Discurso durante a 56ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Retrospectiva da história do descobrimento do Brasil, na celebração, hoje, do quinhentésimo décimo aniversário da sua descoberta. (como Líder)

Autor
Mão Santa (PSC - Partido Social Cristão/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Retrospectiva da história do descobrimento do Brasil, na celebração, hoje, do quinhentésimo décimo aniversário da sua descoberta. (como Líder)
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/2010 - Página 15975
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), DIA NACIONAL, VULTO HISTORICO, LUTA, INDEPENDENCIA, ANIVERSARIO DE MORTE, TANCREDO NEVES, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, DESCOBERTA, BRASIL, ELOGIO, BRAVURA, NAVEGAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, PORTUGAL, REGISTRO, HISTORIA, COLONIZAÇÃO, EVOLUÇÃO, IMPERIO, ESPECIFICAÇÃO, CHEGADA, CORTE, IMPERADOR, INDEPENDENCIA, PROCLAMAÇÃO, REPUBLICA, APERFEIÇOAMENTO, INSTITUIÇÃO DEMOCRATICA, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, LEGISLATIVO, SENADO.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DECLARAÇÃO, ALEGAÇÕES, PIONEIRO, PROMOÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL, RECONHECIMENTO, ORADOR, IMPORTANCIA, POLITICA, VALORIZAÇÃO, SALARIO MINIMO, REPUDIO, PRIORIDADE, FAVORECIMENTO, BANCOS.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

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            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mozarildo, que preside esta reunião de 22 de abril, Parlamentares na Casa, brasileiras e brasileiros aqui, no Parlamento, e os que nos assistem pelo fabuloso sistema de comunicação do Senado da República, Eduardo Azeredo, ontem o dia foi todo mineiro; 21 de abril lembra Tiradentes; lembra Tancredo, que se imolou, morreu; e Juscelino, que criou esta Capital, mas com o auxílio dos piauienses. Há 300 mil piauienses aqui, residindo em Brasília, que ajudam fazê-la importante como é, e nós somos a segunda colônia - a primeira é dos mineiros, Juscelino e Israel Pinheiro -, nós, piauienses.

            O Professor Cristovam sabe tudo ou quase tudo. Hoje é dia 22 de abril. Então, ontem, foi muito mineiro; hoje, é muito importante - está ouvindo, Eduardo Suplicy? E por que chamo atenção para isso? Senador tem que ser pai da Pátria.

            Ô Mozarildo, entristece-me muito o nosso Presidente, o Luiz Inácio, gente boa, quando diz: “Nunca antes, nunca antes, nunca antes...”, como se o Brasil tivesse sido descoberto em 2003, quando ele assumiu a Presidência da República. Então, é meu dever, Eduardo, já que Senador tem de ser o pai da Pátria, mostrar a nossa História - um quadro vale por 10 mil palavras. Vinte e dois de abril de 1500. Hoje faz 510 anos! Então, nosso Presidente tinha tudo para ser humilde; ele veio lá de Pernambuco, não é? Enfrentou seca, foi um vitorioso, trabalhou, criou sindicato. Foi o maior líder sindicalista deste País; depois, fundou um partido, disputou muitas eleições e se tornou Presidente da República. Mas o Senado é para isso! Na democracia são três os Poderes, deve ser assim: um olhando para o outro, um freando o outro. Equipotentes. Então, neste instante, eu quero dar - o Suplicy, uma vez, puxou o vermelho - um amarelo - não vou dar o cartão vermelho -, pelo menos, a Luiz Inácio, para acabar com esse negócio: “Nunca antes...”.

            Vinte e dois de abril de 1500! No dia 21, avistaram um negócio... No dia 22 de abril de 1500, há 510 anos... E, aí, há controvérsias. Uns dizem que foi por acaso. Mas os portugueses não são burros não, e são gente boa. Aquele negócio...

            Juscelino Kubitschek foi exilado daqui, cassado, tiraram-no da República. E ele tem umas memórias sobre Portugal. Ele diz o seguinte: que o último povo bondoso, generoso do mundo são os portugueses, gente boa.

