Discurso durante a 157ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Destaque para o Estado da Paraíba, que se afirma como polo de atração de investidores estrangeiros, que buscam um cenário econômico de estabilidade.

Autor
Roberto Cavalcanti (PRB - REPUBLICANOS/PB)
Nome completo: Roberto Cavalcanti Ribeiro
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Destaque para o Estado da Paraíba, que se afirma como polo de atração de investidores estrangeiros, que buscam um cenário econômico de estabilidade.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 16/09/2010 - Página 45631
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • ANALISE, ALTERAÇÃO, FLUXO, MIGRAÇÃO, EFEITO, DESENVOLVIMENTO, ESTADO DA PARAIBA (PB), COMEMORAÇÃO, ESTABILIDADE, ECONOMIA, REGIÃO, ATRAÇÃO, INVESTIMENTO, AMBITO INTERNACIONAL, APLICAÇÃO, SETOR, TURISMO, INDUSTRIA, ENERGIA, MINERAÇÃO, COMERCIO, MERCADO IMOBILIARIO.
  • ENUMERAÇÃO, DIVERSIDADE, PERSONAGEM ILUSTRE, ESTADO DA PARAIBA (PB), VALORIZAÇÃO, CULTURA, BRAVURA, POPULAÇÃO, REGIÃO.
  • REGISTRO, GESTÃO, ORADOR, PROVIDENCIA, INFRAESTRUTURA, DESEMBARQUE, TURISTA, PRAIA, MUNICIPIO, CABEDELO (PB), ESTADO DA PARAIBA (PB), ATENDIMENTO, PEDIDO, TRABALHADOR, BARCO, MELHORIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, TRANSPORTE MARITIMO.

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            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-lo pela pontualidade. O painel mostra 14 horas, e V. Exª, às 14 horas, abre esta nossa sessão. Parabéns! E parabéns aos Senadores que aqui estão.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, durante muitos anos, eu diria séculos, o Nordeste foi caldo do mais puro absolutismo feudal europeu, cunhado pela exploração da cana-de-açúcar, mantida com a mão de obra indígena subjugada, com a escrava negra e com os miseráveis europeus imigrantes ou desterrados.

            Nem o processo de modernização empreendido no início do século XX conseguiu alterar de modo substantivo esse panorama, já que o Sudeste do País, puxado por São Paulo, absorvia praticamente toda a energia desenvolvimentista da Nação. Tentativas como a Sudene e outras mitigaram o problema, mas não conseguiram dar ao Nordeste o mesmo élan de progresso que o Sul/Sudeste do País granjeou.

            Deste descompasso surgiu o caudal migratório norte-sul que inchou cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, que forneciam amplas e atraentes oportunidades de trabalho, mesmo à mão-de-obra pouco qualificada, saída do sertão nordestino. Surgia, então, o folclore do “paraíba” como o trabalhador inculto, de pouca educação e sem qualquer qualificação formal de trabalho. Ser “paraíba”, na gíria do século XX, assim como ser “baiano” ou “nortista” significava para o sulista mal informado pessoa despreparada para tarefas complexas. Uma visão distorcida que se pespegou e se propagou aos nascidos em meu Estado e no Norte e Nordeste, como se fossem só eles os únicos a migrarem para o Sul e como se fossem eles os mais ignorantes dentre todos.

            Ora, visão preconceituosa, calcada muitas vezes em interesses escusos de natureza econômica, e que a história se encarregaria de desmoralizar e desmentir!!!!... Apelido vexatório, próprio das discriminações sociais entre grupos, com diferenças grandes e marcantes.

            O tempo passou e a situação tem mudado paulatinamente, amenizando o caráter pejorativo da expressão e fazendo cair pouco a pouco no esquecimento. Todavia, Sr. Presidente, a Paraíba não foi nem é um Estado exportador de mão-de-obra barata e pouco qualificada (vide o polo de informática de Campina Grande, que exporta mão-de-obra para o Brasil e para todo o mundo da forma mais tecnologicamente qualificada que se possa conceber).

            Nem o sul/sudeste são o paraíso ao qual devem acorrer todos os desafortunados da vida. Depois de décadas de atração inquestionável, o Sudeste não dispõe mais de recursos para receber novas levas de migrantes, o que se percebe pela crescente reversão do fluxo migratório.

