Discurso durante a 54ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a Brasília pelos seus 50 anos de fundação e também aos povos indígenas, pelo Dia do Índio, comemorado hoje.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Brasília pelos seus 50 anos de fundação e também aos povos indígenas, pelo Dia do Índio, comemorado hoje.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2010 - Página 15085
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), DEPOIMENTO, CHEGADA, ORADOR, INICIO, NOVA CAPITAL, MOTIVO, ELEIÇÃO, PAI, DEPUTADO FEDERAL, PARTICIPAÇÃO, MOVIMENTO ESTUDANTIL, OPOSIÇÃO, DITADURA, REGIME MILITAR, ENQUADRAMENTO, LEI DE SEGURANÇA NACIONAL, EXPULSÃO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), CONTINUAÇÃO, VINCULAÇÃO, ELOGIO, DESENVOLVIMENTO, CAPITAL FEDERAL, CRESCIMENTO, POPULAÇÃO, FRUSTRAÇÃO, CRISE, CORRUPÇÃO, ATUALIDADE, GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL (GDF), EXPECTATIVA, OPORTUNIDADE, APERFEIÇOAMENTO, INSTITUIÇÃO PUBLICA.
  • HOMENAGEM, DIA, INDIO, COMENTARIO, TRABALHO, PAI, ORADOR, GERALDO MESQUITA, EX GOVERNADOR, LEVANTAMENTO DE DADOS, GRUPO ETNICO, ESTADO DO ACRE (AC), IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO.
  • QUALIDADE, TORCEDOR, SAUDAÇÃO, VITORIA, TIME, FUTEBOL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CAMPEONATO REGIONAL.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, eu queria ter um coração grandão assim como o de V. Exª: generoso para com os seus colegas.

            Sr. Presidente, Senador Mão Santa, eu assumo a tribuna, hoje, para comemorar três fatos distintos. O primeiro é sobre o aniversário de Brasília, os seus 50 anos. Aí está a população de Brasília comemorando meio constrangida e eu me considero um acreano brasiliense.

            Eu já contei esta história e vou repeti-la. Cheguei a Brasília no final de 1961, que tinha acabado de ser inaugurada. Meu pai, em seguida, elegeu-se Deputado Federal, veio para cá por dois mandatos; depois, elegeu-se Senador. Enquanto estive aqui, estudei nos colégios públicos de Brasília: no Caseb, na época era o ginásio; fiz o ginásio no Caseb; depois ingressei no Centro de Ensino Médio da Universidade de Brasília, o chamado Ciem. Alguns dos nossos colegas aqui frequentaram essa escola, porque tinham pais que também eram parlamentares e tal.

            Como jovem de coração, naquela época, Senador Mão Santa, envolvi-me com o movimento estudantil. Foi um momento muito difícil para os estudantes, para os trabalhadores, para o povo brasileiro, enfim. No enfrentamento à ditadura militar, cheguei a ser preso, fui condenado pela Lei de Segurança Nacional - V. Exª não sabe disso -, evadi-me de Brasília e fui cumprir tarefa da organização a que pertencia na época.

            Estive em São Paulo, estive no Rio. A minha organização pregava a ida dos seus militantes para as fábricas e, para isso, precisei me qualificar. Fiz um curso de torneiro mecânico no Senai, atuei alguns anos como torneiro mecânico em fábricas no Rio, isso tudo resultado da minha estada em Brasília, Senador Mão Santa. Indo ao Acre, voltando a Brasília, essas duas paixões da minha vida em termos de cidades, em termos de Estados. Portanto, sou uma testemunha ocular viva do que se passou, pelo menos de minha parte, nesses 49 anos de Brasília, porque tive, intensamente, idas e vindas de Brasília ao Acre, do Acre a Brasília, períodos lá, períodos aqui, enfim, acompanhei todo o processo histórico desta cidade que hoje é Capital do País; o encontro de todo o País aqui.

            Brasília, hoje, tem uma população grande, gente que malha, que dá duro, que trabalha, Senador Mão Santa. É uma Brasília viva que o Brasil precisa conhecer, tomar conhecimento. Tenho acompanhado, nos noticiários da televisão brasileira, nos jornais, matérias que resgatam a história da população de Brasília, de como ela se constituiu, da aventura que foi imaginar construir-se uma capital em pleno Planalto Central pelos pioneiros, pelos candangos.

