Discurso durante a 52ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à Francisco Cândido Xavier - Chico Xavier.

Autor
Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à Francisco Cândido Xavier - Chico Xavier.
Publicação
Publicação no DSF de 16/04/2010 - Página 14664
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, NASCIMENTO, LIDER, RELIGIÃO, CRISTÃO, ELOGIO, VIDA PUBLICA, ASSISTENCIA ESPIRITUAL.
  • ELOGIO, FILME NACIONAL, BIOGRAFIA, LIDER, RELIGIÃO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Presidente, Marconi Perillo, são tantas lideranças e autoridades, que eu pediria a permissão de saudar todos nas pessoas dos filhos de Chico Xavier, inspirado no Livro de Deus, que diz “A árvore boa dá bons frutos”.

            Encantadoras senhoras e meus senhores aqui no plenário e que nos assistem pelo sistema de comunicação, tenho minhas crenças. Deus é a primeira delas. Deus que é o amor; o amor que é Deus, e o amor que é o cimento da instituição família. Rui Barbosa está ali, Marconi, porque uma das mensagens dele - que nós temos de entender - é “A pátria é a família amplificada”.

            Acredito no estudo. O estudo nos leva à sabedoria, que vale mais que ouro e prata. E acredito no trabalho, porque Deus disse: “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. E Rui Barbosa: “A primazia é do trabalho e do trabalhador. Ele veio antes. Ele faz as riquezas”.

            Mas eu me confesso aqui e quero fazer minhas as palavras de um homem muito sábio, que estudou muito e que era tido como o mais sábio dos homens, que nos ensinou a humildade quando disse “Só sei que nada sei”; ele que era chamado para esclarecer todos os fenômenos da natureza e inspirar os homens: “Só sei que nada sei”.

            Isto foi antes de nosso Cristo, cerca de 500 anos antes. E ele, na sua inteligência privilegiada, tinha chegado à conclusão de que deveria ter um Deus, um Deus só. E isso desagradou a alguns que acreditavam em muitos deuses, e ele foi acusado de perverter a mocidade a quem ensinava isto, e foi condenado.

            Mas nós queremos dizer que nós estamos aqui e eu acredito em Deus e aprendi que Deus escreve certo por linhas tortas.

            Domingo passado, eu estava na minha Teresina, fui ao shopping e fui assistir o filme de Chico - eu com a minha Adalgisa, assistimos ao filme, um encanto de vida. Confesso que acredito no estudo. Estudei muito e muito na minha vida, mas estudei para ser um médico bom - um cirurgião bom - e fui muito bom. Eu sou da idade do Pelé: o Pelé fazendo gol e eu operando os pobres na Santa Casa de Misericórdia, e Roberto Carlos cantando. Somos da mesma geração.

            Quero dizer, então, que, depois, me envolvi na política - destinação.

            Isso é comum aos médicos. Bastaria citar Juscelino Kubitschek das Minas, como veio aqui o nosso homenageado e passou pelo Goiás do Marconi Perillo. E Juscelino, como eu, sorridente, médico, cirurgião, tem uma passagem na vida militar, eu também fui militar, de Santa Casa; ele foi prefeitinho, ele foi governador, ele foi cassado, bem daí, eu também fui; só não fui Presidente, mas se o Chico Xavier ajudar é capaz de eu ser.

            Marconi, vamos e venhamos, então o nome Francisco é o mesmo meu; esse é um nome cristão. Então nós somos cristãos e ele também, se a mãe botou é porque... Francisco, no meu entender, foi aquele que mais se aproximou de Cristo. Há mais de 800 anos levou a Igreja aos pobres, e Francisco disse: “Senhor, faça-me um instrumento de vossa paz: onde houver ódio que eu leve o amor; discórdia, a união; desespero, a esperança; erro, a verdade; dúvida, a fé. Leva-os à luz”. Eu fui cassado porque eu levei luz. Eu fiz um programa Luz Santa, depois me cassaram. Outra que eu não cortava a água dos pobres. Não cortei mesmo, não, Marconi. 

            Se está no livro de Deus: “Dê de beber a quem tem sede”, eu ia mandar cortar a água dos pobres? Que fui eu que criei. É, Marconi, você já fez muita coisa! O primeiro restaurante popular neste Brasil, eu criei. Era o Sopa na Mão -mão, Mão Santa, e que eu dava remédio para os pobres.

