Discurso durante a 57ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Saudação ao povo do município de Tarauacá/AC, que amanhã, dia 24 de abril, completará 97 anos. Registro do endividamento dos produtores agrícolas acreanos e da falta de política para o setor, o que tem determinado que o estado importe mais de 80% dos alimentos básicos consumidos pela população.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Saudação ao povo do município de Tarauacá/AC, que amanhã, dia 24 de abril, completará 97 anos. Registro do endividamento dos produtores agrícolas acreanos e da falta de política para o setor, o que tem determinado que o estado importe mais de 80% dos alimentos básicos consumidos pela população.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 24/04/2010 - Página 15994
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, MUNICIPIO, TARAUACA (AC), ESTADO DO ACRE (AC), SAUDAÇÃO, POPULAÇÃO.
  • CRITICA, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO ACRE (AC), DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, PRODUTOR RURAL, CONSTRUÇÃO, ACESSO RODOVIARIO, MELHORIA, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO, EFEITO, AUMENTO, DIVIDA, AGRICULTOR, REPUDIO, AUSENCIA, POLITICA AGRICOLA, DEPENDENCIA, ABASTECIMENTO, POPULAÇÃO, IMPORTAÇÃO.
  • EXPECTATIVA, VITORIA, ELEIÇÕES, GOVERNADOR, ESTADO DO ACRE (AC), CANDIDATO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), COMPROMISSO, INCENTIVO, PRODUÇÃO AGRICOLA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, Srs. Senadores presentes, senhoras e senhores, como V. Exª está vendo, eu trouxe, mais uma vez aqui, aquilo que chamo de sacola da vergonha. E vou falar sobre ela mais uma vez na manhã de hoje.

            Gostaria de iniciar o meu pronunciamento saudando o povo bravo e querido do Município de Tarauacá, na minha terra, que amanhã, dia 24 de abril, completa 97 anos de instalação. A propósito dele, estou para concluir uma coleção de separatas dos Municípios. A terceira separata, por sinal, por coincidência, foi relativa ao Município de Tarauacá. Ela foi editada em 2005, Senador Mão Santa, Coleção Enciclopédia dos Municípios Acreanos. É uma tentativa do nosso gabinete, de forma solteira, individualizada, de relatar, em uma separatazinha gostosa inclusive de ler, a história de cada Município nosso.

            Nós temos 22 Municípios. O Acre é um Estado pequenininho. E, amanhã, o Município de Tarauacá completa 97 anos de instalação. Foi exatamente pelo Decreto nº 9.831, de 1924. O Decreto, Senador Mão Santa, cria e instala o Município. A instalação se deu em 24 de abril de 1913. Tarauacá tem uma história bonita no nosso Estado. Eu era menino, e a gente ouvia dizer na nossa capital, Rio Branco - e não tínhamos ligação por terra com Tarauacá; era só aviãozinho que conseguia ir e vir - que Tarauacá era a cidade do abacaxi grande e das mulheres bonitas. E eu completo: de um povo trabalhador, dedicado, alegre.

            E é com esse espírito que Tarauacá amanhã festeja seus 97 anos de instalação, Senador Mão Santa. Eu estou impossibilitado de estar presente, mas todos nós, do PMDB, estaremos representados pelo Deputado e Presidente Flaviano Melo, que está se deslocando para lá hoje, com alguns companheiros do Partido, que logicamente representarão todos nós, do PMDB, que estimamos e gostamos muito de Tarauacá.

            Parabéns, portanto, a Tarauacá, Senador Mão Santa, e a seu povo tão querido e tão estimado de todos nós do Acre.

            Senador Mão Santa, um dia desses, vim aqui mostrar ao Senado e ao Brasil aquilo que chamo de sacola da vergonha.

            O que é a sacola da vergonha? Infelizmente, tenho que expor aqui a sacola do Supermercado Araújo. E meu companheiro Araújo nada tem que ver com isso, pois a ele não cabe nenhuma culpa pelo fato de o Acre, hoje em dia, não produzir alimentos, ou produzir muito pouco, Senador Mão Santa. Eu mostrava isso naquela oportunidade, e vou dar uma das razões para que isso aconteça até hoje no Acre.

