Discurso durante a 184ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comemoração do centenário de nascimento da escritora Rachel de Queiroz.

Autor
Inácio Arruda (PC DO B - Partido Comunista do Brasil/CE)
Nome completo: Inácio Francisco de Assis Nunes Arruda
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Comemoração do centenário de nascimento da escritora Rachel de Queiroz.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2010 - Página 50800
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ESCRITOR, JORNALISTA, ELOGIO, BIOGRAFIA, ATUAÇÃO, JORNAL, O POVO, ESTADO DO CEARA (CE), ATENÇÃO, PROBLEMA, NATUREZA SOCIAL, SECA, REGIÃO NORDESTE, DEFESA, DEMOCRACIA, IMPORTANCIA, VOTO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, REGISTRO, FILIAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB), PRISÃO, PERIODO, DITADURA, PIONEIRO, MULHER, ADMISSÃO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL), PUBLICAÇÃO, LIVRO, LITERATURA INFANTIL.
  • ANUNCIO, REALIZAÇÃO, DIVERSIDADE, HOMENAGEM, CENTENARIO, ESCRITOR, ESPECIFICAÇÃO, LANÇAMENTO, LIVRO, PROMOÇÃO, EXPOSIÇÃO, ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS (ABL).
  • LEITURA, TEXTO, AUTORIA, POETA, HOMENAGEM, ESCRITOR, ESTADO DO CEARA (CE).

                          SENADO FEDERAL SF -

            SECRETARIA-GERAL DA MESA

            SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


            O SR. INÁCIO ARRUDA (Bloco/PCdoB - CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, este é um dia especialíssimo do Brasil. Viva fisicamente, estaria completando 100 anos a escritora Rachel de Queiroz. Em face do seu falecimento recente, há poucos anos - sete anos apenas nos separam -, ela não pode estar nesta homenagem fisicamente.

         Então, convidamos os amigos e aqueles que estiveram mais próximos, numa Casa onde temos a presença de escritores, de artistas com mandato parlamentar, para, juntos, realizarmos esta homenagem ao centenário de Rachel de Queiroz.

            Quero cumprimentar os nossos colegas Senadores e Senadoras, que aprovaram unanimemente este requerimento de homenagem.

            Cumprimento o nosso Presidente, também acadêmico, Senador José Sarney, que dirige os trabalhos neste momento.

            Quero cumprimentar o nosso Senador Marco Maciel, também da Academia Brasileira de Letras.

            Cumprimento especialmente a Srª Maria Amélia, que, talvez entre nós que aqui estamos, foi a que mais teve a oportunidade de convivência com Rachel de Queiroz; foi sua editora e responsável pelo seu retorno à casa, trabalhou com ela durante muitos anos. E já peço licença, Sr. Presidente, para que um artigo de Maria Amélia seja incluído nos Anais desta sessão, para ilustrar ainda mais esta homenagem que ora realizamos.

            Quero cumprimentar os senhores representantes do Corpo Diplomático que aqui estão presentes.

            Cumprimento nosso colega e amigo já de um bom tempo, representando o grupo de comunicação O Povo, Plínio Bertolotti, que aqui está conosco. Plínio, quero lhe agradecer, porque o jornal O Povo, primeiro pelas mãos de Demócrito Rocha, no início da carreira de Rachel de Queiroz; em seguida, o espaço do jornal O Povo, sempre esteve, digamos assim, à disposição de Rachel de Queiroz. Nós líamos ali as suas crônicas de forma permanente. E hoje, talvez, uma das maiores homenagens que estão sendo realizadas no Brasil à Rachel de Queiroz parte exatamente do grupo de comunicação O Povo. Então, quero homenagear, neste momento, o jornal O Povo pelo seu trabalho brilhante de homenagem e de esforço de apresentar uma grande escritora brasileira ao público brasileiro, de manter essa chama acesa de forma permanente.

         Quero também cumprimentar, em nome de todos os colegas do Estado do Ceará que aqui estão como convidados, o nosso amigo e amigo de Rachel de Queiroz o ator, o artista, o escritor, o pensador B. de Paiva, que aqui está conosco. Quero cumprimentá-lo, B. de Paiva, pela sua grande atuação e pela sua relação com essa figura extraordinária do povo brasileiro que foi Rachel de Queiroz.

            O B. de Paiva, meu caro Presidente, foi o primeiro a encenar a obra O Lampião, de Rachel de Queiroz, em 1954. Ele comentava comigo, há pouco, que estava no elenco o Emiliano Queiroz, também outro cearense de história conhecida no Brasil inteiro.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há exatos cem anos, nascia em Fortaleza a menina Rachel, filha de Daniel de Queiroz Lima e de Clotilde Franklin de Queiroz.

