Discurso durante a 71ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Preocupação com o estado de abandono verificado no interior do Estado do Pará, pontuando as dificuldades enfrentadas no setor educacional, que carece de verbas e de professores.

Autor
Mário Couto (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PA)
Nome completo: Mário Couto Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. EDUCAÇÃO.:
  • Preocupação com o estado de abandono verificado no interior do Estado do Pará, pontuando as dificuldades enfrentadas no setor educacional, que carece de verbas e de professores.
Publicação
Publicação no DSF de 13/05/2010 - Página 20380
Assunto
Outros > ESTADO DO PARA (PA), GOVERNO ESTADUAL. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, ESTADO DO PARA (PA), ESPECIFICAÇÃO, JORNAL, DIARIO DO PARA, DENUNCIA, PERDA, EDUCAÇÃO, OBRIGATORIEDADE, GOVERNADOR, DEVOLUÇÃO, RECURSOS, SETOR, MOTIVO, DESCUMPRIMENTO, EXIGENCIA, GOVERNO FEDERAL.
  • REPUDIO, INCOMPETENCIA, NEGLIGENCIA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARA (PA), REDUÇÃO, RECEITA, MUNICIPIOS, AUMENTO, PRECARIEDADE, ENSINO, INTERIOR, INFERIORIDADE, SALARIO, PROFESSOR, COMPARAÇÃO, SITUAÇÃO, CATEGORIA, ESTADOS, EFEITO, SUPERIORIDADE, NUMERO, GREVE.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Obrigado pela bondade de V. Exª.

            Digo a V. Exª que insisti tanto em falar na noite de hoje, Senador Paulo Duque, porque se trata de um assunto que me causa constrangimento e, tenho certeza, aflição ao povo do meu Estado.

            Tenho vindo eu aqui a esta tribuna, Senador Mão Santa, Senador Augusto, por diversas vezes falar do meu Estado e mostrar a necessidade de se corrigir tantas coisas do meu Estado hoje. Falo, na maioria das vezes, em segurança pública. V. Exª é testemunha, temos até conversado. Mas venho falar de um outro assunto muito importante. E precisa ter o povo paraense a consciência do momento em que vivemos em nosso Estado. É um momento muito delicado. É um momento muito difícil. Eu não tenho por que simplesmente vir aqui para falar e prejudicar a Governadora do meu Estado.

            Primeiro, não sou nem candidato, não sou candidato a absolutamente nada, Senador Papaléo, para que digam que estou fazendo isso para me promover; segundo, não rogo pela desgraça do meu Estado, ao contrário, eu amo o meu Estado, eu gosto muito do meu Estado. O povo do meu Estado me deu a confiança de vir para cá, depositou a confiança em mim para que eu viesse para cá representá-lo.

            Tenho andado muito no interior do meu Estado, tenho visto no interior do meu Estado coisas que jamais vi. Tenho 20 anos de Parlamento, seguidos, Senador ACM, 20 anos seguidos dentro do Parlamento. Dezesseis anos como Deputado Estadual... Fui tudo na Assembleia: Líder do Governo, Líder do meu Partido, Presidente da Assembleia e, agora, estou aqui. Mas nunca vi, Senador Papaléo Paes, um momento tão difícil no Estado do Pará.

            Dói, Senador Paulo Duque, dói. Se V. Exª andar comigo no interior do meu Estado, dói de ver o abandono do interior do meu Estado. E, pelas minhas andanças, porque ando muito, vivo no interior do Estado, dediquei a minha vida inteira ao interior do Estado, posso afirmar à sociedade paraense que a educação no meu Estado agoniza. A educação no Estado do Pará nunca esteve tão mal como agora.

            Vou mostrar alguns aspectos da educação atual do meu Estado. A educação do meu Estado é real: agoniza. Eu aqui falei, meu Presidente Mão Santa, algumas semanas atrás, que o Governo do Estado do Pará devolveu, Senador Papaléo Paes, a importância de R$19 milhões na área de segurança pública. Eu e o Senador Flexa Ribeiro insistimos ao Ministro da Justiça para mandar, através do Pronasci, R$21 milhões. O Ministro mandou os R$21 milhões para a Segurança do meu Estado. A Governadora aplicou o R$1,9 milhão, não prestou contas e devolveu o resto. Foi obrigada a devolver o resto do dinheiro porque não prestou contas. Mas eu pensei que ia parar aí. Eu pensei que fatos dessa natureza não se repetissem mais no meu Estado. Lógico que foi muito desgastante para os Senadores conseguirem aquele recurso. Nós jamais imaginávamos, pelo que acontece hoje de violência no meu Estado, que a Governadora não soubesse, ou não tivesse capacidade de usar o dinheiro.