            Então, lá não dizem que foi como se diz aqui: por acaso. Eles dizem que fizeram muitas descobertas. Camões disserta sobre a bravura dos portugueses nos descobrimentos, na navegação. Há uma corrente deles que diz que eles vinham mesmo para cá, que não iam para a Índia, não. Mas isso é discussão. O fato é que eles chegaram aqui. E o nosso Luiz Inácio diz: “Nunca antes...” Esse antes foi grande.

            Eles entraram, todos sabem, com Pedro Álvares Cabral. Deram presentes para os índios, fizeram amizade. Cravaram uma cruz. Pensaram que era ilha, mas depois viram que era terra demais. Não era a Ilha de Vera Cruz. Seria a Terra de Santa Cruz. Não viram logo muitos minérios, mas o primeiro que escreveu disse que era uma terra boa em que plantando tudo dava.

            O fato é que o Governo português - evidentemente a Índia já era mais antiga e tinha fontes de riqueza mais conhecidas - não fez assim como Luiz Inácio. Já em 1530, 1535, eles pensaram em administrar isso, aí deram um bocado de terra para uns capitães da Marinha portuguesa que desbravavam o mundo. Eles davam de 50 a 100 léguas de terras no litoral. Daí o termo capitania, porque a maioria era capitão. Mas eles deram também muitas terras para gente que não era boa, que era da aristocracia de Lisboa, de Portugal, mas que tinha um crime qualquer, então, eram mandados para o Brasil e aqui recebiam outras terras que foram chamadas sesmarias. E veio muita gente.

            Entre as capitanias criadas, prosperou uma de São Vicente, que é São Paulo, e uma de Pernambuco. Das outras, muitos nem chegaram a tomar posse: ou perderam-se, ou foram para outras terras, ou afogaram-se no meio do caminho. Mas o fato é que foi uma maneira de tomar posse dessas capitanias. A maioria era capitães da navegação, desbravadores. Então, eles começaram a trazer a cultura da Europa para cá.

            Mas era muito dividida, e o Governo português na Europa tinha noções administrativas, viu que não ia bem, que estava muito descentralizado, aí, mandou para cá os Governadores-Gerais, em 1545, depois da experiência de capitães, que não eram qualquer um, não. Tinha gente muito boa. Tanto que São Paulo progrediu; em Pernambuco, plantaram açúcar ainda em 1530. Quer dizer, tem muita história. Então, tinha de ter uma unidade de comando, e mandaram os Governadores-Gerais, pessoas altamente qualificadas no mundo burocrático de Portugal. Tomé de Sousa, Duarte da Costa, pessoas qualificadas que administraram este País. Já existia Câmara nesse tempo. Eles dividiam as finanças. Tinha a arte, os que cuidavam de julgamentos.

            E o grande passo - evidentemente, todo mundo sabe que o progresso era mais lento - foi dado quando Napoleão Bonaparte, tentando conquistar o mundo, invadiu a Espanha e Portugal. Então, D. João VI... Aí foi o redescobrimento, mas houve muito coisa antes: o trabalho desses Governadores-Gerais, três ilustrados para a época, que foram administrados e tiveram suas dificuldades. Mas D. João VI não era o bobo que dizem não; era sabido, inteligente. Então, quando ele viu que o Napoleão Bonaparte ia invadir Portugal e que a Inglaterra não gostava do francês, do Napoleão Bonaparte, ele pegou dinheiro - aí começa a nossa dívida - da armada inglesa e veio para cá. Dom João VI. Esses reis eram preparados.

            Então, de 1808 até 1821, quando ele saiu, quer dizer, durante 13 anos, houve um grande avanço. Dom João VI governou mais do que o Luiz Inácio. O Luiz Inácio está há sete anos, não é? Pois o Dom João VI era sábio, transferiu o governo de Portugal para cá e trouxe o melhor dos burocratas. Ele transferiu a máquina administrativa de Portugal para cá, porque a França, o Napoleão, invadiria Portugal. Ele, amparado, com dinheiro, pela Marinha inglesa, que era grande, ficou aqui.

            Criou logo, de uma lapada, a Faculdade de Medicina de Salvador. As primeiras faculdades: Salvador; depois, foi para o Rio de Janeiro; arte; cultura. Esses princípios administrativos, burocráticos que nós temos, todos foram implantados por Dom João VI.