            Tenho uma lembrança muito agradável, Senador Mão Santa. Não fossem as turbulências daquela época - e até elas -, a gente agasalha no coração, de forma também muito carinhosa, um período em que despertei a consciência do que deve ser um país, do que deve ser o destino de um povo.

            Naquela época, Senador Mão Santa, não cabia ficarmos alheios ao que se passava. Na verdade, tínhamos de exercitar uma opção muito clara: ou apoiávamos um regime discricionário, ditatorial, que perseguiu, que conflagrou a população brasileira, ou nos colocávamos contra isso tudo. E a minha opção foi essa. Desde novo, aprendemos, aqui em Brasília, a exercer o direito de ter opinião, enfim, o convívio com aquelas pessoas tão adoráveis que eu tive no período em que passei aqui, um período grande. Não vou citar nome nenhum, mas tive colegas desde o ginásio até a Universidade de Brasília, de onde fui expulso.

            O Governo militar - e o Senador Marco Maciel lembra disso - editou dois atos entre muitos atos truculentos. Um foi o AI-5, que puniu Parlamentares, trabalhadores; o outro foi o Decreto nº 477, Senador Mão Santa, que a gente chamava de AI-5 dos estudantes. Fui expulso da Universidade de Brasília na primeira penada do então Ministro da Educação, no rol de mais de 30 estudantes da Universidade de Brasília acusados de subversão. Se a insurgência contra aquilo tudo significava subversão, eu era, de fato, um subversivo, Senador Mão Santa. Assumo essa condição com indisfarçável orgulho, inclusive.

            Portanto, o que quero dizer, afinal, é que lastimo muito o que se passou ultimamente aqui em Brasília. Isto é inevitável: empanou os festejos dos 50 anos desta bela Capital. Mas já dizia um grande filósofo, Senador Mão Santa - V. Exª, que gosta de repetir os filósofos aqui nesta Casa - que a crise é a parteira da história.

            Acredito que a população de Brasília tem e terá sempre, em suas mãos, a possibilidade de imprimir um ritmo mais forte na tarefa de aperfeiçoarmos o sistema político, aperfeiçoarmos as instituições públicas, no sentido de elas existirem e funcionarem para servir à população de fato e significarem sempre motivo de orgulho e satisfação para a população.

            Portanto, aqui, de forma solitária, eu quero abraçar toda a população de Brasília, homens e mulheres, jovens, crianças, idosos, com história longa ou recém-chegados a Brasília. Nós devemos, de fato, festejar, independentemente de toda esta lambuzada ocorrida na nossa bela Capital. Parabéns a Brasília, parabéns aos habitantes de Brasília, povo honesto, trabalhador!

            Eu sou testemunha ocular da história. Dos 50 anos, por 49 anos pelo menos, eu acompanho o desenrolar dos fatos históricos nesta Capital e tenho a satisfação de ter convivido, durante tanto tempo, com tanta gente preciosa, eu diria. Parabéns a Brasília!

            Senador Mão Santa, outro fato que me traz à tribuna hoje e que devemos, de fato, festejar é o Dia do Índio.

            Senador Mão Santa, meu pai foi Governador do Estado, do meu querido Acre. Quando ele assumiu o Governo, algumas pessoas diziam a ele: “Governador, o Acre não tem índio”. Ele dizia: “Mas como não tem índio? Fui menino criado com um índio dentro de casa, no interior do Acre”. Meu pai faleceu em setembro do ano passado, com 90 anos de idade. Na sua infância, o Acre era área de grande e intensa produção de borracha. A ocupação dos seringais, por vezes, deu-se de forma pacífica, mas, por vezes, deu-se, também, com truculência, com violência por parte de alguns. Invariavelmente, os índios foram vítimas também desse processo. Havia as chamadas correrias dentro da mata. O resultado de uma dessas correrias, Senador Mão Santa, é que meus avós paternos, o velho Henrique e minha avó Maria Mesquita, acolheram, no seio da família, um indiozinho. Deram a ele o nome de Joaquim. Ele conviveu com o meu pai, era irmão de criação, durante algum tempo. Depois, tomou outro rumo e veio a falecer muito precocemente. Mas meu pai dizia: “Como o Acre não tem índios se fui criado com um índio?”.