            Este pacote de leite, por exemplo, Senador Mão Santa, vem de Jaru. O Acre tem uma pecuária forte, grande, mas este pacote de leite comprado no supermercado vem de Jaru, Rondônia, terra do Valdir Raupp; o feijão é de Cuiabá, Mato Grosso; o arroz, Senador Mão Santa, que a gente compra lá nos supermercados no Acre vem de Pelotas, Rio Grande do Sul - vem de longe; até o leite em pó - leite em pó, tudo bem, até que a gente compreenderia - também vem de longe, vem de Minas Gerais; vai para o Acre de carreta, de caminhão. Sabe por que, Senador Mão Santa? Porque no Acre não se produzem mais alimentos.

            Aí V. Exª pergunta: “Mas por que, Geraldo, isso acontece? As razões são muitas, mas a principal delas é que o Governo do PT, que está há doze anos no poder do Estado, virou as costas, Senador Mão Santa, para a perspectiva da produção agrícola no nosso Estado. Infelizmente. Isso é uma política de Governo. Ou seja, não se produz mais nada no Acre. É uma política de Governo.

            Eu, no sábado passado, fui visitar uma comunidade num grande ramal, denso de produtores, na estrada Transacreana, próximo da nossa capital. O que é que eu fui fazer lá? Alguns produtores me chamaram para conversar e relatar uma situação aflitiva que eles vivem, que vou passar, de minha parte, a relatar da tribuna do Senado.

            Anos atrás, esses produtores foram estimulados, incentivados pelo próprio Governo do Estado, Senador Mão Santa, a contrair financiamentos para plantar e produzir. Eles disseram ao então Governador do Estado que não tinham como produzir, porque não havia como escoar a sua produção. Não havia estrada, não havia ramal, não havia como tirar o produção do roçado para as prateleiras dos mercados.

            O Governo, então, garantiu a esses produtores que, se eles tirassem financiamento, Senador Mozarildo, e produzissem, construiria o ramal para que eles tivessem a possibilidade de, plantando, tirar as suas mercadorias.

            O resultado dessa história, Senador Mozarildo, é que eles contraíram um empréstimo no banco, tiraram dinheiro, plantaram, colheram e perderam toda a produção, porque o Governo do Estado não honrou o compromisso de garantir a trafegabilidade. No ramal onde eles estão, são dezenas, centenas de famílias, todas vocacionadas para a produção agrícola, Senador Mozarildo. E hoje estão numa situação complicadíssima, porque o banco aperta, cobra, quer porque quer receber aquilo que emprestou. Acho até que é justo. Agora, o banco, para ser justo, deveria agir com eles, pequenininhos, como age com os grandes, Senador Mozarildo, que, em face de uma impossibilidade como essa, concreta, comprovada, recorrem ao seguro agrícola e acabam não pagando suas dívidas; mas o banco, por sua vez, recebe.

            Esses pequenininhos produtores, Senador Mão Santa, estão jogados às traças, à própria sorte, porque o Governo não quer nem saber, não é com ele. O compromisso assumido naquela oportunidade o Governo, hoje, faz de conta que não existiu, Senador Mozarildo, por incrível que pareça. O banco, por sua vez, quer receber, e esses pequenos produtores estão numa situação muito complicada.

            E, olhe, Senador Mozarildo, essa é a origem da sacola da vergonha, Senador Mão Santa. O Acre hoje importa mais de 80% do que consome, do que come! Não estou falando aqui de automóvel, de bicicleta, de produtos manufaturados. Estou falando de comida!

            E trago isto aqui, Senador Mozarildo, também como certo desabafo, porque, vira e mexe, o produtor acreano é acusado de preguiçoso, de que não quer trabalhar, de que não quer produzir. Ora, bolas! Num Estado onde a política oficial é truncar a produção, é inibir a produção agrícola, como é que as pessoas podem se virar, Senador Mão Santa, como as pessoas podem produzir? Elas não têm recursos próprios para iniciar um grande plantio, um pequeno plantio, ou um médio plantio. Quando podem, é contraindo um empréstimo como esse que eu relatei, um empréstimo bancário para comprar semente, para comprar insumos, etc. Quando produzem, não têm como escoar a produção, ou seja, não têm como vender o seu produto para ganhar um dinheirinho, inclusive, para permitir que paguem o banco. Por quê? Porque o Governo prometeu e comprometeu-se a garantir o escoamento da produção, Senador Mão Santa.