            Hoje, com a firme escalada desenvolvimentista dos Estados do Nordeste, os que migraram para o Sul começam a retornar à casa de origem, buscando as oportunidades que sonhavam um dia ter no “Sul Maravilha” e que lhes escaparam entre os dedos por força da saturação do mercado.

            Srªs e Srs. Senadores, faz pouco tempo saudei desta tribuna o aniversário de João Pessoa. Naquela ocasião, enfatizei que a Paraíba é um estado que se formou na luta, moldado por gente brava e heróica. De personagens ilustres como Celso Furtado, quase uma unanimidade nacional, paraibanos de todas as cepas sempre foram provocadores de mudanças na sociedade brasileira. Mesmo os humildes boias-frias que, na boleia de caminhões precários, se aventuraram pelo sul do País, cerraram fileiras com seus conterrâneos famosos para a construção do Brasil de hoje.

            De protagonistas centrais da nossa vida, como Epitácio Pessoa, a simples pedreiros de construção, os paraibanos fazem parte, de modo marcante, do núcleo central da formação do Brasil.

            A lista de paraibanos conhecidos e agentes importantes na história recente do País é extensa e não poderia nominá-la para não incorrer em injustiças. Entretanto, Sr. Presidente, corro o risco calculadamente, citando o jornalista e fundador dos Diários Associados, Assis Chateaubriand; o escritor e intelectual Ariano Suassuna, outra unanimidade nacional; o poeta José Lins do Rego; o cineasta Walter Carvalho; o pintor João Câmara.

            Sr. Presidente, eu me atreveria, mesmo sabendo que incorrerei em determinadas omissões, a citar outras figuras de extraordinária presença no cenário nacional e mundial: André Vital de Negreiros. Comecei com André Vital de Negreiros em homenagem a um dos ícones da libertação do Nordeste do jugo holandês.

            E aí sigo: José Américo, João Pessoa, Abelardo Jurema, Humberto Lucena, Presidente desta Casa duas vezes, Aurélio de Lira Tavares, Argemiro Figueiredo, Alcides Carneiro, Rui Carneiro, João Agripino, Tarcísio Burity, Oswaldo Trigueiro, Teotônio Neto, Samuel Duarte e Antônio Mariz; José Lins do Rego, Augusto dos Anjos, Paulo Pontes, Jackson do Pandeiro, Severino Araújo, famosa orquestra, Sivuca, Geraldo Vandré, Elba Ramalho, Chico César, Herbert Viana; Kaio Márcio, José Marco, Fábio Gouveia, Virgínio Veloso Borges, Domício Gondim, João Claudino, pai de um companheiro nosso aqui no Senado, Newton Rique, Domício Veloso, Corálio Soares de Oliveira, Rui Bezerra Cavalcanti, Renato Ribeiro Coutinho, Drault Ernannny, José Gadelha e Agostinho Veloso; Pedro Américo, Antônio Dias, José Nêumanne Pinto, famoso na mídia nacional atualmente, Samuel Wainer, Wladimir Carvalho, Linduarte Noronha, Afonso Pereira, Ascendino Leite, Luiz Augusto Crispim, Francisco Pereira Nóbrega, Antônio Herman de Vasconcelos Benjamim, Luiz Rafael Mayer, Djacy Falcão, Maílson da Nóbrega, ex-Ministro e atual economista de grande projeção, Felipe Thiago Gomes, Adalberto Barreto, Malaquias Batista, só para citar alguns.

            Passaria aqui a tarde citando ilustres personalidades paraibanas para demonstrar que ser paraíba hoje é me envaidecer de ser Senador pela Paraíba e ser chamado supostamente de forma pejorativa como paraíba.

            Só para ilustrar a riqueza do mosaico de interesses humanos onde o pensamento paraibano provocou inquietações determinantes para o avanço da sociedade brasileira nas mais refinadas áreas do conhecimento humano.

            E muitos, muitos outros. Tantos que, torno a repetir, seria injusto e enfadonho enumerá-los!

            Sr. Presidente, mesmo nos tempos em que as agruras da fragilidade econômica da Paraíba fizeram muitos paraibanos migrarem em busca de melhores oportunidades, o povo do nosso Estado nunca deixou de lutar contra a adversidade e com os meios de que dispunha, nunca deixou de vencer obstáculos e construir o seu futuro.

