Discurso durante a 177ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Manifestação de pesar pelo falecimento do Padre Fernando Bastos de Ávila, membro da Academia Brasileira de Letras.

Autor
Marco Maciel (DEM - Democratas/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Manifestação de pesar pelo falecimento do Padre Fernando Bastos de Ávila, membro da Academia Brasileira de Letras.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2010 - Página 49034
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, SACERDOTE, IGREJA CATOLICA, COMENTARIO, BIOGRAFIA, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, PROFESSOR, PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA (PUC), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PARTICIPAÇÃO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), ASSESSOR, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), LUTA, RECONHECIMENTO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), CURSO SUPERIOR, SOCIOLOGIA, ELOGIO, DIGNIDADE, ETICA.
  • LEITURA, TRECHO, PRONUNCIAMENTO, SACERDOTE, POSSE, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. MARCO MACIEL (DEM - PE. Para encaminhar. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Acir Gurgacz, Srs. Senadores Mozarildo Cavalcanti, Paulo Paim, o requerimento que acabo de apresentar à Mesa do Senado Federal busca, como lido por V. Exª, render homenagem póstuma pelo falecimento do acadêmico Padre Fernando Bastos de Ávila, ocorrido em Belo Horizonte, na madrugada de sábado último, dia 6 de novembro, após meses internado em tratamento de saúde.

            Carioca de nascimento, Padre Ávila, como era conhecido, fez o curso primário na Escola Sarmiento e iniciou o curso secundário no Colégio Santo Inácio, dos jesuítas - e ele era um jesuíta -, no então Distrito Federal. Segue em 1930 para a Escola Apostólica dos Padres Jesuítas, de Nova Friburgo, preparando-se para ingressar no noviciado da Companhia de Jesus, na qual ingressa em 1935. Iniciando sua formação jesuítica, regulamentada pela célebre Ratio Studiorum, fez em Nova Friburgo os cursos de Humanidades, Retórica e Filosofia Escolástica.

            Após o término da guerra, em 1945, segue para Roma, com os Padres Henrique Lima Vaz e João Bosco Penido Burnier, para concluir o mestrado em Filosofia e Teologia na Universidade Gregoriana em Roma. Lá aperfeiçoou os seus conhecimentos, posto que era um humanista no pleno sentido da palavra.

            É em Roma que recebe a ordenação sacerdotal, em 1948. Faz o doutorado em Ciências Políticas e Sociais, na Universidade de Louvain (Bélgica), e depois realiza estágios na França sob a orientação dos professores Alfred Sauvy, que era um famoso demógrafo, e Jean Forastié.

            Retorna ao Brasil em 1954, quando ingressa no corpo docente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, para lecionar Sociologia, Ética e Doutrina Social da Igreja. Criou na PUC, a famosa Pontifícia Universidade Católica, a Escola de Sociologia, Política e Economia, à qual dedicou 16 anos, como diretor e professor de Introdução às Ciências Sociais e de Doutrina Social da Igreja. A Escola do Padre Ávila, como era chamada, formou uma geração de cientistas sociais de destaque nos meios universitário e acadêmico.

            Criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento (Ibrades), à semelhança da congênere Instituto Larino-Americano de Desenvolvimento (Ilades), com sede em Santiago do Chile, Padre Ávila é nomeado primeiro diretor da instituição e designado a assessorar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Como assessor da CNBB, por muitos anos elaborou análise sobre a situação política e social do País.

            Outro tema a que o Padre Ávila muito se dedicou foi a pesquisa sobre a formação e a difusão da Doutrina Social da Igreja, havendo tido oportunidade de consultar a biblioteca da instituição Action Populaire, dos jesuítas de Paris.

            Padre Fernando Bastos de Ávila, sexto ocupante da Cadeira nº 15, da Academia Brasileira de Letras - hoje sob a presidência do notável e operoso Acadêmico Marcos Vilaça -, foi eleito em 14 de agosto de 1997, na sucessão de Dom Marcos Barbosa e recebido em 12 de novembro de 1997 pelo confrade Alberto Venancio Filho.

