Discurso durante a 64ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Defesa da realização de campanha nacional visando à implantação e respeito às faixas de pedestres em todas as cidades do país.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO. CODIGO DE TRANSITO BRASILEIRO.:
  • Defesa da realização de campanha nacional visando à implantação e respeito às faixas de pedestres em todas as cidades do país.
Aparteantes
Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 04/05/2010 - Página 17960
Assunto
Outros > EDUCAÇÃO. CODIGO DE TRANSITO BRASILEIRO.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, EXTENSÃO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, CONDUTA, PRIORIDADE, PEDESTRE, VIDA PUBLICA, ELOGIO, INICIATIVA, GOVERNO, CRISTOVAM BUARQUE, EX GOVERNADOR, DISTRITO FEDERAL (DF), ATUALIDADE, CAMPANHA, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), INCENTIVO, CIDADANIA, ATENÇÃO, SOLIDARIEDADE, COOPERAÇÃO, CONCLAMAÇÃO, IMPRENSA, ESTABELECIMENTO DE ENSINO, LANÇAMENTO, VALORIZAÇÃO, RELACIONAMENTO, ESPECIFICAÇÃO, TRANSITO.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Senador Mão Santa, que preside a sessão, Srªs e Srs. Senadores, eu queria aproveitar a presença no plenário do Senador Cristovam, que está de saída para um compromisso rápido, para dizer da minha grata satisfação: na última vez que fui a Montevidéu, Senador Cristovam Buarque, tive uma alegria imensa. Os carros lá já estão parando em faixa de pedestres para as pessoas atravessarem.

            Eu disse aqui uma vez que o Senador Cristovam Buarque teve dois feitos em seu Governo no Distrito Federal que geraram consequências inalcançáveis. Um deles foi o Bolsa Escola, que ele imaginou e implantou no seu Governo. Mas tive a ousadia de dizer para ele certa feita que eu achava que a discussão com a sociedade brasiliense e a implantação da faixa de pedestre no Distrito Federal talvez tenho sido, em termos de cidadania, muito mais importante. Muito mais importante.

            Senador Cristovam, obrigado por ter ficado esses minutos para ouvir. Não estou lhe jogando flores. Estou aqui apenas dizendo que a sua iniciativa parece que vai ganhar o mundo. Quem dera que, em todo nosso País, nós adotássemos isso.

            Ouço falar, inclusive, da iniciativa de algum Parlamentar de legislar sobre essa matéria. Acho que a gente não deveria. Acho que a gente deveria, em todo o País, inclusive, alcançar esse avanço da cidadania, assim como foi feito em Brasília, discutindo com a sociedade, com os cidadãos, com as cidadãs, e a coisa se instalar de forma plena, consciente, para que as pessoas tenham em mente que isso é cidadania, isso é gentileza. Nós estamos nos tornando ásperos; Senador Mão Santa, nós estamos nos tornando pessoas sem paciência uns com os outros.

            Nesse final de semana, eu vi uma reportagem na TV Globo, resgatando a história do Gentileza, Senador Buarque, aquele poeta que renunciou a tudo, inclusive a uma empresa que ele tinha, e, por trinta anos, andou peregrinando não só no Rio, mas no País inteiro. Ele foi até a minha terra, o Acre. Há registro da passagem dele no Acre, inclusive, pregando gentileza.

            Esse fato que presenciei em Montevidéu me dá a exata dimensão do quanto a gente pode avançar nessa área.

            Concedo a V. Exª um aparte, Senador Buarque, com muito prazer.