            Eu estou falando aqui de ramais. Esses produtores vivem nas colônias, na área rural servida por ramais. O que são ramais, Senador Mão Santa? São estradas de terra, estradas vicinais, como alguns chamam. Algumas com vários quilômetros. Esse ramal pelo qual eu andei tinha mais de 16 quilômetros. Fora da rodovia, você entra... Senador Mão Santa e Senador Mozarildo, o problema é que o solo acreano, em grande parte do nosso Estado... Nosso Estado, por exemplo, não tem pedra. Você atravessa o Estado, ali na fronteira com Rondônia, já existe pedra. Nós temos um cascalho muito fraquinho, Senador Mozarildo, mas não temos pedra. E as estradas vicinais, se não recebem beneficiamento permanentemente, na época do inverno, transformam-se em verdadeiros lamaçais. Como o pessoal diz lá, não passa nem sapo acorrentado. Carro traçado, como chamamos, carro com tração nas quatro rodas também não entra, Senador Mozarildo. Então, essas pessoas, em grande parte do ano, ficam completamente isoladas. Estou falando desse ramal, mas você pode estender essa observação para praticamente todo o Estado do Acre.

            Então, você vive num Estado hoje, as pessoas vivem num Estado... A população rural, inclusive, Senador Mozarildo, está vendendo... Nessa oportunidade em que estive, no sábado passado, com alguns produtores, alguns me disseram: “Senador, vou vender a minha coloniazinha, vou para a cidade. Não tem mais o que fazer aqui. A gente não é estimulado. Pelo contrário. A gente é proibido de tudo. É Ibama, é Imac, é Polícia Federal, é Polícia isso, Polícia aquilo”. A pessoa está acossada, Senador Mozarildo, naquilo que era a natureza dele, no lugar onde ele conseguia produzir, sustentar a sua família e gerar um excedentezinho para ganhar um dinheirinho. Hoje em dia, o produtor está completamente amarrado, manietado. Ele não consegue produzir e, quando produz, perde a sua produção ou grande parte dela, porque não tem como escoá-la. Leva-a nas costas, Senador Mão Santa! Eu já vi gente saindo de enormes ramais com saco de farinha, com saco de milho, nas costas, andando na lama, caindo, porque não consegue... Não tem carro que entre. O Governo não constrói a possibilidade.

            É uma política do Governo, Senador Mozarildo. É isso que me deixa impressionado. A política do Governo é esta: não permitir que o Estado produza. Já ouvi de um prócer do PT lá no Acre a pérola. Isso é uma pérola. Ele disse o seguinte: “Geraldo, para o Governo do Estado, sai muito mais em conta permitir a importação de alimentos do que criar as condições aqui para produzir.” Isso é uma sentença de morte, Senador Mozarildo. Ele estava verbalizando aquilo que o Governo acabou por instituir no Estado.

            Temos uma grande pecuária que não foi obra nem mérito deste Governo. Foi algo que começou a se instalar e a crescer em nosso Estado desde o final da década de 60. Nossa atividade extrativista está descendo a ladeira, e muita gente ainda vive dela, Senador Mozarildo. É uma enganação com esse povo também, não é? Temos uma fragilíssima e precariíssima agroindústria. Deveríamos ter uma agroindústria forte em nosso Estado e não temos.

            O que é que enche os olhos de alguns membros deste Governo do meu Estado em contato com a comunidade internacional? É a madeira, Senador Mozarildo. Por incrível que pareça, o Governo do meu Estado, que vocaliza um discurso ambientalista, é parceiro das grandes madeireiras na extração de madeira, inclusive dentro de reservas florestais do meu Estado, e, para o público externo, fala o discurso ambientalista, da preservação, etc. Mas o Governo é parceiro na retirada de madeira, muitas vezes de forma irregular, no meu Estado.