            A nossa homenageada, a escritora Rachel de Queiroz, faz parte da nobre estirpe cearense, da turma dos Araripe, dos Alencar, e muitos viraram Araripe, porque estavam ligados a uma causa também nacional lá no séc. XIX, em 1817, quando se começou a lutar pela independência. Muitos daquele povo cearense e pernambucano já estavam ligados já com a ideia da República no nosso País.

            Ali, digamos assim, estão as suas origens, porque dali não só saiu Bárbara de Alencar, mulher a quem ela buscava fazer grande homenagem num texto produzido e tecido a duas mãos, ela e Heloísa Buarque de Hollanda, com o título As Matriarcas, que era exatamente a Bárbara de Alencar, lá atrás, no início do séc. XVIII, no início do séc. XIX, e, em seguida, Marica Macedo e Federalina, já do meio do séc. XIX para o final do séc. XIX. Eram grandes mulheres fazendeiras do sertão nordestino, que desbravavam também a construção desta nossa Nação.

            A nossa homenageada, portanto, está identificada nas origens com essas causas. Muito próxima, também, de um Senador do Império, Senador da República, o Padre José Martiniano Pereira de Alencar, por duas vezes Presidente da Província do Ceará, e também próxima de seu filho, que ela tinha também como inspiração muitas vezes, filho famoso, que foi nada mais, nada menos que o escritor José de Alencar.

            Toda a genialidade literária e precocidade de Rachel de Queiroz é também fruto da educação recebida dos seus pais, em que o desenvolvimento do gosto pela leitura ocupava posição central. Dizia Rachel: “Nasci numa casa de intelectuais - meu pai, minhas tias, minha mãe -, que, lá na fazenda, no sertão, assinava revistas e livros franceses. Em casa, o ambiente era esse. O normal era escrever”. Essa que era a normalidade da casa e do ambiente familiar.

            O pai, que transitava entre a carreira jurídica e a atividade docente, encarregou-se pessoalmente de suas primeiras letras. Sua mãe, ávida leitora de autores nacionais e estrangeiros, especialmente franceses, orientou-a na ampliação dos seus horizontes, muito além dos estudos formais, encerrados com a conclusão do curso normal, aos 15 anos de idade.

            Aqueles que nos acompanham neste momento me permitirão abandonar essa linha cronológica do pronunciamento.

            Rachel de Queiroz viveu uma vida bastante intensa e fecunda, de praticamente 93 anos, somados aos sete de saudade, que completam, digamos assim, a mágica dos 100 anos que valorizam esta singela homenagem do Senado brasileiro. Por outro lado, a própria Rachel gostava de ensinar aos jovens repórteres que a procuravam, dizendo que a vida não funcionava como uma história em quadrinhos, onde o acontecimento de um quadro era desdobrado logicamente no quadro seguinte.

            Vou me arriscar, portanto, a continuar a apresentar a homenageada, tomando como base temas que transitaram em sua vida e apresentam-se refletidos em sua marcante obra.

            Com o pseudônimo de Rita de Queluz, ela envia ao jornal O Ceará, em 1927, uma carta ironizando o concurso Rainha dos Estudantes, promovido por aquela publicação. O diretor do jornal, Júlio Ibiapina, amigo de seu pai, diante do sucesso da carta, a convida para colaborar com o jornal. Três anos depois, ironicamente, quando exercia as funções de professora substituta de História no colégio onde havia se formado, Rachel foi eleita Rainha dos Estudantes. Com a presença do Governador do Estado, a festa da coroação tinha andamento quando chega a notícia do assassinato de João Pessoa. Joga a coroa no chão e deixa às pressas o local. E larga também, evidentemente, os convidados, com uma única explicação: “Sou repórter, tenho que cobrir os fatos”. Então, que se danem a coroa e a homenagem.

            Aos 16 anos, começou a publicar em jornal. Nos arquivos de O Povo, de Fortaleza, preservam-se amostras de suas primeiras criações literárias. Sob o pseudônimo de Rita de Queluz, ela colaborava no recém-lançado jornal de Demócrito Rocha, que, em 1928, na página literária Modernos e Passadistas, estampa a produção dos escritores locais, ao lado de poemas de Guilherme de Almeida, Peregrino Júnior, Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e outros.

