Discurso durante a 153ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Regozijo pela grande quantidade de brasileiros que ingressou na Classe C, de 2003 a 2008, segundo dados do IBGE. (como Líder)

Autor
Magno Malta (PR - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL. ENSINO PROFISSIONALIZANTE.:
  • Regozijo pela grande quantidade de brasileiros que ingressou na Classe C, de 2003 a 2008, segundo dados do IBGE. (como Líder)
Aparteantes
Antonio Carlos Valadares, José Bezerra.
Publicação
Publicação no DSF de 02/09/2010 - Página 44587
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL. ENSINO PROFISSIONALIZANTE.
Indexação
  • COMENTARIO, RESULTADO, PESQUISA, INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA (IBGE), DADOS, QUANTIDADE, CIDADÃO, MELHORIA, SITUAÇÃO SOCIAL, MISERIA, ALTERAÇÃO, CLASSE SOCIAL, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), ELOGIO, BOLSA FAMILIA, CONTRIBUIÇÃO, POSSIBILIDADE, AQUISIÇÃO, APARELHO ELETRODOMESTICO, APARELHO ELETRONICO, CRITICA, OPOSIÇÃO, NEGLIGENCIA, POLITICA SOCIAL, ANTERIORIDADE, GOVERNO.
  • QUESTIONAMENTO, METODOLOGIA, EDUCAÇÃO, ATUALIDADE, PERDA, APRENDIZAGEM.
  • ELOGIO, GOVERNO FEDERAL, SUPERIORIDADE, CRIAÇÃO, INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO CIENCIA E TECNOLOGIA, COMPARAÇÃO, GESTÃO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, IMPORTANCIA, ENSINO PROFISSIONALIZANTE, AUMENTO, EMPREGO, PREVENÇÃO, CRIME, DROGA.
  • OPOSIÇÃO, PROJETO DE LEI, TRAMITAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, IMPEDIMENTO, PAES, VIOLENCIA, PUNIÇÃO, FILHO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, FAMILIA, EDUCAÇÃO, CRIANÇA, PREVENÇÃO, TRANSFORMAÇÃO, CRIMINOSO, USUARIO, DROGA.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES. Como Líder. Sem revisão do orador. Pronuncia o seguinte discurso.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aqueles que assistem à TV Senado e que estão nas suas casas, meus cumprimentos, aqueles que ouvem a Rádio Senado, os presentes - parabenizo a voz de Valadares, que é forte... (Pausa.) Isso é que é um pulmão bom. Estou admirado. Pulmãozaço o seu, hein! Acho que é por isso que você tem tanto voto assim. Você não precisa de microfone, não. Precisa, para fazer comício lá? Esse é o meu irmão Valadares. É só uma brincadeira com esse grande Senador. Aliás, meu irmão de sangue está sentado ali, meu irmão mais novo, o Maurício. Quero cumprimentá-lo.

             Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, alguns dias atrás, com a televisão ligada, eu assisti a uma reportagem de uma pesquisa a respeito da massa salarial que se avolumou sobre a sociedade brasileira, de 2003 a 2008, da chamada

Classe C dos brasileiros, os antigos e velhos miseráveis agora ingressados... A Srª que é educadora, essa palavra está certa, ingressados? Está? Se não estiver, inventei agora, mas achei que soou meio ruim no meu ouvido. Se não estiver, eu inventei agora, porque tudo é inventado -, ingressados na nova classe média, uma massa salarial, e eles são donos do segundo consumo no País. Eles passaram de 2003 a 2008, Srª Senadora Presidente... Eles agora têm micro-ondas em casa, eles têm máquina de lavar. E, antes de 2003, só compravam feijão e a vida era absolutamente difícil. Aqueles que estavam na miséria hoje podem comprar biscoito recheado para os filhos.

            Essa massa salarial migrou da miséria para essa classe média emergente, ou seja, são pobres emergentes, pobres emergentes para uma nova classe média no País. Isso são dados do IBGE, isso não é invenção. É o ingresso de trinta milhões de brasileiros, Senador Valadares, na nova classe média, na Classe C, chamada nova classe média. São pessoas que saíram da Classe D - entendo muito pouco dessas classificações - a partir de um ganho real de renda de trabalho, renda per capita de 7,3. Esse fenômeno, viu Maurício, aconteceu no nosso Estado. Nesse fenômeno, Srª Presidente, foram 200 mil famílias no meu Estado que saíram da miséria e ingressaram nos pobres emergentes. Pobres emergentes é uma nova classe média, até porque não há demérito nenhum em alguém ser pobre. Jesus disse: “Os pobres sempre tereis convosco”. Demérito é miséria, ninguém nasceu para viver na miséria, até porque falar em miséria num país rico como o nosso, sem dúvida alguma, é envergonhar a todos nós.

