa à TV Verdes Mares, que haverá de ser comemorada, se Deus quiser, não da tribuna, porque eu não teria paciência, mas espero estar aqui nos outros quarenta anos da TV inteiro, andando sem bengala, sem nada, obviamente que já livre da política porque senão não chego lá. Mas quero viver mais esses quarenta anos para ver junto com o Tasso, com você, com todos a comemoração dos oitenta anos da TV Verdes Mares.

            Muito obrigado mesmo e parabéns ao Ceará. (Palmas)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/03/2010 - Página 9062