            Senador Mão Santa, no trecho da BR que vai ali para as bandas de Cruzeiro do Sul, para o oeste do Estado, onde há um município próximo de Rio Branco, Bujari, se V. Exª sentar ali num banquinho na beira da estrada, depois de seis horas da tarde, Senador Mozarildo, o que o senhor vê de carretas e mais carretas saindo com madeira, arrancada de qualquer jeito lá do solo acreano, é uma barbaridade! É uma barbaridade!

            Então, ontem, inclusive, eu estive conversando longamente com Rodrigo Pinto. O vereador de Rio Branco é nosso candidato ao Governo do Estado, pelo PMDB. Conversei longamente com ele. Uma das tarefas - espero que ele seja eleito, vamos fazer um esforço muito grande para que ele seja eleito Governador do Estado -, uma das principais tarefas dele será o resgate da capacidade dos acreanos com vistas à autossuficiência na produção de alimentos.

            Um governante que tem compromisso com o povo acreano, Senador Mozarildo, tem que ter isso dentro do coração, além de organizar essa idéia na sua própria cabeça. Do contrário, o Acre vai continuar, cada vez mais, sendo um Estado dependente, até para comer, das coisas que vêm de fora.

            Eu vou dizer mais uma vez aqui: em Rondônia, a piada que falam de nós lá, Senador Mozarildo, é de que, se fecharem a BR-364 por uma semana, no Acre, nós passaremos fome. Eu não duvido disso! Eu não duvido disso! Já houve, inclusive, já ocorreram algumas paralisações, tempos atrás, que ameaçaram desabastecer os nossos supermercados.

            E aqui eu quero, mais uma vez, mencionar o fato. A sacola está aqui, é uma sacola de um supermercado, do Araújo, um rapaz empreendedor que nada tem que ver com isso. Ele é um comerciante. Ele não pode ser culpado por essa situação. Ele tem que abastecer o seu supermercado. Ele compra de onde tiver. Eu tenho certeza absoluta de que ele gostaria de comprar no seu próprio Estado, porque ele é um acreano de valor. Instalou uma rede de supermercados no Acre que abastece, principalmente na nossa capital, fortemente a população, abastece bem. Mas, olhem, ele tem que trazer tudo de fora. Um dia desses, ele foi à televisão, entrevistado que foi, e revelou um fato assustador, que corrobora mais ainda o que eu estou dizendo aqui: ele disse que, agora, por exemplo, no período da colheita da grande safra de grãos no País, aqui no Centro-Oeste, no Sul, no Sudeste, para que ele consiga levar uma carreta com produtos para o nosso Estado, ele precisa pagar o frete dobrado, Senador Mão Santa, porque, senão, carreta nenhuma se interessa em ir para o Acre, uma vez que não tem o que levar de volta.

            Então, o dono do supermercado, para levar alimentos para o Acre porque o Acre não produz mais, tem que se comprometer a pagar o frete dobrado, ou seja, o frete da vinda do produto lá do Rio Grande do Sul, terra do Pedro Simon. E ele tem que garantir o pagamento do frete, mesmo que o caminhão volte vazio. É uma coisa inacreditável! É uma coisa inacreditável!

            Dessa forma, estou livrando a cara aqui do meu amigo Araújo. Ele que me desculpe, mas é uma sacola de supermercado. Entrei no supermercado e comprei isto aqui. Fui pegando nas prateleiras, Senador Pedro Simon.

            Portanto, quero aqui, em nome dos produtores acreanos, principalmente dos pequenos produtores acreanos, dizer que é uma grande balela acusá-los de preguiçosos, de que não querem produzir. Eles querem, são vocacionados para isso, e precisam produzir, inclusive. Mas estão presos em uma verdadeira armadilha. Isso é que chamo de verdadeira armadilha. Armadilha mesmo. Não têm como produzir e, quando se atrevem a produzir, perdem a produção, porque eles não têm como escoá-la. Não têm como tirá-la do lugar onde plantam, para levá-la para os centros consumidores. Vivem uma verdadeira armadilha.