            Mas essa classe emergente, os pobres emergentes que agora foram incluídos pela via da mesa, pela via do estômago, pela via da alimentação, hoje, essa massa salarial adentra os comércios e eles podem comprar chinelo, eles podem comprar caderno, roupa para os filhos, pagar prestação - e pagam direitinho, porque pobre paga mesmo. Quem toma empréstimo e não paga é o rico, mas pobre paga.

            O comércio recebe o volume da massa salarial do chamado Bolsa Família. Por isso eu fico com raiva quando escuto dizer que o Bolsa Família é esmola. E me dá raiva porque escuto isso de quem passou oito anos no poder, podia dar esmola e nem esmola deu.

            A minha raiva é pior ainda porque agora, no processo eleitoral, estão dizendo que vão melhorar a esmola. Ora, esmola?!

            Eu fico com raiva de ouvir um outro discurso. “É preciso ensinar a pescar, não pode dar o peixe na mão.” Isso é verdade, isso é verdade. Mas o Brasil ainda tem 20 milhões de irmãos nossos que nunca mais aprenderão a pescar. Eles já foram tão esfolados, já arrancaram tanto deles, já os humilharam tanto, que eles nunca mais aprenderão a pescar. Eles precisam receber o peixe na mão mesmo, o peixe na mão. E aí é fazer uma inclusão social pela via do estômago, que é dar comida mesmo; uma inclusão social pela via da escola, que tenho muita dificuldade com essa palavra “educação”, até porque eu não tive condições de estudar, sonhei ser advogado e nunca passei no vestibular. Fiz três e não passei em nenhum.

            Eu tenho dificuldade porque penso que educação quem dá é pai e mãe. Educação é dentro de casa, é negócio de pai e mãe. Minha mãe era analfabeta profissional e era educada. Eu sou mais ou menos analfabeto e não sou mal-educado. As pessoas que estão me ouvindo em casa têm educação. Escola abre janela para o conhecimento. Você dá formação. Por isso eu tenho muita dúvida. Depois, antes de o titular voltar, eu queria uma audiência com a senhora. Eu nem sabia que a senhora é educadora. Tinha algumas coisas que eu quero entender. Eu pergunto para o Cristovam sempre aqui. Por exemplo, naquela época em que a gente era menino, tinha tabuada, e a gente aprendia. Ah, mas dava um bolo na mão do menino. Sim, mas eu nunca morri, não. Estou aqui. Hoje não pode nem falar nada. Não é nem tocar; não pode falar. Tem até um projeto da palmada agora na Câmara, que, se pai e mãe corrigirem o filho, vão presos. Isso é um projeto safado! Que educação é essa? Olha, se podendo corrigir filho, a sociedade está essa desgraça que está, avalie não podendo corrigir filho! Aí vai ter que fazer presídio agora para prender pai e mãe de bem que corrigem o filho. Rapaz, isso cabe na cabeça de quem?

            Isso tem que morrer lá na Câmara, morrer no ninho, porque, se essa desgraça vier para cá, com certeza, nós vamos matar aqui, não é, Valadares? Valadares, sabe por que eu estou aqui? Porque Dadá, minha mãe, me corrigiu. Sabe por que V. Exª virou Governador de Sergipe, esse homem que está aí? Porque sua mãe o corrigiu. A Bíblia não diz que Deus corrige aqueles a quem Ele ama? Correção é gesto de amor. Ah, mas eu não posso corrigir o meu filho porque o bichinho chora. Se o bichinho não chora agora, quem vai chorar é você depois, com a polícia fazendo o que você devia ter feito quando ele era criança. A Bíblia não diz: “Ensina à criança o caminho em que ela deve andar que, quando for grande, não se desviará dele”?