            Eu até simpatizo com o Luiz Inácio, com o Lula, porque ele deu muito mais, não é? Não dizem aí? O Serra pode mais, mas ele deu mais, não deu? E não cassaram. Vou dizer como cheguei aqui: foi só isso. Você sabe como é a política, a inveja e a mágoa correndo.

            E por que tenho o meu respeito? Estudei muito Medicina, muito cirurgia. Eu sou um dos melhores cirurgiões que este País já teve. (Palmas)

            Tive todos os cursos de cirurgia. Estou dizendo e os médicos estão vendo - sou discípulo de Mariano de Andrade. Basta isso para ter o respeito de todos. Sou discípulo do professor Mariano de Andrade, do hospital universitário.

            Então, quero dizer das minhas crenças. Tinha um cirurgião que me orientava, Ambroise Parret. Uma das frases que eu tinha em mente, Marconi, era a que ele dizia: “Eu os trato; Deus os cura”. Quando eu fazia a minha operação na Santa Casa da minha cidade eu lembrava: “Deus os cura”.

            Mas estudei política, porque passei, como natural - muitos médicos, citei Juscelino - para subsistir. Nunca fiz um título, nunca comprei um voto; me tiraram do Governo e vim com mais votos para cá. E passei a estudar política, muito, muito; administração. Eu acredito muito no estudo. Está vendo Marconi?

            No momento de crise, eu e o Marconi fomos muito importantes. Eu dei muita força para ele. Aqui houve um mar Vermelho, e nós o atravessamos. E eu era o Cirineu do Marconi. “É você. Você é novo e não pode desmoronar”. Vi no livro de Deus: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” E hoje, no Senado, há respeitabilidade, porque todo mundo sabe que é a instituição que garantiu a democracia Se não fôssemos nós, já era, como foi em Cuba, como foi na Venezuela, como foi na Bolívia, como foi no Equador, como foi no Araguaia do Padre Antônio e por aí afora. Nós que seguramos! Vocês vão votar. E nós, não é Marconi? Foi difícil!

            Mas o que eu queria dizer é o seguinte: eu respeito muito quem entende. Eu não sei, eu não tive tempo de me dedicar a Alan Kardec. Confesso a minha ignorância. Sei que nada sei. Não me debrucei a estudar sobre espiritismo. Sou franco. Sei muito superficialmente, mas tenho um respeito muito grande. Já é alguma coisa. Acho que, por exemplo, no casamento, sou muito feliz no casamento, o que é mais importante? Outro dia me chamaram para falar na igreja. Eu digo: respeito. Então, eu respeito muito aqueles que se dedicam e estudam, porque eu conheci gente muito, muito boa.

            Na minha cidade, tinha um Carlos e um Bento Gurjão. Era, assim, uma espécie de capela, eu era menino e vi. E quero contar um fato aqui que me dá esse respeito muito grande. Eles eram assim, pessoas de respeito mesmo, têm filhos médicos que foram para a Bahia. A minha cidade está ouvindo, Carlos Gurjão e Bento Gurjão.

            Marconi, um dia eu chego - a minha família era industrial - lá na fábrica, onde eu tinha um emprego que médico chama de bico e estava lá para receber um dinheirinho. Médico é assim: sai somando o que a gente chama bico. Eu estava lá e os meus parentes, os meus primos, donos da firma, pediram para eu ir até lá. Eu ainda não era Mão Santa, não, chamavam-me de Dr. Francisco: E eu: “Não, estou bem atendido, eu quero é o dinheirinho aqui”. Parente deles, mas não queria importuná-los, eles eram empresários grandes. Mas exigiram. Aí eu fui.

            Na minha cidade, houve um caso: uma senhora foi operada às 5 horas da tarde, foi reoperada às 11 da noite e tal. Era filha de um cônsul que era provedor da Santa Casa. E a noite toda, tal e tal, ficou sem pressão, tal e tal; houve o alarme. Era o diretor da Santa Casa. Mas essas situações são difíceis, o sujeito chegar e se meter com o doente dos outros. Mas lá pelas tantas me convenceram de que eu devia vê-la - médico novo, chegado do Rio de Janeiro. Botei na sala. Mas a confusão era simples, isso acontece com todo mundo, era uma hemorragia interna.