            Ontem, conversando com o Vereador Rodrigo Pinto, nosso candidato ao Governo, fiz ver a ele que ele tem que assumir um compromisso solene com o povo do Acre, o de mais uma vez colocar o Governo do Estado como parceiro do setor produtivo.

            Ali na nossa região, Senador Mozarildo - e V. Exª sabe do que estou falando -, o Estado, a máquina pública, a administração, como a gente chama, precisa se constituir no principal indutor do processo de desenvolvimento, sob pena de o empresariado, os produtores não terem pernas suficientes para romper uma barreira e colocar os Estados - o Estado de Roraima, o Estado do Acre, o Estado do Amapá - em condições de se tornarem competitivos em termos econômicos no nosso País.

            Gostaria de conceder um aparte a V. Exª, Senador Mozarildo, que pede há algum tempo.

            O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PTB - RR) - Senador Geraldo Mesquita, ouvindo V. Exª, fiquei aqui refletindo sobre algumas coisas. Eu tenho convicção de que o instituto da reeleição para o Brasil não foi nocivo no que tange à Presidência da República, porque tivemos dois mandatos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que possibilitou a estabilidade econômica com o Plano Real, que possibilitou a implantação de ações sociais importantes como o Bolsa Escola, o Vale-Gás, etc, que o Presidente Lula juntou num só, adicionou alguma coisa e, mais importante, o Presidente Lula não cometeu, vamos dizer assim, a travessura que os aloprados gostariam que ele cometesse, de mexer na política econômica. Nesse particular, a reeleição prova que foi benéfica. Por outro lado, a gente vê que a reeleição, em alguns Estados, por exemplo, transforma-se numa espécie de mandonismo de um grupo político. E, como disse recentemente o Ministro Carlos Ayres Britto, quando não é para reeleição... O Ministro falou que ninguém é eleito para fazer o seu sucessor, num claro recado ao Presidente Lula de que ele, no programa dele do seu segundo mandato, não tinha nenhum item de que ele ia fazer o sucessor; aliás, não tem esse direito, mas, infelizmente, isso vale no seu Estado, no meu Estado. No meu Estado, por exemplo, nós temos um Governador, que era Vice-Governador, que nunca tinha sido eleito antes. Até para parodiar o nosso Presidente, “nunca dantes” tinha sido eleito; não tinha sido eleito vereador, deputado estadual, prefeito, deputado federal; não tinha sido eleito para nada, nem para presidente do Conselho Regional de Engenharia, já que ele é engenheiro. Ele se elegeu na carona do ex-Governador, virou Governador, e agora está fazendo as maiores barbaridades para se reeleger Governador, inclusive nesse ponto que V. Exª está falando: enganando os pobres dos produtores que estão no interior, fazendo raspagem de vicinal. Agora, contraiu um empréstimo de R$150 milhões para que a Companhia de Desenvolvimento de Roraima faça as vicinais. Contraiu um empréstimo para a questão de energia. Quer dizer, um Estado de arrecadação pequena como o meu contraindo empréstimos para os futuros pagarem, para o povo pagar, essa é que é a verdade. Então, acho que realmente nós temos que pensar: será que, para os Estados, vale a pena a reeleição? E será que a gente não deveria adotar um critério de que um Governador, no exercício do mandato, devia ter mais rigor com as atividades dele? E muito mais ainda: V. Exª colocou aí que o nosso companheiro Araújo podia ser o marujo; quem sabe até que ele não vá servir, não vá sofrer até retaliação por V. Exª ter trazido essa cesta aqui? Mas eu me preocupo muito com o que V. Exª falou: dizem que as pessoas têm preguiça de produzir. Olhe no meu Estado: nós temos lá seis, sete produtores de arroz que produziram o suficiente para abastecer o meu Estado e exportar para a Venezuela e para o Amazonas. Sabe o que está acontecendo agora com a política do Governo Lula, que os expulsou da reserva indígena Raposa Serra do Sol? Roraima está comprando arroz de fora! Os arrozeiros que ainda ficaram lá estão tentando se reorganizar. Que malvadeza você fazer isso com um Estado pobre como é o nosso, quer dizer, estrangular, matar a produção de um produto que agora nós estamos importando; como no caso de V. Exª, os produtos estão sendo importados de outros Estados. Então, é realmente necessária uma política nacional elaborada pelo Governo Federal, mas eu acho que tem que surgir aqui de dentro. E nós estamos lá na Subcomissão Permanente da Amazônia tentando fazer isso. Vamos ouvir, na próxima semana, o Diretor-Geral da Polícia Federal para saber sobre as faixas de fronteira. Temos que formar um diagnóstico e acabar com esse modelo que é do tempo do Império. Realmente, nós precisamos valorizar os nossos homens e mulheres que estão no campo. Imagine o que é estar no campo, na mata, no interior da Amazônia. Se as pessoas aqui do Sul e Sudeste reclamam que o homem e a mulher do campo sofrem, imaginem o homem e a mulher do campo na Amazônia! Eles deveriam receber um prêmio especial por estarem lá; não esse tipo de tratamento que recebem. Eu quero, portanto, dizer a V. Exª, sem interferir na parte interna do seu Estado, mas tomando como exemplo o que V. Exª está dizendo, que é lamentável que isso ocorra em todos os Estados. Isso só nos leva a acreditar que temos que mudar. E temos que mudar mesmo, mudar profundamente a política nacional. Nós temos que influenciar. O Senado é a Casa da Federação. Não vamos culpar a Câmara, não, pois ela não representa a Federação, mas a população do Brasil. Nós representamos a Federação. Então, temos que cobrar política diferente para as nossas regiões. Quero parabenizar V. Exª por trazer um tema como esse, que não é um discurso de acusação, não é um discurso de raiva, mas um testemunho do que está acontecendo. Sempre digo ao Presidente Lula que, quando se criticam, quando se apontam erros no Governo dele, ele não deve encarar como se estivéssemos falando contra a sua pessoa. Assim o Governador do seu Estado deve encarar. Se V. Exª está trazendo esses dados aqui, ele deveria mandar investigar, mandar verificar e mandar corrigir, se for capaz.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Senador Mozarildo, também acho. Enquanto V. Exª falava, eu pensava em várias imagens. Eu mencionei, por exemplo, o fato de que, sábado passado, fui em visita a uma comunidade próxima da nossa capital, imagine, numa faixa de cinquenta quilômetros da capital. Deveria haver um cinturão de abastecimento numa faixa como essa. E observe que não mencionei o local específico nem as pessoas com quem falei. O senhor falou uma palavra-chave: retaliação. Eles mesmos me pediram: “Senador, se o senhor for falar sobre o assunto, não mencione a nossa localidade, porque a gente pode sofrer retaliação. Já chega de sofrimento”.