            Então, esses métodos, eu fico pensando hoje... Eu vejo minha filha de oito anos decorando fórmula. Eu fico olhando aquele trem lá...nem eu sei! Rapaz, para uma criança, não entra na cabeça, e trem que nunca vai usar. Que método de educação é esse? Nunca vai usar! Aí fica a bichinha, na época de prova, doidinha. Criança com negócio de fórmula, não sei o quê. Eu me lembro de que, naquela época, nós tínhamos três meses de férias no final do ano e mais um no meio do ano e só entrávamos na escola com sete anos. E nós aprendíamos. Todo mundo aprendia. Aí foi evoluindo, métodos, métodos e métodos. Quando eu vejo aquela minha filha, que vai fazer nove anos, decorando fórmula, essa menina não vai usar isso. Ninguém no mundo, a não ser que seja um menino fora do comum, que queira virar um cientista, um matemático, mas esse é excepcional, esse está querendo isso mesmo, mas a maioria, não.

            Mas a senhora vai ter que me dar uma aula antes de ir, me dar algumas compreensões disso, porque eu não compreendo. As mães que estão me ouvindo estão falando: é verdade, o que ele está falando é tudo verdade. Meu filho pequeno aqui vem com a prova, tirou quatro, tirou não sei o quê.

            A criança tem dificuldade de aprendizado. Paga um psicólogo. Conversa! Conversa! Eu é que tenho dificuldade de entender isso, porque hoje... Olhe só, eu vejo a minha sogra... Aliás, quero mandar um beijo para ela, D. Ivone, que é uma mãe para mim. Quando foi que D. Ivone estudou? Só fez o primário! ...ensinando dever de casa para a minha filha. O que era ruim? O método de hoje ou o de ontem?

            E eu nem vim fazer discurso sobre a educação. Vim falar desse negócio da inclusão aqui. Quer dizer, não estou nem pronto para fazer discurso sobre isso.

            Senador, V. Exª tem a palavra.

            O Sr. José Bezerra (DEM - RN) - Senador, nós, nordestinos, temos geralmente famílias grandes. Eu tenho sete irmãos e cinco filhos. A história desse projeto da palmada, quando eu soube que existia lá na Câmara dos Deputados, achei uma aberração. E aberração maior foi quando vi que a relatora desse projeto na Câmara não tinha filhos. Não tinha filhos e versando sobre esse assunto! Acho que quem pode versar sobre um assunto desse pelo menos tem que ter filhos e ter sido um filho que levou palmada e que ficou sem preconceito nenhum. Apanhei até de padre salesiano. Levei sinetada na cabeça. Levei puxão de orelha, que abriu aqui atrás da orelha do Pe. Tadeu, em 1965, no Colégio Salesiano. Nunca esqueci do Pe. Tadeu e nunca tive raiva dele, porque ele foi um grande educador. Com meu pai, como a gente dizia lá no Nordeste, vira e mexe e o pau come. Todos os meus irmãos apanharam: mulher, homem...

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Todos foram corrigidos.

            O Sr. José Bezerra (DEM - RN) - Todos se formaram, todos têm vida própria, todos chegaram em posições de destaque na sociedade em que vivemos. Nenhum ficou com qualquer preconceito. Agora, se deixar uma criança a ser educada fazendo o que quer, como vejo nesses casais jovens hoje... Eu tenho netos, vejo minhas filhas, e, às vezes, eu é que tomo a frente. O avô perdeu a chance de ser avô hoje em dia, porque os pais fazem tanto o gosto dos filhos que não há mais gosto para o avô fazer. O avô parece estar tomando o lugar do educador. E nós não podemos no Senado Federal permitir uma lei como essa, que é inócua. Vamos ouvir aqui muitos psicólogos e autoridades a respeito do assunto e, com certeza, isso é totalmente inconcebível. V. Exª está coberto de razão, Senador.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Penso que é unânime a posição da sociedade brasileira, a não ser quem queira abrir mão do seu privilégio - porque ter filhos é um privilégio -, abrir mão de uma dádiva de Deus, que são os filhos. E achar que é a escola, que é a professora que tem obrigação de corrigir e dar educação para o seu filho. A professora tem obrigação de dar educação e corrigir o filho dela. Ela é professora para poder abrir uma janela de conhecimento para o filho dos outros. Nós precisamos começar a entender esse negócio.

            “O problema deste País é educação!”. Eu fico pensando: meu Deus do Céu, há tanta escola boa aí. Educação não é prédio. Esses meninos vão para lá, picham a escola, batem no professor, usam drogas, entram armados nas escolas! Eu não estou entendendo mais nada. Falta apenas ver chover para cima. Eu não estou entendendo mais nada!