            Mas o importante foi o seguinte: eles insistiram. Eu digo: “Não, já estou bem atendido, eles vão me pagar.”

            Aí, eu cheguei na Diretoria, Marconi: “Que hora você operou?” Eu não vou dizer o nome, porque a minha cidade sabe, a moça tal. Eu digo: “Rapaz, eu não sei de hora, mas não sou de acordar cedo não”. Este negócio o Rui Barbosa que disse, que quem cedo madruga Deus ajuda. Eu digo que passo o dia todo é com sono. Não acordo cedo não. Estudo, preparo, e chegada a hora... Chego tarde no hospital, mas já estudado o que vou fazer. Então, eu não quis ir, porque a paciente era de outro médico. É delicado esse negócio. Mas, afinal, eu entrei e tal, digo: “Não, tenho que voltar de novo para a sala”. O outro era amigo. Aí, eu disse assim: “Rapaz, era mais de meio-dia, disse que terminou duas horas, mas foi cinco para a cirurgia”. Aí, juntou tudo, olhou assim estarrecido: “Não, era, eu não acordo cedo de jeito nenhum e tal. Fui ver os doentes, o anestesista estava cansado, era o mesmo que tinha passado a noite. Eu não posso ter condições de operar hoje.” Aí fui ver meus doentes, lá perto de meio-dia. Aí, eles olharam assim estarrecidos, e eu falei: “Não, cirurgia só, pode ter uma infecção, porque foi aberto três vezes”. “Que hora que você operou?” Eu digo: “Rapaz, lá para meio-dia. Eu não estava com relógio não”. Passou aqui às 7h da manhã o Sr. Carlos Gurjão e disse que a mulher não ia morrer não. Olha aí, como eu fico na minha, esperando. “Que hora?” Eu digo: “Não, eu não chego nunca às 7h no hospital; não há possibilidade.” Eu acho que dava para trabalhar é com o Serra. Dizem que ele começa tarde o dia. Aí, virou um para o outro estarrecido, olhando. “Que hora?” Passou aqui o Sr. Carlos Gurjão e disse que ela não ia morrer não. Ia entrar o Durvalino Couto, um cirurgião, não sei o quê. Eu só estou contando, porque tenho um respeito doido. Eu sei que o horário... e ele era uma pessoa, como há muitas, que todos nós conhecemos que têm esse poder. Não é?

            Mas eu queria dizer o seguinte, já que nós falamos no Francisco, Paulo disse: fé, esperança e caridade. Isso foi o que fez o nosso Xavier. Ele viveu isto, de Francisco e Paulo: a caridade.

            Gurjão, Sócrates já foi, e a minha oração.

            Quero dizer o seguinte: a minha mãe era Terceira Franciscana. Eu sempre digo que eu não sou Mão Santa, mas sou filho de mãe santa. Terceira Franciscana, e o pai dela era o mais rico do Piauí. Ele pegou a indústria e levou para o Rio de Janeiro. Eu vi. O sabão Copa, a gordura era Moraes du Norte e ganhou da gordura Coco Carioca. Mas ela, com isso, eu estou dizendo isso, que parece ridículo, ela foi ser Terceira Franciscana. Terceira Franciscana é uma ordem da pobreza. Eu vi minha mãe...

            Então, ela dizia, e no colo dela eu aprendi: a caridade para ser boa começa com os de casa. Isso eu lembro até para o nosso Presidente Luiz Inácio. Eu sei que a mãe dele era muito boa, mas a minha também. Ensinou-me isso, intelectual. A caridade para ser boa começa com os de casa. Nosso Presidente sai aí, é muito bonito, dando dinheiro na África, na Ásia, e os nossos velhinhos aposentados estão morrendo aqui, com um salário minguado. Isso é para lembrar. Esta é a Casa da reflexão. Começa com os de casa - isso eu aprendi no colo de minha santa mãe.

            E queria dizer hoje o que eu rezo. Eu vi, Marconi, que felicidade, o Pai Nosso. Cristo, o grande orador: em um minuto, fez o Pai Nosso, 56 palavras. Cada vez que balbuciamos, nos transportamos desta terra aos céus. Ele não tinha este som, esta televisão em que estou falando, Ele subia às montanhas e dizia: “Bem-aventurados os mansos e os humildes, bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, pois serão saciados. Bem-aventurados os perseguidos da Justiça, pois terão o Reino de Deus”.