            Sempre teve a preocupação de registrar o testemunho mais fiel possível de seu tempo e de sua gente, deixando ao leitor a tarefa de tirar as conclusões. Isso a motivou, entre outras coisas, a escrever seu primeiro livro, de repercussão nacional praticamente imediata: O Quinze. Acreditava que a literatura sobre a seca produzida até aquele momento era insuficiente para captar o drama humano que conhecera tão de perto, ainda na infância, aceitando o desafio de deixar sua impressão.

            Submetida a rígido tratamento de saúde, em 1930, a autora se vê obrigada a fazer repouso e resolve escrever “um livro sobre a seca”. O Quinze - romance de fundo social, profundamente realista na sua dramática exposição da luta secular de um povo contra a miséria e a seca - é mostrado aos pais, que decidem “emprestar” o dinheiro para sua edição, que é publicada em agosto com uma tiragem de mil exemplares. Diante da reação reticente dos críticos cearenses, remete o livro para o Rio de Janeiro e São Paulo, que foi elogiado por Augusto Frederico Schmidt e Mário de Andrade. O livro logo transformaria Rachel em uma personalidade literária. Com o dinheiro da venda dos exemplares, a escritora “paga” o empréstimo que fez aos pais.

            Em março de 1931, recebe no Rio de Janeiro o prêmio de romance da Fundação Graça Aranha, em companhia de Murilo Mendes (poesia) e Cícero Dias (pintura).

            A “petulância da juventude”, como chamara, a transformou numa romancista. Aos 20 anos, foi rapidamente reconhecida e aclamada por intelectuais do porte de Mário de Andrade, Augusto Frederico Schmidt, Graça Aranha, Agripino Grieco e Gastão Cruls. O poeta-editor Augusto Frederico Schmidt assim se referiu ao O Quinze:

Livro brasileiro, profundamente brasileiro! Que felicidade o se poder chamar um livro nosso de brasileiro, porque a preocupação brasileira que seguiu o nosso movimento modernista quase que retirou dessa circunstância toda a excelência, tornando-se até uma coisa artificial, à força de intencionalidade.

            O escritor Graciliano Ramos prestou o seguinte depoimento:

O Quinze caiu de repente ali por meados de 30 e fez nos espíritos estragos maiores que o romance de José Américo, por ser livro de mulher, e, o que na verdade causava assombro, de mulher nova. Seria realmente de mulher?

Não acreditei. Lido o volume e visto o retrato do jornal, balancei a cabeça: Não há ninguém com esse nome. É pilhéria. Uma garota assim fazer romance! Deve ser pseudônimo de sujeito barbado. Depois, conheci João Miguel e conheci Rachel de Queiroz, massificou-me durante muito tempo a ideia idiota de que ela era homem, tão forte estava em mim o preconceito que excluía as mulheres da literatura. Se a moça fizesse discursos e sonetos, muito bem. Mas escrever João Miguel e O Quinze não me parecia natural.

            Rachel, quando chegou ao Rio de Janeiro, no início da década de trinta, foi procurada por José Olympio. Nascia aí uma associação que duraria 57 anos. Durante todo esse tempo, a Editora José Olympio publicou a maioria das obras de autoria de Rachel e aquelas por ela traduzidas. Só nos anos quarenta, foram 31 traduções, aí incluindo obras de Dostoievski, Tolstoi, Balzac. Rachel conta que trabalhava regularmente, como verdadeira operária da tradução, oito horas por dia. “Nisso ganhava a vida e a única vantagem que levava sobre os funcionários da firma é que trabalhava em casa.” Ao traduzir Os Irmãos Karamazov, por exemplo, Rachel recebeu de José Olympio cinco traduções diferentes, tidas como as melhores em cinco idiomas: francês, espanhol, italiano, alemão e inglês. Na extensa bibliografia apresentada pela página da Academia Brasileira de Letras, contam-se 46 obras traduzidas pela José Olympio.

            Entretanto, afirmou a vida toda que escrevia menos por prazer do que pela necessidade de se sustentar, razão pela qual só contabilizava cinco títulos - O Quinze, As Três Marias, Dôra, Doralina, O Galo de Ouro e Memorial de Maria Moura - pois os outros livros eram compilações de crônicas feitas para vários órgãos de imprensa com que se relacionou ao longo de sua fértil vida intelectual.

            Considerava-se, para escrever, preguiçosa - com o que não concorda Maria Amélia, que a conheceu de muito perto. Chegou a comparar o ato de escrever a uma gravidez, em que o livro ficava ali dentro, crescendo e incomodando, sem pressa, até que pudesse sair. Contudo, valorizava a imensa capacidade de entretenimento da literatura, o prazer de ter em mãos bons livros. Sempre moderna, já na era da predominância da Internet, destacava a diferença entre a informação, disponível de forma facilitada na rede mundial, relacionada com o trabalho, e a literatura, esta sim, destinada ao lazer. Agoniava-se, entretanto, com a necessidade de produzir essa satisfação no leitor, mesmo com a mais descompromissada das crônicas que publicava regularmente.