            No seu Governo, ele iniciou o trabalho de mapeamento das etnias, que são muitas lá, no meu Estado. Valeu-se de pessoas da área, antropólogos, de pessoas da Funai. E, hoje, no nosso Estado, nós temos essas etnias definidas, reconhecidas. E espero que o povo acreano reverencie os seus índios por muitos e muitos tempos. A eles nós devemos a origem de tudo, Senador Mão Santa. Eu acho que é justo homenagearmos as comunidades indígenas de todo o País. Qual é o Estado nosso que não tem uma etnia indígena? O seu tem. O do Senador Marco Maciel tem. O do Senador Álvaro Dias também. Roraima. Hoje, Senador Augusto Botelho, seu Presidente está lá, em Roraima. Acho que ele escolheu uma péssima hora para ir lá, porque ele não foi feliz em Roraima, nem com os índios, nem com os arrozeiros. Eu, de fato, não sei bem o que ele foi fazer por lá. Mas é uma opção dele, a agenda é dele, não é minha, não me diz respeito. Espero que tudo corra bem por lá, que esteja correndo bem. Portanto, Senador Mão Santa, o segundo fato que me traz hoje à tribuna é prestar esta homenagem modesta, mas sincera e honesta aos índios do nosso País.

            E há um terceiro fato que me traz à tribuna também, Senador Mão Santa. Peço permissão à Casa... O povo brasileiro elegeu aquilo que ele gosta muito: carnaval, futebol. O povo brasileiro gosta muito de política também, mas, preferencialmente, de futebol e carnaval.

            Senador Mão Santa, eu menino, de 4 a 5 anos, uma das imagens que eu tenho, assim, mais nítidas no meu coração, na minha cabeça, era a de um mastro com uma bandeira do Botafogo que meu pai guardava atrás da porta do quarto dele, numa casinha pequena, modesta que tínhamos lá em Rio Branco. Eu menino, mixuruquinha, como se diz, Senador Marco Maciel, eu olhava aquilo ali como se fosse um totem, uma coisa para ser reverenciada. Eu tinha medo até de mover o mastro, do meu tamanho. O mastro parecia uma coisa fantástica. Eu tinha medo de ele cair por cima de mim. Passei muito tempo apenas apreciando, abria a porta, ficava ali, olhando.

            Portanto, preciso dizer - e essa expressão é real: eu sou botafoguense desde criancinha mesmo. Desde criancinha.

            O Sr. Marco Maciel (DEM - PE) - Nobre Senador Geraldo Mesquita Júnior, V. Exª me permite um breve aparte?

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Com certeza.

            O Sr. Marco Maciel (DEM - PE. Com revisão do aparteante.) - Eu gostaria, antes de mais nada, de dizer que não sou botafoguense, sou tricolor. Sou Santa Cruz em Pernambuco, fluminense no Rio de Janeiro e são paulino em São Paulo. Mas devo dizer que V. Exª, com muita oportunidade, lembra a passagem do Dia do Índio, que é, de alguma forma, uma etnia que não podemos deixar de ter sempre presente. O Brasil é um país de grande extensão territorial e uma grande diversidade étnica. Portanto, não podemos estar desatentos a essa realidade social brasileira. Acredito que o grande empenho que os governos devem ter é no sentido de fazer com que os índios se sintam plenamente realizados em nosso País. É lógico que muitas políticas já foram deflagradas, umas exitosas, outras não, mas não podemos deixar de reconhecer que os índios são uma parcela da população que concorre, nos seus diferentes afazeres, para a integração nacional, para o desenvolvimento do País e que se mantenha unido, como vem ocorrendo ao longo da história. Sob esse aspecto, não esqueço nunca de dar meu reconhecimento a José Bonifácio pelo fato de, no Império ainda, ter a grande preocupação em manter a integridade territorial do País. E não foram poucas as sublevações havidas no Império. Até perto de 1870, com a Guerra do Paraguai, tivemos várias sublevações regionais. Conseguimos manter a unidade territorial do País. Se compararmos isso com alguns dos nossos vizinhos sul-americanos, vamos verificar que eles não tiveram igual sorte. Estamos nos preparando para celebrar, em 2022, os 200 anos da nossa independência. Será ocasião para que celebrarmos tão significativa data com a convicção de que avançamos no sentido de dar ao índio a plena cidadania. E assim fazendo, vamos dar excelente exemplo ao mundo dessa grande integração étnica, desse grande patrimônio cultural que os índios representam e, de alguma forma, vocalizam em nossa convivência, em nossas atividades. Portanto, cumprimento V. Exª pelo fato de não deixar passar sem o registro o Dia do Índio. Congratulo-me com V. Exª e espero que suas palavras sejam adequadamente acolhidas.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Muito obrigado, Senador Marco Maciel. Muito obrigado de coração.