            Mas pasmem, senhoras e senhores, não parou por aí: a Governadora, neste momento, devolve - é obrigada a devolver - R$82 milhões na educação, nobres Senadores! Oitenta e dois milhões a Governadora, meu querido Senador Flávio Arns, está devolvendo porque não cumpriu as exigências do Governo Federal! Olhem aqui, Senadores! Olhe, Brasil, a irresponsabilidade de uma senhora chamada Ana Júlia Carepa, que é Governadora do Estado do Pará. Nos jornais, é manchete. O Diário do Pará, um dos jornais de maior circulação no Estado do Pará, olhem o que diz: “Educação do Estado perde R$82 milhões”. Onde já se viu isso!? Qual é o Estado que perde essa verba logo na educação?!

            Ô Ana Júlia Carepa! Ô Ana Júlia Carepa, isso é educação! Isso é o futuro do nosso Estado! Isso é o futuro do nosso País, Ana Júlia Carepa! O nosso Estado não pode negligenciar na educação! É um caos, é um suicídio para o Estado do Pará! São R$82 milhões devolvidos!

            E o jornal diz o seguinte: “Governo do Estado não cumpre sua parte e Ministério da Educação sequestra verba destinada a municípios paraenses”. Essa verba, Senador, seria repassada para os municípios, para a educação. Os prefeitos agora perderam esse dinheiro.

            Onde está, onde está, meu nobre Senador, a responsabilidade de um governo com a população, Senador Jayme Campos? Onde está a responsabilidade de um governo com a sociedade paraense, aquela sociedade que votou e colocou a governadora no poder para dirigir o destino do Estado, para dirigir os destinos dos jovens, das crianças do Estado do Pará? E ela não dá educação.

            Um milhão. Um milhão ou mais de crianças estão hoje sem escola no Pará. Perguntem-me por quê, Senadores. Porque os professores entraram em greve. Entraram em greve pela terceira vez, meu Senador Augusto.

            Paulo Duque, quando a Governadora Ana Júlia assumiu o Estado do Pará, foi agradecer aos professores. Os professores votaram maciçamente; os militares votaram maciçamente na Governadora Ana Júlia Carepa! Os professores significam uma boa parte, uma boa parcela da sociedade paraense. Esta, agora, já é a terceira greve.

            Quando aqueles professores, Augusto Botelho, que votaram na Governadora, que ajudaram a Governadora a ir para o poder, para governar o Estado do Pará, quando fizeram a primeira greve, ela mandou os policiais jogar spray de pimenta nos olhos deles. Essa foi a primeira resposta de Ana Júlia aos professores para chegar ao Governo do Estado. Esta aqui é a terceira greve em menos de quatro anos. Jamais, em momento algum, jamais, em qualquer governo passado, os professores fizeram três greves em três anos, reivindicando seus direitos.

            Olhem as manchetes dos jornais: “Governo deixa um milhão de alunos sem aula”. Ana Júlia Carepa, tu já sentaste para pensar, Ana Júlia Carepa? Ou tu só pensas em dançar, Ana Júlia Carepa? Eu não gosto de falar assim contigo, Ana Júlia Carepa. Mas é impressionante! É impossível pensar que V. Exª tem responsabilidade! V. Exª é irresponsável, Governadora! Como é que V. Exª deixa mais de um milhão de jovens sem estudar no meu Estado? E V. Exª ainda quer que eu fique calado! Não posso, Governadora. Eu não posso ficar calado! Eu não devo ficar calado! Eu tenho a obrigação de falar. Eu tenho a obrigação de denunciar. O paraense não me perdoaria se eu aqui ficasse calado, se aqui eu não mostrasse o caos, a falência da educação no meu Estado! A educação agoniza no meu Estado!

