Discurso durante a 178ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pelos seus 90 anos de vida.

Autor
Antonio Carlos Júnior (DEM - Democratas/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, pelos seus 90 anos de vida.
Publicação
Publicação no DSF de 10/11/2010 - Página 49239
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESENÇA, AUTORIDADE RELIGIOSA, HOMENAGEM, CARDEAL, ARCEBISPO, ATUAÇÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), ESTADO DA BAHIA (BA), ELOGIO, ENGAJAMENTO, LUTA, JUSTIÇA SOCIAL, DIREITOS HUMANOS, CONTRIBUIÇÃO, CRIAÇÃO, COMUNIDADE, APROXIMAÇÃO, IGREJA CATOLICA, PROBLEMA, SOCIEDADE, AUXILIO, REFUGIADO, PERSEGUIÇÃO, DITADURA, REGIME MILITAR, COMENTARIO, AMIZADE, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, EX SENADOR, PAI, ORADOR.

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. ANTONIO CARLOS JÚNIOR (DEM - BA) - Sr. Presidente do Senado Federal, Exmo. Senador José Sarney, primeiro signatário do requerimento da presente sessão, Exmº Senador João Faustino, Sr. Núncio Apostólico no Brasil, Reverendíssimo Senhor Dom Lorenzo Baldisseri, Arcebispo Emérito de Natal, Reverendíssimo Senhor Dom Heitor de Araújo Sales, representando o Arcebispo Emérito do Rio de Janeiro, Reverendíssimo Senhor Cardeal Dom Eugênio Sales, Arcebispo Emérito de Brasília, Reverendíssimo Senhor Cardeal Dom José Freire Falcão, reitor da Unilegis, Exmº Sr. Ministro Carlos Mathias, senhoras e senhores, vou ser breve, pois não pretendo discorrer sobre toda a longa, profícua e exemplar trajetória do Arcebispo Emérito, Cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, que hoje tem os seus noventa anos de vida festejados pelo Senado Federal, mais uma justa homenagem a um homem que vem trabalhando toda a sua vida em favor dos homens, levando a palavra de Deus e o conforto cristão a todos.

            Vou procurar fixar-me principalmente em um período específico de sua vida religiosa: o tempo em que Dom Eugênio Sales esteve à frente da Arquidiocese de São Salvador da Bahia, como Arcebispo Primaz do Brasil de 1968 até 1971, quando foi designado Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro.

            Dom Eugênio sempre foi um homem e um religioso à frente de seu tempo.

            Sua passagem por Salvador, que coincide com um período bastante difícil do regime militar que então vigorava no país, é um exemplo de sua dedicação à Igreja, ao seu rebanho de fiéis, mas também de sua preocupação extremada, embora discreta, com todos os brasileiros, sem distinção de credo.

            Foi nesta realidade, à frente da mais antiga arquidiocese do Brasil, que Dom Eugênio pôde demonstrar todo o seu espírito dinâmico, empreendedor e profundamente ligado aos desígnios da Igreja.

            Dom Eugênio ajudou a criar as Comunidades Eclesiais de Base, que passaram a reunir religiosos e não religiosos em ações que aproximavam ainda mais a Igreja Católica dos problemas cotidianos e endêmicos dos segmentos mais desassistidos da sociedade brasileira.

            Dom Eugênio foi um dos bispos brasileiros pioneiros na implantação do Diaconato Permanente, ministério clerical que é concedido a homens casados - mais uma demonstração de que o Cardeal sempre esteve sintonizado com os novos tempos.

            Dom Eugênio era, naquele tempo, um homem extremamente ativo e atento aos acontecimentos, como é ainda hoje, aos noventa anos, quando segue trabalhando incansavelmente.

            Dom Eugênio sempre teve a sabedoria de fortalecer a Igreja, levar a palavra de Deus a todos os homens, mas também de cuidar dos problemas terrenos, da sua gente, envolver-se pessoalmente em questões espinhosas na defesa dos direitos do cidadão. Conseguiu fazer isso sem jamais aceitar que a Igreja se engajasse politicamente, especialmente por intermédio das Comunidades Eclesiais de Base que ele ajudara a criar.

            Nos momentos mais difíceis do regime militar, foi abrigo, por suas palavras e por sua ação, para refugiados e perseguidos políticos não apenas do Brasil, mas de outros países latino-americanos. Para socorrê-los, o Cardeal não mediu esforços.

            Com sua voz, ele enfrentou momentos de extrema tensão, como no famoso episódio do telefonema para o General Sílvio Frota.

            Dom Eugênio teria dito que, se chegasse a ele, General Frota, a informação de que refugiados políticos estariam sendo abrigados no Palácio São Joaquim, sede da Mitra Arquiepiscopal do Rio de Janeiro, e que ele, Dom Eugênio, é quem os estaria protegendo, que o general soubesse que era verdade o que lhe informavam. Diz-se que as palavras do Cardeal teriam sido: “General, saiba que é verdade, eu sou o responsável. Ponto final.”

            Com ações corajosas, ele saiu em defesa dos perseguidos. Juntamente com a Cáritas brasileira e o Alto Comissariado das Nações Unidas para refugiados, Dom Eugênio abrigou refugiados, posteriormente financiou a estadia destes refugiados em imóveis alugados até conseguir-lhes asilo político em países europeus. Estima-se que mais de quatro mil pessoas foram ajudadas.

            Dom Eugênio é um homem que dignifica a Igreja. É alguém muito especial e que podemos chamar “um homem bom”. Um homem que pratica a caridade, que ama o próximo, que enfrenta as dificuldades, sem alarde, mas com eficiência exemplar.

            Srªs e Srs. Senadores, para concluir, quero revelar-lhes algo que me diz respeito pessoalmente.

            Em certo momento, as vidas de Dom Eugênio Sales e de Antonio Carlos Magalhães, meu pai, se cruzaram - ACM Prefeito de Salvador e, depois, Governador da Bahia; Dom Eugênio, Cardeal Primaz do Brasil em Salvador.

            Desde logo, uma sólida e discreta amizade começou a surgir entre os dois. A partir de então, um sem-número de vezes eles se encontraram, no período em que Dom Eugênio esteve à frente da Arquidiocese de Salvador. Meu pai, por várias vezes, o procurava para aconselhar-se e, segundo nos contava em família, jamais voltava sem um conselho valioso ou uma demonstração sincera de carinho e atenção.

            Se eu fosse citar os maiores amigos que meu pai teve em vida, Dom Eugênio seria um deles. Isso marcou muito a minha adolescência e a minha juventude. Eu vivi esse ambiente de amizade entre os dois.

            Sr. Presidente, a amizade desses dois homens, aparentemente tão diferentes entre si, seguiu por todos esses anos da mesma maneira inabalável e discreta.

            Quando meu irmão Luis Eduardo faleceu, lá estava Dom Eugênio a nos confortar. Quando meu pai faleceu, não foi diferente: seu amigo, Dom Eugênio Sales, não faltou conosco.

            É esse homem santo, Srªs e Srs. Senadores, que homenageamos hoje.

            Muito obrigado.

            (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/11/2010 - Página 49239