            Se é falta de educação, o que nós temos de fazer? Conclamar a família a recobrar valores de família. Esse é o problema da educação! 

            Valores de família! É Deus na vida da família! “Honra teu pai e tua mãe - olha isso aqui é educação - para que se prolonguem os seus dias na terra.” Recobrar valores de família, onde filhos estejam debaixo da autoridade de pai e de mãe e pai e mãe não abram mão da sua autoridade de pai e de mãe, porque isso é um privilégio.

            Temos de chamar a atenção, como homens públicos, para que pais e mães olhem para si e fiquem se perguntando: que tipo de filho estou criando? Meu Deus, que tipo de cidadão estou formando? Que tipo de caráter estamos moldando dentro da nossa casa para entregar à sociedade? Depois, não trabalha caráter, não molda nada, entrega um monstrengo para a sociedade e, depois, a culpa é da polícia e da classe política. Aliás, tudo no Brasil a culpa é dos políticos e da polícia. E aí eu fico me perguntando: ou eu sou um ET, ou está tudo errado? Ou está tudo errado?!

            Mas a mídia ensinou uma coisa para a sociedade, que a sociedade gosta; a sociedade alimentou e aprendeu rápido. A mídia, de má-fé, ensinou a sociedade a abrir mão da sua responsabilidade e a achar sempre um culpado, um bode expiatório. Para tudo que acontece de ruim na família e na sociedade, eles têm uma desculpa: “Ah, porque a culpa é da polícia, não tem polícia na rua, não passa carro de polícia aqui.” E o outro fala: “Que nada, são aqueles políticos que só querem aumentar o salário deles!” São duas conversas para justificar a irresponsabilidade de pai e de mãe dentro de casa, que não criam os seus filhos, que não formam caráter, que não dão educação.

            Então, eu penso que a dificuldade do Brasil não é prédio escolar, não. A dificuldade do Brasil são valores de família. É pai e mãe recobrarem valores, é a família.

            Pois bem. Essa nova classe média... Vou voltar para o meu tema. Sr. Presidente, é uma coisa interessante: ela aposta na Educação. É tudo que ela quer. Vejam só. Quando essa massa salarial foi tirada da miséria... Vinte milhões no Brasil, duzentos mil no meu Estado... Se temos vinte milhões que não conseguem aprender a pescar... Olhem que coisa interessante: nós acabaremos com essa Bolsa-Família daqui a 15 ou 20 anos fazendo a inclusão social, ensinando os filhos destes a pescar pela via do ensinamento da janela do conhecimento, pela via da escola.

            Por exemplo: o Presidente Lula construiu 250 Cefets no Brasil. Isto é, preparando para acabar com o Bolsa-Família daqui a 20 anos. Porque eles terão formação. eles terão agora como cuidar dos pais e formarão as suas famílias devidamente formados, tecnicamente, estarão no mercado de trabalho. Quando forem pai com condição de sustentar e criar filhos, aí sim, daqui a 15 ou 20 anos...

            No Governo Fernando Henrique havia um decreto que proibia a construção de novas escolas técnicas. Um decreto. Só com um projeto de lei, na Câmara, comandado pelo Deputado Neucimar Fraga, com a orientação de Cristovam Buarque, que era o Ministro da Educação, sancionado pelo Lula, é que se abriu novamente a possibilidade das escolas técnicas. São duzentas e cinquenta no País. O Lula construiu 19 novas universidades.

            Sabe o que eu acho engraçado? É que o Lula só tem o terceiro ano primário. Mas pulsa do coração dele... Falo isto porque sou seu amigo pessoal. Já viu pai que nunca teve um velocípede quando era menino? Aí, quando casa, quer que a mulher tenha o filho na maternidade, porque ele nasceu na mão da parteira. Tudo que a gente não teve quer que os filhos tenham: “Não, meu filho vai ter”. Aí compra uma motoquinha de plástico para o filho, porque ele não teve um velocípede quando era menino. “Não, meu filho...” “Eu nunca fui nessa tal de Disney. No máximo que eu fui foi no Paraguai”. Aí fica doidinho para juntar dinheiro para mandar o filho para a Disney.