            O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador, eu realmente tinha que sair para gravar um programa de entrevista, mas acho que valeu a pena demais ficar - pelo menos, para mim -, até porque foi possível negociar para eu fazer a gravação mais tarde. Quero dizer da minha satisfação de escutar o senhor falando e trazendo para o público em geral que o assiste a importância que tem este gesto simples que nós temos aqui em Brasília, em que o pedestre tem mais poder do que o motorista - obviamente, desde que nos lugares reservados para as faixas de pedestre. Estou de acordo também com o senhor que, das coisas que fizemos aqui, e creio que há uma boa quantidade... Como o senhor mesmo disse, o Bolsa Escola, em que foram necessários cinco anos para o Governo Fernando Henrique Cardoso perceber a importância. Passei cinco anos tentando convencer o Governo Fernando Henrique Cardoso. Hoje é um programa que, com algumas mudanças, está em todas as partes, que é esse de pagar as famílias pobres para que os filhos estudem. Mas a faixa de pedestre foi um ato que ficou, sem dúvida alguma, porque foi incorporado pela população, enquanto que o Bolsa Escola foi incorporada por Governos. O próximo Governo pode acabar. A faixa de pedestre, o Governo que me sucedeu tentou acabar. Chegaram a pintar de preto as faixas, mas não conseguiram porque se entranhou na imaginação. Acho que um governante pode ficar feliz é de dizer que fez alguma coisa que ficou na cultura da população. Não é apenas uma lei que outro pode mudar, mas é algo que nem precisa, como o senhor disse, de lei, quando a gente consegue. Além disso, no meu caso, sendo professor, tenho muito orgulho porque foi um gesto de professor. Agora, quero reconhecer que eu jamais faria isso se não fosse uma quantidade de pessoas envolvidas, especialmente a mídia, a Rede Globo e o Correio Braziliense, principalmente, que foram os veículos da formação. Ademais, sempre digo às outras pessoas que ajudaram também aqueles que nós contratamos para ficarem nas faixas de pedestre ensinando às pessoas que isso era possível e também muito as crianças, que passaram, dentro do carro, a cobrar dos pais que respeitassem as faixas. Isso foi, de fato, algo que mudou o Distrito Federal. Agora, ainda há resistência. Esta semana, eu estava no carro, eu vi uma pessoa que ficou parada e não colocou o braço. Ainda não sentiu o seu - a palavra que eu não gosto, mas que representa bem - empoderamento. Essa pessoa ainda não incorporou nela - essa, como exceção - o poder que ela tem. E aí eu sempre falo de educação. Provavelmente, essa senhora que eu vi parada, esperando que os carros parassem sem que ela pedisse, é possível que ela não saiba ler, porque entre os analfabetos há uma resistência de se considerarem iguais aos outros, tanto que eles nem olham nos olhos da gente, em geral, olham meio para baixo. Os analfabetos ainda têm uma dificuldade de entender que eles têm o poder de fazer o carro de um Senador, o carro de quem for, parar na faixa de pedestre quando ele põe a mão. As crianças já fazem isso, as pessoas já fazem isso. São raríssimos os que ainda não perceberam o poder que têm. Eu tenho muito orgulho de ter colaborado nisso como Governador. Mas não teria acontecido se não fossem os veículos de comunicação que se envolveram, se não fosse a população de Brasília demonstrar o seu grau de generosidade, que é o tema do seu discurso. É prova, sim, de gentileza, aliás, como o senhor está falando. É uma gentileza do motorista parar. É uma gentileza de quem está no carro com quem está querendo atravessar. Essa gentileza é uma demonstração que o povo de Brasília deu. E foi esse povo que fez com que as faixas de pedestres, de fato, funcionassem aqui. Muito obrigado por estar lembrando isso, que já tem, creio, treze anos de funcionamento. E, nesses treze anos, só tem se incorporado cada vez mais na vontade de cada um dos habitantes desta cidade.

            O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (PMDB - AC) - Eu é que agradeço, Senador Buarque, ainda mais pela lembrança que V. Exª traz aqui de que não fora a parceria, inclusive com os meios de comunicação, talvez essa ideia não tivesse avançado tanto quanto avançou. E é exatamente por isso que eu aqui me propus a lançar...

            A Rede Globo trouxe uma matéria muito interessante, aproveitando o fato de que a Prefeitura do Rio está limpando as paredes na região portuária onde o Gentileza escrevia as frases dele, algumas sem nexo, sem sentido, mas sempre com a gentileza ao fundo. A Prefeitura do Rio resolveu... Houve uma época, numa campanha de limpeza da cidade em relação às pichações, em que inclusive os paineis do Gentileza foram pintados, e a Prefeitura está resgatando esses paineis hoje.

            Então, a propósito dessa matéria, a emissora ouviu pessoas, populares, e a ideia básica é esta: as pessoas hoje não param mais para cumprimentar. As pessoas hoje, em regra, estão tão apressadas que não percebem o outro que está do lado. Às vezes, uma senhora está com dificuldades para atravessar uma rua. Não custa pegar em sua mão e ajudá-la. E, a propósito então dessa matéria, Senador Buarque, eu vim hoje aqui disposto a lançar um desafio, tanto à Rede Globo como às outras emissoras: que elas, que têm esse poder de comunicação fantástico no nosso País, encampem uma grande campanha, tendo como objeto, por exemplo, as faixas de pedestre e outros objetos que a gente pode imaginar que seriam, assim, de fundamental importância em termos de avanço da cidadania brasileira, tendo sempre no fundo a questão da solidariedade, da gentileza mesmo.

