Discurso durante a 99ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o impacto da globalização nas Copas do Mundo de Futebol, uma vez que, nos dias atuais, os jogadores atuam em times nos mais diversos países, destacando que nosso País deveria investir em atividades esportivas, não só no futebol, para fazer da escola uma instituição que atraia crianças e jovens para ali se desenvolverem.

Autor
Cristovam Buarque (PDT - Partido Democrático Trabalhista/DF)
Nome completo: Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • Preocupação com o impacto da globalização nas Copas do Mundo de Futebol, uma vez que, nos dias atuais, os jogadores atuam em times nos mais diversos países, destacando que nosso País deveria investir em atividades esportivas, não só no futebol, para fazer da escola uma instituição que atraia crianças e jovens para ali se desenvolverem.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 16/06/2010 - Página 29262
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • ANALISE, ALTERAÇÃO, CARACTERISTICA, TIME, CAMPEONATO MUNDIAL, FUTEBOL, MOTIVO, GLOBALIZAÇÃO, ESPORTE, INTERNACIONALIZAÇÃO, ATLETA PROFISSIONAL, RISCOS, PERDA, NACIONALISMO, PREVISÃO, LIDERANÇA, EMPRESA MULTINACIONAL.
  • DEFESA, APROVEITAMENTO, FUTEBOL, AMPLIAÇÃO, INTERESSE, CRIANÇA, ADOLESCENTE, PERMANENCIA, ESCOLA PUBLICA, INCENTIVO, APRENDIZAGEM.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu garanto que terminarei bem antes das 14 horas. E faltando exatamente tão pouco tempo para o primeiro jogo do Brasil, na Copa, eu venho falar de futebol. Mas eu venho falar, Sr. Presidente, sobre o que eu tenho assistido e de uma percepção que pode ser equivocada de que a gente está caminhando, talvez, para ter uma das últimas Copas do Mundo, por país. Sabia, Presidente? Vamos ver se eu estou errado.

            Quando eu vejo os jogos, o time dos países europeus não têm jogador europeu. O time do Japão tem um jogador brasileiro e o time do Brasil, eu lembro quando foi convocado o time, raríssimos jogam no Brasil. Nasceram no Brasil, cresceram no Brasil, mas jogam no exterior.

            A sensação que eu tenho é que as seleções, Senador Suplicy, estão misturando as nações dentro de cada time.

            Se isso continuar, dentro de mais algumas Copas, eu temo que a Seleção seja como as escuderias de corrida de automóvel: não mais por país. Terá a Copa com um time da Adidas, um time da Nike, um time da Microsoft, um time de cada uma das grandes empresas internacionais.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me, Senador Cristovam?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Senador Suplicy, com a condição de que a gente não demore, porque vamos ter que assistir ao jogo do Brasil enquanto é o Brasil que joga.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu queria ponderar que o futebol tem uma característica, que é uma coisa tão excepcional, que leva ao congraçamento dos povos de todas as origens e raças e de maneira muito bela. Vejamos o caso do jogador Túlio Kanaka, nascido no Brasil e que, como seus pais foram para o Japão, e ali então ele cresceu e se tornou, como às vezes aqui, um estrangeiro. Por exemplo, muitas vezes, um japonês que aqui se torna um brasileiro, isso é uma coisa natural. Mas foi uma coisa tão bonita o fato de sua mãe, inclusive brasileira, estar torcendo pelo seu filho, e aquele congraçamento, a vibração desse jogador que foi excepcional zagueiro, como a televisão mostrou ontem...

            (Interrupção do som.)