            Hoje, Sr. Presidente, as dificuldades da vida no Sul, onde as cidades são sacudidas pela violência e marcadas pela exclusão social, fizeram desaparecer os atrativos que tanto inspiraram os nordestinos ao longo do século XX.

            De fato, Srªs e Srs. Senadores, começa a ser percebida a corrente inversa de migração com os que estão ao Sul buscando novas chances nos mercados menos saturados e mais abertos do Nordeste e do Norte do Brasil.

            Esse movimento de retorno coincide com o extraordinário momento político em que a Paraíba desponta como um dos mais promissores destinos preferenciais de poupanças estrangeiras que buscam investir em cenário econômico de estabilidade.

             Nesse contexto, o Estado da Paraíba se afirma como pólo de atração de investimentos para investidores estrangeiros, assumindo uma face cada vez mais visível do cenário internacional, da mesma forma, Sr. Presidente, como o Rio Grande do Norte vive hoje um grande momento de pujança econômica.

            Como já tive oportunidade de afirmar desta tribuna, as áreas da atividade econômica do Estado da Paraíba contempladas com esse aporte de recursos são bastante variadas e compreendem, entre outras, o mercado imobiliário, o turismo, a indústria, a energia, a mineração e o comércio.

            Os países de origem dos investidores são igualmente diversificados. A Paraíba está despertando interesse de norte-americanos, suecos, finlandeses, espanhóis, franceses, portugueses, chineses, árabes, indianos, entre outros.

            Concedo um aparte ao Senador Heráclito Fortes, com muita honra.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Agradeço a V. Exª o aparte. Ouvi V. Exª citar vários paraibanos, e, se V. Exª esqueceu, eu gostaria de lembrar o Manezinho Araújo, pintor, rei da embolada, um dos paraibanos ilustres. Não lembro se V. Exª citou-o.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Não, esse, não. Fará parte dessa relação, porém, da mesma forma que eu, antes de citá-los, adverti...

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Geraldo Vandré.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Geraldo Vandré com certeza citei.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Mas eu queria que V. Exª citasse - tenho a ousadia de dar esta modesta colaboração ao seu pronunciamento...

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - É uma honra para mim.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Uma das coisas mais fabulosas que ocorre na Paraíba, produto da criatividade, o famoso Pôr-do-Sol do Jacaré.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Isso.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - V. Exª não tem ideia do número de turistas brasileiros e até estrangeiros que assistem àquele espetáculo diário de pôr-do-sol, de criatividade fantástica.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Fantástico. Realmente belíssimo.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Eu já fui várias vezes.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Espero ter a oportunidade de convidá-lo para ir comigo.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Quero dizer a V. Exª que, sempre que tenho oportunidade, eu vou, porque acho que fazer turismo é ser criativo. Aquilo foi de uma criatividade fantástica. Um cidadão aproveita a beleza local e, com uma canoa e um saxofone, faz com que você mergulhe no campo da música erudita, passando por músicas brasileiras e tenha realmente um espetáculo comovente. Então, eu ouso entrar na sua seara, na sua Paraíba, na sua João Pessoa...

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Na nossa, na nossa!

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Pois é. Por que eu estou fazendo isso? Certa vez, houve uma briga dos dois bares por conta da apresentação. Um atrapalhava o outro.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Sem dúvida.

            O Sr. Heráclito Fortes (DEM - PI) - Eu fiz aqui um discurso, pedindo a eles que entrassem em um acordo porque o turista não tinha nada a ver com aquelas desavenças. Fui atendido e recebi inúmeras correspondências de pessoas me agradecendo e me parabenizando por aquele gesto. Mas eu fiz aquilo do fundo da alma, do fundo do coração.

            Acho - e V. Exª pode ficar certo disto - que é um dos atos mais criativos do turismo brasileiro a um custo baixo e que, no entanto, tem um impacto fantástico. Muito obrigado.

            O SR. ROBERTO CAVALCANTI (Bloco/PRB - PB) - Agradeço. Lembro a V. Exª que fatos curiosos acontecem conosco. Da mesma forma como V. Exª recebeu centenas de e-mails parabenizando-o por interferir positivamente no tocante ao pôr-do-sol de Jacaré, relatarei neste momento um fato bastante comum a nós Senadores.