            Eu fico imaginando, Senador Mão Santa, aquelas pessoas. E nós estamos falando, Senador Mozarildo, de produção! Imagine a condição das escolas rurais, imagine a condição da prestação de saúde nessas regiões. Há relatos assim dramáticos de pessoas saindo de madrugada com um doente na rede, andando, caindo, levantando, tentando levar a pessoa até a beira da rodagem, como eles chamam lá, para ver se passa um carro e leva a pessoa para um hospital, para um pronto-socorro. Mas, muitas vezes, essas pessoas morrem nesse trajeto. As pessoas vivem que nem bicho mesmo, rapaz. Coisa impressionante. E merecem e têm o direito a uma vida digna.

            Portanto, V. Exª tem razão. Eu estou aqui relatando algo que é fato, e ninguém me desmente. Quero que alguém venha aqui desmentir o que estou dizendo. É uma realidade do meu Estado. O Governo virou as costas para o setor produtivo, notadamente o pequeno produtor e o médio produtor de alimentos. Outras atividades, e para um grupo muito seleto, muito pequeno de pessoas, são prestigiadas, mas a produção de alimentos no meu Estado está prejudicada.

            Repito: o Acre importa mais de 80% do que come. Como é que um Estado pode pensar em sustentabilidade, Senador Mão Santa? Isso é sustentabilidade? Eu acredito que não.