            Realmente, foi uma evolução grande. A primeira Faculdade de Medicina já foi ele, lá em Salvador, em 1808. Voltou para Portugal e deixou o seu filho aqui. Quer dizer, nós tivemos três Governadores-Gerais, D. João VI por 13 anos e D. Pedro I, que cumpriu a parte dele: fez a independência. Cada um vai fazendo a sua parte. “O homem é o homem e suas circunstâncias”, Ortega y Gasset.

            Naquela época, D. João VI trouxe um grande avanço cultural. Trouxe artistas, intelectuais, imprensa. Houve um avanço enorme nos treze anos de governo de D. João VI.

            D. Pedro I fez a parte dele, tornando este País independente. Como tomaram o governo de Portugal, ele resolveu retomar o que o pai tinha perdido. É preciso mostrar o que tivemos antes. Está vendo, ô Cristovam. Sobre Pedro I só dizem que namorou muito. Namorar é um negócio bom. Mas ele foi um dos maiores gigantes do mundo, porque ele foi Imperador aqui e lá ele guerreou, batalhou. Em Portugal, há uma estátua dele - lá, ele é Pedro IV. Ele tomou o governo. Aquela praça, como é que os portugueses chamam? Tem um nome. É a Praça Pedro IV. Deixou, então, o seu filho menor.

            Teve só gente boa governando este País. Não é como Luiz Inácio, não. Foram aqueles regentes. Olha, rapaz, é muita gente boa. E tem o José Bonifácio... A história retrata que todos regentes tinham sabedoria. Teve a regência de Araújo Lima, Padre Feijó, José Bonifácio, teve muita gente.

            Quando, então, muito novo, com uns quinze anos, assumiu nosso Pedro II, preparado, culto, intelectual. Olha, Pedro II era tão preparado que ele deixava, lá no Rio de Janeiro, a coroa e o cetro... Aí é que o Luiz Inácio perdeu o bonde da história, porque aqui é que tem que ter a sabedoria. São os três Poderes, um olhando para o outro; um freando o outro. E estou dando um cartão amarelo para o nosso Luiz Inácio - não é vermelho, como o Suplicy já deu aqui, não. Amarelo, porque ele é líder do futebol, não está tirando nada. É só para advertir. Para dar esse negócio. Nunca antes. Que antes? Foi muito antes, teve muito antes. Então, esse Pedro II era preparadíssimo.

            Atentai bem! Na América do Sul, o lado espanhol todo se dividiu, é um monte de países. Então, Pedro II, com a sua inteligência - porque ele ouviu o Senado. O Senado é velho. Lá, no Império, já tinha Senado. Então, ele deixava a coroa e o cetro e vinha ouvir os Senadores, o Pedro II. Outra: ele fundou o Colégio Pedro II. A minha geração estudava com os livros do Colégio Pedro II. Você se lembra de Valdemiro Potti, livro de Biologia Geral, de Botânica, de Zoologia? Esse livro era tão bom que eu, até como médico, consultava, Mozarildo, a parte de Zoologia, a parte de Anatomia Humana.

            Então, Pedro II - atentai bem para a humildade - deixava a coroa e o cetro e vinha ouvir os Senadores, que tinham sido escolhidos por ele, votados, porque Senador é para ser pai da pátria. Também ele fazia isto, Cristovam, ele ia assistir a aulas no Colégio Pedro II. Ele entrava lá e assistia às aulas. Pedro II avançou, deu-nos - vamos dizer - este país grandão e uno, de uma língua só. Isso foi muito antes. Foi muita competência, muita cultura e tal.

            E ele caiu porque, realmente, em 1789, o povo lá na França saiu gritando na rua: “Liberdade, igualdade, fraternidade”. E esse povo na rua, com esse grito, fez caírem os reis lá. Passaram cem anos para os daqui caírem, porque Pedro II era gente boa.

            Eu sei que não havia esses aviões aí, o Aerolula, que vai, vai e volta ligeiro, mas ele só saiu do Brasil duas vezes. Numa delas, Cristovam Buarque, ele escreveu: “Isabel, minha filha, lembre-se de que estrada é o melhor presente que você pode dar a um povo”. Estrada! Depois disso veio outro Presidente, Washington Luiz, “Governar é fazer estradas”; Juscelino Kubitscheck, “Energia e transporte”. Quer dizer, teve o antes: esse Pedro II, e depois dele teve uma mulher. 