            Nós precisamos nos tornar mais gentis. Nós estamos nos tornando pessoas assim... Acho que esse é um dos grandes males do capitalismo. Ele faz com que as pessoas, na ânsia pela busca do lucro, tenham que correr mais ainda, tanto quem está ganhando fortunas como quem está trabalhando para que outros ganhem fortunas. O ritmo da vida tem sido cada vez mais célere. A pressão é uma coisa fantástica. Então, nós estamos perdendo esse senso, essa noção.

            V. Exª, que é um educador... Eu lanço aqui um outro desafio: as escolas deveriam adotar na sua grade curricular uma matéria: relações humanas. Relações humanas. Nós estamos perdendo essa qualidade nata do ser humano. Eu digo isso de forma genérica. É o que a gente percebe. Que bom se as pessoas voltassem a praticar tudo isso de forma espontânea, natural, Senador Buarque. Olhar para o Senador Mozarildo, sorrir para ele, dar-lhe um abraço, cumprimentá-lo, e a qualquer pessoa que passe por nós, como um porteiro. A reportagem mostra um porteiro impressionado com o fato de que as pessoas passam pelo seu prédio, na frente, e nem olham para ele, que dirá dar-lhe um bom-dia, uma boa-tarde!

            A minha presença hoje na tribuna tem apenas este caráter e este objetivo: lançar um desafio, principalmente às emissoras de televisão, os órgãos de comunicação do País que tanto poder têm de comunicação, para que a gente imagine campanhas nacionais. Olhe, Senador Buarque, eu sonho com o dia em que lá, no meu querido Acre, em qualquer rua, em qualquer cruzamento, não só na capital, como no interior, a gente tenha a gentileza de parar o carro para que as pessoas atravessem, inclusive dar um tchauzinho, cumprimentar, desejar boa sorte na travessia. Quem dera que, em breve, a gente possa ter isso em todo o nosso País.

            A visão que eu tive lá em Montevidéu acendeu em mim a esperança de que isso possa acontecer de fato. Um país lá na fronteira. Frequentamos Montevidéu há tanto tempo, e eu nunca tinha visto isso lá. Pela primeira vez, eu vi os carros pararem, as pessoas atravessarem com um gesto parecido com aquele que imaginamos aqui em Brasília, de dar a mão para atravessar.

            Portanto, está aqui Rede Globo, Bandeirantes, Record, SBT, União, tantas redes de televisão que poderiam se unir nesse propósito e deflagrar uma grande campanha no nosso País. Este fato, a faixa de pedestres, eu acho que, se nós consolidássemos esse avanço no nosso País, eu não tenho nem ideia do significado que isso teria em termos de cidadania, de evolução da sociedade, de crescimento da consciência de que a gente precisa ser mais solidário, ser mais gentil, ser mais educado.

            Às escolas, ao MEC, enfim, ao nosso País e aos nossos Estados, o desafio de que a gente introduza na grade curricular - não sei em que faixa poderíamos imaginar isso - mais uma matéria: relações humanas. A escola nos ensina matemática e português, mas a escola está ficando cada vez mais distante do compromisso de ter também a participação em ensinar as pessoas a serem cidadãos e cidadãs, a serem gentis, a serem educados, a serem completos cidadãos.

            Então, os dois desafios estão aí, Senador Mão Santa, lançados. Aos meios de comunicação do País, para que a gente propague essa experiência fantástica ocorrida em Brasília. É uma possibilidade que a gente tem. Olhe, eu não gostaria que isso acontecesse por lei, porque vai ficar um negócio meio apertado, uma resistência muito grande. Acho que a gente tem espaço para que isso se instale em nosso País de forma plena, consciente, num grande debate nacional sobre uma questão como essa. A gente debate sobre tanta coisa; por que não sobre isso? E às escolas, que introduzam na sua grade curricular relações humanas; nem mais nem menos. Acho que, assim, junto com os avanços econômicos, políticos e sociais, a gente estaria incorporando um grande avanço, o avanço de fato da consolidação da cidadania brasileira, da democracia brasileira.

            Isso, no fundo, no fundo, Senador Mão Santa, é democracia, é o respeito ao outro, que, por vezes, está em situação diferenciada, está lá, tentando atravessar uma rua, e a gente dentro de um carro, com o ar-condicionado ligado, etc., muitas das vezes até com indiferença total com quem passa ao largo, com quem passa em torno da gente.

            Estão aí lançados dois desafios para este grande País, que é o nosso Brasil.


Modelo1 5/19/247:46



Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/05/2010 - Página 17960