            Senador Mão Santa, com toda a incompetência que hoje tem o Governador da sua terra, mas a incompetência da Governadora da minha terra chega aos limites e aos parâmetros da maior irresponsabilidade! Vou lhe mostrar que a Governadora de meu Estado bate recordes de incompetência em termos de administração no Brasil.

            Senador Flávio Arns, o professor, na minha querida terra, na terra de Nossa Srª de Nazaré, a nossa padroeira milagrosa, lá naquela terra de turismo, lá naquela terra de minérios, lá naquela terra da Ilha do Marajó, é onde ele ganha menos em todo o Brasil, meu nobre Senador. Até o Piauí, que o Mão Santa diz que tem um Governador ruim, paga melhor que a Governadora Ana Júlia Carepa! Até o teu Governador, que tu dizes que é ruim, paga melhor que a Governadora Ana Júlia Carepa.

            E lá vai jornal: “Professor paraense é o que tem o salário menor”. Mas tu não disseste isso, Ana Júlia. Tu disseste que tu ias respeitar os professores. Tu disseste que tu ias fazer uma educação de primeira qualidade. Tu prometeste aos professores, tu prometestes publicamente, Ana Júlia Carepa. Eu não sei se tu não gostas do Pará, se tu não tens competência, ou se é falta de interesse teu. Prefiro, sinceramente, Ana Júlia, ficar com a incompetência. Eu acho que você não tem competência para ser a Governadora de um Estado. Como é que o governo de um Estado pode pensar em fazer educação quando paga R$5,00 a hora de um professor, meus nobres Senadores? É verdade: R$5,00, Flávio Arns. A Governadora do Estado do Pará paga a um professor R$5,00. Enquanto isto, ela tem mais de dois mil assessores, assessores particulares, ganhando de R$5.000,00 para cima. E os professores ganhando R$5,00 a hora, aqueles professores que ela enganou, aqueles professores para quem ela prometeu, aqueles professores que ela disse que iria respeitar.

            Vamos para frente. Mostre, TV Senado, mais uma manchete. Olha como a educação do meu Estado agoniza. Mais uma manchete. Tudo isso são jornais de agora. De ontem, de anteontem, de hoje, jornais de agora. Mais uma manchete: “Estudantes fecham escola em Marabá”.

            Eu tenho andado. Eu tenho visitado as escolas. Senadores, dói. Eu mostrei aqui, Senador Papaléo, nesta tribuna, um bebedouro, Senador ACM Júnior, o bebedouro de uma escola. Era uma panela, daquelas panelas já usadas, toda machucada, com um caneco dentro. Cada estudante passava naquela panela, metia o caneco e bebia.

            Eu passei noutra escola, havia alunos sentados no chão das salas de aula. No chão! Lá no fundo da escola, uma enorme montanha de cadeiras quebradas. Esses estudantes que foram às ruas protestar não são os únicos. Lógico que muitos professores temem perder seus empregos! Eu sei disso. Outros não. Outros vão à luta. Outros mostram.

            Mas, Senador Paulo Duque, lamento que o meu Estado, Senador, esteja passando um momento tão triste na educação. Senador, pense comigo. Senador Paulo Duque, pense comigo, raciocine comigo. Imagine V. Exª Governador do Estado do Rio de Janeiro. V. Exª, no primeiro ano, põe um Secretário de Educação; no final do ano ele se demite, ou é demitido. No segundo ano, põe outro Secretário; no fim do segundo ano, o secretário se demite ou é demitido. No terceiro ano, Senador ACM, põe outro Secretário, que se demite ou é demitido. No quarto ano, põe outro Secretário. 

            Mário Cardoso foi o primeiro Secretário; Iraci Gallo, segunda Secretária; Socorro Coelho, terceira Secretária, e agora Luiz Cavalcanti, que assumiu anteontem.

            Senador, como é que se pode fazer um plano para melhorar a educação se todo o ano muda o Secretário? Como? Imagina como!

(Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Mário Couto, atentai bem: para o Senhor do Bonfim eu dei três minutos e para Nossa Senhora de Nazaré eu vou dar três minutos, por questão de justiça, de religião. Você sabe que sou do Partido Social Cristão. Para você não reclamar, para o Senhor do Bonfim eu dei mais três e para Nossa Senhora de Nazaré, que V. Exª representa, três. É porque o Antonio Carlos Júnior, que está ali, tem que pegar o avião. Eu gostaria de ouvi-lo a noite toda. Aliás, querendo, deixe-os terminar e você volta e fica aqui sozinho.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou terminar.