            Eu fico pensando: Garrastazu Médici tinha dez dedos; Figueiredo tinha dez dedos na mão; Collor tem dez dedos; Sarney tem dez dedos; Fernando Henrique, tem dez dedos intelectuais. Dez dedos intelectuais! E Lula, com apenas nove dedos, fez para o conhecimento no Brasil o que esses não conseguiram fazer com dez. Fernando Henrique tem dez dedos intelectuais e fez um decreto para não abrir mais escola técnica no Brasil. Decreto!

            A senhora sabia que o Serra, quando foi Ministro da Saúde, fez um decreto para a Anvisa, mandando fechar todas as casas de recuperação de drogados no Brasil? Para quem fazer isso? O SUS? O SUS não cumpre nem o seu papel! Agora o SUS vai pegar viciado em crack e botar soro e botar lá dentro, internado? Mamãe, me acode! Vai recuperar que dia? Isso não é problema de saúde pública; droga é problema espiritual. E tratar drogado é abnegação de quem tem sacerdócio. Esse decreto estava lá na Anvisa.

            Então, essa nova classe média, esse pobre emergente, eles estão querendo agora é Educação. Eu vejo, nos programas eleitorais, esses candidatos a Governador falando que vão melhorar a Educação, mas não falam... Melhorar a Educação como? Isso é um discurso velho. Ninguém quer saber disso mais, porque ninguém é besta. O cidadão mais simples do mundo tem uma parabólica lá no maior grotão do País. Ele sabe tudo que está acontecendo na parabólica dele.

            Dos 250 Cefets que o Lula fez, nós conseguimos levar 12 para o Espírito Santo. Nós temos que brigar é para levar mais lá para a região das montanhas, para o norte, para o sul, para o noroeste do meu Estado, como todo mundo. Se fez 250, dá para fazer 500. E tudo dentro da vocação de cada região. Quer ver? Lá em Piúma fizeram uma escola técnica de pesca, porque a vocação é pesqueira.

            Com esse advento do petróleo, com esse advento do pré-sal, escolas técnicas com curso de petróleo e gás, porque vai faltar mão de obra mesmo com esses formandos das escolas técnicas para a Petrobras absorver. Imaginem para outras empresas que chegarão ao Brasil precisando desses técnicos!

            Pai que tem juízo hoje incentiva filho a entrar para o Cefet, e não pagar R$700,00 ou R$800,00 numa faculdade particular sem poder, dando cheque pré-datado, para esse filho se formar com dificuldade e depois arrumar um emprego de R$500,00.

            Bota no Cefet, campeão! Vai ter profissão! Vai ingressar no mercado de trabalho com profissão!

            Um dia desses fiquei estarrecido. Perguntei qual era o teto salarial de um fisioterapeuta. Passa cinco anos na faculdade estudando à noite, trabalhando de dia, pagando com dificuldade, o pai é que honra, ou a mesma pessoa, pagando, estudando, trabalhando, atrasa um mês aqui, vai lá e cobre outro para poder fazer a prova, aquela dificuldade... Disseram-me que o teto salarial é de R$800,00. Como é que é? Meu Deus!

            Então, eles, agora, incluídos, eles agora calçam... Esses meninos agora esquentam pão em micro-ondas em casa, porque ingressaram nessa classe dos pobres emergentes.

            Têm televisão e computador em casa, cuja prestação a mãe paga - porque pobre paga. Essa nova classe vai à Caixa e toma dinheiro para reformar a casa, para pintar a casa - olhem que bacana! -, para botar um motor no barquinho dele, que nunca teve, foi sempre no remo, para pescar.

            Olhem só! Eles agora querem educação, querem conhecimento, porque, se esse conhecimento vier para os filhos e para os netos, daqui a pouco nós baniremos, para nossa felicidade, a miséria neste País. A miséria! Porque demérito não é pobreza, é miséria! Jesus disse: “Os pobres sempre tereis convosco.” Os pobres sempre vamos ter. Não tem demérito nenhum nisso.

            Então, eles agora querem isso. O que temos de fazer? Eu não posso brigar pelo Brasil inteiro - estou falando aqui para o Brasil inteiro -, de uma forma concreta, materializada. Eu só posso fazer isso de uma forma materializada pelo Espírito Santo; eu só posso brigar pelos interesses junto a todo Presidente da República, se eu continuar nesta Casa, para que o Cefet vá a todas as regiões do meu Estado.

