Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Exaltação à honestidade do povo brasileiro.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Exaltação à honestidade do povo brasileiro.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 09/04/2010 - Página 13000
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • ELOGIO, ETICA, INTEGRIDADE, POPULAÇÃO, BRASIL, COMENTARIO, EXPERIENCIA, PAI, FILHA, ORADOR, DEMONSTRAÇÃO, DIGNIDADE, POVO.
  • REPUDIO, CORRUPÇÃO, CRITICA, AUTORIDADE, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), AUSENCIA, PREVENÇÃO, CALAMIDADE PUBLICA, IMPORTANCIA, ELEIÇÃO INDIRETA, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, nosso eterno Presidente nesta Casa, quero cumprimentar, em especial, o Senador Mozarildo, que, há pouco, me disse que ficaria aqui para me ouvir. Muito obrigado pela gentileza, Senador Mozarildo e demais Senadores presentes.

            Senador Mão Santa, tenho razões, aliás grandes razões, para vir hoje aqui enaltecer aquilo que acho que é mais importante no nosso povo. Senador Mozarildo, tenho certeza absoluta de que a grande maioria do povo brasileiro é dotada de uma honestidade emocionante.

            Senador Efraim, sente-se aí, por favor, que vou lhe contar uma história.

            O SR. EFRAIM MORAIS (DEM - PB. Fora do microfone.) - Quero ficar de pé.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - A maioria da população do nosso País é dotada de uma honestidade, eu diria, emocionante. Lembro aqui um fato muito antigo. Meu pai era Governador do Estado e tinha uma preocupação enorme com o pequeno produtor. Em quatro anos, ele construiu, ou pelo menos coordenou, como Governador, o arcabouço de uma infraestrutura capaz de permitir que os produtores do meu Estado trabalhassem com tranquilidade. Para isso, ele ordenou ao Banco do Estado, Senador Mozarildo, que saísse da linha exclusiva de financiar apenas os grandes produtores e passasse a financiar os pequenos produtores. A direção do Banco, logicamente, reagiu com preocupação: “Governador, será que isso não vai gerar uma cadeia de inadimplência no Banco?”. Ele disse: “Não. Pode fazer, que eu garanto”. O Banco começou a financiar os pequenos produtores.

            Certa feita, eu estava com meu pai tomando café da manhã na residência dele, e seu ajudante de ordem chegou ali e disse: “Governador, um senhor, um colono da colônia tal está querendo falar com o senhor”. Ele falou: “Pode entrar”. Era de fato um pequeno agricultor, um colono, como a gente chama no Acre. Ele chegou ali, e papai pediu para ele se sentar: “Vamos tomar café”. Ele comeu um pedacinho de pão, e papai disse: “Qual é o assunto?”. Ele disse: “Governador, vim lhe pagar”. O papai disse: “Mas pagar como? Você não me deve nada”. Ele disse: “Não, devo. O senhor autorizou o Banco a me conceder um empréstimo. Vendi meu milhozinho, e está aqui o pagamento”. Ele abriu uma sacolinha de pano na frente do papai. Na cabeça dele, ele teria de pagar ao Governador. Papai disse: “Não”. Aí, papai o orientou e pediu a um auxiliar que encaminhasse o agricultor ao Banco: “O senhor tem de ir ao Banco, pagar sua dívida lá; deposite o dinheiro lá”.

            Trago essa informação para ilustrar o que comecei a dizer: minha convicção de que o povo brasileiro, na sua grande maioria, é dotado de extrema honestidade, Senador Mozarildo. É claro que, na população brasileira, há uma gama de picaretas, uma gama de oportunistas, mas a grande maioria do povo brasileiro é puramente honesta.

            Recentemente, aqui, em Brasília, há poucos dias, dois dias atrás, houve um fato que me levou a vir a esta tribuna. Alguém pode dizer: “É um fato tão singelo!”. Mas, para mim, ele é de um significado muito grande. Uma pessoa da minha família, minha filha mais nova, a Mariana, foi ao comércio de Brasília comprar algumas coisas e foi a uma loja, Arte, Fechaduras e Ferragens. Essa loja, como o próprio nome diz, especializada em fechaduras, em puxadores, em aramados, fica na quadra comercial 310 Sul. Pois bem, Mariana fez a compra que precisava fazer e, ao sair da loja, esqueceu sua bolsa, sua carteira, certamente no balcão, próximo de onde ela efetuou o pagamento. Na carteira, estavam documentos pessoais e dinheiro, cerca de R$200,00. Ontem, ela entrou em contato com os proprietários da loja, e sua carteira foi devolvida com tudo o que havia dentro, Senador Mozarildo. O proprietário dessa loja chama-se Gaspar. Sua esposa, que trabalha com ele na mesma loja, é Dona Márcia. Eles contam com o apoio dos funcionários Daniel, Cristiano e Rafael. Normalmente - digo “normalmente”, porque, às vezes, a gente ouve falar isto -, no caso de se achar um objeto como esse, uma carteira com dinheiro, ocorre, às vezes, de a pessoa tirar o dinheiro, jogar a carteira no meio-fio, na sarjeta. Mas a carteira foi devolvida com tudo o que havia dentro para minha filha Mariana.