            O Ceará carregava consigo por onde a vida a levava. Reproduzia na vida pessoal um pouco da vida do cearense, que encontramos em todo o mundo. Desde a primeira mudança de residência, com a família se afastando dos efeitos perversos da grande seca de 1915, inicialmente para o Rio de Janeiro, depois para Belém, foi e voltou pelo Brasil - Fortaleza, Rio de Janeiro, São Paulo, Maceió - sem perder o contato com as antigas raízes da família Queiroz, lá em Quixadá, local da sua fazendinha “Não me Deixes”.

            Também é do cearense o gosto pela conversa, pelo relato de “causos”, pelo relacionamento humano. “Gosto de ser humano”, disse certa vez, “gosto da humanidade, gosto dos meus próximos e gosto dos distantes”. Gostava, sobretudo, das crianças, do sentimento de maternidade, multiplicado e expandido na relação de cumplicidade avó-neto. Considerava-se possuidora de uma maternidade inesgotável, que não pudera ver fluindo em descendência própria em razão do falecimento de sua única filha, antes de completar dois anos de idade.

            Acabou sendo avó de todas as crianças da família, colocando seu talento no contar histórias, o que permitiu que enveredasse também pela literatura infantil.

            Seu livro O Quinze é lançado numa época de intensa agitação política e cultural e na efervescência do fim da República Velha. Raquel ousou lutar em várias trincheiras, seja nas letras, nas redações dos jornais e na luta político-partidária, sendo à época membro-militante do Partido Comunista.

            O lançamento do romance Caminho de Pedras, pela José Olympio - Rio, dá-se em 1937, que seria sua editora até 1992. Em 1937, com a decretação do Estado Novo, seus livros são proibidos e queimados em Salvador, Bahia, juntamente com os de Jorge Amado - que, conta-se, foi ela que trouxe para o Partido -, José Lins do Rego e Graciliano Ramos, sob a acusação de livros subversivos. Permanece detida por três meses, na sala de cinema do quartel do Corpo de Bombeiros lá na cidade de Fortaleza.

            Nunca lhe abandonou a crítica às injustiças e o sentimento social que a levou a escrever O Quinze. Nunca lhe abandonou a preocupação com a educação, mesmo tendo rejeitado o convite para assumir o respectivo Ministério, o que a tornaria pioneira no primeiro escalão do Executivo nacional. Era só uma jornalista - disse então ao Presidente Jânio Quadros, que a convidara - “e gostaria de continuar sendo apenas jornalista”.

            Nunca lhe abandonou, sobretudo, o entendimento da democracia, da importância do voto e da liberdade de manifestação do pensamento, como revelava em crônicas à época da primeira eleição do Presidente Lula, com o mesmo ardor dos escritos da juventude.

            Disse certa vez Rachel:

Eu sou muito humilde. Eu não faço grande uso de mim mesma, e, portanto, da minha chamada “obra”. Mas uma coisa eu posso lhe garantir que estou tranquila: percorra todo o meu trabalho, desde a adolescência, quando comecei a trabalhar em jornal e você nunca encontrará uma só palavra contra a liberdade, contra os direitos humanos, contra a igualdade racial. Quer dizer, minha folha de serviço não é brilhante. É limpa.

            Mulher forte, como todas as suas personagens. Quebrou um tabu, tendo sido a primeira mulher admitida na Academia Brasileira de Letras - lugar, até aquele instante, de homens -, no ano de 1977, derrotando ninguém menos do que o grande jurista, renomado e respeitado dentro e fora do Brasil, Pontes de Miranda. Ressaltava que tinha sido escolhida por sua obra e não pelo fato de ser mulher, e aproveitou a oportunidade para brincar com o aparente machismo da Academia, escolhendo o modelo de fardão bastante sóbrio, comparada com o de seus Pares - disse ela -, “na medida em que todas as fêmeas da espécie animal são menos ornamentadas do que os machos”. É verdade!

            Na sua literatura, as mulheres também são dominantes, fortes, positivas, na tradição multissecular da mulher fazendeira nordestina, a matriarca que cuidava dos negócios da família nas longas ausências de seus companheiros. O texto de Rachel nos fala tanto de classe social quanto de gênero, sendo vanguarda nestas questões.

            Quando se trata de uma imortal, a homenagem tem que ser feita para sempre.