            Nós somos a capital do granito, Cachoeiro de Itapemirim, no norte do meu Estado, com as grandes jazidas de granito, em Barra de São Francisco, em Nova Venécia. Então, coloca-se um Cefet com essa vocação para rochas ornamentais e se formam esses técnicos. O mundo está consumindo tudo que produzimos aqui de rochas ornamentais.

            Então, eu penso e acredito no conhecimento. Não podemos é transferir responsabilidade e entregar responsabilidade da nossa família para quem não é responsável por ela. Professor ou professora é responsável por educar seu filho, por educar bem seu filho...

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - Senador Magno Malta, V. Exª me concede um aparte?

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Claro.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - É para me somar ao pronunciamento de V. Exª. Estou inteiramente de acordo com essa perspectiva da educação, que ela cria para a juventude, para o futuro do nosso País. A educação é a base da nossa Nação, porque o conhecimento é fundamental, a fim de que as estruturas sejam montadas e o nosso País possa crescer e se desenvolver cada vez mais. Nós tivemos exemplos de que foi através do apoio, do estimulo à educação, ao ensino técnico, que nações como Alemanha e Japão, trucidadas pela Segunda Guerra Mundial, conseguiram se soerguer, saíram praticamente das cinzas.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Exato.

            O Sr. Antonio Carlos Valadares (Bloco/PSB - SE) - E hoje são nações superdesenvolvidas, são potências mundiais que dão o exemplo a todos nós de que investir na educação é fundamental para o futuro do nosso País. Inclusive, nós tivemos a oportunidade, por ocasião da discussão do pré-sal, de incluirmos - e V. Exª votou - uma emenda que eu apresentei em conjunto com a Senadora Fátima Cleide e o Senador Inácio Arruda, possibilitando que, no Fundo Social do Pré-sal, futuramente, o Brasil aplique pelo menos 50% do que for arrecadado para o fundo em benefício da educação. E o Senado deu uma prova de que está em perfeita sintonia com o discurso de V. Exª. Já houve tempo em que as escolas técnicas tinham um papel muito importante, especial, na formação dos mais jovens. Por exemplo, as escolas do comércio, que formavam os jovens contadores para exercerem a sua atividade específica, fazendo a contabilidade do comércio, da indústria. Com o tempo, isso praticamente se acabou. Mas, agora, o Governo Federal, o Governo do Presidente Lula, está reestruturando o ensino técnico em nosso País. Digo isso não porque estou querendo aproveitar-me do Presidente Lula, mas porque fui Governador do Estado e criei várias escolas técnicas no Estado de Sergipe, as chamadas escolas polivalentes, com o apoio do Governo Federal, em Lagarto, em Estância, em Propriá e em Aracaju. Lamentavelmente, depois que saímos, outros governos não deram a devida atenção, mas, agora, com essa política do Presidente da República de instalar em Municípios do interior e também na capital as escolas técnicas, estamos reativando um programa que vai preparar o Brasil para os dias de amanhã. Portanto, quero parabenizar V. Exª por lembrar que, por meio da educação, do ensino técnico, poderemos concorrer em igualdade de condições com as nações mais desenvolvidas e estabelecer um parâmetro de desenvolvimento para o nosso País com emprego e renda para esses jovens que, a cada ano, exigem o ingresso no mercado de trabalho. Parabéns a V. Exª. Tenho certeza de que o povo do Espírito Santo vai-lhe fazer justiça por esse trabalho edificante em favor dos mais jovens, em favor do combate às drogas, à criminalidade. V. Exª é um defensor intransigente do povo brasileiro. Tenho certeza absoluta - não conheço pesquisa lá no Espírito Santo, mas tenho certeza absoluta - de que, pelo trabalho que V. Exª realizou nesta Casa, durante estes quatro anos, sacrificando inclusive sua própria saúde em benefício da nossa juventude, de que aquele povo generoso e bom vai trazê-lo de volta para o Senado Federal.

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Agradeço. Recebo com alegria e incorporo ao meu pronunciamento a sua palavra e a sua experiência de ex-Governador, de homem público. Lembro que, quando eu estudava em Recife, V. Exª era Governador no seu Estado, honrado pelo seu povo, por seu comportamento e sua visão de povo, de gente, de pessoas, colocando-as normalmente acima do saco de cimento, acima do quilo de asfalto. Todas essas coisas são boas, mas depois do ser humano. Antes do ser humano, não. E V. Exª sempre tratou o povo do seu Estado com mais importância do que cimento, brita e asfalto. Então, essas coisas é que fazem o homem público. É a bandeira que carrega o homem público. É a bandeira que carrega alguém na vida, imagino, porque quem não tem bandeira - não sei realmente - atira para todos os lados, e não se sabe exatamente aonde elas querem chegar.