            Eu queria, dessa forma singela, prestar uma homenagem a essas pessoas por esse gesto. Alguém dirá: “Mas é uma coisa tão simples!”. Não é, não! Não é, não! Não é, não! No País em que ocorrem calamidades como as que a gente está vendo no Rio, cujas autoridades estão no poder há tanto tempo e vêm a público dizer, de forma desonesta, que vão tomar providências, quando estas deveriam ter sido tomadas tempos atrás, Senador Mozarildo; no País de mensaleiros; no País de trombadinhas; no País onde militantes políticos escondem dinheiro na cueca, nas meias; no País dos aloprados; no País onde o dinheiro público sofre o assédio da gana de tantos maus elementos, temos de enaltecer esse gesto, temos de divulgá-lo, porque é uma coisa bonita. Aliás, para aqueles que estão na iminência de perder a esperança no País, no povo brasileiro, um gesto desse é uma injeção de ânimo. Para mim, é algo que motiva. Confesso que, às vezes, fico meio desanimado, mas um fato como esse me faz renovar a crença, a esperança de que o povo brasileiro encontrará seu caminho com determinação, com serenidade, com seriedade.

            Brasília está na iminência de escolher um Governador tampão. Sem brincadeira, Senador Mozarildo, se eu tivesse a possibilidade de fazer uma indicação, eu indicaria uma pessoa como essa, o dono desse estabelecimento, o Seu Gaspar. A pessoa que tem a decência de ter um comportamento como esse certamente teria a decência de gerir bem os recursos públicos. Seu Gaspar; D. Márcia, sua esposa; Daniel; Cristiano e Rafael, quero aqui, singelamente, render minhas homenagens a essas pessoas que, no íntimo, têm a decência e a integridade moral de compreender e reconhecer que aquilo que chega a suas mãos como um achado logicamente deve pertencer a alguém e logicamente deve ser devolvido a esse alguém.

            Portanto, nesta tarde, era apenas isso que eu queria dizer. Digo que é apenas isso, mas, ao contrário, do que alguns podem pensar, reputo isso como um fato extremamente importante, o ato da decência, o ato da honestidade, tão em falta em nosso País.

            Senador Mozarildo, com o maior prazer, concedo um aparte a V. Exª.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Geraldo, V. Exª faz muito bem em trazer à tribuna e enaltecer um gesto que, na verdade, a gente tem mesmo de enaltecer, porque não é mais rotina cumprir-se a obrigação de ser honesto. Mas é muito bonito realmente a gente ver que nem tudo está perdido. E V. Exª disse muito bem que a grande maioria do povo brasileiro - eu diria a esmagadora maioria do povo brasileiro - é honesta, apesar daqueles que descrêem, que dizem: “Não, o Brasil é desonesto desde quando foi descoberto, quando Pero Vaz de Caminha mandou a carta ao rei de Portugal pedindo um favor para um parente”. Cito também, a propósito, que Rui Barbosa disse, em 1914, que, de tanto ver triunfarem as nulidades e prosperar o poder na mão dos maus, o homem honesto chegava a ter vergonha de ser honesto. Esse gesto ocorre depois de vermos o Presidente atual consagrar, com o rótulo de “aloprados”, que todo o mundo repete, pessoas desonestas. Quer dizer, não é bem verdade que a pessoa seja ladra, desonesta, bandida: é aloprada. Vou até pesquisar a exata definição do termo “aloprado”, mas foi uma figuração que o Presidente usou para definir esses companheiros desonestos que ele tinha. Então, é importante que, também agora - daqui a pouco mais de 170 dias, o povo vai escolher Deputados Estaduais, Deputados Distritais, Governadores, Deputados Federais, Senadores, Presidente da República -, o povo leve em conta isso. Assim, por exemplo, existem pessoas na esfera administrativa e parlamentares desonestos que foram eleitos. Então, é bom que as pessoas, com tanta informação que existe hoje - a imprensa informa tanto quem são os desonestos -, façam essa limpeza. É preciso levar em conta atos dessa natureza, atos como o que V. Exª exemplificou agora na tribuna. Embora até fosse desnecessário, quero parabenizá-lo. V. Exª está justamente destacando que é importante, muito importante, a gente cumprir a obrigação de ser honesto.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - É verdade, Senador Mozarildo. Agradeço-lhe muito sua compreensão e seu aparte, que reforça mais ainda minha preocupação, bem como meu respeito e meu apreço por essas pessoas.

            Foi exatamente isso, Senador Mão Santa, que me atraiu hoje para a tribuna, para render uma sincera homenagem a pessoas de caráter, a pessoas honestas e sérias da nossa sociedade, como é o Seu Gaspar, a Dona Márcia, o Daniel, o Cristiano e o Rafael, que fazem a Arte Casa das Fechaduras e Ferragens, talvez por gestos como esse, manter-se no comércio de Brasília como um estabelecimento que merece todo o respeito da sociedade brasiliense.

            Muito obrigado, Senador Mão Santa.


Modelo1 5/19/248:23



Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/04/2010 - Página 13000