            Sua posse na ABL transcorreu, coincidentemente, com o quadricentenário da morte de José de Anchieta e o tricentenário da morte de Antonio Vieira, dois jesuítas que escreveram páginas memoráveis da História do Brasil. Como sacerdote assumiu a liturgia fúnebre dos acadêmicos falecidos.

            Legou-nos Padre Ávila uma vasta obra sobre sociologia teórica, problemas brasileiros, história e doutrina social da Igreja.

            Deixo aqui, Sr. Presidente, registrado nos Anais do Senado Federal meu sentimento de saudade e pesar pelo falecimento do Acadêmico Padre Fernando Bastos de Ávila.

            Em 1964 foi nomeado vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, quando se empenhou, com Evaristo de Moraes Filho e Djacir Menezes, na luta pelo reconhecimento da profissão de sociólogo, que veio a ser aprovado, pelo Ministério da Educação e Cultura. Em 1969, fez parte do grupo que preparou o projeto de reforma universitária.

            Fundador da Cadeira nº 15, Olavo Bilac escolheu como patrono Gonçalves Dias. A Bilac sucedeu Amadeu Amaral, seguido de Guilherme de Almeida, Odylo Costa, filho e dom Marcos Barbosa.

            Destaco, Sr. Presidente, trechos do discurso de posse do Padre Fernando Bastos de Ávila, na Academia Brasileira de Letras:

Guilherme de Almeida teve a ideia de definir o legado litgerário que caracterizada melhor cada um de seus antecessores. A Gonçalves Dias atribuiu o ritmo: a Olavo Bilac o lirismo a Amadeu Amaral a primazia do pensamento.

Odílio Costa, filho retoma a ideia de seu predecessor, definindo-a, porém, com mais precisão. Para ele, Gonçalves Dias inaugura no Brasil a poesia romântica; Olavo Bilac é o parnasiano por excelência; Amadeu Amaral se desprende dos rigores da métrica para dar mais liberdade à expressão clara do pensamento e, em seu discurso de posse, diz: “Poderia acrescentar que Guilherme foi o sentimento”.

“Dos poetas que ocuparam a Cadeira nº 15, Amadeu Amaral é talvez aquele cujas obras, ao menos fora de São Paulo, tiveram menor ressonância. No entanto,nas qualificações definidas por Guilherme de Almeida, ele se destaca, de maneira clara, como o poeta que se despojou deliberadamente da sofisticação parnasiana, no intuito de preservar o vigor do pensamento, a primazia do conteúdo sobre a forma.

Não era fácil suceder a um Olavo Bilac. Contudo, pela praxe protocolar de o acadêmico fazer o elogio ao seu predecessor, nenhum dos ocupantes da Cadeira 15 desempenhou esta tarefa com mais brilho e pertinência do que Amadeu Amaral.

            Sr. Presidente, eu gostaria de dizer aqui, da tribuna do Senado Federal, do nosso sentimento de pesar pelo falecimento do Padre Fernando Bastos de Ávila.

            É bom lembrar que é dele uma manifestação que tem origem no Apóstolo Paulo, São Paulo: “Flere cum flentibus; guadere cum gaudentibus”. Ou seja, “chorar com os que choram; alegrar-se com os que se alegram”.

            Isso demonstra bem o que era o Padre Fernando Bastos de Ávila, com quem tive a oportunidade de conviver por bons tempos. A sua atividade transcende a atividade poética e manifesta-se em toda a variedade de formas de comunicação por ele usadas na palavra escrita e falada.

            Concluo, portanto, as minhas palavras dizendo do quanto lastimamos o passamento, aos 92 anos de idade, do Padre Fernando Bastos de Ávila, que tanto enriqueceu a Academia Brasileira de Letras e contribuiu para um melhor conhecimento do pensamento cultural do nosso País.

            Muito obrigado a V. Exª.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2010 - Página 49034