            Mas quero dizer o seguinte: as orações são muitas. Eu tinha a minha. Meu nome é Francisco, estudei em colégio de padre, Marista. Sei um bocado dessas orações.

            Marconi, atentai bem para isto: aí me cassaram, eu fui convidado para a Igreja Primavera, uma igreja humilde do Piauí. Eu estava rezando, para não perder a fé, o espírito - está ouvindo, Marconi? Aí chega uma senhora bem forte. Tinham me tirado do Governo. Eu estava rezando, e ela bateu assim: “Governador” - eu não era mais não, já tinham me tirado do Governo -, “Governador, você não sabe rezar”. Eu tomei um espanto: uma senhora, de óculos, me bateu, dizendo que se reza assim: “Divino Espírito Santo, providenciai; Divino Espírito Santo, providenciai; Divino Espírito Santo, providenciai”. “Você não sabe o quer. Quem sabe é o Espírito Santo.” Eu passei a mudar a minha reza. Quando eu vi, Ele providenciou, e eu sou Senador. Quando eu vi, eu estou ali secretariando o Marconi. Essa é a reza que eu digo.

            Sim, mas eu tenho um amigo, o Dr. Valdir Aragão Oliveira, que é desses médicos da minha idade que se dedicou. Eu não me dediquei. Confesso a minha ignorância. Pode ser que, de agora em diante, eu me dedique; eu assisti ao filme. Ele acredita e contou isso para uma tia minha, que é bem velhinha, irmã da minha mãe. E ela disse assim: “Isso foi a Janete” - Janete é a minha mãe. Toda vez eu vou a essa igreja agora, no mesmo horário, procuro e não vejo mais aquela pessoa que bateu nos meus ombros. Eu tenho um profundo respeito.

            E quanto ao nosso homenageado, Chico Xavier? Eu vi o filme. É a paz, é a humildade que une os homens. É a caridade.

            Eu queria dizer o seguinte: esse negócio de psicografia... Nós que somos cristãos, nós que somos aqui, ô Marconi, atentai bem, nós que somos da lei, nós que temos que fazer leis boas e justas... O primeiro que psicografou em pedra foi Moisés. Aquele foi. Ele não disse que ouviu a voz de Deus, escreveu ali e fez as tábuas da lei? Então Moisés, que era hebreu, porque libertou, não era mais do que o nosso filho do Brasil, Francisco Xavier, de Minas. Então, eu acredito nisso. Nós não acreditamos nas leis de Deus e dizemos aqui todo dia que as leis devem ser boas e justas como a lei de Deus?

            Então, essas são as minhas crenças, e acho que o Senado vive um grande momento de reflexão.

            E queria prestar minha homenagem final a essa mulher extraordinária. Eu fiquei nessa Mesa aí pelo seguinte, porque tem uma mulher; é a Deputada Raquel Teixeira.

            Eu tenho muito medo de mesa onde se sentam só homens, porque Jesus nos ensinou. O “senadinho” dele só tinha homem, não é? Eram Ele e doze que Ele escolheu. Deu no que deu. Os homens todos fraquejaram. Banquetearam-se com Ele, tomaram vinho, discursaram e, na hora do pega, não apareceu nenhum homem. Apareceram foram as mulheres. Adalgizinha de Pilates dizendo: “Não faça isso, o homem é bom”. E ele foi frouxo. A Verônica enxugando o rosto. As três Marias. E lá na sepultura também, nós acreditamos, foi mulher.

            Então, eu, para terminar isso, queria homenagear esta Deputada Raquel Teixeira, extraordinária mulher que simboliza essa história de bravura, de lealdade, de força da mulher, muito mais com ela. E árvore boa dá bons frutos. Ela nasceu do amor do nosso Clóvis Alessandri e Maria Antonieta. Então, a nossa homenagem, que representa aí a família, como herança sagrada. (Palmas.)

            Eu termino querendo dizer aqui que a primeira coisa é sermos curiosos, e eu estou curioso para me aprofundar na vida de Francisco Xavier, que eu tenho certeza de que ele será luz para minha vida, do Piauí e do Brasil. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/04/2010 - Página 14664