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Quero ponderar que V. Exª não precisa temer esse congraçamento cada vez maior de pessoas de todas as raças, origens, o futebol poderá, assim como o rugby foi utilizado... Nelson Mandela percebeu tão bem que o esporte, primeiramente o rugby, poderia servir para unir brancos e negros numa hora tão difícil após o fim do apartheid. E foi tão bonito o esforço com o apoio do Governo brasileiro e da Confederação Brasileira de Futebol, para que esta Copa se desse ali na África do Sul - e Mandela muito se empenhou para que isso acontecesse -, mas vamos ver coisas tão bonitas como as que estão acontecendo todos os dias ali: a torcida pelo time africano contra o time japonês, mas eles dançando juntos, mas uma coisa bonita do ponto de vista da paz entre os povos no mundo. Eu queria registrar isso e tenho certeza de que V. Exª também está percebendo este aspecto tão bonito do esporte, em especial, do futebol, que é a paixão nacional brasileira e cada vez mais do mundo inteiro.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Estou de acordo com o congraçamento, e isso vai continuar, como as corridas de automóveis também não deixam de ser um congraçamento para os torcedores. O que estou dizendo é que a globalização está levando a tal mobilidade entre as pessoas que jogam futebol que, daqui a pouco, aliás, hoje, o nosso time é de brasileiros que jogam lá fora, e muitos destes vão terminar se naturalizando em outros países, e alguns virão para cá, e, de repente, esses times serão adotados por empresas que manterão, como mantêm...

            (Interrupção do som.)

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas, quanto isso, acho bom o senhor estar aqui porque, aqui, é um dos grandes defensores da diplomacia do futebol. E, aí, eu queria, Senador, dizer que peguei o gancho do futebol para falar de educação. Por que nós, hoje, promovemos, a partir do Brasil, o congraçamento, V. Exª mesmo, ontem, propôs, entre a Coréia do Norte e a Coréia do Sul e não fazemos este congraçamento dentro das escolas?

            As escolas são chatas, desagradáveis. As crianças não gostam. Se a gente levasse o futebol para dentro das escolas, a gente segurava as crianças. Mas um número muito pequeno de escolas no Brasil tem quadras esportivas. Raríssimas têm professores de educação física. Raríssimas têm um treinador de futebol.

            A gente poderia pegar a diplomacia futebolística que estamos promovendo internacionalmente - o Presidente Lula tem feito isso; o Ministro Celso Amorim; o Senador Suplicy é um dos que faz isso - e fazê-la aqui dentro. A diplomacia para dentro. A diplomacia de usar o esporte, não só o futebol, para fazer da escola uma instituição que atraia crianças e jovens para ficarem ali dentro.

            Cultura e cinema, como o projeto que aprovamos, vão ajudar, mas o grande atrativo seria levar esporte para dentro das escolas. Toda escola com quadras, com professores de educação física, com treinadores. As crianças ficariam ali e aprenderiam as outras coisas também.

            Falo isso só para encerrarmos esta sessão e podermos ir assistir ao futebol. Vamos lembrar das duas coisas. Foi isso que eu tentei. Uma trata do impacto da globalização nas Copas do futuro. Eu não estou falando da próxima. Estou falando daqui a dez...O senhor e eu já vivemos quantas Copas? Umas quinze?

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Desde a de 50 eu torço.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Umas quinze.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Na de 50 o senhor não torceu, não é?

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Mas estava aí.

            O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PSC - PI) - Eu chorei de tristeza na de 50, quando o Uruguai ganhou do Brasil.

            O SR. CRISTOVAM BUARQUE (PDT - DF) - Então, nós já vivemos umas 15 Copas. Imagine daqui a 15 Copas, daqui a 60 anos, as mudanças que não ocorrerão neste mundo!

            E uma delas pode ser uma globalização tão grande que as seleções deixem de ser por países, o que acho que seria muito triste.

            Essa é uma reflexão. Quando a gente for assistir ao jogo e ver os jogadores de um país jogando por outro país, a gente pensa nisso. A outra: vamos usar o futebol, o esporte, como um instrumento de atrair as crianças para uma escola agradável e simpática, onde eles sintam prazer.

            É isso, Sr. Presidente. Um bom jogo para nós brasileiros hoje à tarde.


Modelo1 6/26/249:20



Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/06/2010 - Página 29262