         É interessante que eu fui representar o Presidente Sarney em Portugal, Cristovam, agora. Ele não pôde ir porque aqui estava muito complicado e pediu que eu fosse, e eu conheci a neta da Princesa Isabel: formidável, já elegante e tudo. Eu contava histórias e ela se aproximou, porque essas coisas ela não sabia. Mas numa dessas idas dele, a mulher, que também foi preparada - o marido dela era o Conde D’Eu -, libertou os escravos. Quer dizer, teve antes. Teve muito antes.

            Aqui no Senado ela só fez assinar. Foram os Senadores - Rui Barbosa foi um deles - que fizeram a lei, a Lei Áurea. Já tinha havido duas antes, a dos Sexagenários e a do Ventre Livre. Mas a Lei Áurea, Rui Barbosa fez e ela assinou. O povo jogou flores no Senado da República. Aí você diz: “jogava naquele”. Joga neste. Este Senado é muito bom. Nós é que vamos oferecer para o Brasil as eleições. Se não fôssemos nós, isso aqui estaria igualzinho a Cuba; igual à Venezuela; igual ao Equador, do menino Correa; à Bolívia, do Morales; ao Paraguai, do “padre reprodutor”; à Nicarágua. Essa calma que tem o País, fomos nós que aguentamos a barra. Só foi aqui.

            Eles queriam o terceiro mandato. Quem quer o terceiro quer o quarto, quer o quinto. Pergunte ao Fidel Castro. Não é não, Cristovam? E de democracia, nós entendemos. Fomos só nós, não houve outra, nenhuma instituição. A única. Aquela mocidade fraquejou. Todas, todas, todas. Nós é que resistimos aqui. Ali passava, na Câmara Federal; mas aqui, ele tinha certeza de que não passava. Todo mundo sabe que não passa, porque de democracia nós entendemos. Fomos nós que fizemos! Foi ele - Rui Barbosa - que fez. Então, teve o antes. Quer dizer, o Senado é velho. Agora, a República é nova. Então, nasceu a República.

            Meteram um militar. Ó como tem antes: Deodoro. É muita gente. Aí, Deodoro, o Vice era Floriano. Floriano ficou. E ele era duro, esse Floriano Peixoto, mais duro que o Médici. Não era o Marechal de Ferro? Então, Rui Barbosa já era Senador do Império, do tempo dos reis - o Senado é mais antigo, desde quando Dom Pedro fez a primeira Constituição já existia.

            Então, ele, Rui Barbosa, foi o Secretário de Fazenda e, quando ele viu um militar, Deodoro; o segundo, o Marechal de Ferro; e eles iam meter um terceiro militar, Rui Barbosa teve a coragem de dizer que não. E o chamaram e quiseram dar-lhe o Ministério da Fazenda. Ó como teve antes para a gente aprender. O PMDB, é bom aprender com Rui. Aí chamaram para dar o Ministério da Fazenda para ele aceitar o terceiro presidente militar. Cristovam, aí ele disse a frase - ó como tem antes -, ele disse quase como a nossa mocidade diz: “Tô fora”. Ele disse assim: “Não troco a trouxa de minhas convicções por um Ministério”. E recusou.

            Foi perseguido pelo Floriano Peixoto, que era o Marechal de Ferro, teve que fugir para a Argentina escondido e foi para a Inglaterra. Por isso nós temos isso, foi ele quem trouxe isso tudo para cá. Essa República é nova, é de pouco tempo. Aí ele passou na Inglaterra e viu na Inglaterra um regime democrático, monárquico, bicameral. Lá tem a Casa de Lordes, que é igual ao Senado; e a Casa dos Comuns, que é como a Câmara dos Deputados.

            E a Inglaterra foi que mais amadureceu. Foi antes. É bom aprender, Azeredo, para ensinar o povo de Minas, porque hoje o Piauí ensina Minas... Aí é que é importante.