            Quero ressaltar, dentre as muitas iniciativas para comemorar o centenário de Rachel de Queiroz, a que o Grupo de Comunicação O Povo, em conjunto com a Fundação Demócrito Rocha, preparou para a celebração do centenário de Rachel de Queiroz, que acontece também hoje em Fortaleza, com o Prêmio Raquel de Queiroz, o lançamento de uma revista e a exibição de um documentário na TV O Povo.

            O Projeto Rachel de Queiroz 100 anos contou ainda com o lançamento de livros pelas Edições Demócrito Rocha: o infanto-juvenil Rachel, o Mundo por Escrito; o livro de ensaios crítico Rachel de Queiroz, uma Escrita no Tempo, e duas coletâneas de crônicas, A Lua de Londres e Do Nordeste ao Infinito. Homenagens que ficarão guardadas para sempre na memória dos cearenses.

            A Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, promove a Exposição Rachel de Queiroz, Sr. Presidente, que eu desejaria que V. Exª pedisse à Academia para trazer até aqui ao Senado, para que pudesse dar sequência a esta homenagem com a Exposição Rachel de Queiroz, quando vamos ter oportunidade de ver o material publicitário em torno das suas obras e, sobretudo, a sua coleção de belíssimos punhais, que estava exposta, há até poucos dias, na Academia Brasileira de Letras.

            O chargista Sinfrônio também decidiu reverenciar Rachel. A ideia surgiu no ano passado e, agora, ele está lançando uma animação concebida em computação gráfica 3D, “1915 - O ano em que a Terra queimou”, que tem roteiro inspirado no romance O Quinze.

            A Editora Armazém da Cultura lança um livro inédito de poesias da autora, intitulado Serenata. Os poemas, que datam de 1925 a 1930, já haviam sido publicados em jornais e revistas cearenses da época e foram entregues à editora pelo bibliófilo José Augusto Bezerra, que mantém o Memorial Rachel de Queiroz. O livro é organizado e apresentado pela escritora Ana Miranda.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, à maneira dos pintores impressionistas, espero que estas pinceladas esparsas que produzi tenham tido o condão de compor, no conjunto, o belo quadro que representa Rachel de Queiroz, sua vida e sua obra. E reconheço a impossibilidade de esgotar, numa fala apenas, a sua universalidade.

            A comemoração do centenário de seu nascimento é uma justa homenagem a esta mulher singular, que a nostalgia gerada por sua ausência no cenário intelectual brasileiro nos remete, usando uma imagem de uma crônica da própria Rachel, a um cheiro de alfazema e mocidade.

            Ao encerrar, recorro ao poeta e acadêmico Manuel Bandeira, ao escrever o “Louvado para Rachel de Queiroz”, em virtude do cinquentenário da escritora.

            De Manuel Bandeira, “Louvado para Rachel de Queiroz”:

Louvo o Padre, louvo o Filho,

o Espírito Santo louvo.

Louvo Rachel, minha amiga,

nata e flor do nosso povo.

Ninguém tão Brasil quanto ela,

pois que, com ser do Ceará,

tem de todos os Estados,

do Rio Grande ao Pará.

Tão Brasil: quero dizer

Brasil de toda maneira

- brasílica, brasiliense,

brasiliana, brasileira.

Louvo o Padre, louvo o Filho,

o Espírito Santo louvo.

Louvo Rachel e, louvada

uma vez, louvo-a de novo.

Louvo a sua inteligência,

e louvo o seu coração.

Qual maior? Sinceramente,

meus amigos, não sei não.

Louvo os seus olhos bonitos,

louvo a sua simpatia.

Louvo a sua voz nortista,

louvo o seu amor de tia.

Louvo o Padre, louvo o Filho,

o Espírito Santo louvo.

Louvo Rachel, duas vezes

louvada, e louvo-a de novo.

Louvo o seu romance: O Quinze

e os outros três; louvo As Três Marias especialmente,

mais minhas que de vocês.

Louvo a cronista gostosa.

Louvo o seu teatro: Lampião [B. de Paiva]

e a nossa Beata Maria.

Mas chega de louvação,

porque, por mais que a louvemos,

nunca a louvaremos bem.

Em nome do Pai, do Filho

e do Espírito Santo, amém.

É a homenagem que podemos fazer.

            Saúdo, portanto, Sr. Presidente, Rachel de Queiroz, deusa mãe no panteão intelectual brasileiro. Salve minha conterrânea, mulher cearense, brasileira, cuja luz alcança até os confins da terra.

            Muito obrigado. (Palmas.)


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2010 - Página 50800