            Srª Presidente, incorporo a palavra do Senador ao meu pronunciamento.

            Meu Estado é de gente boa, simples, mas é um povo acolhedor. O Estado do Espírito Santo tem uma cultura, recebeu lá os alemães, recebeu muitos imigrantes alemães. Há uma comunidade alemã muito grande no Espírito Santo, uma comunidade italiana muito grande e um povo que produz, que trabalha. Há os afrodescendentes do Estado, que recebe um baiano também como eu, que fui recebido e adotado por eles. Eu costumo dizer que o Nordeste me pariu, mas foi o Espírito Santo que terminou de me criar e me deu esse carinho.

            E essas pessoas todas espalhadas pelo Estado, Srª Senadora, descendentes de alemães, descendentes de italianos, afrodescendentes, os quilombolas, os índios da região de Aracruz, eles todos querem esse ingresso - e já o estão fazendo - no conhecimento, pela via da escola, e querem trabalho. E aqueles que o têm, têm medo de perder.

            Sabem o que fico pensando, nesses dois minutos que me restam? É que os governantes... Todo Estado tem um banco de fomento. Tinha que pegar o banco de fomento e chamar os comerciantes e dizer: “Olha, quem gerar dois empregos terá um limite aqui de dinheiro, de capital de giro.“

            Se cada loja empregar duas pessoas, imaginem o Município que tem duzentas lojas; ele gera quatrocentos empregos, incentivado pelo Governo. No menor Município. Pegando dinheiro de um banco de fomento - é o Bandes, no meu Estado -, em vez de pegar a massa de salário e emprestar só para os grandes empresários. Porque um emprego na indústria custa R$250 mil; um emprego no turismo custa R$3 mil. Com R$3 mil você cria um emprego no turismo.

            Matar a fome no Brasil e diminuir a violência, incluir os jovens de 14 anos, de 15 anos no mercado de trabalho. Meio expediente! Qualquer empresário que colocar uma criança de meio expediente para dentro e acompanhar a escolaridade dela terá incentivo fiscal. Assim se evita que esse menino seja empregado do tráfico, que ele entre no shopping, fique olhando, desejando as coisas sem ter como comprá-las, e ainda leva esse meio salário mínimo para dentro de casa, para acoplar à renda familiar do Bolsa Família.

            A gente trata de muita coisa: evita que o tráfico tome conta, ajuda a diminuir a violência e a segurança pública, aumenta a massa salarial da família e dá dignidade a um adolescente, que já se sente um homenzinho - ele só não quer ser homenzinho para matar -, se sente um homenzinho e pode até namorar e comprar um sorvete para a namorada. Eu não sei se eu tenho coisas demais na minha cabeça, mas eu penso que eles deviam falar isso. Deviam falar isso! Deviam pregar isso!

            Eu quero encerrar, Srª Presidente. Peço só mais um minuto.

            (Interrupção do som.)

            O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PR - ES) - Ajude-a, porque ela colocou onze minutos, e é só um! Porque, se deixar onze, eu falo os onze. Até agradeço a Deus pela sua vida na Presidência, porque a senhora esqueceu de marcar o meu tempo, e eu fiquei aqui, fui ficando aqui; eu não vi acender nada ali, eu fui ficando aqui.

            Eu penso que os Governadores tinham que botar 500 milhões no banco de fomento, chamar os pequenos agricultores, a associação dos pequenos agricultores e dizer assim: “Olha, há 500 milhões aqui para vocês, e eu vou estabelecer um teto para vocês apanharem esse dinheiro, para plantar, investir no sítio, na agricultura familiar. Agora, é o seguinte: o contrato é proibitivo. O contrato tem três cláusulas: 1) É proibido hipotecar a sua terra; 2) É proibido ter avalista; e 3) É proibido pagar esse negócio com dinheiro, vocês têm que pagar com o que produzir na terra para sustentar hospital, sustentar creche e sustentar merenda escolar.

            A gente vai radicando o homem no campo. Mudando essa realidade, e dando a ele ensinamento e cultura. E, dando a ele condição de sobreviver, certamente vamos ter um País diferente, um País melhor.


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