            Por que somos bicamerais? Atentai bem, Cristovam. O rei da Inglaterra tinha fechado o Senado.

            Aí ele entrou em guerra, e aí não tinha dinheiro para vencer a Irlanda e a Escócia. Quem tinha credibilidade era o Senado de lá, e aí ele abriu. Aí chamou o líder: Cromwell. Essa é que é a parte mais histórica: ele abriu e disse para a majestade, para o rei: “Vou arrumar o dinheiro, porque quem tem credibilidade somos nós, quem aguenta esta pátria é o Senador”.

            Outro dia, uma mocinha de um CQC chegou: “Olha, o povo reprovou o Senado”. Que povo, menina, tu não sabes de nada! A ignorância é audaciosa! Nunca mais vieram. Cadê esse negócio de CQC aqui? Estou é desafiando: não sabem de nada! O povo somos nós, nós somos filhos do povo, do voto. É! Aqui tem mais voto do que o Luiz Inácio, aqui tem quase 90 milhões de votos. Só o Eduardo Suplicy teve quase 9 milhões de votos, não é? Nós somos filhos do voto e da democracia. Então, ela disse: “É o povo”. Que povo? O povo sou eu, nós somos o povo. Isso é uma democracia representativa, nós que a representamos.

            Sim, mas aí o Cromwell foi o homem mais importante. Disse para o rei: “Abro o Congresso, volto, arrumo o dinheiro, mas jamais rei nenhum, rainha nenhuma vai ficar acima da lei, a lei é que é soberana”.

            Isso foi o que ele viu - o Locke escreveu - e trouxe para cá, o Rui Barbosa.

            Nesse tempo, nasceu o filhote da Inglaterra - os Estados Unidos -, que fizeram um regime presidencialista, não monárquico, mas bicameral, como o nosso. Por isso, nós somos... Então, teve muito antes, mas é muito antes mesmo! Aproveito só para citar aqui para nunca mais o nosso Presidente... É feio, é ridículo! “Nunca antes...” Que “nunca antes”! Olhem os “antes” aqui...

            Senador Eduardo Azeredo, tudo isso nós devemos ao Libertas Quae Sera Tamen, que foram suas Minas Gerais que propiciaram. Foi quase igual ao Tiradentes o 1789, na França, do lema “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”! Quase! Somos avançados!

            Vamos ver quantos governantes, e todos deram a sua contribuição. Por isso esta Pátria é assim. Como disse o José Serra, ele viu o pai dele trabalhar todos os dias do ano, por todos os anos da vida dele, a não ser o 1º dia do ano, quando o mercado não funcionava - o pai dele trabalhava em um mercado -, e ele viu o pai carregar frutas e verduras na cabeça e nos ombros. Todos os dias trabalhava por 10 horas; aos sábados, trabalhava seis horas; aos domingos, cinco horas, para ele poder carregar livros, ter sabedoria, que vale mais do que ouro e prata.

            Marechal Deodoro; Marechal Floriano; Prudente de Moraes; Campos Salles; Rodrigues Alves; Affonso Penna; Nilo Peçanha; Marechal Hermes da Fonseca, que seria o terceiro Presidente - olha, se não fosse, nós jamais teríamos civis. Ele foi o nono. Não ficaram os militares pela reação de Rui Barbosa. Wenceslau Braz, Delfim Moreira, Epitácio Pessoa. Epitácio Pessoa foi quem deu ordem para começar - atentai bem! - o porto de Luís Correia, no Piauí. Faz quase cem anos. Ele é de 1919 a 1922, e ainda está lá.

            O Luiz Inácio, com o Governador do Piauí, eu pensei que eles iriam... Eu até votei nele, ele não cumpriu, mas eu pensei que eles iriam terminar com tudo, e não fizeram nada, só muita mentira, muita corrupção e muita incompetência. Esse foi o tripé que vimos montado no Piauí e no Brasil.

            Arthur Bernardes, Washington Luís, que foi deposto, porque houve uma junta governamental na revolução de Getúlio, porque houve corrupção eleitoral mesmo, aí o Getúlio, gente boa, fez três guerras. Uma para entrar... Os paulistas quiseram colocar ele para fora, e houve a guerra mundial. Mas, mesmo assim, foi um grande estadista.