            Portanto, além de festejar Brasília, além de festejar os índios do nosso País, eu peço permissão à Casa, peço permissão aos ouvintes da Rádio e TV Senado para festejar o campeonato levantado pelo meu querido Botafogo.

            Senador falando de futebol, por que não? O povo brasileiro é apaixonado por futebol. Quando estou em Brasília - raramente estamos em Brasília nos finais de semana, Senador Marco Maciel -, eu costumo ir com meu filho, que é mais fanático ainda, Geraldo Neto, no Só Drink’s, um bar ali na Asa Norte, Senador Arthur Virgílio, do Newton, que é um botafoguense doente, e a galera botafoguense se reúne ali, às vezes sofridamente, às vezes com muita alegria, como foi ontem. Infelizmente, eu não estava aqui.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - V. Exª é Botafogo?

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Desde criancinha, eu dizia.

            O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Era o time do meu pai. Eu estou muito orgulhoso, porque eu sou Flamengo, e o Botafogo está muito feliz e deve isso a nós.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Arthur, aqui eu devo render minhas homenagens tanto ao Flamengo como à torcida flamenguista. Minha mulher é flamenguista. Para V. Exª entender como se passam as coisas em minha casa, minha mulher é flamenguista, mas temos um convívio extraordinário. Eu tenho muito respeito, tanto pelo Flamengo, um time aguerrido, como por sua torcida, tida como a maior torcida deste País.

            Mas, olhem, a gente não pode deixar aqui de festejar um fato como este. O Rio hoje amanheceu preto e branco. E a torcida botafoguense também amanheceu preta e branca, mas de um colorido de alegria. É um preto e branco colorido de alegria, Senador Mão Santa. Minha satisfação, minha alegria é tamanha que me atrevi a vir a esta tribuna e render esta homenagem a um time que foi aguerrido. Leandro Guerreiro, que, de fato, é um guerreiro do nosso time, disse: “É como se eu tivesse tirado três caminhões de minhas costas”. Porque ele participou, nestes últimos três anos, de tentativas infrutíferas de vencer exatamente o Flamengo em uma final. Por fim, ele participando do jogo, com a bravura que lhe é peculiar, juntamente com os demais jogadores, nós conseguimos vencer nosso principal adversário, o Flamengo. Parabéns ao Flamengo por sua bravura, mas este ano não deu. Para alegria da nação botafoguense, somos campeões! Portanto, minhas felicitações a toda a nação botafoguense!

            Essa minha ligação com o Botafogo do Rio - já relatei aqui - é histórica. O Acre, Senador Marco Maciel, tinha, durante praticamente toda a sua existência, mais ligação cultural com o Rio do que com o restante da Amazônia inclusive, como deveria ser natural. Portanto, temos grandes torcidas dos times do Rio no Acre. Particularmente no Acre, sou Rio Branco, rio-branquense, time do coração, até porque o estádio do Rio Branco ficava a poucos metros da minha casa em Rio Branco. Menino ainda, costumava jogar pelada no campo e me afeiçoei também ao Rio Branco. Então, os times do coração: Rio Branco e Botafogo.

            Parabéns ao meu querido Botafogo, parabéns à torcida botafoguense, que ontem mostrou bravura, juntamente com o nosso time.

            E é isto Senador Mão Santa: os índios brasileiros, Brasília e Botafogo. Hoje vim a esta tribuna festejar esses três fatos. Muito obrigado pela oportunidade.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2010 - Página 15085