            Então, nobres Senadores, não há nenhuma condição. Troca-se o Secretário todo ano. Como é que vai ter condição de fazer um planejamento para melhorar a educação no Estado do Pará? A educação no Estado do Pará agoniza. É preciso tomar alguma providência. A Governadora Ana Júlia não vai tomar providência nenhuma. A tendência é piorar. A Governadora só pensa agora na sua reeleição. Eu não acredito, eu não concebo que alguém ainda aceite essa senhora para governar um Estado tão grande e tão rico e que hoje passa por essas dificuldades em função da má administração dessa senhora chamada Ana Júlia Carepa.

            Governadora, sinceramente, pense no seu povo, Governadora. Pense nas crianças, Governadora. Pense no seu filho, Governadora. O seu filho está estudando em uma escola particular, se é que a senhora tem filho, pois não conheço a sua vida. A senhora pode, a senhora é Governadora. Pense naquele que não pode. Pense naquele que não tem aula hoje. Pense naquele que está sem educação hoje, Governadora. Põe a sua sensibilidade para funcionar. Abra o seu coração. Não deixe a educação do Pará agonizar. Não deixe a educação do Pará morrer, Governadora. A senhora prometeu, Governadora. A senhora prometeu mais respeito aos professores, mais dignidade aos professores, melhores salários aos professores. A senhora enganou os professores do Estado do Pará. A senhora enganou os militares do Estado do Pará. Um militar no Estado do Pará hoje ganha R$1.000,00. Mil reais, Governadora! Isso é uma vergonha! O Pará bate recordes e recordes seguidos. Esse é mais um. Esse é mais um recorde que nós estamos batendo, que a senhora está batendo.

            (Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Mário Couto, esse foi o discurso mais bonito que eu vi na minha vida. Se eu fosse V. Exª, terminaria logo, porque é o mais bonito que eu já ouvi.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou descer. Já vou descer, Senador Mão Santa.

            V. Exª bate mais um recorde. V. Exª, Governadora Ana Júlia, bate o recorde de pagar menos, em todo o Brasil, ao professor, o sofrido professor paraense. Quem paga com isso, Governadora, são os jovens paraenses, são as crianças do Pará. Parece que a senhora não está nem aí para as crianças do meu Estado. Parece que a senhora nem liga para as crianças do meu Estado. Saber a senhora sabe, saber a senhora sabe como estão as escolas do meu Estado. Saber a senhora sabe quanto ganha o professor.

            (Interrupção do som.)

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Senador Mário Couto, eu estou dando mais para Nossa Senhora do que para o Senhor do Bonfim. Aí eu não sei como é que vai ficar.

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Já vou descer, Senador. É porque eu precisava falar isso. Eu não iria para a minha casa hoje sem falar. Eu esperei desde uma hora. V. Exª vai ter que ter paciência. Eu não sou médico. Agora vou virar. Eu não sou médico, V. Exª é. V. Exª olhou para mim e disse: “Eu sou médico! Vou lhe receitar um remédio”. E eu falei: pode receitar. E V. Exª disse: “O remédio da paciência”.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - A Bíblia... Jó...

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Eu não sou médico, agora vou lhe receitar o remédio da paciência. Fique aí e me escute mais um pouquinho.

            Governadora, V. Exª sabe. Não sei se V. Exª faz de propósito. V. Exª tenta agora conquistar o povo do Pará. V. Exª tem raiva de mim. Não importa...

            (Interrupção do som.)

            O SR. MÁRIO COUTO (PSDB - PA) - Não importa, Governadora. Não importa que V. Exª tenha raiva de mim. O que importa é a minha obrigação. Eu estou cumprindo com a minha obrigação aqui. Vou continuar denunciando e falando. Vou continuar mandando as correspondências necessárias ao Ministério Público. Não vou parar!

            Esta é a voz do povo paraense.

            Muito obrigado, Senador Mão Santa, com as minhas desculpas ao Senador ACM.

            Eu estava aqui desde uma hora da tarde, Senador ACM, ansioso para falar de um assunto muito importante do meu Estado.

            Muito obrigado.


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