            Getúlio Dorneles Vargas; General Dutra; Getúlio Vargas de novo; Café Filho; Juscelino Kubitschek! Como é que não teve “antes”? Juscelino Kubitscheck, este aqui, olha Brasília. Não foi só isso não.

            Vou resumir Juscelino. Ele imaginou um tripé: industrializou o sul - olhe a indústria da Aeronáutica, a Embraer -, botou Brasília no meio do coração do País, para integrar, mas ele se inspirou no Piauí; nós fizemos a primeira capital planejada deste País: Teresina; é no meio, no coração, como o coração está no meio do corpo humano; aí depois é que vieram Goiânia, Belo Horizonte, Brasília e Palmas; a nossa foi a primeira capital planejada, a do Piauí, mostrando a inteligência da gente piauiense.

            Jânio Quadros; João Goulart; Humberto Castello Branco; Arthur da Costa e Silva; Garrastazu Médici; Geisel; João Baptista Figueiredo; José Sarney; Fernando Collor de Mello; Itamar Augusto; Fernando Henrique Cardoso, estadista. Existia um monstro, o mais deplorável: era a inflação. Hoje é porque vocês não a viram. Eu fui prefeitinho na inflação. Aquilo era uma loucura. Este País era uma zorra! Está aí V. Exª que foi Governador, não foi, Cristovam? Era uma zorra! Tinha quase cem por cento de inflação. No fim do mês, se o trabalhador ganhava R$1.000,00, ele só ganhava R$500,00, porque a inflação comia o seu salário. E o nosso Presidente Luiz Inácio Lula, que teve acertos e teve erros. Ele não pode ter soberba. O melhor acerto de Luiz Inácio, ele talvez nem tenha sabido, mas foi aqui, o Congresso, foi o Paulo Paim que liderou, fomos nós que o apoiamos. Rui Barbosa disse: “A primazia é do trabalho e do trabalhador. Ele vem antes, ele é que faz a riqueza”. O Governo de Luiz Inácio, o melhor que ele fez foi esse aumento do salário mínimo. Quando aqui chegamos, era US$70.00, e começamos a trabalhar para US$100.00 - eu era como São Tomé - com o Paulo Paim. Senador Eduardo Suplicy, hoje, quanto é o salário mínimo em dólares?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP. Fora do microfone.) - Em torno de trezentos e poucos dólares.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Então, a melhor obra de Luiz Inácio foi a valorização do trabalho e do trabalhador. O salário mínimo distribuiu a riqueza. Mas ele, realmente, foi o pai do trabalhador, porque valorizou o salário mínimo. Nós aqui, o Senado, fizemos a lei - trabalhamos por ela, você e nós -, mas ele foi a mãe dos banqueiros. Nunca se ganhou tanto com esses empréstimos consignados. Eu vi falirem bancos na Inglaterra, nos Estados Unidos e na Espanha, mas, os daqui, não. Com os empréstimos consignados... Com isso... Essa é a verdade!

            Então, queríamos lembrar, com isso tudo... Professor Cristovam Buarque, V. Exª, que sabe tudo, quer participar?

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Permita-me V. Exª um aparte?