            Estava na Praia do Poço, que fica do lado do mar em Cabedelo, caminhando com minha senhora quando um cidadão se aproximou de mim e disse: “Senador, posso falar com o senhor”? Eu respondi: “Pois não”. Ele então falou: “Eu sou barqueiro, tenho uns barcos que fazem turismo aqui em Cabedelo. Apanhamos os turistas pela manhã, levamos à Areia Vermelha, uma ocorrência magnífica do turismo paraibano que é o afloramento de um banco de areia por ocasião da maré baixa onde os turistas passam parte do seu dia. Eles chegam à tarde e se dirigem até lá para este espetáculo da natureza paraibana que é assistir ao pôr-do-sol em Jacaré”. Isso significa que vai adentrar a barra do porto de Cabedelo em direção ao estuário do rio Sanhauá para lá assistir a esse evento. Quando termina, que é exatamente o pôr-do-sol, o sol se esconde, a Capitania dos Portos não permite que esses barcos retornem à praia, ao lado do mar.

            Os proprietários dessas embarcações de turismo são forçados a desembarcar os passageiros, os turistas, no Jacaré. Só que o Jacaré não tem nenhuma estrutura pública para recebê-los. Ele me dizia de uma forma simplória: “Senador, tenho de jogá-los na água ou na lama”. Era um apelo no sentido de que seja construído um trapiche, um píer, lá no município de Cabedelo, na Praia do Jacaré, para receber o desembarque desses turistas na parte da noite.

            Assim estou fazendo. O nosso gabinete está providenciando os estudos de engenharia e de impacto ambiental para que seja construído um píer definitivo. Muitas vezes se faz um píer provisório, de madeira, que tende a desmoronar rapidamente. Então, estamos providenciando tudo isso para dar um plus ao turismo da Paraíba. Tenho certeza de que, em uma próxima visita do Senador Heráclito Fortes, vamos embarcá-lo ou desembarcá-lo, eventualmente, nesse trapiche, nesse píer público, que favorecerá o turismo que já se desenvolve naquela região.

            Dando sequência, Sr. Presidente, como também fiz questão de realçar em oportunidade anterior, essa diversificação de nacionalidades e de interesses é fundamental para que se crie um ambiente de investimentos consolidado e sustentável a longo prazo.

            Ora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é uma nova vocação que se abre para o Estado. Nunca tivemos uma tradição forte nos negócios internacionais. Ela extrapola, e muito, o universo circunscrito pelo mercado imobiliário. Na prática, cobre um leque excepcionalmente largo de iniciativas que serão traduzidas em mais desenvolvimento, mais empregos, melhores rendimentos e em incremento da riqueza a ser compartilhada por todos.

            É dentro desse cenário espetacularmente inovador que acontece a volta ao caminho de casa, a migração no sentido inverso.

            A Paraíba, meus nobres Pares, é um Estado pequeno, mas forjado na luta e na bravura de sua gente. Por isso, num acerto de contas com a história, ser chamado, hoje, de “paraíba” significa o elogio da coragem, do destemor, do desapego de si em favor do próximo e, principalmente, a possibilidade de futuro, escrita com as próprias mãos.

            A construção de uma Nação como o Brasil não se faz apenas por alguns, menos ainda por poucos: é na solidariedade multifacetada de uma sociedade plural como a brasileira que se pode construir uma grande potência.

            A Paraíba e os paraibanos não são exceção à regra. Valentes, eles enfrentaram e enfrentarão as barreiras para tornar o Brasil o gigante mundial que todos desejamos.

            Sr. Presidente, desde as lutas coloniais para expulsão dos invasores franceses e holandeses até as lutas atuais para expulsão das desigualdades sociais, os “paraíbas” têm se destacado na defesa do Brasil, da Paraíba e de nossa gente.

            A essas intrépidas paraibanas e a esses bravos paraibanos quero render minha homenagem, e ecoar o orgulho de representá-los no Senado Federal.

            Obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância, porque me estendi um pouco no tempo, mas em parte fui motivado por ter sido aparteado pelo nobre Senador Heráclito Fortes.

            Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/09/2010 - Página 45631