            Portanto, mais uma vez, está aqui a sacola da vergonha, como eu defini, como as pessoas estão passando a repetir no meu Estado, para mostrar a vergonha da grande maioria do povo acreano, por estarmos vivendo esta situação por falta de uma política definida, clara, que prestigie a produção agrícola. A produção agrícola no meu Estado não é conflitante com a preservação. Ela pode conviver pacificamente. Não precisamos derrubar a floresta para continuar produzindo. Nós temos áreas já derrubadas, imensas. É preciso tecnologia, investimento.

            Senador Mozarildo, V. Exª falava da reeleição, e eu aqui lembro o discurso do ex-Governador Serra quando do lançamento da sua candidatura. Ele deixa muito claro que, eleito Presidente da República, que eu acredito que o será, encaminhará ao Congresso Nacional uma proposta para terminarmos, de uma vez por todas, com a reeleição, para fixarmos um mandato de cinco anos para os nossos executivos e acabarmos com essa história de reeleição, porque reeleição, no nosso País, está demonstrado, está cabalmente provado, é uma situação, um fato que proporciona todo o tipo de desvio, até de conduta; todo o tipo de situação que não acrescenta absolutamente nada, Senador Pedro Simon, à história política do nosso País.

            Outra coisa, Senador Mozarildo, que achei muito interessante no discurso do futuro Presidente José Serra é o fato de ele dizer que prestigiará as emendas parlamentares. Essa comunidade que visitei de pequenos produtores me fez uma solicitação: “Senador, coloque uma emenda no Orçamento para que a gente possa adquirir um ou dois tratores agrícolas para permitir que a gente continue aqui produzindo”. Essa situação das emendas parlamentares deve ser devidamente equacionada. É compromisso do ex-Governador Serra: assumindo a Presidência da República, ele tratará isso com a maior seriedade. Significa dizer: ele não vai enveredar pelo caminho comum, banal, cretino de liberação de emenda só para uma patota, só para aqueles parlamentares que bajulam o Governo, que se dobram à vontade de um Governo que por vezes se mostra despótico, discricionário, autoritário, porque, ao negar a possibilidade de liberação de uma emenda parlamentar que destina recurso para compra de equipamentos agrícolas para uma comunidade produtora, você não está prejudicando o parlamentar, Senador Mozarildo, você está prejudicando a comunidade. Isso é autoritarismo!

            Portanto, era isso, mais uma vez, o que eu tinha a dizer. Infelizmente, era isto, mais uma vez, que me fez vir à tribuna, Senador Mozarildo: um sentimento pesado. Primeiro, além desse sentimento pesado de ver a população do meu Estado sofrendo, a população rural do meu Estado, Senador Mozarildo, está toda indo para a cidade, porque já não vê condições de viver no campo, como a gente diz, produzindo. E eu quero ver como é que esses ecologistas de gabinete vão explicar, como é que vão justificar.

            Tem gente por aí, Senador Mozarildo, achando que feijão e arroz nascem nas prateleiras do supermercado, tal é a falsidade desse discurso histérico da preservação, que joga produtores contra aqueles que se acham donos da verdade.

            Portanto, boa sorte ao povo acreano. Espero que, no dobrar deste ano para o outro, a gente tenha uma outra realidade político-administrativa no Estado, para que possamos resgatar e retomar muitas das atividades que foram jogadas para o espaço, muitos compromissos que foram jogados no leito da estrada. E que possamos dar as mãos de novo ao povo acreano, solidariamente, e fazer com que ele volte a ter condições de produzir, para que o Acre, enfim, se torne um lugar sustentável, porque, hoje, sustentabilidade no Acre, Senador Mozarildo, quando se fala em desenvolvimento sustentável no Acre, para mim, a realidade mostra o seguinte: é a grande maioria da população sustentando o desenvolvimento de poucos. Isso é que é a definição clara de sustentabilidade lá no Acre. O Brasil inteiro precisa tomar conhecimento disso.

            Era o que eu tinha a dizer.

            Muito obrigado, Presidente.


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