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - Pois não. Ouço o aparte de V. Exª.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Mão Santa, primeiro, parabéns e obrigado pela aula que o senhor nos está dando, aproveitando o 22 de abril, que é o 510º aniversário da descoberta do Brasil. Creio que V. Exª fez uma retrospectiva, e, olhando para os jovens estudantes do Piauí que aqui estão, V. Exª a fez para o Brasil inteiro. Mas eu quero agarrar um pedacinho da sua fala que, a meu ver, é sintomaticamente positiva de sua visão: a ideia de que Dom Pedro II escreveu à filha dele, dizendo-lhe que desse ao povo estradas. E, sem dúvida alguma, isso mostra que ele tinha uma visão que se antecipava no tempo. Até porque, naquele tempo, a estrada era basicamente a ferrovia, mas ele previa que tinha de ter estradas de todos os tipos. Agora, eu queria dizer que, lendo recentemente uma autobiografia ficcional de D. Pedro II, ou seja, uma autobiografia escrita por outra pessoa que se colocou no lugar dele e fez as suas reflexões, já do exílio, há um momento que, para mim, parece extremamente interessante - que é bem possível que o autor tenha buscado em pesquisas e, ao mesmo tempo, se não foi isso, que trouxe, de fato, o sentimento de D. Pedro II. Ele dizia que lamentava, que se encontrou com Sarmiento, o Presidente da Argentina, e se sentiu acanhado por não ter feito aqui a revolução educacional que Sarmiento fez na Argentina, na mesma época que ele aqui era Imperador. Ele coloca de uma maneira muito interessante que ele, filho de rei, Príncipe, não tinha percebido o que um filho do povo, que foi Sarmiento, o Presidente argentino, percebeu: que a verdadeira estrada é a educação; que a verdadeira estrada não está por onde passam os carros, mas por onde passam as pessoas em direção ao futuro delas e ao futuro da nação inteira. Aqueles que continuaram monarquistas diziam que, se a República tivesse demorado mais alguns anos, não apenas a libertação dos escravos, como aconteceu um ano antes da República, mas também a reforma agrária, a reforma educacional e outras mais teriam sido feitas por influência da própria Coroa. E eu acho que mesmo um republicano ferrenho como eu não pode negar que talvez esses monarquistas tenham razão, porque a República, ao mesmo tempo em que abriu a política, fechou a sociedade. Talvez tivesse sido possível, como aconteceu em países da Europa, medidas de mudanças sociais, mesmo mantendo a política prisioneira dessa coisa que é a sucessão pela hereditariedade, e não pelo voto. Fico contente que o senhor tenha se lembrado de um fato desenvolvimentista, progressista, modernista do Dom Pedro II. Aproveitei para fazer um gancho, lembrando esse trecho que li sobre Dom Pedro II, em que se colocava que ele teria, sim, se sentido inferiorizado por não ter feito aqui, ao longo dos seus quase cinquenta anos de governo - nem tanto de governo, porque o governo era dos primeiros ministros, mas de poder; e nem tanto de poder, mas de exercício do reinado dele -, por não ter feito aquilo que a Argentina fez, que a França fez, que a Alemanha fez, que a Europa inteira fez, que foi a revolução educacional que levou ao desenvolvimento desses países.

            O SR. MÃO SANTA (PSC - PI) - E ele era tão excepcional que foi morrer na França, e, na igreja de Notre Dame, os líderes franceses disseram que, se os reis deles tivessem sido ele, nunca teriam derrubado os reis.

            Quer dizer, essa pessoa...

            Mas eu terminaria com Juscelino, porque eu disse que ele fez o tripé: a indústria no Sul, Brasília aqui, e colocou a Sudene para tirar o que a Constituição defende, essas diferenças de riquezas regionais. E hoje o que nós vemos? A Sudene fechada, o que aumenta a distância das riquezas regionais.

            Hoje, Brasília tem uma renda per capita dez vezes maior do que as cidades do Nordeste, um sonho de Juscelino. Mas, como teve um “antes”, eu queria oferecer à mocidade do Piauí e do Brasil um dos pensamentos que mais me cativam de Juscelino Kubitschek.

            Quero dizer que eu tenho uma comenda que ninguém vai ter mais. Quando Juscelino fez cem anos, escolheram dois Congressistas para ganhar a maior comenda de Juscelino Kubitschek. Uma foi para Paulo Octávio, Senador e ex-Vice-Governador, casado com a neta de Juscelino, e a outra eu nunca pensei que ia ganhar, porque era uma disputa com Antonio Carlos Magalhães, que a desejava, mas eles acabaram achando que eu merecia, por ter citado aqui mais vezes Juscelino Kubitschek. Então, eu tenho a medalha - que ninguém vai ter mais - centenária de Juscelino, dada pelo memorial de Juscelino.

            Mas eu queria deixar, para encerrar isso, que teve um “antes”, a frase de Juscelino, que dizia assim: “É melhor ser um otimista. O otimista pode errar, mas o pessimista já nasce errado e continua errando.”

            Então, eu quero dizer que felizes somos nós, que não precisamos buscar exemplos em outras histórias, em outros países, porque temos exemplos bons de bons brasileiros que governaram o nosso País!


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